Data de publicação
2009
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Termo que designa a produção artística realizada no contexto das relações encetadas entre Portugal e a China, sobretudo entre os séculos XVI e XVII, um período em que o primeiro país se afirmou como principal intermediário e parceiro comercial do Celeste Império com o Ocidente. Concebida por chineses a partir de encomendas e/ ou directrizes lusas, esta manufactura apresenta-se como uma síntese cultural e artística caracterizada pelo entrecruzar de referentes chineses e portugueses (europeus), os quais se podem manifestar, de forma cumulativa ou não, em diferentes domínios quer do ponto de vista material e dos procedimentos técnicos empregues, quer do tipo de iconografia, abordagem plástica, cromática, e até funcional adoptada.
A mesma congrega obras de cariz religioso e profano: no âmbito do primeiro reconhece-se uma manufactura vocacionada para o culto católico, eminentemente complementar aos esforços da missionação encetada pelo Padroado Português do Oriente. No segundo domínio, considera-se a produção dirigida à comunidade civil europeia, em particular a lusófona, seja aquela fixada em cidades e entrepostos ultramarinos sob alçada portuguesa seja destinada à própria metrópole, sendo que nele se integram sobretudo peças destinadas ao recheio e decoração de espaços públicos e privados residenciais.
Do ponto de vista historiográfico, muito embora a expressão sinoportuguês conste do título de uma obra de 1934 acerca das relações comerciais entre a China e Portugal, a sua génese, numa dimensão artística, é posterior podendo ser encontrada na década de sessenta do século XX, como resultado da subdivisão, por iniciativa de Bernardo Ferrão, de um outro conceito, primitivamente mais lato, o indo-português*.
Na actualidade, a designação corresponde a um grande vazio em termos de contextualização, caracterização ou atribuição. Se por um lado pecam os estudos devidamente aprofundados em torno do tipo de produção artística conotável com a designação - ainda que algumas áreas como as dos marfins, mobiliário, têxteis e cerâmica tenham merecido mais recentemente maior atenção por parte dos investigadores -, por outro, pouco se tem procurado definir ou sistematizar, relativamente às implicações desta expressão e, portanto, esclarecer o seu significado enquanto adjectivo válido. No entanto, afigura-se clara a existência de uma produção sino-portuguesa, pelo menos, ao nível da porcelana, em particular daquela decorada com emblemas heráldicos portugueses ou com as armas de algumas das ordens religiosas ao serviço do Padroado, e dos têxteis, nomeadamente, de alfaias litúrgicas bordadas, ambas ainda com significativa expressão entre o espólio subsistente em Portugal - contrariando assim a observação de Rafael Moreira de que "ao contrário de Goa e dos centros maiores do Índico Ocidental (...), aqui [Macau] não se desenvolveu nenhuma escola ou estilo artístico próprio baseado no hibridismo de formas luso-orientais, como o indo-português, o cingalo-português ou o luso-persa.". Tal não obsta à necessidade de uma mais aturada e global reflexão, por exemplo, no que respeita à localização dos centros manufactureiros e aos responsáveis pela sua concretização, não devendo ser descartada uma produção fora de Macau - a que Fernando António Baptista Pereira parece quer circunscrever a arte sino-portuguesa - por exemplo, em Cantão ou noutras localidades das províncias do sul da China, estreita e plenamente envolvidas nos negócios com os portugueses.
Bibliografia:
CHANG, Tien-Tsê, O Comércio Sino-português entre 1514 e 1644: Uma síntese de fontes portuguesas e chinesas, Macau, Instituto Português do Oriente, 1997. FERREIRA, Maria João Pacheco, As Alfaias Bordadas Sinoportuguesas Datáveis dos Séculos XVI a XVIII. Contextualização. Caracterização. Análise, Lisboa, Universidade Lusíada, 2007. FERREIRA, Maria João Pacheco, "O Conceito sinoportuguês. Problemáticas inerentes ao seu surgimento, identidade e aplicação" in Lusíada. Arqueologia, História da Arte e Património, Lisboa, Universidade Lusíada Editora, 2004, nº 2/4, pp. 139-151. MOREIRA, Rafael, "As Formas Artísticas", in A.H. de Oliveira MARQUES, (dir. de), História dos Portugueses no Extremo Oriente - De Macau à Periferia, 1º vol., tomo I, Lisboa, Fundação Oriente, 1998. Oceanos - Indo-Portuguesmente, Lisboa, 1994, nº19/20 - Setembro/ Dezembro. PEREIRA, Fernando António Baptista,"A Arquitectura "Chã" e a Ornamentação Interior nas Igrejas Portuguesas do Oriente (séculos XVII-XVIII) ", in Mafalda Soares da CUNHA, (coord. de), Os Construtores do Oriente Português, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998, pp. 167-193. TÁVORA, Bernardo Ferrão Tavares e, A Imaginária Luso-oriental, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1983.
