Data de publicação
2009
Categorias
5.º Conde de Redondo, vice-rei da Índia (1617-1619).
Nascido em data desconhecida, D. João Coutinho foi filho do anterior vice-rei da Índia, D. Francisco Coutinho (1561-1564), 3º conde de Redondo, e de D. Maria Blaesvelt. Se pelo lado paterno descendia de família titulada por D. João II, pelo lado materno descendia do senhor da capitania de Machico, Francisco de Gusmão, seu avô. Devido à morte de seu pai, em exerício do cargo de vice-rei da Índia, ocorrida em Goa, em 1564, o título de conde de Redondo passou para o seu irmão mais velho, D. Luís Coutinho, que o deteve até falecer na batalha de Alcácer-Quibir. Em virtude do irmão não ter tido descendência do seu casamento com D. Mécia da Silveira e Meneses, e de o seu irmão mais velho, D. Francisco Coutinho, ter falecido de tenra idade, veio a herdar o título condal. Membro do Conselho Real desde os tempos de D. Sebastião, acompanhou-o àquela jornada de 1578, mas sobreviveu e logrou fugir do cativeiro. Uma vez regressado a Portugal, após a instituição da Monarquia Dual, desempenhou, entre outros, o cargo de caçador-mor de D. Filipe I e de D. Filipe II. Casou-se com D. Francisca de Meneses, filha do alferes-mor de D. Sebastião, D. Luís de Meneses. Do casamento resultaram apenas três filhos. O herdeiro do título condal, D. Francisco Coutinho, ao morrer sem descendência, legou-o à irmã mais nova então viva, D. Luísa Coutinho que, por via do seu casamento com D. João de Castelo Branco, viu o título condal associar-se desde então à família de Castelo Branco. Nomeado vice-rei da Índia por carta de 21 de Março de 1617, zarpou do Tejo a 21 de Abril, e entrou em Goa a 18 de Novembro.
A primeira medida governativa do conde, em expresso cumprimento das ordens régias e motivo da sua nomeação, foi a prisão do anterior vice-rei D. Jerónimo de Azevedo, que foi enviado para o Reino. No entanto, desde o início da sua governação, a tendência para a comparação com o seu pai, que também fora vice-rei e cuja fama no Reino ainda era por muitos lembrada, seria uma constante que viria a agravar-se com a morte de D. João Coutinho, em exercício do cargo, tal como havia sucedido a seu pai. Em finais de 1617, e em consequência das guerras em torno de Mangalor, que remontavam ao vice-reinado de D. Jerónimo de Azevedo, a rainha de Olala, após uma vitória em Agosto, atacava o forte do régulo de Banguel, aliado dos Portugueses. O ataque mereceu uma resposta de D. Francisco de Miranda e de Luís de Brito e Melo que, procuraram, sem qualquer sucesso, cercar a praça de Olala. Na retirada, não só os dois foram mortos, como boa parte dos Portugueses e seus escravos foram degolados. Este acontecimento, já datado de inícios de 1618, foi seguido em Goa pela afixação de protestos e libelos contra o vice-rei e autoridades superiores do Estado da Índia. Desta forma, principiava D. João Coutinho o seu vice-reinado com a acusação de fraqueza. Ainda assim, foi durante aquele ano que a ordem foi reposta na capitania de Moçambique, dilaçerada durante o vice-reinado anterior por lutas entre capitães providos e respectivos ouvidores, enviados ao local para reporem a ordem. Sabendo-se da execução de Salvador Vaz da Guerra, o ouvidor seu aliado então preso em Goa conseguiu escapar do cárcere e internar-se em terra de mouros, facto que veio a renovar a má fama e descrédito com que os funcionários superiores do Estado da Índia eram vistos. Procurando atalhar a esta situação o vice-rei, numa das suas encomendas de material bélico, encarregou a Companhia de Jesus da compra, de forma a evitar mais escândalos e roubos. Logo de seguida, enviava o vice-rei uma embaixada ao Grão-Mogol, encabeçada pelo jesuíta Manuel Pinheiro. Apesar do embaixador não ter convencido aquele soberano a não acolher Neerlandeses e Ingleses nos seus portos, o Estado da Índia ficou liberto da pressão militar que o imperador Jahangir anteriormente exercera sobre as praças de Damão e Diu, o que permitiu o retomar da navegação portuguesa na região. Um outro episódio ocorrido naquele ano que, a par dos descritos e das várias calamidades naturais que sacudiram a Ásia Portuguesa nos anos de 1618 e 1619, viria a contribuir para a má fama dos oficiais do Estado, foi a entrega de 8000 pesos a um general inglês, levada a cabo por Manuel Ribeiro, um dos capitães da armada da Índia de 1618, que o fez com o fito de evitar o confronto com os Ingleses e em atendimento às suas exigências de compensação pelas perdas sofridas em Surrate no tempo de D. Jerónimo de Azevedo. Este capitão viria a acabar preso uma vez chegado a Goa por ordem do vice-rei. Entretanto, em Malaca, circulavam rumores de próximo cerco do Achém à praça portuguesa, motivando a saída da frota do capitão Lopo de Sousa aos mares da ilha de Samatra. Após o saque da feitoria neerlandesa no reino de Jambi, várias povoações costeiras foram atacadas. No Extremo Oriente, era recrutado, em Macau, um contingente de 400 portugueses a fim de ajudar os Ming a enfrentarem a pressão militar dos Manchus no Norte.
