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2009
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Fundador da Missão Jesuítica do Maranhão.
Natural de Almodôvar, onde nasceu em data incerta entre 1574 e 1576, entrou, a 22 de Janeiro de 1592, como noviço, no colégio do Espírito Santo em Évora, verdadeira escola de missionários, aberta às realidades ultramarinas sob as orientações neotomistas do Jus Gentium. Com a bagagem intelectual aí adquirida, embarca em 1602 para a Baía, inaugurando uma nova fase da sua vida e, sem o saber, dos destinos do Brasil setentrional.
Em 1607-1608, com 60 índios, empreende a célebre expedição ao Maranhão, acompanhando o Pe. Francisco Pinto, que já se evidenciara na evangelização do Rio Grande. Face às outras que haviam promovido o avanço para o norte, com destaque das de Pero Coelho de Sousa, tinha esta a particularidade da sua natureza pacífica, tendo por meta estabelecer naquelas paragens a missão da Companhia, dispensando, com extraordinária ousadia, a escolta militar, com risco de vida para os dois missionários, nos múltiplos perigos daquela natureza agreste, das desconhecidas nações de índios e da presença de franceses, empenhados em fixarem-se nestes territórios.
No relato que deixou - a Relação da Missão do Maranhão, datada de 26 de Março de 1609 - descreve Luís Figueira, em pormenor, todos os passos desta experiência, os contactos com os autóctones e as inúmeras dificuldades.
Os dados mais importantes e úteis referem-se aos índios do Ceará, que, conta, andavam no início escondidos, aproximando-se apenas quando viram que não iam os religiosos acompanhados de brancos. Um mês após encontrarem os Jaguariguares, acharam outros que andavam fugidos dos portugueses, cujo principal os acolheu com hospitalidade, num local onde ergueram uma cruz. Tomaram em seguida o caminho do interior, preocupados em indagar dos índios a presença de franceses. O percurso, longo e penoso, por caminhos alagados, levou-os ao fim de dois meses à aldeia de Ibiapaba. Nela foram bem acolhidos, oferecendo-lhes o chefe nativo raízes de mandioca cozidas e palmito. Passaram depois à aldeia de Jurupariaçu, ou do principal Diabo Grande, onde foram informados da existência de franceses, assim como da hostilidade de várias nações indígenas. Mandaram-lhes emissários com presentes, mas estes regressaram de mãos vazias, com o recado de que fossem lá os padres e lhos levassem pessoalmente. Ao fim de quatro meses na aldeia, decidiram-se a prosseguir para o Maranhão, quando se desencadearam os ataques. Com efeito, foram os emissários queimados pelos Cararijús, à excepção de um, que lhes serviu de guia. Pensaram os padres em regressar depressa pela demora das embaixadas, quando, a 10 de Janeiro de 1608, os mencionados índios, instigados pelos franceses, mataram Francisco Pinto, conseguindo Luís Figueira refugiar-se no mato. Passado o ataque, enterrou o seu companheiro, sepultando de cada lado os dois índios que tentaram defendê-lo. Trouxe também o tacape (o pau com que o mataram) para o colégio da Baía, onde por muito tempo foi venerado como relíquia.
Num regresso marcado por incontáveis sacrifícios, regozijou-se enfim quando o jesuíta Pe.Gaspar de Samperes o foi buscar, com um barco e soldados, levando-o para o Rio Grande do Norte, de onde partiu para Pernambuco.
Assumiu então, no colégio de Olinda, o cargo de prefeito de estudos, em 1610, fazendo, no ano seguinte, a 21 de Setembro, a sua profissão solene, e sendo nomeado reitor em 1612. Consultado pelas autoridades do Brasil quanto ao modo do avanço para o norte, aconselhou a conquista, sem a qual, afirmava, era impossível a missão.
Na informação que escreve na Baía em 26 de Agosto de 1609, Dificuldades da Missão do Maranhão, fornece relevantes dados sobre a extensão do território e os índios que o habitam, sobre as dificuldades dos caminhos, repletos de ameaças, entre as quais a dos franceses, que cumpria expulsar.
Dois anos volvidos, em 1611, quando ergue Martim Soares Moreno o Forte de S.Sebastião, na foz do Ceará, determina-se a necessidade da acção militar, e, em 1604, levanta Jerónimo de Albuquerque o forte de Nossa Senhora do Rosário, na mesma capitania. Em 1614, a conquista torna-se premente pela notícia da fundação da colónia francesa de S.Luís, que, em fins deste ano é tomada sob o comando de Alexandre de Moura, Jerónimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno. Em seguida, prosseguem as tropas para o Pará, estabelecendo-se, em inícios de 1616, a cidade de Belém.
