Data de publicação
2009
Categorias
Entradas associadas
(6° 50' N, 79° 50' E), principal cidade portuária de Ceilão, deveu a sua prosperidade ao desenvolvimento económico e político do reino de Kotte no Sudoeste da ilha desde o século XIV. Por volta de 1500, Colombo (então Kolontota) era um entreposto comercial cosmopolita e multireligioso onde se transaccionavam as principais mercadorias de Ceilão (canela, areca, pedras preciosas, elefantes) em troca de numerosos bens de importação (tecidos e arroz, entre outros). A chegada de D. Lourenço de Almeida em 1506 não teve um impacto significativo sobre a cidade. Em 1518 Lopo Soares de Albergaria fez construir a primeira fortaleza portuguesa de Ceilão nas imediações de Colombo. Baptizada de Santa Bárbara, esta foi implantada no extremo Norte da ponta rochosa de Galbokka que delimita a Poente a baía de Colombo, num lugar ermo e isolado face à cidade propriamente dita. Tratava-se de uma fortaleza-feitoria destinada ao despacho da canela que os reis de Kotte se comprometeram, em tratado datado também de 1518, a fornecer à coroa portuguesa.
Face à impossibilidade de assegurar o fornecimento regular de canela para a feitoria régia, as críticas à presença oficial foram-se adensando desde o início da década de 20, levando ao desmantelamento da fortaleza em 1524. Ao abandono correspondeu a dispersão de uma parte da soldadesca pelas terras baixas de Ceilão e um reagrupamento de muitos desses homens junto de Bhuvanekabahu VII, rei de Kotte (1521-1551). Apenas uma feitoria subsistia em Colombo, e Bhuvanekabahu chegou a exigir em 1525 o seu abandono em troca de um tributo fixo que seria fornecido cada ano no momento da chegada da frota oficial. Em 1528, perante a ameaça crescente do poderio do rei de Sitawaka e dos mappilas, anteriormente expulsos do reino de Kotte devido a pressões portuguesas, Bhuvanekabahu voltava a pedir a instalação de uma pequena guarnição portuguesa em Colombo.
O pedido não teve efeito, mas a presença militar portuguesa reforçou-se ao longo das décadas de 30 e 40. A comunidade portuguesa, um conglomerado de soldados, lançados e casados com interesses muito diversos, cresceu de algumas dezenas para talvez uma centena. Durante a década de 40 a zona desabitada a Oeste do antigo núcleo de Colombo viu nascer um novo 'bairro português' com um convento franciscano, uma alfândega e vários arruamentos de habitação. Em 1554 foi instalada uma nova guarnição. Em 1565 as tropas de Sitawaka forçaram os portugueses e o rei que eles protegiam em Kotte, D. João Dharmapala (1551-1594) a abandonar a antiga capital e transferir-se para Colombo. A cidade recebeu fortificações novas e ganhou uma dimensão política e militar que a transformaram numa das maiores praças-fortes da Ásia marítima.
A nova Colombo era uma cidade constituída de dois núcleos separados por um ribeiro e interligados por apenas uma ou duas pequenas pontes. Em torno do casario e de alguns palmares e pastos corria uma cerca feita de baluartes e panos de muralha facilmente desfensáveis graças à existência de uma vasta lagoa a Sul e a Leste. A Oeste, a existência de falésias tornava a construção de muralhas supérflua. A entrada da baía era controlada por um baluarte situado na ponta Norte de Galbokka, aproximadamente no mesmo lugar em que se havia implantado a primeira fortaleza em 1518. A cidade em si viu-se enriquecida, a partir da segunda metade do século XVI, de numerosos edifícios que reflectem o seu desenvolvimento social e institucional. Desde pelo menos 1585 existiu uma câmara dotada de vereadores eleitos anualmente, representando uma comunidade de mercadores que agiam por conta própria e que se viram agraciados por D. João Dharmapala de privilégios no trato da canela. Os interesses deste grupo coligiam de forma natural com os do capitão da praça, igualmente dotado de um privilégio para o comércio da canela, mas por parte da coroa portuguesa. Uma carta régia de 1589 menciona também um juiz e um "procurador da cidade de Columbo". O quadro complexificou-se ainda com a criação, em 1594, da capitania-geral da conquista de Ceilão que vinha preencher o vazio deixado pela morte do rei singalês. Ainda antes de 1600, e perante a derrocada de Sitawaka, o que restava da corte e do núcleo de poder transferidos de Kotte para Colombo foi novamente deslocado para um centro simbólico em Malwana, nas margens do rio Kelani. Era ali que residia o capitão geral de Ceilão durante as primeiras décads do século XVII, enquanto a vedoria da fazenda, criada em 1599, permanecia em Colombo. Em 1602 os cidadãos de Colombo pediram a concessão dos privilégios da cidade de Évora, acabando por receber os de Cochim. Por esta época Colombo era o centro económico e político - embora não simbólico - de um dos mais vastos territórios controlados pelos portugueses no Oriente, atraindo rendas fundiárias importantes e concentrando uma grande parte do comércio externo de Ceilão.
