Data de publicação
2009
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Período
Área Geográfica
Filho de um dos regedores de Évora, Gonçalo de Sousa, o Lavrador. Aparentemente, era desprovido qualquer experiência ultramarina quando, em Outubro de 1527, D. João III o nomeou capitão-mor da armada de Ormuz, na vagante dos providos. No ano seguinte, fez-se ao mar, em direcção ao Oriente, a bordo da armada que o governador Nuno da Cunha levou de Lisboa. Correspondendo a um pedido deste, acabou por abdicar, em 1529, ao lugar para o qual fora indigitado.

Uma das principais tarefas para cuja realização Nuno da Cunha estava mandatado consistia no estabelecimento português na região indiana do Guzerate, onde se destacava o porto de Diu, pela sua importância geo-estratégica e comercial. Entre 1529 e 1531, o governador lançou investidas militares contra aquela zona, com participação activa de Manuel de Sousa, que exerceu funções de comando naval. Como é sugerido pelo cronista João de Barros, é possível que Manuel de Sousa tenha sido animado a desistir da capitania-mor da armada de Ormuz com base na perspectiva de vir a chefiar uma fortaleza portuguesa em Diu. Enquanto isso, o fidalgo assegurou por duas vezes o comando da armada do Malabar (1531 e 1534) e desempenhou as funções de capitão-mor do mar da recém-criada fortaleza de Chale (1531-1532).

Em Setembro de 1534, a chegada de um novo capitão-mor do mar da Índia, Martim Afonso de Sousa, primo co-irmão de Manuel, tornou mais eficaz a dinâmica portuguesa de acometimento do Guzerate. Pressionado, igualmente, na frente terrestre pelo Império Mogol, o sultão local consentiu, em 1535, a construção de uma fortaleza portuguesa em Diu em troca da dispensa de ajuda militar. Martim Afonso encabeçou o contingente luso, no qual se incorporou Manuel de Sousa. A ligação familiar era reforçada pela existência de sintonia política entre ambos. Daí que o primeiro tivesse tecido vários elogios e formulado pedidos de mercê a favor o segundo, em cartas enviadas ao rei D. João III e ao vedor da Fazenda e 1º conde da Castanheira, D. António de Ataíde, de quem também eram primos.

Dado este contexto, acrescido da necessidade de Nuno da Cunha contemporizar com Martim Afonso, seu declarado rival, não surpreende que a capitania de Diu tenha sido entregue a Manuel de Sousa. Ao longo do tempo, o sultão Bahadur Shah foi, no entanto, manifestando reticências quanto à instalação portuguesa. Num ambiente de crescente tensão, nos finais de 1537, foi organizado um encontro entre o soberano muçulmano e o governador Nuno da Cunha, ao largo de Diu. No momento em que o sultão estava ser transferido para terra eclodiu uma luta entre os Portugueses e os Guzerates, que seguiam na mesma embarcação. Daí resultou a queda à água e o subsequente afogamento do sultão e de Manuel de Sousa. O episódio esteve na origem da ofensiva que os Otomanos lançaram contra Diu, no ano seguinte.

Bibliografia:
ALAM, Muzaffar & Sanjay Subrahmanyam, «Letters from a Sinking Sultan», in Aquém e Além da Taprobana. Estudos Luso-Orientais à Memória de Jean Aubin e Denys Lombard, ed. Luís Filipe F. R. Thomaz, Lisboa, CHAM-FCSH-UNL, 2002, pp. 239-269. CARVALHO, Andreia Martins de, Nuno da Cunha e os Capitães da Índia (1529-1538), Lisboa, FCSH-UNL, 2006, dissertação de mestrado policopiada. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem - A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada.