Data de publicação
2009
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O cosmógrafo malaio-português Manuel Godinho de Erédia nasceu em 1563 em Malaca. Seu pai, João de Erédia Aquaviva, descendia da família de D. Filipe de Heredia, conde de Fuentes em Aragão que, se tendo mantido fiel a D. Joana, a "Beltraneja", fixou-se em Portugal durante o reinado de D. Afonso V. Sua mãe, D. Helena Vessiva, era filha do rei de Supa de Macassar, uma ilha a 300 léguas (cerca de 1.770 Km) a oeste de Malaca, capital da atual província de Sulawesi Selatan, no sudoeste da Indonésia e um importante porto para o comércio de especiarias. Em 1545, a jovem foi batizada com seus pais, que receberam os nomes de Dom João Tubinanga e Dona Archangela de Linta, durante uma primeira tentativa de cristianização de Macassar. Ao deixar a ilha para retornar a Malaca, no junco que levara os missionários encontrava-se a princesa, então com quinze anos, embarcada clandestinamente pelo jovem português João de Erédia. O casal teve quatro filhos: Domingos Godinho de Erédia, professor do colégio ligado à Sé de Malaca, Manuel, o cosmógrafo, Francisco, cônego da Sé de Malaca, e Ana, de quem não temos qualquer informação. D. Elena morreria em 1575 e seria enterrada na principal igreja de Malaca.
Manuel Godinho de Erédia iniciou seus estudos no colégio da Companhia de Jesus de Malaca e com 13 anos seguiu para a capital do Estado da Índia, para ingressar no seminário jesuíta. Ali entrou em contato com os clássicos, sobretudo Heródoto, Ariosto, Plínio, Avicena e Vitrúvio, e talvez mesmo antes, no colégio, teve acesso aos textos de viajantes como Marco Polo e Ludovico de Varthema, todos bastante citados em suas obras. Ingressou na ordem da Companhia de Jesus em 1579 e a deixou no ano seguinte. Vivendo em Goa, passou a copiar cartas - mapas mundi e atlas corográficos - levadas por marinheiros. Talvez neste período Eredia tenha obtido informações sobre a Índia Meridional, onde imaginava encontrar-se a Ilha do Ouro, e que perseguiria por toda a vida. Casou-se com Dona Vilante de Sampaio, e teve um filho, Manuel Aquaviva, que morreu ainda criança, e uma filha, Dona Anna de Heredia Aquaviva, nascida em 1587, que, segundo o pai, herdou-lhe o interesse pelas ciências matemáticas.
Por meio de seus textos, Erédia nos informa que deixou Goa de volta a Malaca em 1601, após muitos serviços prestados e demandas feitas ao vice-rei a fim de realizar suas explorações pela Índia Meridional, autorização que acabou por receber do vice-rei Aires de Saldanha. Investido do hábito da Ordem de Cristo e do título de "Adelantado" da Índia Meridional, um título que lhe conferia não só o comando da expedição como o governo das terras que descobrisse ou conquistasse, reuniu sua frota em Malaca, composta de 12 galeões e 60 pequenos barcos a remo. Entretanto, a fortaleza portuguesa era atacada pelos malaios e os holandeses circulavam pelos mares do Sul impedindo a passagem pelos canais e estreitos de Bale e Solor, o que fez abortar sua expedição. Permaneceu em Malaca até 1604, quando o capitão da fortaleza, André Furtado de Mendonça, mandou-o de volta a Goa, onde morreria em 1623.
