Data de publicação
2012
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Mercador alemão; feitor dos Welser em Lisboa.
Nasceu em 1481, oriundo de uma família de patrícios e mercadores, situada em Ulm e Augsburgo. Obteve a sua formação mercantil em Veneza entre 1494 e 1498. Alargou as suas experiências comerciais, primeiro em Milão e depois em Lyon. Nesta praça financeira de relevo internacional foi, no Outono de 1499, contratado pela companhia de Anton Welser e Konrad Vöhlin, que lhe entregou, no ano seguinte, a administração da feitoria que aí possuiu. Em finais de 1502 os Welser enviaram Rem para a Península Ibérica. Em Maio de 1503 Rem chegou a Lisboa, onde estabeleceu, em Setembro do mesmo ano, a primeira feitoria alemã em solo português. O feitor dos Welser permaneceu cinco anos nas suas funções e deslocou-se também ao espaço colonial português.
O seu relato autobiográfico, o denominado «Diário de Lucas Rem», constitui um dos documentos principais que ilumina a história das relações luso-alemãs no início do século XVI. Segundo esta fonte, Rem celebrou no dia 1 de Agosto de 1504 “um contrato com o rei de Portugal, acerca da armação de três navios com destino à Índia.” Trata-se aqui da armada de D. Francisco de Almeida, que partiu para a Índia em 1505. Os Welser pertenciam a um consórcio, composto por várias casas comerciais alemãs e alguns mercadores italianos, que investiu 65.400 Cruzados nesta empresa ultramarina, sendo os Welser o maior investidor, a contribuir com quase um terço desta soma. Depois do regresso da frota a Lisboa em 1506 os negócios com a coroa portuguesa complicaram-se bastante, porque D. Manuel I tinha, entretanto, monopolizado o comércio da pimenta. O monarca português, que temia uma queda de preços da pimenta, recusava-se agora a entregar aos comerciantes alemães as mercadorias a que tinham direito. Lucas Rem queixou-se sobremaneira no seu diário sobre os “(…) imensos, grandes e complicados processos jurídicos, em que batalhei durante três anos.” Quando se chegou a um acordo, os Welser receberam apenas uma parte da sua pimenta e foram, em troca, recompensados em açúcar. Apesar destas contrariedades, a companhia conseguiu, segundo as indicações de Rem, tirar um lucro de 150% aproximadamente. – Menos favoráveis foram os resultados financeiros da segunda participação dos Welser numa armação de uma frota da Índia. Estes investiram, juntamente com os Imhoff de Nuremberga e o português Rui Mendes, em três dos 15 navios, que em 1506 partiram sob o comando de Tristão da Cunha, mas não tiraram qualquer lucro, porque se perderam dois dos três navios já na ida para a Índia.
Rem relata pormenores muito interessantes sobre os negócios que efectuou com a coroa portuguesa e acerca das suas estadias no espaço colonial português. No seu “Diário” lê-se: “O tempo que estive em Portugal, de 8 de Maio de 1503 a 27 de Setembro de 1508 fiz uma data de abundantes e importantes negócios, a vender cobre, chumbo, vermelhão, mercúrio e variada coisa, principalmente panos flamengos. E durante três anos vieram dos Países Baixos, Inglaterra, Bretanha e das terras de Leste muitos barcos carregados de cereais para eu vender. Desloquei-me à Madeira, às Ilhas dos Açores e de Cabo Verde e à Berbéria para comerciar. Em Portugal comprei muita especiaria e efectuei grandes negócios com o rei. E ainda comprei azeite, vinho, marfim e algodão. Mandei múltiplas vezes comprar figos no Algarve (…). Pratiquei um volumoso e considerável comércio. Tive também muitos empregados, sempre três, quatro e até seis (…).”
