Data de publicação
2009
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Vice-Rei da Índia (1564-1568).
Filho de D. João de Meneses, capitão de Ceuta, e de Maria Freire de Andrade, senhora de Alcoutim. Pela via paterna era ainda neto do 2º marquês de Vila-Real (1499-1524), D. Fernando de Meneses. Aquando da partida do seu tio, D. Afonso de Noronha para a Índia, em 1550, acompanhou-o na deslocação, revelando-se importante figura naquele vice-reinado e no de D. Constantino de Bragança. Em 1552, o tio nomeou-o para comandar uma armada ao Golfo Pérsico, responsável pela tomada de Catifa aos Turcos e por uma expedição mal sucedida a Baçorá. Participou em diversos combates com os Turcos no Golfo Pérsico, durante o ano de 1552, e ainda no ataque à fortaleza de Chembé, na Índia, em 1553. Neste mesmo ano, foi indigitado pelo vice-rei para a capitania de Ormuz. Ao dirigir-se para esta, defrontou o Pirbec das fontes portuguesas (mais conhecido por Epir-Bey/Piri Reis), derrotando-o em batalha naval. Manteve-se à frente daquela capitania até 1556, sendo nela reconduzido em 1559. Durante aqueles os anos de 1556 a 1559 havia participado activamente no governo de Francisco Barreto, auxiliando-o nas lutas contra o novo soberano de Bijapur. Em 1559, socorreu a fortaleza de Bahrein assediada pelos Turcos, regressando com D. Constantino ao Reino, em 1561 por se encontrar doente. Membro do Conselho Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, casou-se com D. Inês de Castro, filha do 2º conde de Feira, D. Manuel Pereira, e de D. Francisca Henriques, filha do alcaide-mor de Avis. Desta união não teve filhos. Nomeado vice-rei da Índia pelo regente cardeal D. Henrique a 24 de Fevereiro de 1564, iniciou a sua viagem para a Índia a 19 de Março. A sua escolha foi-lhe devida ao seu elevado prestígio e experiência militar no combate aos Turcos, mas também por à época ser considerado como pessoa honesta e justa para com os seus companheiros de armas e por ter regressado ao Reino sem quaisquer proventos adicionais da capitania de Ormuz, senão o salário a que tinha direito, facto então raro para a maioria dos capitães que regressavam daquela praça. Apesar da sua boa fama, o primeiro nome apontado foi o de Martim Afonso de Miranda. Esta nomeação permitiria à coroa poupar a sua fazenda, preocupação expressa pela documentação, mas não iria por diante por este ser casado na Índia, facto malvisto ao tempo. A mesma preocupação económica denota-se por datar desta fase a proibição régia de os vice-reis e governadores concederem mercês superiores a 12 000 cruzados, bem como a obrigação de estes passarem regimentos a todas as fortalezas de forma a procurarem reduzir as suas despesas. Em suma, apesar de ser segunda escolha, depositva-se em D. Antão de Noronha uma grande expectativa de governo.
Uma vez aportado à Índia a 3 de Setembro de 1564, e após ter recebido o governo daquela das mãos do arcebispo de Goa, D. Gaspar de Leão Pereira, devido à doença do governador interino João de Mendonça, imediatamente decidiu prestar socorro à praça de Cananor cujo cerco se adivinhava desde o retomar das hostilidades no Malabar, durante governo anterior. Para tal, enviou D. António de Noronha como capitão-mor do socorro e Gonçalo Pereira Marramaque com uma poderosa armada na qual seguiram ainda D. Francisco Mascarenhas e Aires de Saldanha. Após um combate naval e terrestre inconclusivo nos finais de 1564, D. Antão de Noronha decidiu reforçar o socorro daquela fortaleza, já em inícios de 1565, através do envio de nova armada de três navios comandada por D. Paulo Lima Pereira que derrotou o inimigo em Baticalá. O cerco dos malabares esteve a ponto de ser vencido por estes, tendo o capitão da fortaleza, D. Paio de Noronha, se disposto a abandoná-la, mas D. António de Noronha decidiu resistir. Nos combates distinguiram-se André de Sousa eGonçalo Pereira Marramaque cuja aparição foi decisiva para a derrota malabar. Na armada daquele, seguia Álvaro Pais de Sotomaior nomeado pelo vice-rei para suceder a D. Paio de Noronha na capitania de Cananor. Entretanto, no