Franciscanos e carmelitas acompanham os soldados como capelães; vão ainda dois padres jesuítas (Manuel Gomes e Diogo Nunes), mas não Luís Figueira, ocupado com a sua função de reitor em Pernambuco. A expedição a Ibiapaba, porém, imprimira em si marcas tão profundas que não poderiam deixar de condicionar de novo o seu destino; não só forjara uma forte personalidade missionária, como lhe trouxera importantes conhecimentos, nomeadamente linguísticos, tornando-se neste campo uma autoridade de referência com a publicação da sua Arte da Lingua Brasílica, em 1621.
Em 1622 Luís Figueira é escolhido para fundar a missão do Maranhão. Pedira-o antes, quando, em 1609, invocando a inviabilidade da evangelização sem a conquista, salvaguardara que, "|...| avendo de ir lá alguem da companhia eu, como aquelle que mais direito tem nesta empresa, me offereço pera ser o primeiro em quem se quebre a furia dos contrastes."
Assim, nesse mesmo ano de 1622, chega a S.Luís com o Pe.Benedito Amodei. Logo se manifestam as primeiras adversidades, por ora da parte dos moradores, que queriam os jesuítas afastados dos índios, facto que terá pesado na entrega de vastos poderes aos franciscanos, na pessoa Fr.Cristóvao de Lisboa, que em 1625 chegou como superior da custódia, com todos os poderes eclesiásticos sobre indígenas e colonos, vindo como visitador eclesiástico, com comissão do Santo Ofício.
Nestes primeiros anos iniciam os jesuítas os seus ministérios lançando as bases de uma presença que se fará sentir, no Maranhão, a partir do colégio de Nossa Senhora da Luz, em S.Luís, e, no Pará, a partir do de Santo Alexandre, em Belém. Em breve se voltam os ânimos contra os franciscanos em razão da alçada que detêm sobre os índios e da corajosa defesa das sua liberdades pelo custódio, que acaba, porém, por largar essa jurisdição e, pouco depois, todas as demais, regressando os frades, na sua maioria, ao reino em 1636. Luís Figueira aproveita habilmente a oportunidade, preparando a transferência dos poderes para si e o seu instituto. Apresenta, em 1637, um Memorial sobre as terras e gente do Maranhao & Grao-Para & Rio das Amazonas, com base no qual vem o rei a conceder aos jesuítas, por alvará de 25 de Julho de 1638, o governo temporal e espiritual sobre os índios e os poderes sobre o ordinário, criando-se uma prelazia a cargo do superior da Companhia. Se a medida não chegou a concretizar-se quanto à alçada diocesana, por embargos do bispo do Brasil, D. Pedro da Silva Sampaio, e da Mesa da Consciência e Ordens, motivou uma série de consultas nos tribunais do reino e em Madrid, que se viram interrompidas e alteradas pelo contexto da Restauração. Mas, no campo missionário, representou a entrega da alçada aos jesuítas. Achando-se no reino a negociar estas matérias e a recrutar missionários, partiu Luís Figueira, para o Maranhão, com amplos poderes e 16 religiosos em 1643. A hora era promissora em meios e em entusiasmo, mas à chegada ao Estado, então dominado pelos holandeses, desfez-se o navio, de 29 para 30 de Junho, salvando-se apenas 42 das 173 pessoas a bordo. Recusou Luís Figueira, com mais nove jesuítas, o convite do governador para entrar no barco em que se recolheram alguns náufragos, preferindo assistir espiritualmente aos que ficavam. Conforme o relato de um sobrevivente, Nicolau Teixeira, morreram uns no mar, outros às mãos dos índios; os dez jesuítas, chegando numa jangada, à ilha do Marajó, foram, com efeito, mortos pelos Aruãs, um a um, ao longo de vários dias.