Lucas Rem deixou Portugal em Setembro de 1508, mas regressou no Verão do ano seguinte, contra a sua expressa vontade. A sua segunda estadia em terras portuguesas foi bem mais curta que a primeira, começou em meados de Agosto de 1509 e terminou em finais de Março do ano seguinte. A principal tarefa do agente comercial alemão deve ter sido a reorganização da feitoria que os Welser possuíam na Madeira, onde negociaram com açúcar. Em Lisboa instruiu o seu irmão, Hans, que o substituiu na função de feitor. Depois de uma estadia de quase dois meses na corte de D. Manuel I, em Almeirim e Santarém, voltou via terrestre para Augsburgo.
Lucas Rem permaneceu ainda alguns anos ao serviço dos Welser, quase sempre em viagem, desde a sua entrada nesta companhia em 1499 até à sua saída em 1518. Precisamente neste ano Lucas Rem fundou, juntamente com os seus irmãos Endres e Hans e mais dois sócios, nomeadamente Ulrich Hanolt e Jörg Meuting, uma casa comercial própria que também estendeu os seus negócios até Lisboa, fundando aí, em 1520, uma feitoria. Porventura os negócios, que a companhia dos Rem efectuou em Portugal, estagnaram a partir de 1525, o que conduziu em finais de 1527 ou no início de 1528 ao encerramento da feitoria e à sua retirada definitiva de Portugal.
Bibliografia:
EHRHARDT, Marion, A Alemanha e os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, Texto, 1989; GREIFF, Benedikt (ed.), Tagebuch des Lucas Rem aus den Jahren 1494-1541. Ein Beitrag zur Handelsgeschichte der Stadt Augsburg, Augsburg, Hartmann’sche Bruchdruckerei, 1861; GROSSHAUPT, Walter, “Commercial Relations between Portugal and the Merchants of Augsburg and Nuremberg”, in: Jean Aubin (ed.), La découverte, le Portugal, et l’Europe: actes du colloque, Paris, CCP, 1990, pp. 359-397; POHLE, Jürgen, Deutschland und die überseeische Expansion Portugals im 15. und 16. Jahrhundert, Münster, Lit, 2000.
Nasceu em 1481, oriundo de uma família de patrícios e mercadores, situada em Ulm e Augsburgo. Obteve a sua formação mercantil em Veneza entre 1494 e 1498. Alargou as suas experiências comerciais, primeiro em Milão e depois em Lyon. Nesta praça financeira de relevo internacional foi, no Outono de 1499, contratado pela companhia de Anton Welser e Konrad Vöhlin, que lhe entregou, no ano seguinte, a administração da feitoria que aí possuiu. Em finais de 1502 os Welser enviaram Rem para a Península Ibérica. Em Maio de 1503 Rem chegou a Lisboa, onde estabeleceu, em Setembro do mesmo ano, a primeira feitoria alemã em solo português. O feitor dos Welser permaneceu cinco anos nas suas funções e deslocou-se também ao espaço colonial português.
O seu relato autobiográfico, o denominado «Diário de Lucas Rem», constitui um dos documentos principais que ilumina a história das relações luso-alemãs no início do século XVI. Segundo esta fonte, Rem celebrou no dia 1 de Agosto de 1504 “um contrato com o rei de Portugal, acerca da armação de três navios com destino à Índia.” Trata-se aqui da armada de D. Francisco de Almeida, que partiu para a Índia em 1505. Os Welser pertenciam a um consórcio, composto por várias casas comerciais alemãs e alguns mercadores italianos, que investiu 65.400 Cruzados nesta empresa ultramarina, sendo os Welser o maior investidor, a contribuir com quase um terço desta soma. Depois do regresso da frota a Lisboa em 1506 os negócios com a coroa portuguesa complicaram-se bastante, porque D. Manuel I tinha, entretanto, monopolizado o comércio da pimenta. O monarca português, que temia uma queda de preços da pimenta, recusava-se agora a entregar aos comerciantes alemães as mercadorias a que tinham direito. Lucas Rem queixou-se sobremaneira no seu diário sobre os “(…) imensos, grandes e complicados processos jurídicos, em que batalhei durante três anos.” Quando se chegou a um acordo, os Welser receberam apenas uma parte da sua pimenta e foram, em troca, recompensados em açúcar. Apesar destas contrariedades, a companhia conseguiu, segundo as indicações de Rem, tirar um lucro de 150% aproximadamente. – Menos favoráveis foram os resultados financeiros da segunda participação dos Welser numa armação de uma frota da Índia. Estes investiram, juntamente com os Imhoff de Nuremberga e o português Rui Mendes, em três dos 15 navios, que em 1506 partiram sob o comando de Tristão da Cunha, mas não tiraram qualquer lucro, porque se perderam dois dos três navios já na ida para a Índia.