Este socorro chegou à corte imperial no ano de 1619, sendo liderado pelo capitão Gonçalo Teixeira e pelo jesuíta João Rodrigues, mas, apesar da derrota chinesa em batalha contra os Manchus no ano anterior, o imperador do Celeste Império não autorizaria a participação do contingente português naquelas guerras. No Ceilão, iniciava-se a capitania de Constantino de Sá, que nela sucedia a D. Nuno Álvares Pereira, então nomeado para a conquista dos rios de Cuama. O novo capitão daquela conquista logo se empenhou em erigir um forte em Sufragão, que de imediato foi atacado pelo rei de Sitawaka sem qualquer sucesso. Os Portugueses em perseguição do rei derrotado, entraram na sua cidade e saquearam-na, saindo ainda vencedores de nova investida do mesmo rei, após o saque da cidade. Como vingança, o rei de Uva, tradicional aliado do Estado da Índia, foi executado por aquele rei. Constantino de Sá empenhou-se, de seguida, em acudir ao Malabar, onde um descendente do corsário Cunhale derrotado e executado em Goa em tempos do primeiro vice-reinado de D. Francisco da Gama, apresava navios dos Portugueses. O capitão Vitório de Abreu, enviado pelo Sá, não foi bem sucedido na sua perseguição ao parente do Cunhale, que se assenhoreou de um dos navios que transportava para a Goa as páreas daquela costa. Entretanto, no Ceilão, o rei de Jafanapatão, que procurava congregar o rei de Sitawaka e o de Cândia na luta contra os Portugueses, negava-se a comerciar com estes. Para resolver a questão foi enviado Filipe de Oliveira àquele reino, o qual não só derrotou aquele rei como o capturou e enviou para Colombo. Filipe de Oliveira ficou então como governador interino de Jafanapatão até D. João Coutinho confirmar a posse do reino àquele soberano que, na ocasião se declarou vassalo do Estado da Índia. Após uma bem sucedida investida sobre um navio dinamarquês estante na região, eram os assuntos da Insulíndia que dominavam a agenda do vice-rei. Chegados a Malaca alguns portugueses que haviam sido feitos cativos pelos Neerlandeses, trazendo a notícia que estes haviam capturado o governador de Angola, Agostinho Lobato saiu à frente de uma armada com o intuito de vingar aquela afronta. Ao saquear a feitoria neerlandesa de Bimas e enfrentar, de forma menos bem sucedida, aqueles inimigos em Solor, acabou por falecer naquela ilha, atraiçoado por um japonês. Em Malaca, as novas do próximo cerco do Achém foram esclarecidas, após se saber do rumor de que o vice-rei se preparava em pessoa para dirigir um ataque àquele reino. Tal ocorria numa fase em que os combates entre Neerlandeses e Ingleses na Insulíndia se generalizavam e a incapacidade portuguesa para se opôr com sucesso a ambas as presenças, permitia o estabelecimento dos franceses naquele arquipélago. A partida do vice-rei para a Insulíndia não chegaria a ocorrer, desconhecendo-se se pela sua prematura morte, a 10 de Novembro de 1619, ou se por outro motivo. A sua última acção governativa foi o envio de Gaspar de Melo em socorro de Mangalor, onde este viria a ser bem sucedido na destruição da fortaleza que os inimigos intentavam erigir junto da cidade.
Falecido prematuramente, o vice-reinado de D. João Coutinho foi retratado por Faria e Sousa como de tempos difíceis, apesar das qualidades do fidalgo e, com a irresistível comparação com seu pai.
