Data de publicação
2010
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Colectânea documental e de estudos, inicialmente editada em fascículos, constitui uma referência essencial para as historiografias açoriana e portuguesa e um marco da erudição oitocentista. A sua génese e publicação ficou a dever-se à iniciativa do morgado, genealogista e historiador Ernesto do Canto (1831 1900), possivelmente inspirado na edição dos Portugaliae Monumenta Historica. O programa na base do empreendimento foi explicitado na introdução que abriu o primeiro volume, saído em Maio de 1878: apresentando o Arquivo dos Açores como um jornal, meio de irradiação do progresso, pretendia-se "rectificar a historia açoriana em vista de documentos coevos", "fazer conhecidos documentos unicos importantissimos, dispersos ou avulsos", "reunir não só os manuscriptos de que houver conhecimento, existentes nas bibliothecas publicas e particulares, nacionaes e estrangeiras" e, por fim, como resultado de todo este esforço, fornecer as condições para "esclarecidas lucubrações historicas".
Para além do próprio Ernesto do Canto, diversos nomes ilustres da cultura açoriana aí colaboraram, com destaque para Jacinto Inácio de Brito Rebelo (1830 1920), micaelense e oficial de infantaria, o padre José Joaquim de Sena Freitas (1840 1913), José de Arriaga (1848 1921), Francisco Afonso de Chaves (1857 1926) e Manuel Monteiro Velho Arruda (1873 1950), natural de Santa Maria. Ainda em vida do mentor do projecto, foram publicados doze volumes, entre 1878 e 1892; após a sua morte, seriam publicados os volumes XIII (1920), projectado inicialmente como uma homenagem ao fundador do Arquivo dos Açores, e XIV (1927), ambos contendo sobretudo documentação referente a São Miguel, e ainda um volume XV (1959), este dedicado a Santa Maria e originalmente concebido por Manuel Monteiro Velho Arruda, que pensava publicar aí uma parte importante da documentação recolhida durante muitos anos de pesquisa.
Não é fácil dar conta da diversidade de documentos e estudos reunidos no Arquivo dos Açores, tanto mais que a sua publicação não obedeceu aos critérios de organização que hoje se praticam. De qualquer modo, refiramos que o notável esforço da equipa coordenada por Ernesto do Canto permitiu publicar fontes manuscritas inéditas existentes em arquivos nacionais - fossem os da região (particulares e públicos) ou do continente (na sua maioria dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo) - e estrangeiros, bem como impressos raros. De entre a variada e rica documentação compulsada, merecem ser referidos os regimentos e cartas de sesmaria provenientes do espólio documental de Pero Anes do Canto, primeiro provedor das armadas, agrupados sob o título "Regimen Primitivo da Propriedade nos Açores" (vol. XII, pp. 385 408); dos impressos, destaquemos dois opúsculos de Gonçalo Vaz Coutinho, governador de São Miguel, relativos ao combate com os Ingleses em 1597 naquela ilha (vol. X, pp. 97 149), e, também para o período filipino, várias relações espanholas e italianas sobre a conquista da ilha Terceira e as batalhas entre os partidários de D. António e os de Filipe II (vol. III, pp. 118 128 e 213 278); quanto aos estudos, citemos "Os Corte Reaes. Memoria Historica", da autoria de Ernesto do Canto (vol. IV, pp. 385 590), solidamente documentado e que nos fornece informação essencial sobre aspectos sócioeconómicos da vida desta família no Algarve.
Sublinhemos ainda que Ernesto do Canto e os colaboradores do Arquivo dos Açores, enquanto homens do seu tempo, estavam atentos a acontecimentos e efemérides de importância nacional. Desse modo, passaram em claro o centenário de Camões, em 1880 (vol. II, pp. 79 84), que mereceu a elaboração de uma "Bibliographia Camoneana nos Açores Por occasião e posterior ao Centenario", com vários aditamentos (vol. III, pp. 141 166, 301 318 e 461 476; vol. IV, pp. 333 342; vol. V, pp. 377 395), ou a viagem de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, este natural de São Miguel (vol. VIII, pp. 193 280). Por fim, é de realçar o empenho colocado na divulgação de autores nucleares da historiografia açoriana, como o sacerdote Gaspar Frutuoso (1522-1591), publicando documentos relativos ao vigário micaelense e recorrendo às Saudades da Terra (vol. I, pp. 403 434, 458 466 e 536 541; vol. II, pp. 85 93, 172 186 e 188 190; vol. X, pp. 486 490; vol. XII, pp. 122 157), e frei Diogo das Chagas, autor do Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, de quem reeditaram uma Relação alusiva à Restauração nos Açores (vol. V, pp. 396 406; vol. X, pp. 193 232).
