Data de publicação
2009
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A todo o conjunto de regras para a navegação, de alcance astronómico ou de qualquer outro tipo, chamou-se, nos séculos XV a XVIII, um regimento. A designação radica-se numa tradição medieval e a palavra teve alcance que excedeu os quadros da arte náutica, pois aplicava-se a todo o conjunto de normas de conduta a seguir, nas mais variadas circunstâncias: regimentos para os capitães de fortalezas, para os feitores, para os capitães das armadas da Índia, etc. Se nos limitarmos, porém à náutica, pode dizer-se que toda ela dependia da observância de regimentos por parte dos pilotos. Eles dispunham, com efeito, do regimento do Sol, do regimento da Estrela Polar, do regimento do Cruzeiro do Sul e dos regimentos de várias estrelas, para determinarem latitudes, que também, por conselho de Pedro Nunes, foram obtidas por D. João de Castro através do regimento da latira do Sol a toda a hora - que, em todo o caso, nunca chegou a ter a ampla divulgação dos restantes. Além desses, os pilotos recorriam ainda ao regimento da hora nocturna determinada pela Estrela Polar, ao regimento das léguas (para saber quantas léguas tinham de navegar, segundo rumos distintos do de norte-sul, a fim de aumentar ou abater um grau de latitude) e ainda ao regimento das marés, que permitia fixar as horas das várias marés em dado porto. Outros regimentos ou simples regras pretendiam habilitar o piloto a encontrar uma ilha que «falhara» ou a «achar o ponto perdido», ou para saber quantas léguas estava afastado de uma terra avistada à proa, etc; na sua maior parte eram deficiente e D. António de Ataíde já as comentava causticamente, no primeiro quartel do século XVIII, nas margens do Livro de Marinharia de Gaspar Moreira (edição de Leon Bourdon e Luís de Albuquerque, Lisboa, 1977).

Artigo originalmente publicado no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, e reproduzido por cortesia do Círculo de Leitores