Data de publicação
2009
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13.º bispo de Cabo Verde.
Era natural de Loures, tendo ingressado na ordem terceira franciscana; era mestre de teologia moral e pregador jubilado; foi capelão-mor das armadas e ministro de um convento de S. Francisco em Angola. Foi sagrado em 1709 e chegou à diocese no mesmo ano. Fex-se acompanhar de um punhado de clérigos reinóis que proveu nos postos mais altos do cabido, nomeadamente em vigário-geral e no cobiçado posto de visitador aos Rios de Guiné que providenciava um rápido enriquecimento fruto do tráfico de escravos. Mal chega a Santiago é confrontado com um levantamento de homens forros e criminosos, conhecidos como os valentes de Julangue sobre os quais o governador Gonçalo Lemos de Mascarenhas fez uma investida armada sem grandes resultados, tal como sem resultados seria a excomunhão maciça que o bispo ordenou contra os amotinados e os senhores que os acoitavam numa sociedade que já não revelava qualquer temor face às censuras eclesiásticas. D. Fr. Francisco foi responsável pela parcial reedificação do paço episcopal que o seu antecessor D. Fr. Vitoriano Portuense resolvera transformar para construir o seminário. Também foi confrontado com uma delapidação do mais precioso património da mitra que aquele bispo enviara para ser vendido em Lisboa para custear as obras da sé. Este empobrecimento atingia as igrejas paroquiais, a maior parte das quais em ruínas, sem que existissem clérigos suficientes para as paróquias, sobretudo as das ilhas do Barlavento que ficavam por largos anos sem assistência espiritual à excepção das visitações, quando estas existiam. Além disso, o clero local mostra pouco acatamento à hierarquia do ordinário, existindo párocos e confessores que exerciam o seu munús sem licença e sem observar as sentenças do eclesiástico que os suspendiam dessas funções. O problema do pagamento das ordinárias já nem sequer é levantado, dado que não existiam fontes locais de financiamento, devido à paralisia do aparelho fiscal e à generalização do contrabando, pelo que o clero tem de se aplicar, como qualquer outro escravocrata, na obtenção de fontes de sustento e de rendimento. D. Fr. Agostinho notabilizou-se na história local como o homem que chefiou a reacção na ilha de Santiago contra a invasão da armada francesa chefiada pelo General Jacques Cassard em Maio de 1712. O governador José Pinheiro da Câmara capitulou e o bispo mandou ler em todas as paróquias uma carta pastoral convocando todos a juntarem-se na igreja de S. Salvador dos Picos para combater o invasor. O bispo chefiou os exércitos privados dos escravocratas para marcharem sobre a cidade mas o inimigo debandou entretanto tendo incendiado todos os edifícios mais importantes da Ribeira Grande, nomeadamente as igrejas, o paço episcopal e o convento de S. Francisco. A livraria episcopal foi consumida pelo fogo e o bispo lamentou que nem lhe sobrara um breviário para dizer missa. Sem paço episcopal, o bispo retirou para que propriedade da mitra no termo da cidade, a fazenda da Trindade, que os prelados normalmente utilizavam como residência de recobro. D. Fr. Francisco também se notabilizou por ter impedido em 1718 «uma guerra civil» entre João Nunes Castanho, capitão-mor da vila da Praia, que junto com os seus próceres, nomeadamente alguns membros do cabido, pretendia monopolizar o comércio do concorrido porto da Praia, excluindo outras facções escravocratas, que se escudaram no governador Serafim Teixeira Sarmento de Sá. Com mediação do bispo foi então assinado um acordo entre João Nunes Castanho e o governador, pondo assim fim a este levantamento da vila da Praia. O cabido era desafecto ao bispo, até porque este terá conferido poucas ordenações e deixado de avalizar as leituras do mestre de gramática; o corpo capitular considera o bispo pouco zeloso, acusando-o de abandonar a sé em proveito da residência da Trindade onde viria a falecer em Maio de 1719.
Bibliografia:
Anónimo (1784), Notícia Corográfica e Cronológica do Bispado de Cabo Verde, edição e notas de António Carreira, Lisboa, Instituto Caboverdeano do Livro, 1985. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed.preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1968, pp. 686. PAIVA, José Pedro, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006. REMA, Henrique Pinto, "Diocese de Cabo Verde", História Religiosa de Portugal, dir. de Carlos Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, vol. II, A-C, pp. 280-284. SOARES, Maria João, "A Igreja em tempo de mudança política, social e cultural", História Geral de Cabo Verde, vol. III, coord. de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, IICT-INIPPC, 2002, pp. 365-375. SOUSA, António Caetano de, Catálogo dos bispos das igrejas de Cabo Verde, S. Tomé e Angola in Colleçam dos documentos, estatutos e memórias da Academia real da História Portugueza que neste anno de 1722 se compuzerão e se imprimirão por ordem dos seus censores, Lisboa, Pascoal da Sylva, 1722.