Colombo foi também um centro religioso de primeira ordem. Aos franciscanos, cujo convento foi fundado em 1543, juntaram-se no final do século XVI e início do século XVII jesuítas, agostinhos e dominicanos. Cada uma das ordens contribuiu através da construção de igrejas e conventos para uma nova monumentalidade, muito embora o traçado das ruas permanecesse essencialmente espontâneo. Em 1656 Colombo caiu nas mãos da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC) após um cerco prolongado de quase dois anos. O império português perdia assim uma das suas mais preciosas possessões. Mas nos anos que se seguiram à tomada, nasceram às mãos de ilustradores holandeses as únicas imagens que hoje permitem o estudo da Colombo portuguesa.
A relativa desordem urbana dessa Colombo ganha em relevo quando olhada em contraste com os planos desenvolvidos e postos em prática pela VOC desde cerca de 1660-80. Uma grande parte do casario e das igrejas foi nessa época arrasada a fim de se lançar um conjunto de arruamentos novos, rigorosamente alinhados numa planta de tipo axadrezado. O domínio da VOC acarretou também uma mais nítida segregação entre áreas habitadas por oficiais europeus (na parte Poente especialmente fortificada, hoje conhecida como Fort district), por servidores maioritariamente brancos (na actual Pettah), e por uma população mista ou puramente ceilonesa (fora da área fortificada, nos arredores de Wolfendahl). Hoje, não subsistem em Colombo vestígios materiais da presença portuguesa à excepção de um padrão de inícios do século XVI. Com mais de 2 milhões de habitantes, Colombo é uma das mais populosas cidades asiáticas de antigo domínio português e congrega uma importante comunidade católica cujas origens remontam às missões do padroado português.
Bibliografia:
BROHIER, Richard Leslie, Changing face of Colombo (1505-1972), covering the Portuguese, Dutch and British Periods, Colombo, Lake House Investments, 1984. RABEN, Remco, Batavia and Colombo. The Ethnic and Spatial Order of Two Colonial Cities 1600-1800, tese de doutoramento inédita, Leiden, 1996.
Face à impossibilidade de assegurar o fornecimento regular de canela para a feitoria régia, as críticas à presença oficial foram-se adensando desde o início da década de 20, levando ao desmantelamento da fortaleza em 1524. Ao abandono correspondeu a dispersão de uma parte da soldadesca pelas terras baixas de Ceilão e um reagrupamento de muitos desses homens junto de Bhuvanekabahu VII, rei de Kotte (1521-1551). Apenas uma feitoria subsistia em Colombo, e Bhuvanekabahu chegou a exigir em 1525 o seu abandono em troca de um tributo fixo que seria fornecido cada ano no momento da chegada da frota oficial. Em 1528, perante a ameaça crescente do poderio do rei de Sitawaka e dos mappilas, anteriormente expulsos do reino de Kotte devido a pressões portuguesas, Bhuvanekabahu voltava a pedir a instalação de uma pequena guarnição portuguesa em Colombo.
O pedido não teve efeito, mas a presença militar portuguesa reforçou-se ao longo das décadas de 30 e 40. A comunidade portuguesa, um conglomerado de soldados, lançados e casados com interesses muito diversos, cresceu de algumas dezenas para talvez uma centena. Durante a década de 40 a zona desabitada a Oeste do antigo núcleo de Colombo viu nascer um novo 'bairro português' com um convento franciscano, uma alfândega e vários arruamentos de habitação. Em 1554 foi instalada uma nova guarnição. Em 1565 as tropas de Sitawaka forçaram os portugueses e o rei que eles protegiam em Kotte, D. João Dharmapala (1551-1594) a abandonar a antiga capital e transferir-se para Colombo. A cidade recebeu fortificações novas e ganhou uma dimensão política e militar que a transformaram numa das maiores praças-fortes da Ásia marítima.
