Data de publicação
2009
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4º conde de Ourém e 1º Marquês de Valença, nasceu por volta do ano de 1402, em Chaves, filho D. Afonso 1º duque de Bragança, e de D. Beatriz Pereira; neto paterno do rei D. João I e neto materno do condestável D. Nuno Álvares Pereira. Teve como mestre Fernão d'Álvares, grande latinista formado em Salamanca.
Em 1422, D. Nuno Álvares Pereira, à semelhança do que o monarca D. João I havia feito com os seus filhos, criou casas independentes para os netos, desfazendo-se do seu património e títulos. D. Afonso recebeu como doação o núcleo patrimonial da Estremadura bem como o título de 4º conde de Ourém. D. Afonso, conde de Barcelos, passa a ser o único dos filhos de D. João I com filhos adultos e titulados que, engrandecidos pela herança do avô materno, foram imediatamente lançados para uma posição superior à dos servidores mais antigos da Coroa. Tendo três titulares, a linhagem pôde gerir a sua enorme mobilidade de acção e um inumerável desdobrar de solidariedades.
D. Afonso, começou desde cedo a integrar missões diplomáticas. Em 1429-30 integrou a comitiva, liderada pelo infante D. Fernando, que acompanhou a infanta D. Isabel, filha de D. João I, na sua viagem aos Países Baixos para casar com Filipe, o Bom, duque da Borgonha. O conde de Ourém e o infante D. Fernando foram os padrinhos da noiva.
Sabe-se que em 1431 se encontrava em Aragão, possivelmente preparando o acordo de paz entre Portugal, Navarra e Aragão que foi assinado em Torres Novas a 11 de Agosto de 1432. Nesse mesmo ano, D. Duarte pediu conselho aos irmãos e sobrinhos sobre a política externa do Reino. Foi-lhes perguntado se eram a favor de uma participação portuguesa na conquista de Granada e como se posicionariam face a uma nova expedição portuguesa ao Norte de África. No seu conselho, datado de 4 de Junho de 1432, o conde de Ourém defende uma participação portuguesa em Granada, defendendo a guerra contra os mouros, mas num teatro de mais fácil sucesso. D. Duarte deveria mandar uma embaixada de peso a Castela, constituída pelas mais importantes pessoas do reino (incluindo o seu pai, o irmão e D. Antão, bispo do Porto), a fim de iniciar os preparativos. Para convencer Castela a aceitar o seu auxílio deveria frisar que o único ponto que estava em causa era o serviço de Deus e recusar todas as fortalezas que se conquistasse. E, no caso da intervenção portuguesa deveria ser também o herdeiro do trono a comandá-la. A administração do Reino estaria, de certo, bem entregue nas mãos dos infantes D. Pedro e D. Henrique.
Em 1436 voltaria às missões diplomáticas, encabeçando a embaixada portuguesa ao Concílio de Basileia, participando também no de Ferrara, em 1437, realizados por Eugénio IV. Esta missão tinha por principais objectivos a obtenção de uma bula de cruzada em benefício das praças africanas; a obtenção do privilégio dos reis de Portugal se poderem ungir e solicitar a dispensa dos cavaleiros das ordens militares de Cristo e Avis para poderem casar. O conde de Ourém aproveitou para, finda a missão, viajar por Itália e depois ir em peregrinação até à Terra Santa; tal como tinha feito o seu pai anos antes, tendo regressado ao reino após a morte de D. Duarte.
A regência de D. Pedro foi um período conturbado na vida do conde de Ourém. Se, de início, apoiou a causa de D. Pedro, chegando mesmo a enfrentar o pai e tendo servido como mediador entre as duas partes, quando em 1442 D. Pedro lhe recusou o cargo de condestável de Portugal (que estava vago desde a morte do infante D. João e, pouco tempo depois, do seu filho, D. Diogo) apenas para o dar ao seu próprio filho, D. Pedro, o conde de Ourém afastou-se da corte e disse que a ela não voltaria enquanto D. Pedro fosse regente. D. Afonso é tradicionalmente apontado pela historiografia portuguesa como um dos principais instigadores da Batalha de Alfarrobeira, que culminaria com a morte do infante D. Pedro.
Voltou a Itália em 1451-52 como responsável da comitiva que escoltou até Roma a infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V, que se ia casar com o imperador Frederico III, do Sacro Império Germânico. Para realizar esta viagem, D. Afonso exigiu ao rei, como contrapartida, que este lhe desse um vila com outro título. O monarca fez-lhe mercê da vila de Valença e do título de Marquês. Título vitalício, que não passaria para os seus herdeiros.