Era este o fim de uma vida que, pelo seu dinamismo, entrou na história da expansão territorial portuguesa no norte do Brasil num contexto de forte concorrência internacional no vale do Amazonas e nas condições peculiares que marcaram as estratégias do Estado na transição da dinastia filipina para a de Bragança. Passavam estas pela Igreja e pelas missões e, por essa via, pelos impactos das relações inter-étnicas na casuística, no Direito e nas questões teológico-pastorais. No caso de Luís Figueira, integravam-se no projecto cosmopolita da Companhia de Jesus, cristalizado num modelo ao mesmo tempo rígido e flexível, alicerçado intelectualmente nas heranças da escola de Salamanca e colocado ao serviço do Padroado. Pelos seus escritos tornou-se referência na história da cultura e das culturas, no alargado âmbito da literatura da América e da sua geografia física e humana: assim acontece com a sua gramática do tupi, no campo da linguística, tal como com os demais escritos, em especial o da Relação da Missão do Maranhão, nas importantes indicações sobre variados temas, conjugadas com inúmeras curiosidades; num estilo fluido e objectivo, como convinha aos relatórios, manifesta um assinalável valor literário, em particular nas descrições dos costumes dos povos do Ceará, os "|...|incontáveis tapuyas selvagens |...|" que em grupos percorrem os matos, "|...|sem outra casa mais que o lugar aonde lhes anoutesse |...|".
Bibliografia:
FIGUEIRA, Luís, Arte da Lingva Brasilica, Composta pelo Padre Luis Figueira da Companhia de IESV, Theologo, Lisboa, Oficina de Manoel da Silva, 1621. Idem, Carta bienal da Província do Brasil dos anos de 1602 e 1603. Por mandado do Padre Vice-Provincial Inácio Tolosa a 31 de Janeiro de 1604. Idem, Dificuldades da Missão do Maranhão, Baía, 26 de Agosto de 1609. Idem, Informação ao N.P.Geral sobre a Impossibilidade da Missão do Maranhão sem Irem lá os Portugueses por Mar com Guerra a Lançar os Franceses, possivelmente de 1609. Idem, Memorial sobre as Terras e Gente do Maranhão & Grão-Pará & Rio das Almazonas, Lisboa, Oficina de Mathias Rodrigues, 1637 (anónimo). Idem, Missão que Fes o P.Luiz Figueira da Companhia de Jesu, Superior da Rezidencia do Maranhão, indo ao Grã Parâ, Camutâ e Curupâ, Capitanias do Rio das Almazonas no Anno de 1636. Idem, Relação da Missão do Maranhão. Idem, Relação de Varios Sucessos Acontecidos no Maranhão e Grão Para, assim de Paz como de Guerra, Contra o Rebelde Holandês, Ingleses, e Franceses e outras Nações, Lisboa, Oficina de Mathias Rodrigues, 1631. LEITE, Serafim, S.J., Luiz Figueira. A Sua Vida Heróica e a Sua Obra Literária, Lisboa, 1940 (onde se publicam, à excepção da Arte da Lingva Brasilica,as obras referidas supra e outras).
Em 1607-1608, com 60 índios, empreende a célebre expedição ao Maranhão, acompanhando o Pe. Francisco Pinto, que já se evidenciara na evangelização do Rio Grande. Face às outras que haviam promovido o avanço para o norte, com destaque das de Pero Coelho de Sousa, tinha esta a particularidade da sua natureza pacífica, tendo por meta estabelecer naquelas paragens a missão da Companhia, dispensando, com extraordinária ousadia, a escolta militar, com risco de vida para os dois missionários, nos múltiplos perigos daquela natureza agreste, das desconhecidas nações de índios e da presença de franceses, empenhados em fixarem-se nestes territórios.
No relato que deixou - a Relação da Missão do Maranhão, datada de 26 de Março de 1609 - descreve Luís Figueira, em pormenor, todos os passos desta experiência, os contactos com os autóctones e as inúmeras dificuldades.
Os dados mais importantes e úteis referem-se aos índios do Ceará, que, conta, andavam no início escondidos, aproximando-se apenas quando viram que não iam os religiosos acompanhados de brancos. Um mês após encontrarem os Jaguariguares, acharam outros que andavam fugidos dos portugueses, cujo principal os acolheu com hospitalidade, num local onde ergueram uma cruz. Tomaram em seguida o caminho do interior, preocupados em indagar dos índios a presença de franceses. O percurso, longo e penoso, por caminhos alagados, levou-os ao fim de dois meses à aldeia de Ibiapaba. Nela foram bem acolhidos, oferecendo-lhes o chefe nativo raízes de mandioca cozidas e palmito. Passaram depois à aldeia de Jurupariaçu, ou do principal Diabo Grande, onde foram informados da existência de franceses, assim como da hostilidade de várias nações indígenas. Mandaram-lhes emissários com presentes, mas estes regressaram de mãos vazias, com o recado de que fossem lá os padres e lhos levassem pessoalmente. Ao fim de quatro meses na aldeia, decidiram-se a prosseguir para o Maranhão, quando se desencadearam os ataques. Com efeito, foram os emissários queimados pelos Cararijús, à excepção de um, que lhes serviu de guia. Pensaram os padres em regressar depressa pela demora das embaixadas, quando, a 10 de Janeiro de 1608, os mencionados índios, instigados pelos franceses, mataram Francisco Pinto, conseguindo Luís Figueira refugiar-se no mato. Passado o ataque, enterrou o seu companheiro, sepultando de cada lado os dois índios que tentaram defendê-lo. Trouxe também o tacape (o pau com que o mataram) para o colégio da Baía, onde por muito tempo foi venerado como relíquia.