Sem ter conseguido convencer a Coroa da importância de seu projeto, o momento em que esteve mais perto de realizá-lo foi mesmo em 1601. Da permanência forçada em Malaca para apoiar na defesa da praça surgiram suas principais obras. Aquelas localizadas são: História do martírio de Luiz Monteiro Coutinho, de 1615, que trata do martírio ocorrido em 1588 por ordem de Raiamancor, rei de Achem, e estaria na Biblioteca Nacional de Lisboa, mas hoje está desaparecida; Informação da Áurea Chersoneso ou Península, e das ilhas auríferas, carbúnculas e aromáticas e Lista das principais minas auríferas, alcançadas pela curiosidade de Manuel Godinho de Herédia, cosmógrafo indiano, publicados na segunda metade do século XIX por Antonio Lourenço Caminha; Declaraçam de Malaca e India Meridional com o Cathay, em trez tratados, ordenada por Emanuel Godinho de Eredia, dirigida a Sua Magestade D. Filipe, Rei de Espanha, no anno de 1613, descoberta em 1872 na Biblioteca Real da Bélgica e que inseriu Erédia na discussão sobre quem teria sido o primeiro europeu a chegar à Austrália. Por meio da recolha de informação sobre as regiões ao sul do arquipélago indonesiano, Erédia teria localizado a nova terra, mas não há qualquer evidência de que tenha estado na costa australiana; Tratado ophirico por Manuel Godinho de Erédia, dirigido a D. Filipe, rei de Espanha, Nosso Senhor, ano de 1616, que inclui "Informação da Índia Meridional descoberta por Manuel Godinho de Heredia, Ano de 1610", um sumário da vida de Erédia e 11 cartas geográficas, encontrado na Biblioteca Nacional de Paris; Plantas de praças das conquistas de Portugal, feitas por ordem de Rui Lourenço de Távora, vizo-rei da India, por Manuel Godinho de Heredia, cosmógrafo, em 1610, um álbum com 20 aquarelas localizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Há ainda duas obras que lhe podem ser atribuídas. Trata-se do atlas-miscelânea datado de 1615-1622, cujo paradeiro se desconhece, e o Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, com 22 plantas, de cerca de 1620, pertencentes à fortaleza de São Julião da Barra. E ainda Discurso sobre a Província do Indostan chamada Mogûl ou Mogôr com declaração do Reino gozarate, e mais Reinos de seu destricto, ordenado por Emanuel Godinho de Eredia, cosmógrafo-mor, datada de 1611, localizado na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Bibliografia:
ERÉDIA, Manuel Godinho de. Suma de Arvores e Plantas da India Intra Ganges, edição de J.G. Everaert, J.E. Mendes Ferrão e M. Candida Liberato, prefácio de Luis Filipe F.R. Thomaz. Lisboa: CNCDP, 2001. ERÉDIA, Manuel Godinho de. Eredia´s Description of Malaca, Meridional India, and Cathay. Translated from the Portuguese with notes by J.V. Mills and new introduction by Cheah Boon Kheng, Kuala Lumpur: MBRAS, 1997. FARO, Jorge. Manuel Godinho de Erédia. Lisboa: s.d., 1955. DORÉ, Andréa. "Manuel Godinho de Erédia e a cartografia sobre o Estado da Índia no período filipino". In: Vainfas, Ronaldo, Santos, Georgina Silva dos e Neves, Guilherme Pereira das (orgs.). Retratos do Império. Trajetórias individuais no mundo português nos séculos XVI a XIX. Niterói: Eduff, 2006, pp. 375-388.
Manuel Godinho de Erédia iniciou seus estudos no colégio da Companhia de Jesus de Malaca e com 13 anos seguiu para a capital do Estado da Índia, para ingressar no seminário jesuíta. Ali entrou em contato com os clássicos, sobretudo Heródoto, Ariosto, Plínio, Avicena e Vitrúvio, e talvez mesmo antes, no colégio, teve acesso aos textos de viajantes como Marco Polo e Ludovico de Varthema, todos bastante citados em suas obras. Ingressou na ordem da Companhia de Jesus em 1579 e a deixou no ano seguinte. Vivendo em Goa, passou a copiar cartas - mapas mundi e atlas corográficos - levadas por marinheiros. Talvez neste período Eredia tenha obtido informações sobre a Índia Meridional, onde imaginava encontrar-se a Ilha do Ouro, e que perseguiria por toda a vida. Casou-se com Dona Vilante de Sampaio, e teve um filho, Manuel Aquaviva, que morreu ainda criança, e uma filha, Dona Anna de Heredia Aquaviva, nascida em 1587, que, segundo o pai, herdou-lhe o interesse pelas ciências matemáticas.