Pela sua comprovada importância, a Universidade dos Açores, na sequência do centenário da publicação do Arquivo dos Açores, efectuou uma edição fac similada da obra e, a partir de 1999, deu início à edição de uma segunda série do Arquivo dos Açores, agora em novos moldes e dedicada à publicação da documentação relativa aos Açores e depositada no Arquivo Histórico Ultramarino.
Bibliografia:
Arquivo dos Açores, reprodução fac similada da edição original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1980 1984, 15 vols. PEREIRA, António dos Santos, "Historiografia Açoriana (1875 1925): Breve roteiro", Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, 1988, pp. 665-689.
Para além do próprio Ernesto do Canto, diversos nomes ilustres da cultura açoriana aí colaboraram, com destaque para Jacinto Inácio de Brito Rebelo (1830 1920), micaelense e oficial de infantaria, o padre José Joaquim de Sena Freitas (1840 1913), José de Arriaga (1848 1921), Francisco Afonso de Chaves (1857 1926) e Manuel Monteiro Velho Arruda (1873 1950), natural de Santa Maria. Ainda em vida do mentor do projecto, foram publicados doze volumes, entre 1878 e 1892; após a sua morte, seriam publicados os volumes XIII (1920), projectado inicialmente como uma homenagem ao fundador do Arquivo dos Açores, e XIV (1927), ambos contendo sobretudo documentação referente a São Miguel, e ainda um volume XV (1959), este dedicado a Santa Maria e originalmente concebido por Manuel Monteiro Velho Arruda, que pensava publicar aí uma parte importante da documentação recolhida durante muitos anos de pesquisa.
Não é fácil dar conta da diversidade de documentos e estudos reunidos no Arquivo dos Açores, tanto mais que a sua publicação não obedeceu aos critérios de organização que hoje se praticam. De qualquer modo, refiramos que o notável esforço da equipa coordenada por Ernesto do Canto permitiu publicar fontes manuscritas inéditas existentes em arquivos nacionais - fossem os da região (particulares e públicos) ou do continente (na sua maioria dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo) - e estrangeiros, bem como impressos raros. De entre a variada e rica documentação compulsada, merecem ser referidos os regimentos e cartas de sesmaria provenientes do espólio documental de Pero Anes do Canto, primeiro provedor das armadas, agrupados sob o título "Regimen Primitivo da Propriedade nos Açores" (vol. XII, pp. 385 408); dos impressos, destaquemos dois opúsculos de Gonçalo Vaz Coutinho, governador de São Miguel, relativos ao combate com os Ingleses em 1597 naquela ilha (vol. X, pp. 97 149), e, também para o período filipino, várias relações espanholas e italianas sobre a conquista da ilha Terceira e as batalhas entre os partidários de D. António e os de Filipe II (vol. III, pp. 118 128 e 213 278); quanto aos estudos, citemos "Os Corte Reaes. Memoria Historica", da autoria de Ernesto do Canto (vol. IV, pp. 385 590), solidamente documentado e que nos fornece informação essencial sobre aspectos sócioeconómicos da vida desta família no Algarve.
Sublinhemos ainda que Ernesto do Canto e os colaboradores do Arquivo dos Açores, enquanto homens do seu tempo, estavam atentos a acontecimentos e efemérides de importância nacional. Desse modo, passaram em claro o centenário de Camões, em 1880 (vol. II, pp. 79 84), que mereceu a elaboração de uma "Bibliographia Camoneana nos Açores Por occasião e posterior ao Centenario", com vários aditamentos (vol. III, pp. 141 166, 301 318 e 461 476; vol. IV, pp. 333 342; vol. V, pp. 377 395), ou a viagem de Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens, este natural de São Miguel (vol. VIII, pp. 193 280). Por fim, é de realçar o empenho colocado na divulgação de autores nucleares da historiografia açoriana, como o sacerdote Gaspar Frutuoso (1522-1591), publicando documentos relativos ao vigário micaelense e recorrendo às Saudades da Terra (vol. I, pp. 403 434, 458 466 e 536 541; vol. II, pp. 85 93, 172 186 e 188 190; vol. X, pp. 486 490; vol. XII, pp. 122 157), e frei Diogo das Chagas, autor do Espelho Cristalino em Jardim de Várias Flores, de quem reeditaram uma Relação alusiva à Restauração nos Açores (vol. V, pp. 396 406; vol. X, pp. 193 232).
Pela sua comprovada importância, a Universidade dos Açores, na sequência do centenário da publicação do Arquivo dos Açores, efectuou uma edição fac similada da obra e, a partir de 1999, deu início à edição de uma segunda série do Arquivo dos Açores, agora em novos moldes e dedicada à publicação da documentação relativa aos Açores e depositada no Arquivo Histórico Ultramarino.
Bibliografia:
Arquivo dos Açores, reprodução fac similada da edição original, Ponta Delgada, Universidade dos Açores, 1980 1984, 15 vols. PEREIRA, António dos Santos, "Historiografia Açoriana (1875 1925): Breve roteiro", Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, vol. XLV, 1988, pp. 665-689.