Data de publicação
2009
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Área Geográfica
Governador da Índia (1619-1622).

Nascido cerca de 1550, Fernão de Albuquerque teve por pai Estevão de Brito, alcaide-mor de Panoias, e por mãe, D. Guiomar de Castro. A família materna detinha a comenda de Castro Verde, sendo D. Guiomar de Castro sobrinha do conquistador Afonso de Albuquerque, um facto a não menosprezar pois Fernão de Albuquerque sempre procurou realçar a sua condição de descendente daquele governador. Filho único do casal, demandou a Índia muito cedo, desconhecendo-se, contudo, a data exacta da partida. É possível colocá-la na década de 1570 ou de 1580, pois, à data da sua nomeação para governador, Fernão de Albuquerque vivia em Goa há pelo menos 40 anos, tendo 70 anos de idade. Não se tendo casado, teve um filho bastardo, Jorge de Albuquerque, de mãe desconhecida. Precisamente por ter vivido tantos anos na Índia, este filho viria a casar com D. Isabel de Sousa, cujo pai, Pedro de Sousa, havia sido capitão de Malaca, enquanto o seu avô materno, D. Diogo de Ataíde, havia sido capitão de Baçaim. Começando por ser capitão de Malaca entre 1600 e 1603, foi sucedido naquela capitania pelo seu inimigo pessoal André Furtado de Mendonça, nas vésperas do cerco neerlândes daquela praça. Na ocasião foi empossado na capitania de Colombo, partindo em seguida para a capitania de Damão. Aquando da morte do vice-rei D. João Coutinho, 5º conde de Redondo, era capitão de Goa e encontrou-se nomeado na primeira via de sucessão daquele vice-rei, tomando posse do governo a 11 de Novembro de 1619.

Ainda no final do ano de 1619, o seu governo iniciou-se com a assinatura das pazes com o rei indiano de Porcá, tradicional inimigo do Estado da Índia. No entanto, os anos de 1620 e 1621 viriam a revelar-se bastante problemáticos para o governador. Ainda assim, os acontecimentos singaleses viriam a atenuar o saldo totalmente negativo a que o governo de Fernão de Albuquerque ficaria associado devido à perda de Ormuz em 1622. Em Ceilão, após a prisão do soberano de Jafanapatão às mãos de Filipe de Oliveira, durante o vice-reinado do 5º conde de Redondo, novas e decisivas vitórias seriam alcançadas. Em inícios de 1620, um baptizado de nome D. Luís procurava congregar a oposição à presença lusa no reino de Jafanapatão, procurando aclamar o príncipe de Remancor como soberano daquele reino. Filipe de Oliveira enfrentou duas vezes com sucesso aquele príncipe, mas sempre com os auxílios enviados de Colombo e capitaneados por André Coelho e Luís Teixeira. Apesar da derrota e prisão daquele príncipe, ocorrida em Dezembro de 1620, Filipe de Oliveira ainda teria de enfrentar, em Fevereiro de 1621, um novo ataque dos apoiantes daquele príncipe, instigados pelo naique Chingali. Os confrontos terminaram abruptamente quando o último filho do soberano legítimo de Jafanapatão, que havia sido derrotado em 1619, logrou fugir do naique, proclamando-se vassalo do rei de Portugal. Baptizado pelos Franciscanos, adoptou o nome de Frei Constantino de Cristo pouco antes do próprio naique ser preso com toda a sua família e levado para Goa, onde também se baptizaria com o nome de D. Filipe. Desta forma, a guerra com o reino de Jafanapatão, iniciada por este reino se negar a pagar os tributos devidos ao Estado da Índia, acabou por se saldar pela sua total integração nos domínios portugueses da Ásia.

Um primeiro insucesso não relacionado com o governador, mas ocorrido nos anos de 1620-21, prendeu-se com a armada da Índia do ano de 1620 cujo capitão Nuno Álvares Botelho, viria a ser o único a aportar ao subcontinente. A restante armada, na qual seguia o novo capitão de Moçambique, Jácome de Morais, sofrera diversos problemas na viagem, sendo atacada por navios neerlandeses e acabando, uma vez chegada à África Oriental, por ser dizimada pelos ataques de indígenas.

