Data de publicação
2009
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A ilha de Arguim, situada na extremidade Norte da actual República Islâmica da Mauritânia, alcançou importância devido ao seu papel precursor no desenvolvimento do comércio português no litoral africano. Local da primeira feitoria portuguesa na costa ocidental de África, a ilha situa-se a 20º40' N; 16º50 O.
Nos anos que se seguiram à passagem do Cabo Bojador, em 1434, as embarcações portuguesas prosseguiram as suas navegações para sul, ao longo da costa saariana atingindo, no espaço de menos de uma década, a costa da Mauritânia. Estas navegações, que cedo se revelaram lucrativas através de actos de corso e razias, levaram na década de 1440 à exploração do golfo de Arguim e das ilhas nele localizadas, por diversas viagens entre as quais se destacam a de Nuno Tristão, em 1443, e a de Gonçalo de Sintra, em 1444.
Pela sua localização privilegiada e condições naturais favoráveis, a ilha de Arguim cedo emergiu como local propício ao estabelecimento dos interesses portugueses. De facto, Arguim situava-se numa região que, apesar de esparsamente povoada, se encontrava próxima dos circuitos comerciais percorridos pelas caravanas mercantis que atravessavam o Saara, as quais frequentemente se aproximavam da costa devido à abundância de sal na região. Beneficiava igualmente da proximidade do importante entreposto comercial de Ouadane, no interior africano, a cerca de 350 km de distância.
Para mais, a ilha era dotada de um ancoradouro seguro, era rica em peixe e possuía água doce em abundância no seu interior. Estes factores levaram a que, pouco depois de ser descoberta, a ilha de Arguim se tivesse tornado um importante entreposto comercial português, recebendo a primeira feitoria construída na costa africana a Sul de Meça, em Marrocos. Junto desta feitoria começou a ser edificada, em meados da década de 1450, um pequeno castelo cuja capitania-mor foi entregue, em 1464, a Soeiro Mendes de Évora.
O comércio dirigido a partir da feitoria, que atingiu o seu auge no terceiro quartel do século XV, passando em 1481 a monopólio régio sob D. João II, baseava-se essencialmente no resgate de mercadorias transportadas pelas caravanas sudanesas, nomeadamente escravos, ouro em pó e goma-arábica. Estas mercadorias eram negociadas junto das caravanas em troca de panos, cereais e cavalos, produtos que eram trazidos pelos Portugueses muitas vezes das praças do Norte de África.
Na década de 1480, o castelo foi aumentada por D. João II, mas Arguim foi perdendo a sua importância ao longo dos anos seguintes, à medida que os interesses comerciais portugueses se expandiam a regiões mais a sul, sobretudo na costa da Guiné, onde o comércio de ouro e escravos se revelou consideravelmente mais lucrativo. No entanto, este abrandamento do interesse português na região não representou o abandono do comércio da feitoria de Arguim que, apesar de ter declinado consideravelmente durante o século XVI, se manteve até à construção de uma fortaleza sob risco do Engenheiro-Mor Leonardo Turriano em 1607, e à tomada da ilha pelos neerlandeses em 1633.
Bibliografia:
AMENDOEIRA, Rui, "Arguim" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol.I, dir. Luís de Albuquerque e Francisco Contente Domingues, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 83-84. DISNEY, A.R., "Engaging with Atlantic Africa" in A History of Portugal and the Portuguese Empire, vol. II, New York, Cambridge University Press, 2009, pp. 45-83. MONOD, Théodore, L'Ile d' Arguin (Mauritanie). Essai historique, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga - IICT, 1983. Nova História da Expansão Portuguesa, vol. II, coord. A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, Estampa, 1998.
Nos anos que se seguiram à passagem do Cabo Bojador, em 1434, as embarcações portuguesas prosseguiram as suas navegações para sul, ao longo da costa saariana atingindo, no espaço de menos de uma década, a costa da Mauritânia. Estas navegações, que cedo se revelaram lucrativas através de actos de corso e razias, levaram na década de 1440 à exploração do golfo de Arguim e das ilhas nele localizadas, por diversas viagens entre as quais se destacam a de Nuno Tristão, em 1443, e a de Gonçalo de Sintra, em 1444.
Pela sua localização privilegiada e condições naturais favoráveis, a ilha de Arguim cedo emergiu como local propício ao estabelecimento dos interesses portugueses. De facto, Arguim situava-se numa região que, apesar de esparsamente povoada, se encontrava próxima dos circuitos comerciais percorridos pelas caravanas mercantis que atravessavam o Saara, as quais frequentemente se aproximavam da costa devido à abundância de sal na região. Beneficiava igualmente da proximidade do importante entreposto comercial de Ouadane, no interior africano, a cerca de 350 km de distância.
Para mais, a ilha era dotada de um ancoradouro seguro, era rica em peixe e possuía água doce em abundância no seu interior. Estes factores levaram a que, pouco depois de ser descoberta, a ilha de Arguim se tivesse tornado um importante entreposto comercial português, recebendo a primeira feitoria construída na costa africana a Sul de Meça, em Marrocos. Junto desta feitoria começou a ser edificada, em meados da década de 1450, um pequeno castelo cuja capitania-mor foi entregue, em 1464, a Soeiro Mendes de Évora.
O comércio dirigido a partir da feitoria, que atingiu o seu auge no terceiro quartel do século XV, passando em 1481 a monopólio régio sob D. João II, baseava-se essencialmente no resgate de mercadorias transportadas pelas caravanas sudanesas, nomeadamente escravos, ouro em pó e goma-arábica. Estas mercadorias eram negociadas junto das caravanas em troca de panos, cereais e cavalos, produtos que eram trazidos pelos Portugueses muitas vezes das praças do Norte de África.
Na década de 1480, o castelo foi aumentada por D. João II, mas Arguim foi perdendo a sua importância ao longo dos anos seguintes, à medida que os interesses comerciais portugueses se expandiam a regiões mais a sul, sobretudo na costa da Guiné, onde o comércio de ouro e escravos se revelou consideravelmente mais lucrativo. No entanto, este abrandamento do interesse português na região não representou o abandono do comércio da feitoria de Arguim que, apesar de ter declinado consideravelmente durante o século XVI, se manteve até à construção de uma fortaleza sob risco do Engenheiro-Mor Leonardo Turriano em 1607, e à tomada da ilha pelos neerlandeses em 1633.
Bibliografia:
AMENDOEIRA, Rui, "Arguim" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, vol.I, dir. Luís de Albuquerque e Francisco Contente Domingues, Lisboa, Caminho, 1994, pp. 83-84. DISNEY, A.R., "Engaging with Atlantic Africa" in A History of Portugal and the Portuguese Empire, vol. II, New York, Cambridge University Press, 2009, pp. 45-83. MONOD, Théodore, L'Ile d' Arguin (Mauritanie). Essai historique, Lisboa, Centro de Estudos de Cartografia Antiga - IICT, 1983. Nova História da Expansão Portuguesa, vol. II, coord. A. H. de Oliveira Marques, Lisboa, Estampa, 1998.