Bibliografia:
SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, volume VI, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, 3º Parte, caps. XV-XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.
Nascido em data desconhecida, D. João Coutinho foi filho do anterior vice-rei da Índia, D. Francisco Coutinho (1561-1564), 3º conde de Redondo, e de D. Maria Blaesvelt. Se pelo lado paterno descendia de família titulada por D. João II, pelo lado materno descendia do senhor da capitania de Machico, Francisco de Gusmão, seu avô. Devido à morte de seu pai, em exerício do cargo de vice-rei da Índia, ocorrida em Goa, em 1564, o título de conde de Redondo passou para o seu irmão mais velho, D. Luís Coutinho, que o deteve até falecer na batalha de Alcácer-Quibir. Em virtude do irmão não ter tido descendência do seu casamento com D. Mécia da Silveira e Meneses, e de o seu irmão mais velho, D. Francisco Coutinho, ter falecido de tenra idade, veio a herdar o título condal. Membro do Conselho Real desde os tempos de D. Sebastião, acompanhou-o àquela jornada de 1578, mas sobreviveu e logrou fugir do cativeiro. Uma vez regressado a Portugal, após a instituição da Monarquia Dual, desempenhou, entre outros, o cargo de caçador-mor de D. Filipe I e de D. Filipe II. Casou-se com D. Francisca de Meneses, filha do alferes-mor de D. Sebastião, D. Luís de Meneses. Do casamento resultaram apenas três filhos. O herdeiro do título condal, D. Francisco Coutinho, ao morrer sem descendência, legou-o à irmã mais nova então viva, D. Luísa Coutinho que, por via do seu casamento com D. João de Castelo Branco, viu o título condal associar-se desde então à família de Castelo Branco. Nomeado vice-rei da Índia por carta de 21 de Março de 1617, zarpou do Tejo a 21 de Abril, e entrou em Goa a 18 de Novembro.
A primeira medida governativa do conde, em expresso cumprimento das ordens régias e motivo da sua nomeação, foi a prisão do anterior vice-rei D. Jerónimo de Azevedo, que foi enviado para o Reino. No entanto, desde o início da sua governação, a tendência para a comparação com o seu pai, que também fora vice-rei e cuja fama no Reino ainda era por muitos lembrada, seria uma constante que viria a agravar-se com a morte de D. João Coutinho, em exercício do cargo, tal como havia sucedido a seu pai. Em finais de 1617, e em consequência das guerras em torno de Mangalor, que remontavam ao vice-reinado de D. Jerónimo de Azevedo, a rainha de Olala, após uma vitória em Agosto, atacava o forte do régulo de Banguel, aliado dos Portugueses. O ataque mereceu uma resposta de D. Francisco de Miranda e de Luís de Brito e Melo que, procuraram, sem qualquer sucesso, cercar a praça de Olala. Na retirada, não só os dois foram mortos, como boa parte dos Portugueses e seus escravos foram degolados. Este acontecimento, já datado de inícios de 1618, foi seguido em Goa pela afixação de protestos e libelos contra o vice-rei e autoridades superiores do Estado da Índia. Desta forma, principiava D. João Coutinho o seu vice-reinado com a acusação de fraqueza. Ainda assim, foi durante aquele ano que a ordem foi reposta na capitania de Moçambique, dilaçerada durante o vice-reinado anterior por lutas entre capitães providos e respectivos ouvidores, enviados ao local para reporem a ordem. Sabendo-se da execução de Salvador Vaz da Guerra, o ouvidor seu aliado então preso em Goa conseguiu escapar do cárcere e internar-se em terra de mouros, facto que veio a renovar a má fama e descrédito com que os funcionários superiores do Estado da Índia eram vistos. Procurando atalhar a esta situação o vice-rei, numa das suas encomendas de material bélico, encarregou a Companhia de Jesus da compra, de forma a evitar mais escândalos e roubos. Logo de seguida, enviava o vice-rei uma embaixada ao Grão-Mogol, encabeçada pelo jesuíta Manuel Pinheiro. Apesar do embaixador não ter convencido aquele soberano a não acolher Neerlandeses e Ingleses nos seus portos, o Estado da Índia ficou liberto da pressão militar que o imperador Jahangir anteriormente exercera sobre as praças de Damão e Diu, o que permitiu o retomar da navegação portuguesa na região. Um outro episódio ocorrido naquele ano que, a par dos descritos e das várias calamidades naturais que sacudiram a Ásia Portuguesa nos anos de 1618 e 1619, viria a contribuir para a má fama dos oficiais do Estado, foi a entrega de 8000 pesos a um general inglês, levada a cabo por Manuel Ribeiro, um dos capitães da armada da Índia de 1618, que o fez com o fito de evitar o confronto com os Ingleses e em atendimento às suas exigências de compensação pelas perdas sofridas em Surrate no tempo de D. Jerónimo de Azevedo. Este capitão viria a acabar preso uma vez chegado a Goa por ordem do vice-rei. Entretanto, em Malaca, circulavam rumores de próximo cerco do Achém à praça portuguesa, motivando a saída da frota do capitão Lopo de Sousa aos mares da ilha de Samatra. Após o saque da feitoria neerlandesa no reino de Jambi, várias povoações costeiras foram atacadas. No Extremo Oriente, era recrutado, em Macau, um contingente de 400 portugueses a fim de ajudar os Ming a enfrentarem a pressão militar dos Manchus no Norte.