Em simultâneo com os acontecimentos descritos decorriam os eventos que ditariam a queda definitiva de Ormuz. Desde o falhanço da aproximação entre a Monarquia Dual e o xá safávida Abbas II que este intentava uma aproximação à diplomacia inglesa como forma de prosseguir a sua almejada expansão comercial e militar no Golfo Pérsico. A aliança foi definitivamente selada com a abertura de uma feitoria inglesa em Jask, no ano de 1616, não sendo por ocaso que, a partir dos anos de 1615, forças do xá tinham começado a atacar os interesses lusos na região. Em 1619, o argumento utilizado por Abbas II para justificar os ataques na região, baseava-se num antigo contrato de compra de seda persa que o Estado da Índia então teria embargado. Insatisfeito com a situação, o soberano safávida tinha-se aliado aos Ingleses com o claro intuito de expulsar os Portugueses de Ormuz. A ameaça era conhecida do governador Fernão de Albuquerque e do próprio rei que, em 1620, havia enviado para a Índia uma armada, capitaneada por Rui Freire de Andrade, com ordens para se dirigir de imediato para Ormuz. Uma vez chegado à região, Rui Freire de Andrade colocou os Ingleses em debandada mas não conseguiu impedir que forças persas tomassem Julfar e Doba, cuja estratégica localização impedia o abastecimento de água a Ormuz. Apesar das cartas enviadas ao governador com pedidos de socorro e relato detalhado da situação, Andrade acabaria por se dirigir para a ilha de Queixome então em processo de fortificação iniciado pelo vedor da fazenda, Manuel Borges, e pelo então capitão de Ormuz, D. Francisco de Sousa. O primeiro auxílio chegado da Índia à região foi enviado pelo governador, consistindo em dois galeões, cujas capitanias foram entregues a D. Manuel de Azevedo e a D. João da Silveira, o último dos quais era inimigo pessoal de Rui Freire de Andrade, tal como o era o governador. A chegada daquele reforço permitiu a Freire semear o terror pelas povoações da costa árabe que haviam aderido à causa do xá safávida mas, ao regressar Rui Freire de Andrade viria a constatar que os dois capitães enviados pelo governador haviam abandonado a região por não acatarem a sua autoridade enquanto general daquelas partes, nomeado pelo rei. Entretanto, regressando à ilha de Queixome a fim de apressar a fortificação da ilha, soube da notícia do cerco próximo dos safávidas. Este foi montado em finais de 1621, sendo rapidamente assistido pela armada inglesa presente na região. Em inícios de 1622, um novo socorro, enviado por Fernão de Albuquerque, viria a chegar à região por via da armada de Simão Brito. A bordo desta, seguia Simão de Melo, a quem o governador havia nomeado para suceder na capitania de Ormuz, com ordens expressas de não acatar as ordens de Rui Freire de Andrade. Apesar de ter direito à capitania da cidade por ter sido empossado pelo rei com plenos poderes para a região aquando da morte do capitão D. Francisco de Sousa, por se encontrar a fazer frente à coligação anglo-safávida em Queixome, o Andrade teve de aceitar a sucessão da capitania por Simão de Melo. Porém, Rui Freire de Andrade bem como os homens da guarnição da ilha acabariam por se render após a destruição da fortaleza, ficando o general como prisioneiro dos Ingleses. Pouco depois iniciava-se o fatal cerco de Ormuz que ditaria a queda da cidade. A rendição foi negociada por Luís de Brito e os Portugueses foram autorizados a retirar para Mascate. Rui Freire de Andrade, tendo escapado dos Ingleses, logrou regressar a Mascate onde procurou, em vão, convencer Constantino de Sá, então seu capitão, a retomar a ofensiva contra a cidade perdida. Deslocou-se em seguida a Goa a fim de falar com o governador, mas encontraria a cidade bloqueada pelos navios neerlandeses. Na Ásia Oriental, em Junho de 1622, outras forças neerlandesas haviam intentado apoderar-se da armada que partia para o Japão e de caminho da cidade de Macau, mas sem qualquer sucesso. A praça foi defendida com sucesso, deixando os Neerlandeses muitos despojos na retirada, sendo em seguida fortificada. Apesar de não ter conseguido acudir a tempo ao cerco de Ormuz que já em anos anteriores vinha sendo advinhado, D. Filipe II de Portugal procurou atalhar à situação com a nomeação do vice-rei D. Afonso de Noronha, em 1621. Este vice-rei, neto do homónimo vice-rei do século XVI, partiu rumo à Índia, em Abril de 1621, levando consigo uma poderosa armada com bastantes reforços e munições de que o Estado da Índia tanto carecia. No entanto, devido a problemas na viagem viria a arribar de volta ao Reino, acabando por suceder a Fernão de Albuquerque em vez de D. Afonso de Noronha, o 4º conde da Vidigueira, D. Francisco da Gama, enviado pela sua segunda vez por vice-rei do Estado da Índia. Note-se, contudo, que D. Francisco, apesar de também levar ordens para socorrer Ormuz, não só chegaria tarde de mais, como foi já nomeado por D. Filipe III de Portugal, não só devido ao seu então mau relacionamento com D. Filipe II, como por naquele ano de 1621 ter O Pio falecido. A 19 de Dezembro de 1622, Fernão de Albuquerque entregava a liderança da Índia Portuguesa a D. Francisco da Gama que, ao contrário do antecessor, logo se empenharia em apurar responsabilidades sobre a perda de Ormuz. O facto de não ter procurado aclarar as ditas responsabilidades, viria a marcar a imagem de frouxidão com que o governo de Fernão de Albuquerque ficou retratado, a despeito dos sucessos do Ceilão. Ainda assim, a queda de Ormuz, apesar do impacto que à sua época teve, não significou o fim da presença portuguesa no Golfo Pérsico, mas apenas a sua transferência para Mascate. Fernão de Albuquerque viria a falecer no ano imediato ao final do seu governo, sendo sepultado na Igreja de Nossa Senhora da Serra, em Goa, por ordem sua, no exacto local onde o conquistador Afonso de Albuquerque havia estado.

Bibliografia:
SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, volume VI, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, 3º Parte, caps. XIX-XXI, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.