Data de publicação
2010
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Mercador italiano, nascido em Cremona, também conhecido por João Francisco Lafetá ou Lafetat. Irmão do mais velho conde Ludovico Affaitati (residente em Madrid), era em Lisboa um respeitado e abastado comerciante desde finais do século XV.

Teve cinco filhos frutos de duas relações. Da primeira, com D. Guiomar Freire resultou o seu filho mais velho, Agostinho Lafetá. Da segunda, com Maria Gonçalves de Carvalhaes (ou Carvalhoza), teve quatro filhos: Cosme, Ignês, Magdalena e Lucrezia.

As suas primeiras actividades prenderam-se com a comercialização do açúcar madeirense. Em 1502, em parceria com o também mercador Girolamo Sernigi, estabeleceu com a coroa portuguesa um contrato de compra de dezoito mil arrobas de açúcar da Madeira, que lhe valeu uma grande quantia de dinheiro. Dois anos mais tarde, em 1504, celebrou novo contrato pela compra de trinta e cinco mil arrobas, desta feita pela soma de 1.001.000 réis. No período subsequente à abertura do caminho para a Índia, as negociações com o Oriente passaram a ser parte das actividades dos Affaitati. Segundo Richard Ehrenberg, João Francisco foi o primeiro comerciante estrangeiro a tentar embocar directamente no comércio asiático, o que não conseguiu devido ao monopólio régio. No entanto, foi o primeiro a concluir contratos com o monarca português, que lhe garantiram um monopólio rentável da revenda das especiarias. Manteve relações próximas com os representantes oficiais da República de Veneza junto da corte espanhola, aos quais revelava detalhes sobre a qualidade e quantidade das mercadorias obtidas na Índia, bem como sobre as conquistas portuguesas e o seu desenvolvimento económico. A participação do conde cremonês João Francisco Affaitati na economia de Portugal é fundamentada por uma quitação datada de 22 de Outubro de 1520, na qual consta que recebeu, no período compreendido entre 1508 e 1514, uma quantia total de 117.004.880 réis. Na lista dos contratos da Casa da Índia figurava o nome de João Francisco no que respeitava aos contratos de malagueta, cravo e pimenta. Não obstante, a referência ao conde surgia, ainda, em negócios de comercialização de escravos. Em 1523, uma sua nau carregada de açúcar (cuja comercialização não tinha largado) com destino ao Mediterrâneo, foi tomada por corsários franceses. Numa carta de Carlo Strozzi, de 20 de Maio de 1525, o conde de Cremona é contratado para recuperar a herança de Piero Strozzi, repartida entre Portugal e a Índia e composta na sua quase totalidade por especiarias e pedras preciosas. A 10 de Outubro de 1527 assinou a Luca Giraldi uma procuração, subscrita em 18 de Março de 1529, a qual obrigava à compra da totalidade do açúcar do rendimento real do ano correspondente a 1527, excluindo as quantidades necessárias para as casas do rei, da rainha, dos infantes e das esmolas. Após a morte de João Francisco, o referido contrato permaneceu válido, por declaração do monarca D. João III, aos descendentes do conde.

Morreu a 29 de Abril do ano de 1529.

Bibliografia:
ALESSANDRINI, Nunziatella, Os italianos na Lisboa de 1500 a 1680: das hegemonias florentinas às genovesas (tese de doutoramento), Lisboa, Universidade Aberta, 2009.