Data de publicação
2009
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No extremo sudoeste de Portugal, dois promontórios desafiam o mar. Na esquina, onde a linha de costa flecte do sentido Norte-Sul para Oeste-Este, está o cabod e S. Vicente, local afamado por ter sido aí sepultado o mártir venerado especialmente pelos lisboetas. À vista deste promontório, a Oriente, encontra-se o outro cabo, que tem junto a si a vila de Sagres. Foi por aí, nas imediações desse cabo que se situava a vila construída pelo infante D. Henrique a partir de 1443, e onde o infante faleceu, a 13 de Novembro de 1460.
A importância desta região como área sacralizada é-nos revelada, por exemplo, por Gomes Eanes de Zurara, quando o cronista afirma que as tripulações dos navios da armada de 1415, que si dirigiam para Ceuta, saudaram com reverência o cabo de S. Vicente. A primeira referência explícita à presença do infante D. Henrique em Sagres data de 1 de Novembro de 1446, quando o infante assinou, "em a minha vila" a carta que outorgava a capitania do Porto Santo a Bartolomeu Perestrelo. Só se conhecem dois documentos assinados por D. Henrique em Sagres acompanhados de expressões diferentes da "em a minha vila", quando a 20 de Fevereiro de 1459 assinou "em a minha vila de Tercanaaval" e a 2 de Setembro de 1460 quando escreveu "em a minah vila, a vila do Infante". Assim, o infante nunca designou a sua vila pelo nome de Sagres. Aliás, a expressão "vila" referia certamente um seu espaço doméstico e não uma área administrativa. Seria apenas a 16 de Junho de 1464, que D. Afonso V se referiria ao local como "a minha vila de Sagres".
Por tudo isto, se percebe que o mito da "escola de Sagres" não tem fundamento. Os longos 13 anos de tentativas frustradas, que antecederam a viagem pioneira de Gil Eanes, bem como o primeiro decénio de explorações a sul do Bojador, decorreram sem que a zona de Sagres fosse sequer habitada. Assim, o verdadeiro centro experimental das navegações henriquinas foi, sem dúvida, a vila de Lagos, quiçá com o apoio de homens da universidade de Lisboa, que era regida pelo infante D. Henrique.
O mito de Sagres resultou, em primeiro lugar do facto de João de Barros ter sustentado que D. Henrique já residia aí quando congeminara a ideia de tentar desbravar os mares a sul do Bojador. A partir desta informação errada, a imaginação de vários autores construíram um mito que incluiu um edifício onde se dariam aulas
O facto de Sagres não poder ser associado à génese das navegações, não lhe retira, contudo o seu papel relevante no contexto da História de Portugal e da História dos Descobrimentos. Note-se que foi esse o local escolhido pelo infante D. Henrique para gradualmente se afastar do mundo. O duque de Viseu e governador da Ordem de Cristo, senhor das Beiras, preferiu aquela terra inóspita e ventosa para construir o seu espaço doméstico. Por essa via, Sagres entrou no imaginário nacional e figura hoje como um local apropriado para evocar a gesta dos Descobrimentos - não porque estes tenham começado aí, mas porque foi aí que se recolheu o seu inventor.
Sendo hoje um local afamado, que atrai milhares de visitantes, em busca da "escola de Sagres" e de qualquer vestígio do homem alto e esguio, taciturno, de bigode vestido com uma sotaina e com a cabeça coberta por chapéu celebérrimo, Sagres deve ser um espaço onde se fale do homem que fundou a povoação e dos seus feitos que mudaram a história do mundo.
A importância desta região como área sacralizada é-nos revelada, por exemplo, por Gomes Eanes de Zurara, quando o cronista afirma que as tripulações dos navios da armada de 1415, que si dirigiam para Ceuta, saudaram com reverência o cabo de S. Vicente. A primeira referência explícita à presença do infante D. Henrique em Sagres data de 1 de Novembro de 1446, quando o infante assinou, "em a minha vila" a carta que outorgava a capitania do Porto Santo a Bartolomeu Perestrelo. Só se conhecem dois documentos assinados por D. Henrique em Sagres acompanhados de expressões diferentes da "em a minha vila", quando a 20 de Fevereiro de 1459 assinou "em a minha vila de Tercanaaval" e a 2 de Setembro de 1460 quando escreveu "em a minah vila, a vila do Infante". Assim, o infante nunca designou a sua vila pelo nome de Sagres. Aliás, a expressão "vila" referia certamente um seu espaço doméstico e não uma área administrativa. Seria apenas a 16 de Junho de 1464, que D. Afonso V se referiria ao local como "a minha vila de Sagres".
Por tudo isto, se percebe que o mito da "escola de Sagres" não tem fundamento. Os longos 13 anos de tentativas frustradas, que antecederam a viagem pioneira de Gil Eanes, bem como o primeiro decénio de explorações a sul do Bojador, decorreram sem que a zona de Sagres fosse sequer habitada. Assim, o verdadeiro centro experimental das navegações henriquinas foi, sem dúvida, a vila de Lagos, quiçá com o apoio de homens da universidade de Lisboa, que era regida pelo infante D. Henrique.
O mito de Sagres resultou, em primeiro lugar do facto de João de Barros ter sustentado que D. Henrique já residia aí quando congeminara a ideia de tentar desbravar os mares a sul do Bojador. A partir desta informação errada, a imaginação de vários autores construíram um mito que incluiu um edifício onde se dariam aulas
O facto de Sagres não poder ser associado à génese das navegações, não lhe retira, contudo o seu papel relevante no contexto da História de Portugal e da História dos Descobrimentos. Note-se que foi esse o local escolhido pelo infante D. Henrique para gradualmente se afastar do mundo. O duque de Viseu e governador da Ordem de Cristo, senhor das Beiras, preferiu aquela terra inóspita e ventosa para construir o seu espaço doméstico. Por essa via, Sagres entrou no imaginário nacional e figura hoje como um local apropriado para evocar a gesta dos Descobrimentos - não porque estes tenham começado aí, mas porque foi aí que se recolheu o seu inventor.
Sendo hoje um local afamado, que atrai milhares de visitantes, em busca da "escola de Sagres" e de qualquer vestígio do homem alto e esguio, taciturno, de bigode vestido com uma sotaina e com a cabeça coberta por chapéu celebérrimo, Sagres deve ser um espaço onde se fale do homem que fundou a povoação e dos seus feitos que mudaram a história do mundo.