Data de publicação
2011
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Vasco da Gama terá nascido na vila de Sines, apontando-se a data de 1469. Seu pai, Estevão da Gama, estivera ligado à Casa de Viseu, tendo mais tarde ocupado um lugar na Ordem de Santiago, sendo detentor de uma comenda desta e exercendo os cargos de alcaide-mor e capitão da vila de Sines. Pelo lado de sua mãe, Isabel de Sodré, descendia de uma família com raízes nas ilhas britânicas e com profundas ligações à Ordem de Cristo.
Pouco se conhece acerca dos primeiros anos da vida de Vasco da Gama. Em inícios da década de 1490 era já cavaleiro da Ordem de Santiago e fidalgo da Casa Real. A primeira referência clara à sua pessoa ocorre em 1492, quando, por ordem de D. João II, comandou a apreensão de navios franceses nos portos de Setúbal e do Algarve como retaliação pela captura por piratas franceses de uma caravela proveniente da Mina.
Já em 1495, após a morte de D. João II o seu filho ilegítimo, D. Jorge, governador da Ordem de Santiago, concedeu a Vasco da Gama duas comendas da ordem. Pensa-se que Vasco da Gama terá gravitado em torno do círculo de D. Jorge, apesar de não se conhecer com certeza o seu posicionamento nas disputas que opuseram o filho ilegítimo de D. João II a D. Manuel I.
As razões que levaram D. Manuel a escolher Vasco da Gama como capitão-mor da armada a ser enviada à Índia têm sido alvo de debate. A cronística coeva não permite compreender o porquê da escolha de um fidalgo, aparentemente, obscuro e potencialmente ligado a círculos de oposição ao rei, para chefiar uma expedição tão importante para o projecto imperial manuelino. Alguns historiadores avançaram a possibilidade de Vasco da Gama ter experiência marítima prévia, baseando-se na sua missão de 1492 e em hipotéticas viagens de exploração no Atlântico Sul e no Índico, cujos registos se teriam perdido. O consenso historiográfico aponta, no entanto, para esta escolha estar relacionada com negociações tácitas entre as diferentes correntes políticas presentes na corte, muitas das quais opostas ao envio da armada ao Índico.
Certo é que Vasco da Gama se encontrava ao comando da armada que zarpou de Lisboa, a 8 de Julho de 1497, sendo composta pelas naus São Gabriel e São Rafael, comandadas por Vasco da Gama e pelo seu irmão Paulo da Gama, pela caravela Bérrio, sob o comando de Nicolau Coelho e por um navio de mantimentos, que viria a ser desmantelado após a passagem do Cabo da Boa Esperança.
Navegando ao longo da costa africana, a armada passou os arquipélagos das Canárias e de Cabo Verde, antes de inflectir para o Ocidente profundo numa rota que a levou a estar cerca de três meses sem avistar a costa. Esta volta pelo largo, diferente da rota seguida pelas mais leves e manobráveis embarcações de Bartolomeu Dias, levou a armada até às proximidades da baía de Santa Helena, na costa da actual África do Sul.
A armada rumou por fim ao Cabo da Boa Esperança, que foi transposto em finais de Novembro antes de, em meados do mês seguinte, ter deixado para trás o último padrão colocado pela armada de Bartolomeu Dias.
Prosseguindo por águas ainda não navegadas por embarcações portuguesas, a armada explorou a região da foz do rio Inharrime, após terem sido alcançados os primeiros entrepostos comerciais islamizados, nomeadamente na ilha de Moçambique e em Mombaça, onde se deram incidentes violentos que obrigaram a seguir caminho. Foi apenas em Melinde, graças à rivalidade do soberano local com os seus vizinhos de Mombaça, que Vasco da Gama e os seus navios foram bem acolhidos, tendo embarcado um piloto, provavelmente de origem guzerate, que os guiou na travessia do Índico até à costa indiana. A 20 de Maio a armada chegava finalmente às proximidades de Calicute, porto que controlava o comércio de pimenta da costa do Malabar.
Após contactos iniciais, protagonizados por um degredado que havia sido levado na armada, Vasco da Gama acabou por desembarcar em Calicute. Após uma breve visita à cidade, a qual não dissipou a ideia de que se encontravam em terras habitadas por cristãos, Vasco da Gama foi recebido pelo soberano local, o Samorim. Nesta audiência, apesar de ter sido concedida autorização aos portugueses para comerciarem na cidade, tornou-se evidente que os produtos trazidos a bordo não despertavam o interesse dos comerciantes locais. Desta forma, ao fim de algumas semanas de estadia, em que as relações com o Samorim e com os mercadores muçulmanos se foram tornando progressivamente mais crispadas, a armada de Vasco da Gama partiu de Calicute.
