Data de publicação
2009
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Nascido em Alexandria com o nome de Mamet em c. 1460, era um judeu descendente de emigrantes polacos, oriundos da cidade de Bosna. Da sua juventude nada é sabido, embora existam indícios que indicam que teria sido mercador, lapideiro, ou ambos. Antes da sua entrada ao serviço da Coroa, Gaspar da Índia teria estado cerca de 8 anos ao serviço do Sabaio, em Goa, cumprindo as funções correspondentes à de capitão de porto. Terá sido no desempenho das suas funções que terá contactado com os portugueses.

Vasco da Gama, após a saída de Calecut, fundeia os seus navios para proceder a reparações e abastecimento de víveres na Ilha de Angediva, próxima de Goa. Foi-lhe enviado Gaspar da Índia, com instruções por parte do Sabaio para aliciar os portugueses para a sua causa, e se tal não fosse possível, comandar um ataque contra estes. Contudo, Gaspar é denunciado e capturado, tendo confessados os seus intentos sob tortura.

Parte com Vasco da Gama, com destino ao reino, a 5 de Outubro de 1498, deixando um filho, Baltazar, no Oriente, provavelmente em Goa.

Durante a viagem, ou imediatamente após a chegada a Lisboa, Gaspar da Índia converte-se ao cristianismo, adoptando o nome de Gaspar, recebendo o último nome de Gama, devido ao apadrinhamento do próprio capitão.

Gaspar da Índia permanece em Lisboa pouco tempo, tendo voltado a partir para o Oriente em 1500, com a armada de Pedro Álvares Cabral, onde terá servido pela primeira vez como interprete. Não só traduziu várias cartas para árabe, como participava frequentemente em deslocações a terra, sempre com a função de intérprete, tendo sido fundamental para o primeiro encontro entre Pedro Álvares Cabral e o Samorim de Calicut, assim como para o início das relações portuguesas com Cananor e Cochim, devido às ligações que mantinha antes da sua captura.

Após o regresso da armada cabralina, Gaspar volta a partir para a Índia com Vasco da Gama, em 1502, viagem em que não se destacou particularmente. Tendo em conta que foi uma campanha pródiga em acontecimentos, Gaspar terá participado em muitos deles. Contudo, nenhum destaque lhe é dado, pelo que Vasco da Gama não lhe teria dado grande importância como interprete ou conselheiro.

Regressa a Lisboa em 1503, onde permanece durante um período de tempo significativo, regressando ao oriente em 1505, aquando da nomeação de D. Francisco de Almeida como Vice-Rei, e a quem Gaspar da Índia virá a devotar grande lealdade.

Sob o seu comando, testemunha o saque de Mombaça, acerca do qual escreverá mais tarde em defesa do Vice-Rei; é um participante activo no planeamento e construção da fortaleza da Ilha de Angediva; faz parte da comitiva recebida pelo rei de Cananor, a qual incluía também Francisco de Almeida e o seu filho, Lourenço de Almeida; é instrumental para os primeiros contactos com Vijayanagar, através do seu filho, que reencontrara em finais de 1505, assim como o é para o elaborar da política de neutralidade face a conflitos locais levada a cabo pelo Vice-Rei. Através da correspondência sobrevivente, é possível concluir que Gaspar da Índia teria tido duas funções principais durante o período de tempo que serviu sob ordens de Francisco de Almeida. A primeira, a mando da Coroa, relatar pormenorizadamente a actuação dos agentes portugueses no oriente; a segunda, mediar as relações entre os portugueses e os vários elementos muçulmanos na região.

Gaspar da Índia demonstra grande lealdade para com D. Francisco de Almeida, de quem chega a adoptar o último nome. Intervêm em sua defesa aquando do escândalo do saque de Mombaça, assim como aquando de acusações de prepotência e de governo abusivo. Naturalmente, aquando do conflito entre Francisco de Almeida e Afonso de Albuquerque, Gaspar toma o partido do primeiro, tendo por isso ganho a animosidade do segundo. Aquando do regresso de Francisco de Almeida ao reino, em 1509, Gaspar permanece no Oriente sob ordens e protecção de D. Fernando Coutinho. Contudo, após a morte deste, e devido à sua animosidade com Afonso de Albuquerque, Gaspar da Índia acaba por cair em desgraça, permanecendo na Índia até 1515, ano em que regressa a Portugal, em companhia do seu filho.

Apesar das suas origens e da sua aparente condição de intérprete, Gaspar da Índia, devido à sua capacidade de obter ascendente sobre os seus superiores, foi um protagonista extremamente importante no estabelecimento e consolidação da presença portuguesa na Índia. Desde muito cedo, logo em 1499, D. Manuel apercebeu-se da sua importância, não só enquanto tradutor, mas também enquanto fonte de informações, informações essa que Gaspar soube manipular de forma a nunca perder a sua importância. Essencial no estabelecimento de contactos com as potências locais, terá sido também instrumental no elaborar das políticas que regeram a primeira década de presença portuguesa no oriente, sendo a sua importância atestada pelo testemunho de Damião de Gois, ao afirmar que Gaspar da Índia teria sido nobilitado por D. Manuel I, e que lhe teria sido atribuída uma tença anual de 50.000 reais a partir de 1504.

Bibliografia:
SILVÉRIO, Silvina; Gaspar da Índia, in Descobridores do Brasil. Exploradores do Atlântico e Construtores do Estado da Índia, coord. João Paulo Oliveira e Costa, Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, pp. 225-253.