Em 1458 D. Afonso participou pela primeira e única vez, na expansão portuguesa no Norte de África (apesar de já ter estado em Ceuta com a infanta D. Leonor em Outubro de 1451) acompanhando o rei na conquista de Alcácer Ceguer, tendo sido o responsável pela organização da frota do Porto.
Foi nesta sua ida a Marrocos que D, Afonso apanhou as febres de que padeceria até ao resto da sua vida. Morreu em Tomar, onde se encontrava a corte, a 29 de Agosto de 1460, um ano antes do pai, o velho duque de Bragança.
O marquês de Valença nunca casou. Na sua História Genealógica da Casa Real Portuguesa, D. António Caetano de Sousa faz alusão a um possível acordo de casamento entre D. Filipa, filha de D. Isabel e do infante D. João e que, devido à morte de D. Afonso esta nunca teria casado. Seria, no entanto, um casamento um pouco tardio (porque apesar de ter falecido antes do seu pai, D. Afonso já teria perto de 60 anos) e em que os noivos apresentariam grande diferença de idades. Contudo, o marquês de Valença teve um filho ilegítimo, D. Afonso de Portugal, que mais tarde seria bispo de Évora. D. Afonso de Portugal chegou a reivindicar a herança do pai alegando que os pais, D. Afonso e D. Beatriz de Sousa, se haviam casado em segredo.
Herdou o ducado de Bragança o seu irmão, D. Fernando, marquês de Vila Viçosa.
O Marquês de Valença está sepultado em Ourém num mausoléu anexo à igreja matriz.
Bibliografia:
Actas do Congresso Histórico: D. Afonso, 4º Conde de Ourém, e a Sua Época, Ourém, Câmara Municipal, 2004. BARRADAS, Alexandra Leal, Ourém e Porto de Mós: a Obra Mecenática de D. Afonso, 4º Conde de Ourém, Lisboa, Colibri, 2007. Diário da Jornada do Conde de Ourém ao Concílio de Basileia, apresentação de Aida Fernandes, com um prefácio de David Catarino, Ourém, Câmara Municipal de Ourém, 2003. SOUSA, João Silva de, D. Afonso: 4º Conde de Ourém, Ourém, Câmara Municipal, 2005.
Em 1422, D. Nuno Álvares Pereira, à semelhança do que o monarca D. João I havia feito com os seus filhos, criou casas independentes para os netos, desfazendo-se do seu património e títulos. D. Afonso recebeu como doação o núcleo patrimonial da Estremadura bem como o título de 4º conde de Ourém. D. Afonso, conde de Barcelos, passa a ser o único dos filhos de D. João I com filhos adultos e titulados que, engrandecidos pela herança do avô materno, foram imediatamente lançados para uma posição superior à dos servidores mais antigos da Coroa. Tendo três titulares, a linhagem pôde gerir a sua enorme mobilidade de acção e um inumerável desdobrar de solidariedades.
D. Afonso, começou desde cedo a integrar missões diplomáticas. Em 1429-30 integrou a comitiva, liderada pelo infante D. Fernando, que acompanhou a infanta D. Isabel, filha de D. João I, na sua viagem aos Países Baixos para casar com Filipe, o Bom, duque da Borgonha. O conde de Ourém e o infante D. Fernando foram os padrinhos da noiva.
Sabe-se que em 1431 se encontrava em Aragão, possivelmente preparando o acordo de paz entre Portugal, Navarra e Aragão que foi assinado em Torres Novas a 11 de Agosto de 1432. Nesse mesmo ano, D. Duarte pediu conselho aos irmãos e sobrinhos sobre a política externa do Reino. Foi-lhes perguntado se eram a favor de uma participação portuguesa na conquista de Granada e como se posicionariam face a uma nova expedição portuguesa ao Norte de África. No seu conselho, datado de 4 de Junho de 1432, o conde de Ourém defende uma participação portuguesa em Granada, defendendo a guerra contra os mouros, mas num teatro de mais fácil sucesso. D. Duarte deveria mandar uma embaixada de peso a Castela, constituída pelas mais importantes pessoas do reino (incluindo o seu pai, o irmão e D. Antão, bispo do Porto), a fim de iniciar os preparativos. Para convencer Castela a aceitar o seu auxílio deveria frisar que o único ponto que estava em causa era o serviço de Deus e recusar todas as fortalezas que se conquistasse. E, no caso da intervenção portuguesa deveria ser também o herdeiro do trono a comandá-la. A administração do Reino estaria, de certo, bem entregue nas mãos dos infantes D. Pedro e D. Henrique.