A travessia de regresso através do Índico, revelou-se tormentosa e a armada apenas alcançou a costa oriental africana em Janeiro de 1499. Passando o Cabo da Boa Esperança no dia 20 de Março, a armada atingiu Cabo Verde, em meados de Abril, tendo Vasco da Gama partido numa caravela para os Açores, onde o seu irmão Paulo da Gama, gravemente doente, acabou por falecer. Enquanto Vasco da Gama se encontrava ainda nos Açores, a Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, chegava a Lisboa em inícios de Julho de 1499, tendo a notícia do sucesso da missão sido entusiasticamente recebida por D. Manuel. Vasco da Gama apenas regressou a Lisboa nos primeiros dias de Setembro desse ano, tendo sido recebido em audiência pelo rei a 18 desse mês.
A partir desse momento acumularam-se as mercês outorgadas pela Coroa. Deste modo, tomou lugar no Conselho Real, foram-lhe concedidos os títulos de Dom e de Almirante da Índia, tendo-lhe sido atribuída a prerrogativa de enviar anualmente à Índia 200 cruzados para comércio próprio livre de tributação. Por alvará de Dezembro de 1499 foi-lhe igualmente concedida a posse hereditária da vila de Sines e dos seus rendimentos, o que levou a uma disputa com a Ordem de Santiago que detinha a posse da dita vila. Em 1501, Vasco da Gama desposou D. Catarina de Ataíde, ligando-se por esta via a duas importantes famílias do Reino, os Ataídes e os Almeidas.
Durante os anos que se seguiram à viagem de Vasco da Gama foram enviadas duas expedições à Índia, em 1500 e em 1501, comandadas respectivamente por Pedro Alvares Cabral e João da Nova. A propósito da armada que foi organizada em 1502, os cronistas coevos referem que o comando desta fora inicialmente dado a Pedro Álvares Cabral, acabando, todavia, por lhe ser retirado e entregue a Vasco da Gama. A explicação para o facto residirá numa incompatibilidade verificada entre Pedro Álvares Cabral e Vicente Sodré, tio materno do Almirante, que fora nomeado para o comando de uma força naval que deveria permanecer no Índico.
Em Fevereiro de 1502 a nova armada rumou ao Índico chegando ao porto de Sofala, na costa oriental africana, em Junho. Cerca de um mês mais tarde a armada aproximou-se do porto de Quíloa. Sob ameaça de bombardeamento o governante local aceitou negociar com os portugueses, comprometendo-se a pagar um tributo em ouro simbolizando a sua submissão. Partido de Quíloa, e após uma tentativa de rumar a Melinde, frustrada pelo mau tempo, a armada rumou à costa ocidental indiana chegando às proximidades de Cananor em Setembro, onde se preparou para emboscar navios muçulmanos que viessem do Mar Vermelho.
Nos últimos dias de Setembro foi avistado um navio de Calicut, a Mîrî, que regressava de Meca. Exortado a render-se o navio tentou negociar o seu resgate a troco de parte das riquezas que levava a bordo. Contudo a intransigência de Vasco da Gama levou a que se desencadeasse uma sangrenta refrega que apenas terminou com o incêndio e afundamento da Mîrî, com grande parte dos seus passageiros e tripulação.
Em seguida a armada entrou no porto de Cananor, tendo os meses seguintes sido passados entre difíceis negociações com os soberanos e os mercadores de Cananor e Cochim, onde foram estabelecidas feitorias, e combates contra as forças de Calicut, cujos interesses eram agora francamente contrários aos dos portugueses. Por fim, em inícios de 1503 a armada zarpou de regresso a Portugal, deixando no Índico os navios comandados por Vicente Sodré.
Entrando em Lisboa com o grosso da armada a 10 de Outubro de 1503, Vasco da Gama foi inicialmente muito bem recebido. O ouro pago em tributo pelo governante de Quíloa foi entregue a D. Manuel, tendo Vasco da Gama sido agraciado com novas mercês. Contudo, as relações de Vasco da Gama com a Coroa parecem ter rapidamente esfriado. Têm sido apontados como factores determinantes deste afastamento os relatos que se foram conhecendo da excessiva violência empregada pelo Almirante na sua viagem de 1502, os rumores das riquezas que acumulara a título pessoal e, sobretudo, o descontentamento da Coroa com o comportamento de Vicente Sodré que, ficando na Índia com o objectivo de defender os interesses portugueses, naufragara perto do Mar Vermelho, aonde se dirigira numa tentativa infrutífera de capturar embarcações muçulmanas, permitindo o ataque das forças do Samorim de Calicut à feitoria portuguesa de Cochim.
