Data de publicação
2009
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Na historiografia moderna passaram a ser designados «guias náuticos» os textos dos séculos XVI e XVII dedicados á marinharia que apenas se ocupam de alguns rudimentos de cosmografia e de regras astronómicas ou de carácter geométrico referentes à arte de navegar, a par de indicações mais largas que, por ventura, com elas se relacionam. Os modelos dos guias náuticos são os folhetos chamados de Munique e de Évora, editados, possivelmente, em 1509 e 1516, e que são designados daquele modo porque de qualquer das edições apenas se conhece um exemplar, existente o da edição de 1509 na Biblioteca do Estado de Munique e o da segunda edição na Biblioteca Pública de Évora. Um guia náutico contém, em geral: a tradução do Tratado da Esfera, de João de Sacrobosco, ou extractos dessa obra, com as definições que mais interessavam aos pilotos; os regimentos do Sol, da Estrela Polar e, eventualmente, do Cruzeiro do Sul; o regimento para se saberem as horas da noite pela Ursa Menor ou pelo Cruzeiro do Sul; o regimento das léguas, muitas vezes apresentado graficamente; as tábuas de declinação do Sol; um questionário, com as respectivas respostas, sobre questões de cosmografia, que seriam, possivelmente, as mais frequentemente postas nas provas a que tinham de submeter-se os candidatos a pilotos; tábuas com declinações solares, e ainda, eventualmente, listas com latitudes de vários lugares do globo terrestre. Muitas vezes os guias náuticos aparecem incorporados com roteiros, diários de bordo e regras de navegação, constituindo os livros de marinharia. Mas alguns chegaram até nós na forma inicial; citarei, como exemplo, o chamado «Códice de Bastião Lopes» (hoje na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra), o guia de Manuel Lindo (que Luís de Matos há anos editou sob a designação, incorrecta, de «Livro de Marinharia») e um códice anónimo e inédito do Observatório Astronómico da Universidade de Coimbra.

Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Os Guias Náuticos de Munique e de Évora, Coimbra, 1965.
Artigo originalmente publicado no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, e reproduzido por cortesia do Círculo de Leitores