Num regresso marcado por incontáveis sacrifícios, regozijou-se enfim quando o jesuíta Pe.Gaspar de Samperes o foi buscar, com um barco e soldados, levando-o para o Rio Grande do Norte, de onde partiu para Pernambuco.
Assumiu então, no colégio de Olinda, o cargo de prefeito de estudos, em 1610, fazendo, no ano seguinte, a 21 de Setembro, a sua profissão solene, e sendo nomeado reitor em 1612. Consultado pelas autoridades do Brasil quanto ao modo do avanço para o norte, aconselhou a conquista, sem a qual, afirmava, era impossível a missão.
Na informação que escreve na Baía em 26 de Agosto de 1609, Dificuldades da Missão do Maranhão, fornece relevantes dados sobre a extensão do território e os índios que o habitam, sobre as dificuldades dos caminhos, repletos de ameaças, entre as quais a dos franceses, que cumpria expulsar.
Dois anos volvidos, em 1611, quando ergue Martim Soares Moreno o Forte de S.Sebastião, na foz do Ceará, determina-se a necessidade da acção militar, e, em 1604, levanta Jerónimo de Albuquerque o forte de Nossa Senhora do Rosário, na mesma capitania. Em 1614, a conquista torna-se premente pela notícia da fundação da colónia francesa de S.Luís, que, em fins deste ano é tomada sob o comando de Alexandre de Moura, Jerónimo de Albuquerque e Diogo de Campos Moreno. Em seguida, prosseguem as tropas para o Pará, estabelecendo-se, em inícios de 1616, a cidade de Belém.
Franciscanos e carmelitas acompanham os soldados como capelães; vão ainda dois padres jesuítas (Manuel Gomes e Diogo Nunes), mas não Luís Figueira, ocupado com a sua função de reitor em Pernambuco. A expedição a Ibiapaba, porém, imprimira em si marcas tão profundas que não poderiam deixar de condicionar de novo o seu destino; não só forjara uma forte personalidade missionária, como lhe trouxera importantes conhecimentos, nomeadamente linguísticos, tornando-se neste campo uma autoridade de referência com a publicação da sua Arte da Lingua Brasílica, em 1621.
Em 1622 Luís Figueira é escolhido para fundar a missão do Maranhão. Pedira-o antes, quando, em 1609, invocando a inviabilidade da evangelização sem a conquista, salvaguardara que, "|...| avendo de ir lá alguem da companhia eu, como aquelle que mais direito tem nesta empresa, me offereço pera ser o primeiro em quem se quebre a furia dos contrastes."
Assim, nesse mesmo ano de 1622, chega a S.Luís com o Pe.Benedito Amodei. Logo se manifestam as primeiras adversidades, por ora da parte dos moradores, que queriam os jesuítas afastados dos índios, facto que terá pesado na entrega de vastos poderes aos franciscanos, na pessoa Fr.Cristóvao de Lisboa, que em 1625 chegou como superior da custódia, com todos os poderes eclesiásticos sobre indígenas e colonos, vindo como visitador eclesiástico, com comissão do Santo Ofício.