Por meio de seus textos, Erédia nos informa que deixou Goa de volta a Malaca em 1601, após muitos serviços prestados e demandas feitas ao vice-rei a fim de realizar suas explorações pela Índia Meridional, autorização que acabou por receber do vice-rei Aires de Saldanha. Investido do hábito da Ordem de Cristo e do título de "Adelantado" da Índia Meridional, um título que lhe conferia não só o comando da expedição como o governo das terras que descobrisse ou conquistasse, reuniu sua frota em Malaca, composta de 12 galeões e 60 pequenos barcos a remo. Entretanto, a fortaleza portuguesa era atacada pelos malaios e os holandeses circulavam pelos mares do Sul impedindo a passagem pelos canais e estreitos de Bale e Solor, o que fez abortar sua expedição. Permaneceu em Malaca até 1604, quando o capitão da fortaleza, André Furtado de Mendonça, mandou-o de volta a Goa, onde morreria em 1623.
Sem ter conseguido convencer a Coroa da importância de seu projeto, o momento em que esteve mais perto de realizá-lo foi mesmo em 1601. Da permanência forçada em Malaca para apoiar na defesa da praça surgiram suas principais obras. Aquelas localizadas são: História do martírio de Luiz Monteiro Coutinho, de 1615, que trata do martírio ocorrido em 1588 por ordem de Raiamancor, rei de Achem, e estaria na Biblioteca Nacional de Lisboa, mas hoje está desaparecida; Informação da Áurea Chersoneso ou Península, e das ilhas auríferas, carbúnculas e aromáticas e Lista das principais minas auríferas, alcançadas pela curiosidade de Manuel Godinho de Herédia, cosmógrafo indiano, publicados na segunda metade do século XIX por Antonio Lourenço Caminha; Declaraçam de Malaca e India Meridional com o Cathay, em trez tratados, ordenada por Emanuel Godinho de Eredia, dirigida a Sua Magestade D. Filipe, Rei de Espanha, no anno de 1613, descoberta em 1872 na Biblioteca Real da Bélgica e que inseriu Erédia na discussão sobre quem teria sido o primeiro europeu a chegar à Austrália. Por meio da recolha de informação sobre as regiões ao sul do arquipélago indonesiano, Erédia teria localizado a nova terra, mas não há qualquer evidência de que tenha estado na costa australiana; Tratado ophirico por Manuel Godinho de Erédia, dirigido a D. Filipe, rei de Espanha, Nosso Senhor, ano de 1616, que inclui "Informação da Índia Meridional descoberta por Manuel Godinho de Heredia, Ano de 1610", um sumário da vida de Erédia e 11 cartas geográficas, encontrado na Biblioteca Nacional de Paris; Plantas de praças das conquistas de Portugal, feitas por ordem de Rui Lourenço de Távora, vizo-rei da India, por Manuel Godinho de Heredia, cosmógrafo, em 1610, um álbum com 20 aquarelas localizado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Há ainda duas obras que lhe podem ser atribuídas. Trata-se do atlas-miscelânea datado de 1615-1622, cujo paradeiro se desconhece, e o Livro de Plantaformas das Fortalezas da Índia, com 22 plantas, de cerca de 1620, pertencentes à fortaleza de São Julião da Barra. E ainda Discurso sobre a Província do Indostan chamada Mogûl ou Mogôr com declaração do Reino gozarate, e mais Reinos de seu destricto, ordenado por Emanuel Godinho de Eredia, cosmógrafo-mor, datada de 1611, localizado na Biblioteca Nacional de Lisboa.
Bibliografia:
ERÉDIA, Manuel Godinho de. Suma de Arvores e Plantas da India Intra Ganges, edição de J.G. Everaert, J.E. Mendes Ferrão e M. Candida Liberato, prefácio de Luis Filipe F.R. Thomaz. Lisboa: CNCDP, 2001. ERÉDIA, Manuel Godinho de. Eredia´s Description of Malaca, Meridional India, and Cathay. Translated from the Portuguese with notes by J.V. Mills and new introduction by Cheah Boon Kheng, Kuala Lumpur: MBRAS, 1997. FARO, Jorge. Manuel Godinho de Erédia. Lisboa: s.d., 1955. DORÉ, Andréa. "Manuel Godinho de Erédia e a cartografia sobre o Estado da Índia no período filipino". In: Vainfas, Ronaldo, Santos, Georgina Silva dos e Neves, Guilherme Pereira das (orgs.). Retratos do Império. Trajetórias individuais no mundo português nos séculos XVI a XIX. Niterói: Eduff, 2006, pp. 375-388.