Data de publicação
2009
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Chama-se Regimento de Munique, ou Guia Náutico de Munique, ao mais antigo opúsculo conhecido e impresso com regras náuticas; este folheto, que foi editado na oficina de Hermão de Campos, em Lisboa, e provavelmente no 1509, seria já, segundo Haebler, especialista da primeira bibliografia hispânica, uma reedição de texto anterior; de tal edição prínceps nunca houve, porém, qualquer notícia, mesmo indirecta. Este folheto pioneiro, depois reeditado (supostamente em 1516), terá transmitido aos meios náuticos de todo o mundo a necessidade de se coligirem e publicarem textos com as instruções náuticas mais necessárias aos pilotos. Depois das duas edições conhecidas do regimento o exemplo só foi retomado em Portugal no final do século XVI por João Baptista Lavanha, embora Pedro Nunes tivesse feito imprimir textos com grande interesse para a resolução de certos problemas da navegação, mas que, certamente, estavam fora do alcance da maioria dos pilotos; entretanto, porém, em Espanha (onde aliás, a parte mais importante do Regimento de Munique foi divulgada em cópias manuscritas), Fernandez de Enciso, Pedro de Medina, o português Francisco Faleiro e Martin Cortez faziam publicar textos do mesmo tipo, embora mais desenvolvidos e mais aperfeiçoados. De Espanha o exemplo passou a Inglaterra e a França e mesmo à Alemanha, tendo sido no primeiro destes países que o estilo de tais compilações mais aperfeiçoou, enquanto na Itália se prestava particular interesse aos roteiros e aos diários de navegação portugueses, em especial por parte de Giovanni Battista Ramusio. O Regimento de Munique inclui: uma tradução do Tratado da Esfera de Sacrobosco, por onde muitas gerações de pilotos aprenderam os rudimentos de cosmografia; duas versões do regimento para a determinação da latitude de um lugar a partir da altura meridiana do Sol e da declinação deste na data da observação; uma tábua solar única com as declinações solares; o regimento para a determinação da latitude pela altura da Estrela Polar; uma roda com as alturas da mesma estrela em Lisboa, reminiscência de uma fase já então ultrapassada da navegação astronómica, e o texto de uma carta dirigida por um «doutor alemão» ao rei D. João II, traduzida por Álvaro da Torre; a inclusão deste último texto é um testemunho considerado importante por aqueles que defendem ter-se feito uma edição do Regimento, hoje desaparecida, anterior à de Hermão de Campos; nessa carta, datada 1493, o «doutor alemão» (identificável com Jerónimo Monetário ou Münzer) louva o rei português pelos descobrimentos e inculca-lhe o caminho do poente para atingir mais facilmente a Índia.

Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Os Guias Náuticos de Munique e de Évora, Coimbra, 1965.

Artigo originalmente publicado no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, e reproduzido por cortesia do Círculo de Leitores