Data de publicação
2015
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A coroa portuguesa procurou, a partir do século XV, estabelecer relações amistosas com estados africanos e asiáticos geograficamente bem situados relativamente aos seus interesses políticos e comerciais. À diplomacia juntou-se, por regra, o esforço de cristianização dos respetivos povos. O exemplo mais conhecido desta atitude é o do Congo, cujos monarcas se converteram ao Cristianismo, adotaram nomes portugueses e com os quais as relações económicas, sobretudo dirigidas ao tráfico de escravos, foram intensas. Caso semelhante foi o de Oere (hoje Warri), na atual Nigéria Ocidental, reino fundado cerca de 1482 por um filho de Nuwa, rei do Benim. Igualmente aí, entre 1571 e 1574, durante a primeira missão cristã no território, o agostinho Frei Francisco da Madre de Deus batizou o filho do olu (rei) Esigie, Atorongboye, com o nome de D. Sebastião e a sua capital, Odé Itsekiri (Oere) foi chamada Cidade de Santo Agostinho. A partir daí os monarcas passaram a usar nomes portugueses e a seguir o Cristianismo. Também neste caso, o comércio negreiro foi o principal suporte dessas relações.
Destacou-se nesse contexto o envio para Portugal, em 1600, de D. Domingos, filho mais velho de Atorongboye, o qual permaneceu no reino até 1611, tendo estudado em Coimbra e em Lisboa por conta da fazenda real e casado com uma neta do conde da Feira, D. Álvaro Pereira. Esta acompanhou o marido no regresso à pátria e foi mãe do olu mulato D. António Domingos, que sucedeu ao pai. A sua prole prolongar-se-ia à frente do país até aos meados do século XIX, quando, com o domínio inglês, as autoridades tradicionais deixaram de existir, sendo só restauradas depois da independência.
A cristianização de Oere foi promovida pela coroa portuguesa, através dos bispos de São Tomé, que para lá enviaram missionários desde o século XVI. Estes tiveram que defrontar o rigor do clima e as doenças que grassavam no país, o que dificultou a sua fixação no território e levou ao recurso, nos séculos XVII e XVIII, a padres capuchinhos italianos, por intermédio da Congregação para a Propagação da Fé (Propaganda Fide), criada em Roma, em 1622, para a catequização dos territórios ultramarinos. Mas mesmo esta presença foi esporádica, apesar dos constantes apelos dos olus para que lhes fossem enviados mais padres. Dessa dificuldade resultou um Cristianismo superficial, adotado pela elite política, que concorria com as crenças e práticas tradicionais africanas, seguidas pela maioria da população.
Para os monarcas do país, a adoção da religião cristã e o relacionamento com Portugal, associado ao uso de trajos, símbolos e rituais exóticos, constituíram fatores de diferenciação e de reforço de poder no contexto regional, caraterizado pela disputa, frequentemente armada, com os povos vizinhos. Fator essencial dessas relações foi o tráfico de escravos, em que Portugal era comprador e Oere um dos principais fornecedores dessa mão-de-obra, inicialmente levada para São Jorge da Mina, para ser trocada por ouro com os mercadores africanos e, a partir da perda da feitoria em favor dos Holandeses, nos meados de Seiscentos, para o Brasil e Índias de Castela. As relações económicas com Oere terminaram em 1837, quando um navio negreiro luso foi apreendido no rio de Benim pelos Ingleses que combatiam o tráfico de escravos.
Em resultado dessas relações a língua itsekiri, falada hoje por 450.000 pessoas, possui grande número de palavras portuguesas, sendo das que, na África Ocidental, maior influência tiveram do português.
Bibliografia: BRÁSIO, António (1953-1956), Monumenta missionaria africana. África Ocidental, Lisboa: Agência Geral das Colónias; DAPPER, Olfert (1686), Description de l’Afrique, Amsterdam; KENNY, Joseph (1982), The Catholic Church in Tropical Africa (1445-1850) , Ibadan: Ibadan University Press [Consultado em 28.7.2015] Disponível em http://www.dhspriory.org/Kenny/ccta/DefaultCCTA; SELJAN, Zora (1985), A demanda de Dom Domingos, Rio de Janeiro: Nórdica; ITSEKIRI ASSOCIATION OF CANADA [Consultado em 4.8.2015] Disponível em itsekiricanada.com/olu.php.
Destacou-se nesse contexto o envio para Portugal, em 1600, de D. Domingos, filho mais velho de Atorongboye, o qual permaneceu no reino até 1611, tendo estudado em Coimbra e em Lisboa por conta da fazenda real e casado com uma neta do conde da Feira, D. Álvaro Pereira. Esta acompanhou o marido no regresso à pátria e foi mãe do olu mulato D. António Domingos, que sucedeu ao pai. A sua prole prolongar-se-ia à frente do país até aos meados do século XIX, quando, com o domínio inglês, as autoridades tradicionais deixaram de existir, sendo só restauradas depois da independência.
A cristianização de Oere foi promovida pela coroa portuguesa, através dos bispos de São Tomé, que para lá enviaram missionários desde o século XVI. Estes tiveram que defrontar o rigor do clima e as doenças que grassavam no país, o que dificultou a sua fixação no território e levou ao recurso, nos séculos XVII e XVIII, a padres capuchinhos italianos, por intermédio da Congregação para a Propagação da Fé (Propaganda Fide), criada em Roma, em 1622, para a catequização dos territórios ultramarinos. Mas mesmo esta presença foi esporádica, apesar dos constantes apelos dos olus para que lhes fossem enviados mais padres. Dessa dificuldade resultou um Cristianismo superficial, adotado pela elite política, que concorria com as crenças e práticas tradicionais africanas, seguidas pela maioria da população.
Para os monarcas do país, a adoção da religião cristã e o relacionamento com Portugal, associado ao uso de trajos, símbolos e rituais exóticos, constituíram fatores de diferenciação e de reforço de poder no contexto regional, caraterizado pela disputa, frequentemente armada, com os povos vizinhos. Fator essencial dessas relações foi o tráfico de escravos, em que Portugal era comprador e Oere um dos principais fornecedores dessa mão-de-obra, inicialmente levada para São Jorge da Mina, para ser trocada por ouro com os mercadores africanos e, a partir da perda da feitoria em favor dos Holandeses, nos meados de Seiscentos, para o Brasil e Índias de Castela. As relações económicas com Oere terminaram em 1837, quando um navio negreiro luso foi apreendido no rio de Benim pelos Ingleses que combatiam o tráfico de escravos.
Em resultado dessas relações a língua itsekiri, falada hoje por 450.000 pessoas, possui grande número de palavras portuguesas, sendo das que, na África Ocidental, maior influência tiveram do português.
Bibliografia: BRÁSIO, António (1953-1956), Monumenta missionaria africana. África Ocidental, Lisboa: Agência Geral das Colónias; DAPPER, Olfert (1686), Description de l’Afrique, Amsterdam; KENNY, Joseph (1982), The Catholic Church in Tropical Africa (1445-1850) , Ibadan: Ibadan University Press [Consultado em 28.7.2015] Disponível em http://www.dhspriory.org/Kenny/ccta/DefaultCCTA; SELJAN, Zora (1985), A demanda de Dom Domingos, Rio de Janeiro: Nórdica; ITSEKIRI ASSOCIATION OF CANADA [Consultado em 4.8.2015] Disponível em itsekiricanada.com/olu.php.