Data de publicação
2014
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Quarto filho de D. Afonso de Ataíde, 3º senhor da Casa de Atouguia, e de D. Maria Magalhães, nasceu em data incerta. Provavelmente iniciou a sua carreira militar partindo, em 1543, na companhia de seu irmão D. Luís de Ataíde, futuro vice-rei da Índia (1568-1571; 1578-1581) e futuro 3º conde de Atouguia, na armada do capitão-mor D. João de Castro, mandatada para socorrer Ceuta, que se encontrava ameaçada pela armada de Khair-ed-din, capitão da esquadra otomana. Fruto da ligação que então criou com D. João de Castro, D. João de Ataíde partiu na armada de 1545 em que aquele foi como governador para a Índia.
A partida enquadra-se não apenas neste conhecimento mas também em ligações anteriores que D. João de Castro tivera com D. Afonso de Ataíde e com D. Luís de Ataíde, na jornada do Suez de 1541. Desta forma, ainda antes de D. João de Ataíde ser formalmente nomeado como capitão de um dos navios de socorro que D. João de Castro enviava a Diu, ao comando de D. Álvaro de Castro, o próprio governador escrevera ao seu filho para ter o merecimento e conta devida a D. João de Ataíde. Em causa estavam não apenas as ligações anteriores, mas também o parentesco que unira matrimonialmente as duas linhagens desde o século XV. Evidenciando coragem e bravura durante o segundo cerco de Diu, mas também discrição quando D. João de Castro o enviou secretamente a Adém para sondar as movimentações otomanas, D. João de Ataíde mereceu extensa recomendação a D. João III por parte do governador. Considerava este que D. João de Ataíde era merecedor de ser provido numa grande capitania pelo seu valor e honra.
Antes, porém, de se concretizar a nomeação régia em favor de D. João de Ataíde, o fidalgo continuou a acompanhar e servir zelosamente D. Álvaro de Castro, filho do governador. Assim participou na batalha campal de Diu, em 1547, tendo ficado ferido na cabeça e recebido 150 pardaus de mercê. Posteriormente marcou presença nos combates em Bârdez e Salsete contra as forças do sultão de Bijapur e participou num ataque no Malabar, onde voltou a ficar ferido na cabeça. Já em 1548, foi mandatado pelo governador para ir de novo a Adém, antes de D. Álvaro de Castro ali chegar com o grosso da armada, a fim de preparar as condições de conquista daquela cidade que pedira o auxílio do Estado da Índia. Constatando que as forças otomanas já tinham recuperado a cidade, D. João de Ataíde participou com D. Álvaro de Castro na conquista do Caxém, regressando a Goa a poucos dias do falecimento do já então vice-rei D. João de Castro. Este manifestou-se muito satisfeito dos seus serviços.
Durante o governo de Garcia de Sá (1548-49) deslocou-se com este às Praças do Norte, onde recebeu a nomeação para a capitania de Ormuz, a qual vinha na sequência do referido pedido de D. João de Castro ao rei. Na ocasião, D. João de Ataíde fez questão de escrever ao rei, agradecendo a nomeação e prometendo empenho na missão a desempenhar. Porém, com o governo de Jorge Cabral (1549-50) foi enviado ao Reino, em 1549, para noticiar a D. João III a conversão do rei de Tanor. Voltaria a partir para a Índia na armada de 1556, expressamente mandatado para entrar na capitania de Ormuz. Em sua companhia vinha o seu sobrinho D. João Gonçalves de Ataíde, filho natural de D. Martim Gonçalves de Ataíde, o primogénito da Casa de Atouguia, que falecera em 1541 no cerco de Santa Cruz do Cabo Gué.
Em finais de 1556, o governador Francisco Barreto (1555-1558) que nomeara D. João de Ataíde como um dos capitães de fusta com que partiu para o Norte, acabaria por o despachar para a capitania de Ormuz, por falecimento de Bernardim de Sousa. Porém, o fidalgo só exerceu a capitania durante ano e meio, visto em 1558, a partir de Chaul e na presença dos seus irmãos D. Vasco de Ataíde e D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, o governador o ter demitido da capitania. Em causa estiveram não apenas críticas que D. João de Ataíde fizera ao governador, relativas ao que considerava serem os gastos excessivos que fizera em 1556 quando fora ao Norte, mas também a sua crítica a Francisco Barreto por ter permitido a Pero Barreto Rolim atacar o reino do Sinde com quem Ormuz tinha relevantes relações comerciais. Partindo em Abril de 1558 para vir defender-se a Goa, entregou a capitania a D. Antão de Noronha e já em Goa reencontrou o irmão D. Vasco de Ataíde.