Era natural de Loures, tendo ingressado na ordem terceira franciscana; era mestre de teologia moral e pregador jubilado; foi capelão-mor das armadas e ministro de um convento de S. Francisco em Angola. Foi sagrado em 1709 e chegou à diocese no mesmo ano. Fex-se acompanhar de um punhado de clérigos reinóis que proveu nos postos mais altos do cabido, nomeadamente em vigário-geral e no cobiçado posto de visitador aos Rios de Guiné que providenciava um rápido enriquecimento fruto do tráfico de escravos. Mal chega a Santiago é confrontado com um levantamento de homens forros e criminosos, conhecidos como os valentes de Julangue sobre os quais o governador Gonçalo Lemos de Mascarenhas fez uma investida armada sem grandes resultados, tal como sem resultados seria a excomunhão maciça que o bispo ordenou contra os amotinados e os senhores que os acoitavam numa sociedade que já não revelava qualquer temor face às censuras eclesiásticas. D. Fr. Francisco foi responsável pela parcial reedificação do paço episcopal que o seu antecessor D. Fr. Vitoriano Portuense resolvera transformar para construir o seminário. Também foi confrontado com uma delapidação do mais precioso património da mitra que aquele bispo enviara para ser vendido em Lisboa para custear as obras da sé. Este empobrecimento atingia as igrejas paroquiais, a maior parte das quais em ruínas, sem que existissem clérigos suficientes para as paróquias, sobretudo as das ilhas do Barlavento que ficavam por largos anos sem assistência espiritual à excepção das visitações, quando estas existiam. Além disso, o clero local mostra pouco acatamento à hierarquia do ordinário, existindo párocos e confessores que exerciam o seu munús sem licença e sem observar as sentenças do eclesiástico que os suspendiam dessas funções. O problema do pagamento das ordinárias já nem sequer é levantado, dado que não existiam fontes locais de financiamento, devido à paralisia do aparelho fiscal e à generalização do contrabando, pelo que o clero tem de se aplicar, como qualquer outro escravocrata, na obtenção de fontes de sustento e de rendimento. D. Fr. Agostinho notabilizou-se na história local como o homem que chefiou a reacção na ilha de Santiago contra a invasão da armada francesa chefiada pelo General Jacques Cassard em Maio de 1712. O governador José Pinheiro da Câmara capitulou e o bispo mandou ler em todas as paróquias uma carta pastoral convocando todos a juntarem-se na igreja de S. Salvador dos Picos para combater o invasor. O bispo chefiou os exércitos privados dos escravocratas para marcharem sobre a cidade mas o inimigo debandou entretanto tendo incendiado todos os edifícios mais importantes da Ribeira Grande, nomeadamente as igrejas, o paço episcopal e o convento de S. Francisco. A livraria episcopal foi consumida pelo fogo e o bispo lamentou que nem lhe sobrara um breviário para dizer missa. Sem paço episcopal, o bispo retirou para que propriedade da mitra no termo da cidade, a fazenda da Trindade, que os prelados normalmente utilizavam como residência de recobro. D. Fr. Francisco também se notabilizou por ter impedido em 1718 «uma guerra civil» entre João Nunes Castanho, capitão-mor da vila da Praia, que junto com os seus próceres, nomeadamente alguns membros do cabido, pretendia monopolizar o comércio do concorrido porto da Praia, excluindo outras facções escravocratas, que se escudaram no governador Serafim Teixeira Sarmento de Sá. Com mediação do bispo foi então assinado um acordo entre João Nunes Castanho e o governador, pondo assim fim a este levantamento da vila da Praia. O cabido era desafecto ao bispo, até porque este terá conferido poucas ordenações e deixado de avalizar as leituras do mestre de gramática; o corpo capitular considera o bispo pouco zeloso, acusando-o de abandonar a sé em proveito da residência da Trindade onde viria a falecer em Maio de 1719.
Bibliografia:
Anónimo (1784), Notícia Corográfica e Cronológica do Bispado de Cabo Verde, edição e notas de António Carreira, Lisboa, Instituto Caboverdeano do Livro, 1985. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed.preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1968, pp. 686. PAIVA, José Pedro, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006. REMA, Henrique Pinto, "Diocese de Cabo Verde", História Religiosa de Portugal, dir. de Carlos Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, vol. II, A-C, pp. 280-284. SOARES, Maria João, "A Igreja em tempo de mudança política, social e cultural", História Geral de Cabo Verde, vol. III, coord. de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, IICT-INIPPC, 2002, pp. 365-375. SOUSA, António Caetano de, Catálogo dos bispos das igrejas de Cabo Verde, S. Tomé e Angola in Colleçam dos documentos, estatutos e memórias da Academia real da História Portugueza que neste anno de 1722 se compuzerão e se imprimirão por ordem dos seus censores, Lisboa, Pascoal da Sylva, 1722.