Este socorro chegou à corte imperial no ano de 1619, sendo liderado pelo capitão Gonçalo Teixeira e pelo jesuíta João Rodrigues, mas, apesar da derrota chinesa em batalha contra os Manchus no ano anterior, o imperador do Celeste Império não autorizaria a participação do contingente português naquelas guerras. No Ceilão, iniciava-se a capitania de Constantino de Sá, que nela sucedia a D. Nuno Álvares Pereira, então nomeado para a conquista dos rios de Cuama. O novo capitão daquela conquista logo se empenhou em erigir um forte em Sufragão, que de imediato foi atacado pelo rei de Sitawaka sem qualquer sucesso. Os Portugueses em perseguição do rei derrotado, entraram na sua cidade e saquearam-na, saindo ainda vencedores de nova investida do mesmo rei, após o saque da cidade. Como vingança, o rei de Uva, tradicional aliado do Estado da Índia, foi executado por aquele rei. Constantino de Sá empenhou-se, de seguida, em acudir ao Malabar, onde um descendente do corsário Cunhale derrotado e executado em Goa em tempos do primeiro vice-reinado de D. Francisco da Gama, apresava navios dos Portugueses. O capitão Vitório de Abreu, enviado pelo Sá, não foi bem sucedido na sua perseguição ao parente do Cunhale, que se assenhoreou de um dos navios que transportava para a Goa as páreas daquela costa. Entretanto, no Ceilão, o rei de Jafanapatão, que procurava congregar o rei de Sitawaka e o de Cândia na luta contra os Portugueses, negava-se a comerciar com estes. Para resolver a questão foi enviado Filipe de Oliveira àquele reino, o qual não só derrotou aquele rei como o capturou e enviou para Colombo. Filipe de Oliveira ficou então como governador interino de Jafanapatão até D. João Coutinho confirmar a posse do reino àquele soberano que, na ocasião se declarou vassalo do Estado da Índia. Após uma bem sucedida investida sobre um navio dinamarquês estante na região, eram os assuntos da Insulíndia que dominavam a agenda do vice-rei. Chegados a Malaca alguns portugueses que haviam sido feitos cativos pelos Neerlandeses, trazendo a notícia que estes haviam capturado o governador de Angola, Agostinho Lobato saiu à frente de uma armada com o intuito de vingar aquela afronta. Ao saquear a feitoria neerlandesa de Bimas e enfrentar, de forma menos bem sucedida, aqueles inimigos em Solor, acabou por falecer naquela ilha, atraiçoado por um japonês. Em Malaca, as novas do próximo cerco do Achém foram esclarecidas, após se saber do rumor de que o vice-rei se preparava em pessoa para dirigir um ataque àquele reino. Tal ocorria numa fase em que os combates entre Neerlandeses e Ingleses na Insulíndia se generalizavam e a incapacidade portuguesa para se opôr com sucesso a ambas as presenças, permitia o estabelecimento dos franceses naquele arquipélago. A partida do vice-rei para a Insulíndia não chegaria a ocorrer, desconhecendo-se se pela sua prematura morte, a 10 de Novembro de 1619, ou se por outro motivo. A sua última acção governativa foi o envio de Gaspar de Melo em socorro de Mangalor, onde este viria a ser bem sucedido na destruição da fortaleza que os inimigos intentavam erigir junto da cidade.
Falecido prematuramente, o vice-reinado de D. João Coutinho foi retratado por Faria e Sousa como de tempos difíceis, apesar das qualidades do fidalgo e, com a irresistível comparação com seu pai.
Bibliografia:
SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, volume VI, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, 3º Parte, caps. XV-XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.