Com a chegada do vice-rei D. Constantino de Bragança (1558-1561) foi nomeado capitão do galeão São Tomé e com o seu irmão participou na conquista de Damão. No entanto, viria a ser apenas durante o governo do vice-rei D. Francisco Coutinho, 3º conde de Redondo (1561-1564), que D. João de Ataíde foi reempossado na capitania de Ormuz. Prosseguiu importantes obras de fortificação na praça. Todavia, o facto mais importante ao qual o fidalgo se terá associado durante o exercício da sua capitania foi ao pedido de paz entre o Império Otomano e o Estado da Índia por sete anos. Tendo recebido o embaixador do baxá de Baçorá, D. João de Ataíde escreveu ao vice-rei, solicitando que fosse dado o devido realce ao assunto, tendo em conta os recentes eventos (cerco otomano ao Bahrein em 1560) e a necessidade de evitar a guerra que muito prejudicava o comércio na região. Desconhece-se qual terá sido exactamente o seu grau de intervenção, embora se saiba que foi na sequência destes acontecimentos que o embaixador António Teixeira foi enviado a Istambul para sondar a hipótese de assinatura de pazes, a qual acabaria por sair gorada.
D. João de Ataíde não deverá ter vivido muito mais, desconhecendo-se, no entanto, a data do seu falecimento. Em 1566 fazia testamento legando a fortuna que acumulara no Oriente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ao seu irmão D. Luís de Ataíde. Faleceu sem ter-se casado e ter tido qualquer filho natural.
Bibliografia: CASTRO, D. Fernando de, Crónica do Vice-Rei D. João de Castro, transcrição e notas de Luís de Albuquerque e Teresa Travassos Cortez da Cunha Matos, Tomar, CNCDP, 1995; Cartas de D. João de Castro, edição de Elaine Sanceau, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1954; COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, v, 6-8, vi, 4, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; CRUZ, Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata de Azevedo, “A Questão de Baçorá na menoridade de D. Sebastião (1557-1568). A perspectiva das informações colhidas na Índia e as iniciativas de governo”, Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, nº 6, 5ª série, Dezembro de 1986, pp. 49-64; VILA-SANTA, Nuno, A Casa de Atouguia, os Últimos Avis e o Império: Dinâmicas entrecruzadas na carreira de D. Luís de Ataíde (1516-1581) , dissertação de doutoramento policopiada, Lisboa, FCSH-UNL, 2013.
A partida enquadra-se não apenas neste conhecimento mas também em ligações anteriores que D. João de Castro tivera com D. Afonso de Ataíde e com D. Luís de Ataíde, na jornada do Suez de 1541. Desta forma, ainda antes de D. João de Ataíde ser formalmente nomeado como capitão de um dos navios de socorro que D. João de Castro enviava a Diu, ao comando de D. Álvaro de Castro, o próprio governador escrevera ao seu filho para ter o merecimento e conta devida a D. João de Ataíde. Em causa estavam não apenas as ligações anteriores, mas também o parentesco que unira matrimonialmente as duas linhagens desde o século XV. Evidenciando coragem e bravura durante o segundo cerco de Diu, mas também discrição quando D. João de Castro o enviou secretamente a Adém para sondar as movimentações otomanas, D. João de Ataíde mereceu extensa recomendação a D. João III por parte do governador. Considerava este que D. João de Ataíde era merecedor de ser provido numa grande capitania pelo seu valor e honra.
Antes, porém, de se concretizar a nomeação régia em favor de D. João de Ataíde, o fidalgo continuou a acompanhar e servir zelosamente D. Álvaro de Castro, filho do governador. Assim participou na batalha campal de Diu, em 1547, tendo ficado ferido na cabeça e recebido 150 pardaus de mercê. Posteriormente marcou presença nos combates em Bârdez e Salsete contra as forças do sultão de Bijapur e participou num ataque no Malabar, onde voltou a ficar ferido na cabeça. Já em 1548, foi mandatado pelo governador para ir de novo a Adém, antes de D. Álvaro de Castro ali chegar com o grosso da armada, a fim de preparar as condições de conquista daquela cidade que pedira o auxílio do Estado da Índia. Constatando que as forças otomanas já tinham recuperado a cidade, D. João de Ataíde participou com D. Álvaro de Castro na conquista do Caxém, regressando a Goa a poucos dias do falecimento do já então vice-rei D. João de Castro. Este manifestou-se muito satisfeito dos seus serviços.
