Data de publicação
2009
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Período
1. Filho de Matias de Carvalhal e de D. Isabel de Perada. É conhecido sobretudo pela sua carreira naval e os arbítrios que deixou sobre as reformas navais. A primeira parece ter começado em 1603, em circunstância pouco conhecidas. A primeira referência concreta à sua pessoa coloca-o a bordo da frota que foi enviada em 1609 para dar assistência à fortaleza portuguesa de Coulão, na costa de Kerala, na Índia. De 1615 a 1619 serviu como capitão do galeão Santo António, que fez duas viagens de ida e volta entre Portugal e a Índia, em 1615-1616 e 1617-1618. Uma melhoria significativa ao nível profissional ocorreu aquando da sua nomeação, em 1621, como almirante da Armada de Portugal, a frota portuguesa encarregue da patrulha das águas portuguesas (na terminologia da altura, "Almirante" significava o segundo em comando relativamente ao comandante da frota, que se chamava General). Ocupou este cargo até 1624, quando foi enviado de novo para a Índia, como almirante de uma grande frota de socorro. De retorno a Portugal, o rei atribuiu-lhe o governo de Cabo Verde, onde permaneceu de 1628 a 1632. O seu último cargo naval foi o de General de uma frota de socorro, preparada em 1636, que se planeava que fosse ao Brasil e que, por razões desconhecidas, não chegou a passar de Cádis. Morreu pouco tempo depois de ter sido nomeado para o Conselho de Guerra criado pelo novo rei, D. João IV, após a independência portuguesa de 1640. 2. A carreira de Corte Real enquanto arbitrista sobre os assuntos navais teve início em 1619, com a apresentação ao rei de um plano para regulamentar o comércio e a navegação portugueses com a Índia, plano esse que viria a ser modificado e expandido, dando lugar aos seus Discursos sobre la Navegacion de las Naos de la India de Portugal…, publicado em 1622 numa edição limitada, destinada a ser lida apenas nos circuitos oficiais. As duas principais propostas do seu trabalho consistiam na substituição das grandes naus de quatro conveses que serviam como naus da Carreira das Índias por embarcações de três conveses, mais pequenas e fáceis de manejar, e a implementação de um sistema de remunerações para oficiais e tripulação baseado exclusivamente em ordenados, que poria um fim nos abusos inerentes ao sistema em vigor, no qual os privilégios por transportar bens isentos de taxas representavam um papel importante. Esta última sugestão só foi testada em 1645, após a morte de Corte Real, tendo tido pouco sucesso. Por outro lado, a proposta de reforçar a construção de barcos de três conveses foi adoptada de imediato, tendo tido resultados de natureza diversa. Corte Real defendeu-se mais tarde dizendo que a retirada dos quarto conveses não tinha sido acompanhada das modificações necessárias na concepção dos navios. Seja como for, os dois tipos de barcos continuaram a coexistir até ao final do século, persistindo também a discussão sobre os respectivos méritos, comparativamente. 3. João Pereira Corte Real foi considerada uma figura notável devido ao seu interesse e ao seu conhecimento sobre os assuntos náuticos, que os historiadores pressupõem serem quase inexistentes entre as pessoas da sua condição, inclusivamente entre aqueles que desempenhavam cargos navais. Vangloriava-se por ser o único nobre que se sabia ter feito o exame de piloto, atitude que terá dado crédito a esta opinião. No entanto, seria necessário uma maior investigação para saber com mais precisão quão atípico era realmente no contexto da época (o mesmo poderia ser dito a propósito do seu contemporâneo D. António Ataíde, um nobre com opiniões semelhantes, com quem seria interessante compará-lo).

Bibliografia:
BOXER, C.R., "João Pereira Corte-Real (1580-1642), Capitão-Mor das Naus da Carreira da Índia and Almirante da Armada Real", in Actas do Congresso do Mundo Português, vol. VI, pp. 439-463, Lisbon, 1940. BOXER, C.R., "Admiral João Pereira Corte Real and the Construction of Portuguese East-Indiamen in the Early 17th Century", in From Lisbon to Goa, 1500-1750, London, 1984. VASCONCELOS, Frazão de, João Pereira Corte Real. Conselheiro de Guerra d`El-Rei D. João IV e as Naus da Carreira da Índia, Lisbon, 1921.

Traduzido do Inglês por: Dominique Faria