A nova Colombo era uma cidade constituída de dois núcleos separados por um ribeiro e interligados por apenas uma ou duas pequenas pontes. Em torno do casario e de alguns palmares e pastos corria uma cerca feita de baluartes e panos de muralha facilmente desfensáveis graças à existência de uma vasta lagoa a Sul e a Leste. A Oeste, a existência de falésias tornava a construção de muralhas supérflua. A entrada da baía era controlada por um baluarte situado na ponta Norte de Galbokka, aproximadamente no mesmo lugar em que se havia implantado a primeira fortaleza em 1518. A cidade em si viu-se enriquecida, a partir da segunda metade do século XVI, de numerosos edifícios que reflectem o seu desenvolvimento social e institucional. Desde pelo menos 1585 existiu uma câmara dotada de vereadores eleitos anualmente, representando uma comunidade de mercadores que agiam por conta própria e que se viram agraciados por D. João Dharmapala de privilégios no trato da canela. Os interesses deste grupo coligiam de forma natural com os do capitão da praça, igualmente dotado de um privilégio para o comércio da canela, mas por parte da coroa portuguesa. Uma carta régia de 1589 menciona também um juiz e um "procurador da cidade de Columbo". O quadro complexificou-se ainda com a criação, em 1594, da capitania-geral da conquista de Ceilão que vinha preencher o vazio deixado pela morte do rei singalês. Ainda antes de 1600, e perante a derrocada de Sitawaka, o que restava da corte e do núcleo de poder transferidos de Kotte para Colombo foi novamente deslocado para um centro simbólico em Malwana, nas margens do rio Kelani. Era ali que residia o capitão geral de Ceilão durante as primeiras décads do século XVII, enquanto a vedoria da fazenda, criada em 1599, permanecia em Colombo. Em 1602 os cidadãos de Colombo pediram a concessão dos privilégios da cidade de Évora, acabando por receber os de Cochim. Por esta época Colombo era o centro económico e político - embora não simbólico - de um dos mais vastos territórios controlados pelos portugueses no Oriente, atraindo rendas fundiárias importantes e concentrando uma grande parte do comércio externo de Ceilão.
Colombo foi também um centro religioso de primeira ordem. Aos franciscanos, cujo convento foi fundado em 1543, juntaram-se no final do século XVI e início do século XVII jesuítas, agostinhos e dominicanos. Cada uma das ordens contribuiu através da construção de igrejas e conventos para uma nova monumentalidade, muito embora o traçado das ruas permanecesse essencialmente espontâneo. Em 1656 Colombo caiu nas mãos da Companhia Holandesa das Índias Orientais (VOC) após um cerco prolongado de quase dois anos. O império português perdia assim uma das suas mais preciosas possessões. Mas nos anos que se seguiram à tomada, nasceram às mãos de ilustradores holandeses as únicas imagens que hoje permitem o estudo da Colombo portuguesa.
A relativa desordem urbana dessa Colombo ganha em relevo quando olhada em contraste com os planos desenvolvidos e postos em prática pela VOC desde cerca de 1660-80. Uma grande parte do casario e das igrejas foi nessa época arrasada a fim de se lançar um conjunto de arruamentos novos, rigorosamente alinhados numa planta de tipo axadrezado. O domínio da VOC acarretou também uma mais nítida segregação entre áreas habitadas por oficiais europeus (na parte Poente especialmente fortificada, hoje conhecida como Fort district), por servidores maioritariamente brancos (na actual Pettah), e por uma população mista ou puramente ceilonesa (fora da área fortificada, nos arredores de Wolfendahl). Hoje, não subsistem em Colombo vestígios materiais da presença portuguesa à excepção de um padrão de inícios do século XVI. Com mais de 2 milhões de habitantes, Colombo é uma das mais populosas cidades asiáticas de antigo domínio português e congrega uma importante comunidade católica cujas origens remontam às missões do padroado português.
Bibliografia:
BROHIER, Richard Leslie, Changing face of Colombo (1505-1972), covering the Portuguese, Dutch and British Periods, Colombo, Lake House Investments, 1984. RABEN, Remco, Batavia and Colombo. The Ethnic and Spatial Order of Two Colonial Cities 1600-1800, tese de doutoramento inédita, Leiden, 1996.