Durante o governo de Garcia de Sá (1548-49) deslocou-se com este às Praças do Norte, onde recebeu a nomeação para a capitania de Ormuz, a qual vinha na sequência do referido pedido de D. João de Castro ao rei. Na ocasião, D. João de Ataíde fez questão de escrever ao rei, agradecendo a nomeação e prometendo empenho na missão a desempenhar. Porém, com o governo de Jorge Cabral (1549-50) foi enviado ao Reino, em 1549, para noticiar a D. João III a conversão do rei de Tanor. Voltaria a partir para a Índia na armada de 1556, expressamente mandatado para entrar na capitania de Ormuz. Em sua companhia vinha o seu sobrinho D. João Gonçalves de Ataíde, filho natural de D. Martim Gonçalves de Ataíde, o primogénito da Casa de Atouguia, que falecera em 1541 no cerco de Santa Cruz do Cabo Gué.
Em finais de 1556, o governador Francisco Barreto (1555-1558) que nomeara D. João de Ataíde como um dos capitães de fusta com que partiu para o Norte, acabaria por o despachar para a capitania de Ormuz, por falecimento de Bernardim de Sousa. Porém, o fidalgo só exerceu a capitania durante ano e meio, visto em 1558, a partir de Chaul e na presença dos seus irmãos D. Vasco de Ataíde e D. Álvaro Gonçalves de Ataíde, o governador o ter demitido da capitania. Em causa estiveram não apenas críticas que D. João de Ataíde fizera ao governador, relativas ao que considerava serem os gastos excessivos que fizera em 1556 quando fora ao Norte, mas também a sua crítica a Francisco Barreto por ter permitido a Pero Barreto Rolim atacar o reino do Sinde com quem Ormuz tinha relevantes relações comerciais. Partindo em Abril de 1558 para vir defender-se a Goa, entregou a capitania a D. Antão de Noronha e já em Goa reencontrou o irmão D. Vasco de Ataíde.
Com a chegada do vice-rei D. Constantino de Bragança (1558-1561) foi nomeado capitão do galeão São Tomé e com o seu irmão participou na conquista de Damão. No entanto, viria a ser apenas durante o governo do vice-rei D. Francisco Coutinho, 3º conde de Redondo (1561-1564), que D. João de Ataíde foi reempossado na capitania de Ormuz. Prosseguiu importantes obras de fortificação na praça. Todavia, o facto mais importante ao qual o fidalgo se terá associado durante o exercício da sua capitania foi ao pedido de paz entre o Império Otomano e o Estado da Índia por sete anos. Tendo recebido o embaixador do baxá de Baçorá, D. João de Ataíde escreveu ao vice-rei, solicitando que fosse dado o devido realce ao assunto, tendo em conta os recentes eventos (cerco otomano ao Bahrein em 1560) e a necessidade de evitar a guerra que muito prejudicava o comércio na região. Desconhece-se qual terá sido exactamente o seu grau de intervenção, embora se saiba que foi na sequência destes acontecimentos que o embaixador António Teixeira foi enviado a Istambul para sondar a hipótese de assinatura de pazes, a qual acabaria por sair gorada.
D. João de Ataíde não deverá ter vivido muito mais, desconhecendo-se, no entanto, a data do seu falecimento. Em 1566 fazia testamento legando a fortuna que acumulara no Oriente à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e ao seu irmão D. Luís de Ataíde. Faleceu sem ter-se casado e ter tido qualquer filho natural.
Bibliografia: CASTRO, D. Fernando de, Crónica do Vice-Rei D. João de Castro, transcrição e notas de Luís de Albuquerque e Teresa Travassos Cortez da Cunha Matos, Tomar, CNCDP, 1995; Cartas de D. João de Castro, edição de Elaine Sanceau, Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1954; COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, v, 6-8, vi, 4, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; CRUZ, Maria do Rosário de Sampaio Themudo Barata de Azevedo, “A Questão de Baçorá na menoridade de D. Sebastião (1557-1568). A perspectiva das informações colhidas na Índia e as iniciativas de governo”, Revista da Faculdade de Letras, Lisboa, nº 6, 5ª série, Dezembro de 1986, pp. 49-64; VILA-SANTA, Nuno, A Casa de Atouguia, os Últimos Avis e o Império: Dinâmicas entrecruzadas na carreira de D. Luís de Ataíde (1516-1581) , dissertação de doutoramento policopiada, Lisboa, FCSH-UNL, 2013.