Para mais a disputa com a Ordem de Santiago pela posse de Sines, onde habitou até 1507, arrastou-se no tempo, acabando Vasco da Gama por ser intimado pelo rei a abandonar a vila. Vasco da Gama recolheu-se primeiramente a Évora e mais tarde a Niza e Lisboa, de onde procurou reaproximar-se da Coroa e consolidar a sua posição social. Por volta de 1518, esse esforço levou-o a peticionar junto do Rei para que lhe fosse concedido título nobiliárquico de conde, pedindo autorização para deixar o Reino caso tal não lhe fosse concedido. No ano seguinte, Vasco da Gama adquiriu do duque de Bragança as terras da Vidigueira e Vila de Frades sendo que, após esta transacção, em Dezembro de 1519, D. Manuel o confirmou como conde da Vidigueira.
O percurso de ascensão social de Vasco da Gama atingiu assim o seu zénite e a sua importância no panorama político do Reino ganhou novo fôlego com a subida ao trono de D. João III, em 1521. Três anos mais tarde Vasco da Gama rumava novamente à Índia, desta feita para assumir o governo do Estado da Índia e o título de vice-rei assim que avistasse o primeiro porto indiano.
Partindo a 14 de Abril de 1524, a armada atingiu o porto indiano de Chaul em Setembro. Rumando a Goa, onde passou o mês seguinte, Vasco da Gama rumou em seguida a Cochim, após uma breve passagem por Cananor. Em Cochim, imerso em conflitos com os fiéis do anterior governador Duarte de Menezes, Vasco da Gama adoeceu vendo-se impossibilitado de liderar um ataque a Calicut onde recrudescia o conflito entre os portugueses e a comunidade local de mercadores muçulmanos. Acabou por falecer nesta mesma cidade de Cochim, na véspera de natal de 1524.
Bibliografia:
FONSECA, Luís Adão da, Vasco da Gama: O Homem, a Viagem, a Época, Lisboa, Comissariado da Expo 98, 1997. O Tempo de Vasco da Gama, dir. Diogo Ramada Curto, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998. SUBRAHMANYAM, Sajay, A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998.
Pouco se conhece acerca dos primeiros anos da vida de Vasco da Gama. Em inícios da década de 1490 era já cavaleiro da Ordem de Santiago e fidalgo da Casa Real. A primeira referência clara à sua pessoa ocorre em 1492, quando, por ordem de D. João II, comandou a apreensão de navios franceses nos portos de Setúbal e do Algarve como retaliação pela captura por piratas franceses de uma caravela proveniente da Mina.
Já em 1495, após a morte de D. João II o seu filho ilegítimo, D. Jorge, governador da Ordem de Santiago, concedeu a Vasco da Gama duas comendas da ordem. Pensa-se que Vasco da Gama terá gravitado em torno do círculo de D. Jorge, apesar de não se conhecer com certeza o seu posicionamento nas disputas que opuseram o filho ilegítimo de D. João II a D. Manuel I.
As razões que levaram D. Manuel a escolher Vasco da Gama como capitão-mor da armada a ser enviada à Índia têm sido alvo de debate. A cronística coeva não permite compreender o porquê da escolha de um fidalgo, aparentemente, obscuro e potencialmente ligado a círculos de oposição ao rei, para chefiar uma expedição tão importante para o projecto imperial manuelino. Alguns historiadores avançaram a possibilidade de Vasco da Gama ter experiência marítima prévia, baseando-se na sua missão de 1492 e em hipotéticas viagens de exploração no Atlântico Sul e no Índico, cujos registos se teriam perdido. O consenso historiográfico aponta, no entanto, para esta escolha estar relacionada com negociações tácitas entre as diferentes correntes políticas presentes na corte, muitas das quais opostas ao envio da armada ao Índico.
Certo é que Vasco da Gama se encontrava ao comando da armada que zarpou de Lisboa, a 8 de Julho de 1497, sendo composta pelas naus São Gabriel e São Rafael, comandadas por Vasco da Gama e pelo seu irmão Paulo da Gama, pela caravela Bérrio, sob o comando de Nicolau Coelho e por um navio de mantimentos, que viria a ser desmantelado após a passagem do Cabo da Boa Esperança.