Ceilão, os ânimos permaneciam agitados devido ao quinto cerco montado pelo rei de Sitawaka, à cidade de Kotte, cujo soberano era tradicional aliado dos Portugueses. Neste cerco, em cujos combates se destacou o então capitão do Ceilão, Pedro de Ataíde, foi necessário o socorro de Jorge de Melo, capitão da ilha de Manar, que procurou obter apoios do vice-rei e do rei de Cândia. Após o mal sucedido cerco a Kotte, o inimigo regressou para Sitawaka. Na sequência destes acontecimentos, e devido a anteriores cercos, ficou decidida a transferência de capital do reino, de Kotte para a cidade de Colombo, decisão à qual não foi alheia ordem de D. Antão e do seu Conselho. Ao mesmo tempo que no Ceilão estas novas investidas se registavam, em Damão, D. Antão de Noronha viu-se forçado a despachar uma armada de quatro navios, na qual navegava Aires de Saldanha, para aquela praça a fim de quebrar o cerco mogol de 3000 cavaleiros. Este acabaria por ser vencido pelos Portugueses, graças ao socorro de Tristão de Mendonça, capitão de Chaul. Por esta altura, era recebido António Teixeira, em Baçorá, devido a proposta turca de paz no Golfo Pérsico. Mas o ano não encerraria sem que D. Antão provesse o castelhano D. Fernando de Monroi na capitania de duas naus e quatro galeotas, que iriam assaltar a armada que partindo do Achém se dirigia para Meca, assim sucedendo com o ataque a concretizar-se, de facto, perto das ilhas Maldivas. Foi também durante este ano que o vice-rei, por ordem régia, redigiu os supracitados regimentos para todas as fortalezas.
O ano de 1566 principiou com as ondas de choque da derrota e da fragmentação do reino de Vijayanagar infligida no ano anterior pela tríplice coligação islâmica e que tão profundamente viria a transmutar a geopolítica indiana e em breve a motivar amplo ataque ao Estado da Índia. Ainda assim, em Cananor, a guerra encaminhava-se para o final com a proposta de paz a ser endereçada ao Estado da Índia pelo adversário. O Marramaque, contudo, ainda teve tempo de obter algumas presas e de arrasar alguns pagodes gentios, semeando a destruição. Esta perseguição viria a ter ressonância nas ordenadas pelo próprio vice-rei nos territórios em redor de Goa contra gentios, mas também contra judeus, e a que não parecem ter sido alheias ordens régias, um claro sinal do avanço das dinâmicas contra-reformistas. Pouco depois, Gonçalo Pereira Marramaque era despachado pelo vice-rei para as Molucas em socorro dos cristãos de Amboíno, acabando por se envolver em conflitos locais já durante os anos seguintes. Em Goa, era iniciada a construção de uma nova fortaleza talvez a prever o futuro e difícil cerco a que a cidade seria sujeita durante o vice-reinado de D. Luís de Ataíde, por parte das forças do sultão de Bijapur.
Durante o ano de 1567, e após ter despachado a armada de Diogo Lopes de Mesquita para Ternate, D. Antão de Noronha organizou a expedição contra Mangalor onde desejava construir uma fortaleza de forma a evitar a ocupação islâmica daquele porto da costa do Canará, a que se seguiria a ocupação portuguesa de Onor e Barcelor, já com D. Luís de Ataíde. Pretenderia também desalojar daquele porto alguns piratas assim como punir a rainha de Olaha. Na expedição contra esta cidade, participaram importantes figuras do vice-reinado: D. Jorge Meneses, O Baroche, D. Fernando de Monroi e D. Francisco Mascarenhas. Mas o acontecimento mais relevante daquele ano e do seguinte foi, sem dúvida, o cerco montado a Malaca pelo sultão do Achém, instigado e apoiado logisticamente pelos Turcos. Um tal cerco encontrou forte resistência do capitão da fortaleza, D. Leonel Pereira, confirmando já o prenúncio da concertação global islâmica, de ataque ao Estado da Índia. Esta concertação ficou conhecida, na historiografia, como a crise de 1565-75. O vice-rei despachou então um galeão e quatro galeotas cujo comando atribuiu a João da Silva Pereira. No final do ano, realizou-se o Concílio Eclesiástico de Goa em que foram denunciados os abusos de diversos capitães e governadores, sinal da crescente influência dos jesuítas sobre o vice-rei.