A mesma congrega obras de cariz religioso e profano: no âmbito do primeiro reconhece-se uma manufactura vocacionada para o culto católico, eminentemente complementar aos esforços da missionação encetada pelo Padroado Português do Oriente. No segundo domínio, considera-se a produção dirigida à comunidade civil europeia, em particular a lusófona, seja aquela fixada em cidades e entrepostos ultramarinos sob alçada portuguesa seja destinada à própria metrópole, sendo que nele se integram sobretudo peças destinadas ao recheio e decoração de espaços públicos e privados residenciais.
Do ponto de vista historiográfico, muito embora a expressão sinoportuguês conste do título de uma obra de 1934 acerca das relações comerciais entre a China e Portugal, a sua génese, numa dimensão artística, é posterior podendo ser encontrada na década de sessenta do século XX, como resultado da subdivisão, por iniciativa de Bernardo Ferrão, de um outro conceito, primitivamente mais lato, o indo-português*.
Na actualidade, a designação corresponde a um grande vazio em termos de contextualização, caracterização ou atribuição. Se por um lado pecam os estudos devidamente aprofundados em torno do tipo de produção artística conotável com a designação - ainda que algumas áreas como as dos marfins, mobiliário, têxteis e cerâmica tenham merecido mais recentemente maior atenção por parte dos investigadores -, por outro, pouco se tem procurado definir ou sistematizar, relativamente às implicações desta expressão e, portanto, esclarecer o seu significado enquanto adjectivo válido. No entanto, afigura-se clara a existência de uma produção sino-portuguesa, pelo menos, ao nível da porcelana, em particular daquela decorada com emblemas heráldicos portugueses ou com as armas de algumas das ordens religiosas ao serviço do Padroado, e dos têxteis, nomeadamente, de alfaias litúrgicas bordadas, ambas ainda com significativa expressão entre o espólio subsistente em Portugal - contrariando assim a observação de Rafael Moreira de que "ao contrário de Goa e dos centros maiores do Índico Ocidental (...), aqui [Macau] não se desenvolveu nenhuma escola ou estilo artístico próprio baseado no hibridismo de formas luso-orientais, como o indo-português, o cingalo-português ou o luso-persa.". Tal não obsta à necessidade de uma mais aturada e global reflexão, por exemplo, no que respeita à localização dos centros manufactureiros e aos responsáveis pela sua concretização, não devendo ser descartada uma produção fora de Macau - a que Fernando António Baptista Pereira parece quer circunscrever a arte sino-portuguesa - por exemplo, em Cantão ou noutras localidades das províncias do sul da China, estreita e plenamente envolvidas nos negócios com os portugueses.
Bibliografia:
CHANG, Tien-Tsê, O Comércio Sino-português entre 1514 e 1644: Uma síntese de fontes portuguesas e chinesas, Macau, Instituto Português do Oriente, 1997. FERREIRA, Maria João Pacheco, As Alfaias Bordadas Sinoportuguesas Datáveis dos Séculos XVI a XVIII. Contextualização. Caracterização. Análise, Lisboa, Universidade Lusíada, 2007. FERREIRA, Maria João Pacheco, "O Conceito sinoportuguês. Problemáticas inerentes ao seu surgimento, identidade e aplicação" in Lusíada. Arqueologia, História da Arte e Património, Lisboa, Universidade Lusíada Editora, 2004, nº 2/4, pp. 139-151. MOREIRA, Rafael, "As Formas Artísticas", in A.H. de Oliveira MARQUES, (dir. de), História dos Portugueses no Extremo Oriente - De Macau à Periferia, 1º vol., tomo I, Lisboa, Fundação Oriente, 1998. Oceanos - Indo-Portuguesmente, Lisboa, 1994, nº19/20 - Setembro/ Dezembro. PEREIRA, Fernando António Baptista,"A Arquitectura "Chã" e a Ornamentação Interior nas Igrejas Portuguesas do Oriente (séculos XVII-XVIII) ", in Mafalda Soares da CUNHA, (coord. de), Os Construtores do Oriente Português, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 1998, pp. 167-193. TÁVORA, Bernardo Ferrão Tavares e, A Imaginária Luso-oriental, Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1983.