Navegando ao longo da costa africana, a armada passou os arquipélagos das Canárias e de Cabo Verde, antes de inflectir para o Ocidente profundo numa rota que a levou a estar cerca de três meses sem avistar a costa. Esta volta pelo largo, diferente da rota seguida pelas mais leves e manobráveis embarcações de Bartolomeu Dias, levou a armada até às proximidades da baía de Santa Helena, na costa da actual África do Sul.
A armada rumou por fim ao Cabo da Boa Esperança, que foi transposto em finais de Novembro antes de, em meados do mês seguinte, ter deixado para trás o último padrão colocado pela armada de Bartolomeu Dias.
Prosseguindo por águas ainda não navegadas por embarcações portuguesas, a armada explorou a região da foz do rio Inharrime, após terem sido alcançados os primeiros entrepostos comerciais islamizados, nomeadamente na ilha de Moçambique e em Mombaça, onde se deram incidentes violentos que obrigaram a seguir caminho. Foi apenas em Melinde, graças à rivalidade do soberano local com os seus vizinhos de Mombaça, que Vasco da Gama e os seus navios foram bem acolhidos, tendo embarcado um piloto, provavelmente de origem guzerate, que os guiou na travessia do Índico até à costa indiana. A 20 de Maio a armada chegava finalmente às proximidades de Calicute, porto que controlava o comércio de pimenta da costa do Malabar.
Após contactos iniciais, protagonizados por um degredado que havia sido levado na armada, Vasco da Gama acabou por desembarcar em Calicute. Após uma breve visita à cidade, a qual não dissipou a ideia de que se encontravam em terras habitadas por cristãos, Vasco da Gama foi recebido pelo soberano local, o Samorim. Nesta audiência, apesar de ter sido concedida autorização aos portugueses para comerciarem na cidade, tornou-se evidente que os produtos trazidos a bordo não despertavam o interesse dos comerciantes locais. Desta forma, ao fim de algumas semanas de estadia, em que as relações com o Samorim e com os mercadores muçulmanos se foram tornando progressivamente mais crispadas, a armada de Vasco da Gama partiu de Calicute.
A travessia de regresso através do Índico, revelou-se tormentosa e a armada apenas alcançou a costa oriental africana em Janeiro de 1499. Passando o Cabo da Boa Esperança no dia 20 de Março, a armada atingiu Cabo Verde, em meados de Abril, tendo Vasco da Gama partido numa caravela para os Açores, onde o seu irmão Paulo da Gama, gravemente doente, acabou por falecer. Enquanto Vasco da Gama se encontrava ainda nos Açores, a Bérrio, comandada por Nicolau Coelho, chegava a Lisboa em inícios de Julho de 1499, tendo a notícia do sucesso da missão sido entusiasticamente recebida por D. Manuel. Vasco da Gama apenas regressou a Lisboa nos primeiros dias de Setembro desse ano, tendo sido recebido em audiência pelo rei a 18 desse mês.
A partir desse momento acumularam-se as mercês outorgadas pela Coroa. Deste modo, tomou lugar no Conselho Real, foram-lhe concedidos os títulos de Dom e de Almirante da Índia, tendo-lhe sido atribuída a prerrogativa de enviar anualmente à Índia 200 cruzados para comércio próprio livre de tributação. Por alvará de Dezembro de 1499 foi-lhe igualmente concedida a posse hereditária da vila de Sines e dos seus rendimentos, o que levou a uma disputa com a Ordem de Santiago que detinha a posse da dita vila. Em 1501, Vasco da Gama desposou D. Catarina de Ataíde, ligando-se por esta via a duas importantes famílias do Reino, os Ataídes e os Almeidas.
Durante os anos que se seguiram à viagem de Vasco da Gama foram enviadas duas expedições à Índia, em 1500 e em 1501, comandadas respectivamente por Pedro Alvares Cabral e João da Nova. A propósito da armada que foi organizada em 1502, os cronistas coevos referem que o comando desta fora inicialmente dado a Pedro Álvares Cabral, acabando, todavia, por lhe ser retirado e entregue a Vasco da Gama. A explicação para o facto residirá numa incompatibilidade verificada entre Pedro Álvares Cabral e Vicente Sodré, tio materno do Almirante, que fora nomeado para o comando de uma força naval que deveria permanecer no Índico.
