Data de publicação
2009
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Nascido em 8 de Fevereiro de 1649, na cidade italiana de Lucca, com o nome de Giovanni Antonio Andreoni, o autor de Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas ficou conhecido para a posteridade pelo pseudónimo André João Antonil, com o qual assinou esta obra chave e fonte primordial para o estudo do Brasil colonial, na passagem do século XVII para o XVIII. Ainda no seu país natal, Andreoni iniciou a sua formação em Direito, na Universidade de Perugia, onde prosseguiu igualmente estudos latinos, áreas em que demonstraria mestria ao longo da vida.

Após este período de formação universitária foi, em 20 de Maio de 1667, admitido na Companhia de Jesus, em Roma, onde se destacou leccionando Retórica e Filosofia no seminário jesuíta. Foi também nesta cidade que, pela primeira vez, encontrou e conheceu o Padre António Vieira, figura que iria marcar indelevelmente o seu percurso de vida.

Por influência do jesuíta português, Andreoni decidiu deixar Itália, rumando a Lisboa, cidade de onde partiu para o Brasil em Janeiro de 1681 na companhia de Vieira, desembarcando em Salvador da Baía, para não mais regressar à Europa.

Foi nesta cidade que, ao longo das décadas seguintes, exerceu destacados cargos, principalmente no colégio Jesuíta da Baía, enquanto docente de Retórica, director da congregação dos estudantes e mestre dos noviços, chegando inclusivamente a assumir por duas vezes a posição de reitor do colégio. Foi ainda secretário do provincial jesuíta, servindo sob vários incumbentes antes de, em 1705, ter ele mesmo sido nomeado para o cargo que exerceu até 1709, data em que reassumiu o lugar de reitor.

A sua influência estendia-se às mais altas esferas do poder colonial, servindo enquanto confessor particular de dois governadores-gerais, tendo sido por via desse prestígio que pôde assumir estas altas funções a despeito de se encontrarem, por carta régia, vedadas a religiosos estrangeiros. Era igualmente próximo de altas figuras eclesiásticas, nomeadamente o arcebispo da Baía. Terá sido esta sua inserção entre as elites da colónia que permitiu a Andreoni recolher parte das informações para a sua obra.

Este factor assume um carácter fulcral uma vez que, apesar de ter vivido mais de metade da sua vida no Brasil, foram raras as ocasiões em que o padre jesuíta abandonou o recôncavo baiano, salvo uma passagem por Pernambuco enquanto visitador, às ordens do Padre António Vieira, e uma visita feita, em meados da década de 1690, ao engenho de açúcar em Sergipe do Conde, na capitania baiana. Esta ligação à região baiana marcou a sua obra e foi inclusivamente ao longo dos dias que passou neste engenho que o Padre Andreoni se informou acerca dos meandros da produção açucareira, sobre os quais viria a escrever. Apesar de breves períodos de ausência, foi na cidade de Salvador que Antonil viveu, e morreu, aos 67 anos de idade no Colégio da Baía, em 13 de Março de 1716.

Em Março de 1711, apenas cinco anos antes de ter falecido, foi publicada na cidade de Lisboa a sua obra Cultura e Opulência do Brasil, assinada com o pseudónimo de André João Antonil. Nesta obra, organizada em quatro capítulos, Antonil procurou descrever as condições económicas da colónia neste período.

Na primeira parte, ocupando quase metade do livro, dedicou-se à economia açucareira, descrevendo os seus detalhes. Para tal Antonil relatou as várias fases e processos técnicos, desde a plantação, corte e transformação da cana sacarina, à sua posterior comercialização. Não descurou igualmente a organização social desta actividade, desde os senhores de engenho aos escravos. Esta abordagem minuciosa demonstra a primazia dada pelo autor à produção açucareira enquanto actividade económica dominante no panorama brasileiro.

As partes seguintes de Cultura e Opulência do Brasil abordavam as mais destacadas entre as restantes actividades económicas da colónia. Numa breve abordagem daquilo a que chama de "Lavra do Tabaco", Antonil descreveu as diferentes fases do seu cultivo e transformação bem como os lucros provenientes da sua comercialização, tecendo algumas considerações sobre as consequências para a saúde do seu consumo.

Maior destaque foi dado à mineração aurífera e argentífera, que se começava a destacar neste período. Antonil relatou a descoberta do ouro, o afluxo de mineiros às regiões auríferas, os processos de extracção e tributação e as vias de escoamento do minério. Analisou também, de forma critica, as consequências sociais, económicas e morais destas descobertas, consequências que considerava perniciosas e destabilizadoras para a sociedade colonial, levando ao desleixo das plantações açucareiras, que valorizava ainda como sendo a maior riqueza do Brasil.

Por fim Antonil analisou o impacto económico da criação de gado bovino em grandes manadas, que constituía a principal fonte de riqueza do interior brasileiro, antes de terminar a sua obra com uma menção à importância da colónia para o Reino de Portugal.

Poucos dias depois da sua publicação, a edição de Cultura e Opulência do Brasil, foi alvo de uma ordem de apresamento e destruição, datada de 20 de Maio de 1711, emitida pelo Conselho Ultramarino. O Conselho viu-se confrontado com a possível ameaça que a divulgação da obra de Antonil poderia constituir devido às suas pormenorizadas descrições da localização e dos acessos às zonas de mineração. O conhecimento destas informações por potências externas poderia constituir uma ameaça para a segurança económica e militar da Colónia e do Reino. Apesar da efectivação desta determinação régia, alguns, poucos, exemplares da obra sobreviveram à destruição, legando à posteridade a descrição do Padre Antonil das transformações económico-sociais do Brasil em inícios do século XVIII.

Bibliografia:
ANTONIL, André João, Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas, introdução e comentário crítico por Andrée Mansuy Diniz Silva, Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2001.