Nestes primeiros anos iniciam os jesuítas os seus ministérios lançando as bases de uma presença que se fará sentir, no Maranhão, a partir do colégio de Nossa Senhora da Luz, em S.Luís, e, no Pará, a partir do de Santo Alexandre, em Belém. Em breve se voltam os ânimos contra os franciscanos em razão da alçada que detêm sobre os índios e da corajosa defesa das sua liberdades pelo custódio, que acaba, porém, por largar essa jurisdição e, pouco depois, todas as demais, regressando os frades, na sua maioria, ao reino em 1636. Luís Figueira aproveita habilmente a oportunidade, preparando a transferência dos poderes para si e o seu instituto. Apresenta, em 1637, um Memorial sobre as terras e gente do Maranhao & Grao-Para & Rio das Amazonas, com base no qual vem o rei a conceder aos jesuítas, por alvará de 25 de Julho de 1638, o governo temporal e espiritual sobre os índios e os poderes sobre o ordinário, criando-se uma prelazia a cargo do superior da Companhia. Se a medida não chegou a concretizar-se quanto à alçada diocesana, por embargos do bispo do Brasil, D. Pedro da Silva Sampaio, e da Mesa da Consciência e Ordens, motivou uma série de consultas nos tribunais do reino e em Madrid, que se viram interrompidas e alteradas pelo contexto da Restauração. Mas, no campo missionário, representou a entrega da alçada aos jesuítas. Achando-se no reino a negociar estas matérias e a recrutar missionários, partiu Luís Figueira, para o Maranhão, com amplos poderes e 16 religiosos em 1643. A hora era promissora em meios e em entusiasmo, mas à chegada ao Estado, então dominado pelos holandeses, desfez-se o navio, de 29 para 30 de Junho, salvando-se apenas 42 das 173 pessoas a bordo. Recusou Luís Figueira, com mais nove jesuítas, o convite do governador para entrar no barco em que se recolheram alguns náufragos, preferindo assistir espiritualmente aos que ficavam. Conforme o relato de um sobrevivente, Nicolau Teixeira, morreram uns no mar, outros às mãos dos índios; os dez jesuítas, chegando numa jangada, à ilha do Marajó, foram, com efeito, mortos pelos Aruãs, um a um, ao longo de vários dias.
Era este o fim de uma vida que, pelo seu dinamismo, entrou na história da expansão territorial portuguesa no norte do Brasil num contexto de forte concorrência internacional no vale do Amazonas e nas condições peculiares que marcaram as estratégias do Estado na transição da dinastia filipina para a de Bragança. Passavam estas pela Igreja e pelas missões e, por essa via, pelos impactos das relações inter-étnicas na casuística, no Direito e nas questões teológico-pastorais. No caso de Luís Figueira, integravam-se no projecto cosmopolita da Companhia de Jesus, cristalizado num modelo ao mesmo tempo rígido e flexível, alicerçado intelectualmente nas heranças da escola de Salamanca e colocado ao serviço do Padroado. Pelos seus escritos tornou-se referência na história da cultura e das culturas, no alargado âmbito da literatura da América e da sua geografia física e humana: assim acontece com a sua gramática do tupi, no campo da linguística, tal como com os demais escritos, em especial o da Relação da Missão do Maranhão, nas importantes indicações sobre variados temas, conjugadas com inúmeras curiosidades; num estilo fluido e objectivo, como convinha aos relatórios, manifesta um assinalável valor literário, em particular nas descrições dos costumes dos povos do Ceará, os "|...|incontáveis tapuyas selvagens |...|" que em grupos percorrem os matos, "|...|sem outra casa mais que o lugar aonde lhes anoutesse |...|".
Bibliografia:
FIGUEIRA, Luís, Arte da Lingva Brasilica, Composta pelo Padre Luis Figueira da Companhia de IESV, Theologo, Lisboa, Oficina de Manoel da Silva, 1621. Idem, Carta bienal da Província do Brasil dos anos de 1602 e 1603. Por mandado do Padre Vice-Provincial Inácio Tolosa a 31 de Janeiro de 1604. Idem, Dificuldades da Missão do Maranhão, Baía, 26 de Agosto de 1609. Idem, Informação ao N.P.Geral sobre a Impossibilidade da Missão do Maranhão sem Irem lá os Portugueses por Mar com Guerra a Lançar os Franceses, possivelmente de 1609. Idem, Memorial sobre as Terras e Gente do Maranhão & Grão-Pará & Rio das Almazonas, Lisboa, Oficina de Mathias Rodrigues, 1637 (anónimo). Idem, Missão que Fes o P.Luiz Figueira da Companhia de Jesu, Superior da Rezidencia do Maranhão, indo ao Grã Parâ, Camutâ e Curupâ, Capitanias do Rio das Almazonas no Anno de 1636. Idem, Relação da Missão do Maranhão. Idem, Relação de Varios Sucessos Acontecidos no Maranhão e Grão Para, assim de Paz como de Guerra, Contra o Rebelde Holandês, Ingleses, e Franceses e outras Nações, Lisboa, Oficina de Mathias Rodrigues, 1631. LEITE, Serafim, S.J., Luiz Figueira. A Sua Vida Heróica e a Sua Obra Literária, Lisboa, 1940 (onde se publicam, à excepção da Arte da Lingva Brasilica,as obras referidas supra e outras).