Em 1436 voltaria às missões diplomáticas, encabeçando a embaixada portuguesa ao Concílio de Basileia, participando também no de Ferrara, em 1437, realizados por Eugénio IV. Esta missão tinha por principais objectivos a obtenção de uma bula de cruzada em benefício das praças africanas; a obtenção do privilégio dos reis de Portugal se poderem ungir e solicitar a dispensa dos cavaleiros das ordens militares de Cristo e Avis para poderem casar. O conde de Ourém aproveitou para, finda a missão, viajar por Itália e depois ir em peregrinação até à Terra Santa; tal como tinha feito o seu pai anos antes, tendo regressado ao reino após a morte de D. Duarte.
A regência de D. Pedro foi um período conturbado na vida do conde de Ourém. Se, de início, apoiou a causa de D. Pedro, chegando mesmo a enfrentar o pai e tendo servido como mediador entre as duas partes, quando em 1442 D. Pedro lhe recusou o cargo de condestável de Portugal (que estava vago desde a morte do infante D. João e, pouco tempo depois, do seu filho, D. Diogo) apenas para o dar ao seu próprio filho, D. Pedro, o conde de Ourém afastou-se da corte e disse que a ela não voltaria enquanto D. Pedro fosse regente. D. Afonso é tradicionalmente apontado pela historiografia portuguesa como um dos principais instigadores da Batalha de Alfarrobeira, que culminaria com a morte do infante D. Pedro.
Voltou a Itália em 1451-52 como responsável da comitiva que escoltou até Roma a infanta D. Leonor, irmã de D. Afonso V, que se ia casar com o imperador Frederico III, do Sacro Império Germânico. Para realizar esta viagem, D. Afonso exigiu ao rei, como contrapartida, que este lhe desse um vila com outro título. O monarca fez-lhe mercê da vila de Valença e do título de Marquês. Título vitalício, que não passaria para os seus herdeiros.
Em 1458 D. Afonso participou pela primeira e única vez, na expansão portuguesa no Norte de África (apesar de já ter estado em Ceuta com a infanta D. Leonor em Outubro de 1451) acompanhando o rei na conquista de Alcácer Ceguer, tendo sido o responsável pela organização da frota do Porto.
Foi nesta sua ida a Marrocos que D, Afonso apanhou as febres de que padeceria até ao resto da sua vida. Morreu em Tomar, onde se encontrava a corte, a 29 de Agosto de 1460, um ano antes do pai, o velho duque de Bragança.
O marquês de Valença nunca casou. Na sua História Genealógica da Casa Real Portuguesa, D. António Caetano de Sousa faz alusão a um possível acordo de casamento entre D. Filipa, filha de D. Isabel e do infante D. João e que, devido à morte de D. Afonso esta nunca teria casado. Seria, no entanto, um casamento um pouco tardio (porque apesar de ter falecido antes do seu pai, D. Afonso já teria perto de 60 anos) e em que os noivos apresentariam grande diferença de idades. Contudo, o marquês de Valença teve um filho ilegítimo, D. Afonso de Portugal, que mais tarde seria bispo de Évora. D. Afonso de Portugal chegou a reivindicar a herança do pai alegando que os pais, D. Afonso e D. Beatriz de Sousa, se haviam casado em segredo.
Herdou o ducado de Bragança o seu irmão, D. Fernando, marquês de Vila Viçosa.
O Marquês de Valença está sepultado em Ourém num mausoléu anexo à igreja matriz.
Bibliografia:
Actas do Congresso Histórico: D. Afonso, 4º Conde de Ourém, e a Sua Época, Ourém, Câmara Municipal, 2004. BARRADAS, Alexandra Leal, Ourém e Porto de Mós: a Obra Mecenática de D. Afonso, 4º Conde de Ourém, Lisboa, Colibri, 2007. Diário da Jornada do Conde de Ourém ao Concílio de Basileia, apresentação de Aida Fernandes, com um prefácio de David Catarino, Ourém, Câmara Municipal de Ourém, 2003. SOUSA, João Silva de, D. Afonso: 4º Conde de Ourém, Ourém, Câmara Municipal, 2005.