Data de publicação
2009
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Alcácer-Ceguer (al-ksar al-saghir «castelo pequeno» em árabe) é uma cidade
marroquina situada no estrito de Gibraltar, entre Tânger e Ceuta.
Foi conquistada por D. Afonso V a 23 de Outubro de 1458. Na empresa seguiam também o infante D. Henrique (que comandava a armada do Algarve), o infante D. Fernando, o marquês de Valença (que comandava a armada do Porto) e o marquês de Vila Viçosa. O rei, cuja nau se desviou com o vento para junto de Tânger ainda hesitou na cidade a conquistar, mas devido à persuasão do infante D. Henrique, que havia participado no desastre de Tânger em 1437, manteve-se a decisão de atacar Alcácer Ceguer. A conquista foi possível devido à superioridade da artilharia pesada portuguesa, e à decisão do rei de Fez, Abd al-Hakk, que quando estava a preparar um ataque a Tlemcen, fora avisado de que a frota de D. Afonso V estava à vista de Tânger. Indeciso sobre o alvo dos Portugueses, que poderia ser Tânger ou a capital, Fez, decidiu ir defender a última.
A cidade de Alcácer Ceguer foi erguida no início da ocupação muçulmana do Magreb, cerca de 708. Durante o período almóada, foi um importante porto de embarque de tropas para a Península Ibérica. No entanto, quando foi conquistada pelos Portugueses, Alcácer não passava de um simples porto de corsários. Após a conquista, uma das primeiras preocupações do monarca foi o do reforço da sua fortificação, mandando construir uma couraça para defender o futuro desembarque de mantimentos e homens. Esta couraça voltou a ser alvo de obras de melhoramento no reinado de D. Manuel I.
A mesquita da cidade foi transformada na igreja de Santa Maria da Misericórdia, outorgada à Ordem de Cristo por iniciativa do infante D. Henrique. Logo após a sua tomada, o rei de Fez tentou por duas vezes reavê-la. O primeiro cerco durou 53 dias e foi levantado a 2 de Janeiro de 1459. Contudo a guarnição da cidade, comandada por D. Duarte de Meneses (filho do primeiro capitão de Ceuta, D. Pedro de Meneses), conseguiu resistir e defender a praça. Abd al-Hakk voltou a cercar Alcácer entre 2 de Julho e 24 de Agosto de 1459. Durante este cerco, D. Duarte de Meneses mandou vir do reino a mulher e os filhos, que com alguma dificuldade, conseguiram furar o cerco e entrar dentro da praça. Esta atitude do capitão deu novo ânimo à guarnição sitiada, que não cedeu as defesas.
A população da praça chegou a atingir as 800 pessoas, mas estava totalmente dependente do Reino para a sua manutenção. A conquista de Arzila e Tânger em 1471 significou a consolidação da presença portuguesa no norte de Marrocos, pelo que Alcácer Ceguer, que era uma praça pequena, perdeu a sua importância estratégica, quer para os portugueses quer para os muçulmanos.
No reinado de D. João III conclui-se que não se podia continuar a sustentar esta praça, que ainda por cima, era um alvo fácil para a artilharia muçulmana. Após quase duas décadas de discussão, Alcácer Ceguer foi abandonada em 1550.
Comprovando a sua pouca importância estrategicamente, a praça permaneceu abandonada, sendo hoje um importante campo arqueológico. O facto de não ter sofrido, para além do desgaste do tempo, modificações desde a presença portuguesa, torna-a um caso único de estudo.
As escavações arqueológicas conduzidas por Charles Redman e James Boone, dois arqueólogos americanos, entre 1974 e 1978, demonstraram que os Portugueses usavam as cidades marroquinas já existentes, que após a conquista eram adaptadas às suas necessidades, acrescentando elementos arquitectónicos próprios. Os relatórios das escavações demonstram como a vila portuguesa se impôs à islâmica Foi o caso do hamman (os banhos islâmicos) transformados em prisão, da mesquita transformada em igreja, e do castelo, que fechou a antiga Porta do Mar (bab al bahar), usada como paço para o capitão, e que teve que ser adaptado ao uso de artilharia. Após a conquista, a situação da cidade modificou-se, passou a estar em território adverso, sendo a ligação por mar (com o reino) a mais importante, levando à construção da couraça que ainda hoje se distingue na paisagem.
Bibliografia:
BRAGA, Paulo Drumond, «A Expansão no Norte de África», in Nova História da Expansão Portuguesa, dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Vol. II, A Expansão Quatrocentista, Editorial Estampa, 1998, pp. 237-360. DUARTE, Luís Miguel, «África», in Nova História Militar de Portugal, dir. de Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, vol. I, Lisboa, Circulo de Leitores, 2003, pp.392-441. REDMAN, Charles L., Qsar es-Seghir: an archaelogical view of medieval life, London, Academic Press, 1986.