Em Fevereiro de 1502 a nova armada rumou ao Índico chegando ao porto de Sofala, na costa oriental africana, em Junho. Cerca de um mês mais tarde a armada aproximou-se do porto de Quíloa. Sob ameaça de bombardeamento o governante local aceitou negociar com os portugueses, comprometendo-se a pagar um tributo em ouro simbolizando a sua submissão. Partido de Quíloa, e após uma tentativa de rumar a Melinde, frustrada pelo mau tempo, a armada rumou à costa ocidental indiana chegando às proximidades de Cananor em Setembro, onde se preparou para emboscar navios muçulmanos que viessem do Mar Vermelho.
Nos últimos dias de Setembro foi avistado um navio de Calicut, a Mîrî, que regressava de Meca. Exortado a render-se o navio tentou negociar o seu resgate a troco de parte das riquezas que levava a bordo. Contudo a intransigência de Vasco da Gama levou a que se desencadeasse uma sangrenta refrega que apenas terminou com o incêndio e afundamento da Mîrî, com grande parte dos seus passageiros e tripulação.
Em seguida a armada entrou no porto de Cananor, tendo os meses seguintes sido passados entre difíceis negociações com os soberanos e os mercadores de Cananor e Cochim, onde foram estabelecidas feitorias, e combates contra as forças de Calicut, cujos interesses eram agora francamente contrários aos dos portugueses. Por fim, em inícios de 1503 a armada zarpou de regresso a Portugal, deixando no Índico os navios comandados por Vicente Sodré.
Entrando em Lisboa com o grosso da armada a 10 de Outubro de 1503, Vasco da Gama foi inicialmente muito bem recebido. O ouro pago em tributo pelo governante de Quíloa foi entregue a D. Manuel, tendo Vasco da Gama sido agraciado com novas mercês. Contudo, as relações de Vasco da Gama com a Coroa parecem ter rapidamente esfriado. Têm sido apontados como factores determinantes deste afastamento os relatos que se foram conhecendo da excessiva violência empregada pelo Almirante na sua viagem de 1502, os rumores das riquezas que acumulara a título pessoal e, sobretudo, o descontentamento da Coroa com o comportamento de Vicente Sodré que, ficando na Índia com o objectivo de defender os interesses portugueses, naufragara perto do Mar Vermelho, aonde se dirigira numa tentativa infrutífera de capturar embarcações muçulmanas, permitindo o ataque das forças do Samorim de Calicut à feitoria portuguesa de Cochim.
Para mais a disputa com a Ordem de Santiago pela posse de Sines, onde habitou até 1507, arrastou-se no tempo, acabando Vasco da Gama por ser intimado pelo rei a abandonar a vila. Vasco da Gama recolheu-se primeiramente a Évora e mais tarde a Niza e Lisboa, de onde procurou reaproximar-se da Coroa e consolidar a sua posição social. Por volta de 1518, esse esforço levou-o a peticionar junto do Rei para que lhe fosse concedido título nobiliárquico de conde, pedindo autorização para deixar o Reino caso tal não lhe fosse concedido. No ano seguinte, Vasco da Gama adquiriu do duque de Bragança as terras da Vidigueira e Vila de Frades sendo que, após esta transacção, em Dezembro de 1519, D. Manuel o confirmou como conde da Vidigueira.
O percurso de ascensão social de Vasco da Gama atingiu assim o seu zénite e a sua importância no panorama político do Reino ganhou novo fôlego com a subida ao trono de D. João III, em 1521. Três anos mais tarde Vasco da Gama rumava novamente à Índia, desta feita para assumir o governo do Estado da Índia e o título de vice-rei assim que avistasse o primeiro porto indiano.
Partindo a 14 de Abril de 1524, a armada atingiu o porto indiano de Chaul em Setembro. Rumando a Goa, onde passou o mês seguinte, Vasco da Gama rumou em seguida a Cochim, após uma breve passagem por Cananor. Em Cochim, imerso em conflitos com os fiéis do anterior governador Duarte de Menezes, Vasco da Gama adoeceu vendo-se impossibilitado de liderar um ataque a Calicut onde recrudescia o conflito entre os portugueses e a comunidade local de mercadores muçulmanos. Acabou por falecer nesta mesma cidade de Cochim, na véspera de natal de 1524.
Bibliografia:
FONSECA, Luís Adão da, Vasco da Gama: O Homem, a Viagem, a Época, Lisboa, Comissariado da Expo 98, 1997. O Tempo de Vasco da Gama, dir. Diogo Ramada Curto, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998. SUBRAHMANYAM, Sajay, A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama, Lisboa, C.N.C.D.P., 1998.