Rem relata pormenores muito interessantes sobre os negócios que efectuou com a coroa portuguesa e acerca das suas estadias no espaço colonial português. No seu “Diário” lê-se: “O tempo que estive em Portugal, de 8 de Maio de 1503 a 27 de Setembro de 1508 fiz uma data de abundantes e importantes negócios, a vender cobre, chumbo, vermelhão, mercúrio e variada coisa, principalmente panos flamengos. E durante três anos vieram dos Países Baixos, Inglaterra, Bretanha e das terras de Leste muitos barcos carregados de cereais para eu vender. Desloquei-me à Madeira, às Ilhas dos Açores e de Cabo Verde e à Berbéria para comerciar. Em Portugal comprei muita especiaria e efectuei grandes negócios com o rei. E ainda comprei azeite, vinho, marfim e algodão. Mandei múltiplas vezes comprar figos no Algarve (…). Pratiquei um volumoso e considerável comércio. Tive também muitos empregados, sempre três, quatro e até seis (…).”
Lucas Rem deixou Portugal em Setembro de 1508, mas regressou no Verão do ano seguinte, contra a sua expressa vontade. A sua segunda estadia em terras portuguesas foi bem mais curta que a primeira, começou em meados de Agosto de 1509 e terminou em finais de Março do ano seguinte. A principal tarefa do agente comercial alemão deve ter sido a reorganização da feitoria que os Welser possuíam na Madeira, onde negociaram com açúcar. Em Lisboa instruiu o seu irmão, Hans, que o substituiu na função de feitor. Depois de uma estadia de quase dois meses na corte de D. Manuel I, em Almeirim e Santarém, voltou via terrestre para Augsburgo.
Lucas Rem permaneceu ainda alguns anos ao serviço dos Welser, quase sempre em viagem, desde a sua entrada nesta companhia em 1499 até à sua saída em 1518. Precisamente neste ano Lucas Rem fundou, juntamente com os seus irmãos Endres e Hans e mais dois sócios, nomeadamente Ulrich Hanolt e Jörg Meuting, uma casa comercial própria que também estendeu os seus negócios até Lisboa, fundando aí, em 1520, uma feitoria. Porventura os negócios, que a companhia dos Rem efectuou em Portugal, estagnaram a partir de 1525, o que conduziu em finais de 1527 ou no início de 1528 ao encerramento da feitoria e à sua retirada definitiva de Portugal.
Bibliografia:
EHRHARDT, Marion, A Alemanha e os Descobrimentos Portugueses, Lisboa, Texto, 1989; GREIFF, Benedikt (ed.), Tagebuch des Lucas Rem aus den Jahren 1494-1541. Ein Beitrag zur Handelsgeschichte der Stadt Augsburg, Augsburg, Hartmann’sche Bruchdruckerei, 1861; GROSSHAUPT, Walter, “Commercial Relations between Portugal and the Merchants of Augsburg and Nuremberg”, in: Jean Aubin (ed.), La découverte, le Portugal, et l’Europe: actes du colloque, Paris, CCP, 1990, pp. 359-397; POHLE, Jürgen, Deutschland und die überseeische Expansion Portugals im 15. und 16. Jahrhundert, Münster, Lit, 2000.