Foi conquistada por D. Afonso V a 23 de Outubro de 1458. Na empresa seguiam também o infante D. Henrique (que comandava a armada do Algarve), o infante D. Fernando, o marquês de Valença (que comandava a armada do Porto) e o marquês de Vila Viçosa. O rei, cuja nau se desviou com o vento para junto de Tânger ainda hesitou na cidade a conquistar, mas devido à persuasão do infante D. Henrique, que havia participado no desastre de Tânger em 1437, manteve-se a decisão de atacar Alcácer Ceguer. A conquista foi possível devido à superioridade da artilharia pesada portuguesa, e à decisão do rei de Fez, Abd al-Hakk, que quando estava a preparar um ataque a Tlemcen, fora avisado de que a frota de D. Afonso V estava à vista de Tânger. Indeciso sobre o alvo dos Portugueses, que poderia ser Tânger ou a capital, Fez, decidiu ir defender a última.
A cidade de Alcácer Ceguer foi erguida no início da ocupação muçulmana do Magreb, cerca de 708. Durante o período almóada, foi um importante porto de embarque de tropas para a Península Ibérica. No entanto, quando foi conquistada pelos Portugueses, Alcácer não passava de um simples porto de corsários. Após a conquista, uma das primeiras preocupações do monarca foi o do reforço da sua fortificação, mandando construir uma couraça para defender o futuro desembarque de mantimentos e homens. Esta couraça voltou a ser alvo de obras de melhoramento no reinado de D. Manuel I.
A mesquita da cidade foi transformada na igreja de Santa Maria da Misericórdia, outorgada à Ordem de Cristo por iniciativa do infante D. Henrique. Logo após a sua tomada, o rei de Fez tentou por duas vezes reavê-la. O primeiro cerco durou 53 dias e foi levantado a 2 de Janeiro de 1459. Contudo a guarnição da cidade, comandada por D. Duarte de Meneses (filho do primeiro capitão de Ceuta, D. Pedro de Meneses), conseguiu resistir e defender a praça. Abd al-Hakk voltou a cercar Alcácer entre 2 de Julho e 24 de Agosto de 1459. Durante este cerco, D. Duarte de Meneses mandou vir do reino a mulher e os filhos, que com alguma dificuldade, conseguiram furar o cerco e entrar dentro da praça. Esta atitude do capitão deu novo ânimo à guarnição sitiada, que não cedeu as defesas.
A população da praça chegou a atingir as 800 pessoas, mas estava totalmente dependente do Reino para a sua manutenção. A conquista de Arzila e Tânger em 1471 significou a consolidação da presença portuguesa no norte de Marrocos, pelo que Alcácer Ceguer, que era uma praça pequena, perdeu a sua importância estratégica, quer para os portugueses quer para os muçulmanos.
No reinado de D. João III conclui-se que não se podia continuar a sustentar esta praça, que ainda por cima, era um alvo fácil para a artilharia muçulmana. Após quase duas décadas de discussão, Alcácer Ceguer foi abandonada em 1550.
Comprovando a sua pouca importância estrategicamente, a praça permaneceu abandonada, sendo hoje um importante campo arqueológico. O facto de não ter sofrido, para além do desgaste do tempo, modificações desde a presença portuguesa, torna-a um caso único de estudo.
As escavações arqueológicas conduzidas por Charles Redman e James Boone, dois arqueólogos americanos, entre 1974 e 1978, demonstraram que os Portugueses usavam as cidades marroquinas já existentes, que após a conquista eram adaptadas às suas necessidades, acrescentando elementos arquitectónicos próprios. Os relatórios das escavações demonstram como a vila portuguesa se impôs à islâmica Foi o caso do hamman (os banhos islâmicos) transformados em prisão, da mesquita transformada em igreja, e do castelo, que fechou a antiga Porta do Mar (bab al bahar), usada como paço para o capitão, e que teve que ser adaptado ao uso de artilharia. Após a conquista, a situação da cidade modificou-se, passou a estar em território adverso, sendo a ligação por mar (com o reino) a mais importante, levando à construção da couraça que ainda hoje se distingue na paisagem.
Bibliografia:
BRAGA, Paulo Drumond, «A Expansão no Norte de África», in Nova História da Expansão Portuguesa, dir. de Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques, Vol. II, A Expansão Quatrocentista, Editorial Estampa, 1998, pp. 237-360. DUARTE, Luís Miguel, «África», in Nova História Militar de Portugal, dir. de Themudo Barata e Nuno Severiano Teixeira, vol. I, Lisboa, Circulo de Leitores, 2003, pp.392-441. REDMAN, Charles L., Qsar es-Seghir: an archaelogical view of medieval life, London, Academic Press, 1986.
Autoria da imagem
André Teixeira
Legenda da imagem
Vista da couraça de Alcácer Ceguer