Data de publicação
2009
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Moço fidalgo da Casa Real em tempo de D. Manuel, António de Miranda de Azevedo partiu para o Oriente em 1506 e aí permaneceu cerca de três décadas ao serviço da Coroa Portuguesa, ao longo das quais desempenhou cargos vários tendo-se destacado como capitão-mor do mar da Índia.

António de Miranda de Azevedo nasceu, no final do século XV, no seio de um ramo relativamente secundário de uma família de posição relevante no reino. Esta posição foi alcançada, por via paterna, consequência de alianças matrimoniais favoráveis que a uniram a grandes famílias tutelares, como os Vasconcelos e os Cunha; por via materna, através da influência de ascendentes como Afonso Peres da Charneca (trisavô, participante no nascimento da dinastia de Avis), Martim Afonso da Charneca (bisavô) e Martim Afonso de Miranda (avô), ambos oficiais palatinos de relativo destaque no reino nos séculos XIV e XV. Os seus pais eram Diogo de Azevedo e D. Beatriz de Miranda (filha bastarda de Martim Afonso de Miranda), Sebastião e Simão de Miranda de Azevedo eram os seus irmãos mais novos, também em serviço no Oriente na primeira metade do século XVI.

António de Miranda de Azevedo partiu para a Índia ainda jovem integrado na armada capitaneada por Tristão da Cunha (1506), onde também seguia Afonso de Albuquerque, a qual tinha como objectivo principal a construção de uma fortaleza na ilha de Socorotá. Pelo caminho os Portugueses tomaram Brava, conquista após a qual António de Miranda de Azevedo foi armado cavaleiro por Afonso de Albuquerque. Em Agosto de 1507, a armada separou-se. António de Miranda de Azevedo terá provavelmente seguido com Afonso de Albuquerque para a Península Arábica, pelo que terá participado na 1ª conquista de Ormuz e das praças orientais africanas tomadas à passagem.

A presença documentada de António de Miranda de Azevedo na região de Malaca data de 1512, pelo que podemos deduzir que, em Julho do ano anterior, terá participado na conquista daquela cidade. No sentido de resolver o problema de abastecimento alimentar a Malaca, Afonso de Albuquerque encetou esforços diplomáticos junto dos reinos do golfo de Bengala. No início de 1512, Miranda de Azevedo foi encarregue da segunda embaixada à corte de Ayuthia (capital do reino do Sião), no seguimento da primeira embaixada, em Julho de 1511, conduzida por Duarte Fernandes.

Aberto o comércio com a Insulíndia e com o Extremo Oriente a partir da conquista de Malaca, os Portugueses iniciaram relações comerciais com aquelas regiões. Na procura de cravo, António de Miranda de Azevedo capitaneou, em 1513, a segunda expedição portuguesa às ilhas de Maluco. Em 1514 foi, ao comando de uma armada de três velas, a Java e a Banda comerciar especiarias e, no mesmo ano, participou na expedição que venceu Linga.

Já em 1517, António de Miranda de Azevedo foi um dos capitães da armada que sob comando de Lopo Soares de Albergaria foi ao Mar Roxo e, um ano mais tarde, em 1518, integrou, também sob comando de Lopo Soares, a armada ao Ceilão, cujo objectivo era a construção de uma fortaleza naquela ilha. Miranda de Azevedo ali permaneceu com o cargo de capitão-mor do mar de Ceilão durante dois anos, entre 1518 e 1519. Em Fevereiro de 1519, ao andar desgarrado devido a uma tempestade quando contornava Ceilão com duas fustas, encontrou e dominou a equipagem amotinada de um dos navios da armada de D. João da Silveira, incumbida da primeira embaixada a Bengala e Arracão.

António de Miranda de Azevedo só volta a ser mencionada nas crónicas portuguesas em 1521, por altura da sua participação na construção da fortaleza de Pacém, para cuja capitania foi nomeado mas que D. André Henriques se terá recusado a lhe entregar. Miranda de Azevedo terá então seguido para Malaca, regressando em seguida à Índia. Na viagem entre Pacém e Malaca ter-se-á dado o episódio em que tentou forçar uma nau gurezate a escalar o porto e, por resistência desta, apresou-a.

Nos anos seguintes participou numa armada ao Estreito e a Mascate e andou com D. Henrique de Meneses nas guerras do Malabar até ser designado para substituir D. Simão de Meneses como capitão-mor do mar da Índia, em finais de 1525 ou começos de 1526. Passados cerca de vinte anos da sua chegada ao Oriente, António de Miranda de Azevedo atingia assim o segundo cargo na hierarquia militar do Estado da Índia. Manteve-se em funções até 1528, durante o governo de Lopo Vaz de Sampaio, participando na contenda deste com Pêro Mascarenhas. Na crise sucessória que abalou o Estado da Índia, António de Miranda de Azevedo desempenhou um dos principais papéis. A ele, em conjunto com Cristóvão de Sousa, coube negociar a pauta segundo a qual a questão iria ser resolvida. Até lá Miranda de Azevedo assumiu interinamente o cargo de governador-geral.

Durante os dois anos em que desempenhou o cargo de capitão-mor do mar da Índia, António de Miranda de Azevedo foi ainda encarregue do comando de uma armada de vinte velas enviada ao Estreito de Ormuz, praça onde invernou, escalando Ádem e atacando Zeila pelo caminho, e regressando em seguida à Índia.

Daqui em diante, o seu percurso confunde-se com o de personagens homónimas, já que frequentemente era designado apenas por António de Miranda. Para alguns autores, António de Miranda de Azevedo desaparece de cena após algumas lutas no Malabar, para outros, integrou a grande armada que Nuno da Cunha juntou, em Janeiro de 1531, para tentar conquistar Diu e desempenhou, ainda, funções enquanto capitão de São Jorge da Mina, entre 1540 e 1543.

Bibliografia:
RIBEIRO, Madalena, "Simão de Miranda, descobridor do Brasil e 4º capitão de Sofala" in Descobridores do Brasil - Exploradores do Atlântico e Construtores do Estado da Índia, João Paulo Oliveira e COSTA (coord.), pp.91-109, Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 2000. THOMAZ, Luís Filipe, De Ceuta a Timor, Lisboa, Difel, 1998. THOMAZ, Luís Filipe, "O malogrado estabelecimento oficial dos portugueses em Sunda" in Aquém e Além da Taprobana, Estudos Luso-Orientais à memória de Jean Aubin e Denys Lombard, Luís Filipe THOMAZ (org.), pp. 381-607, Lisboa, Centro de História de Além-Mar, 2002.