O ano de 1568 ficou marcado pela vitória no cerco de Malaca, tornada possível com a ajuda enviada pelo vice-rei no ano anterior, mas também com a ajuda local. Gonçalo Pereira Marramaque chegado às Molucas envolveu-se em conflitos com populações locais mas também com alguns castelhanos, instalados nas Filipinas desde 1565. Durante este ano, deu-se início à construção da fortaleza de Mangalor, sendo esta a última decisão governativa de D. Antão de Noronha, antes da entrega do governo a D. Luís de Ataíde, a 10 de Outubro, a nomeação de D. Luís de Almeida para examinar o mar de Surrate em busca de navios inimigos. Na sua armada em que seguia Fernão Teles de Meneses, apressaram-se 3 navios. Partido para o Reino a 2 de Fevereiro de 1569, D. Antão de Noronha faleceu em Angoche, na costa moçambicana, sendo o seu corpo lançado ao mar, excepto o seu braço direito que lhe foi retirado e enviado para Ceuta ao seu tio D. Nuno Álvares de Noronha, por disposição testamentária. Governou o Estado da Índia durante quatro anos.
O vice-reinado de D. Antão de Noronha correspondeu ao primeiro momento da chamada crise de 1565-1575. De todas as praças que durante o seu governo foram cercadas nenhuma caiu em mãos do inimigo, acabando por realçar-se, como já antes havia acontecido, a dimensão militar do fidalgo. No entanto, e devido ao grande silêncio a que Couto e Faria o votam na hora de apreciarem a sua governação, quiçá pela majestática sombra do vice-rei seguinte, e até tendo em conta as expectativas que ambos referem terem nele sido colocadas, deve notar-se que durante este período, não só os eventos militares o dominam, mas também alguma crispação religiosa, bem latente nas perseguições e "vinganças" ordenadas contra os diversos gentios. Este facto, se não é alheio ao espírito contra-reformista ou até a ordens vindas do Reino, pode também ligar-se ao importante papel que D. Antão passou a conceder aos jesuítas, que inicialmente ostracizava. A imagem que dele ficou foi a de "pessoa de bom natural, entendimento e zelo" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, cap. IV, Porto, Livraria Civilização, 1945), a par da de homem honesto que não esbanjou recursos da Coroa inutilmente nem se envolveu em pelejas "gratuitas", imagem em difusão pelas fontes da época que retratam a progressiva decadência dos valores e costumes no Estado da Índia, mesmo durante este vice-reinado "militar".
Bibliografia:
CRUZ, Maria Augusta Lima, Diogo do Couto e a Década 8ª da Ásia, edição crítica e comentada, volume I, livros i-iv, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses Imprensa Nacional Casa da Moeda, s.l., 1993. EÇA, Duarte de, Relação dos Governadores da Índia (1571), edição de R. O. W. Goertz (Codex Goa 38), Calgary, University Printing Séries, 1979, pp. 15-17. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, caps. I-IV, Porto, Livraria Civilização, 1945. THOMAZ, Luís Filipe, A Crise de 1565-1575 na História do Estado da Índia, separata da revista Mare Liberum, nº9, s.l., 1995, CNCDP, pp. 481-519. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.
Filho de D. João de Meneses, capitão de Ceuta, e de Maria Freire de Andrade, senhora de Alcoutim. Pela via paterna era ainda neto do 2º marquês de Vila-Real (1499-1524), D. Fernando de Meneses. Aquando da partida do seu tio, D. Afonso de Noronha para a Índia, em 1550, acompanhou-o na deslocação, revelando-se importante figura naquele vice-reinado e no de D. Constantino de Bragança. Em 1552, o tio nomeou-o para comandar uma armada ao Golfo Pérsico, responsável pela tomada de Catifa aos Turcos e por uma expedição mal sucedida a Baçorá. Participou em diversos combates com os Turcos no Golfo Pérsico, durante o ano de 1552, e ainda no ataque à fortaleza de Chembé, na Índia, em 1553. Neste mesmo ano, foi indigitado pelo vice-rei para a capitania de Ormuz. Ao dirigir-se para esta, defrontou o Pirbec das fontes portuguesas (mais conhecido por Epir-Bey/Piri Reis), derrotando-o em batalha naval. Manteve-se à frente daquela capitania até 1556, sendo nela reconduzido em 1559. Durante aqueles os anos de 1556 a 1559 havia participado activamente no governo de Francisco Barreto, auxiliando-o nas lutas contra o novo soberano de Bijapur. Em 1559, socorreu a fortaleza de Bahrein assediada pelos Turcos, regressando com D. Constantino ao Reino, em 1561 por se encontrar doente. Membro do Conselho Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, casou-se com D. Inês de Castro, filha do 2º conde de Feira, D. Manuel Pereira, e de D. Francisca Henriques, filha do alcaide-mor de Avis. Desta união não teve filhos. Nomeado vice-rei da Índia pelo regente cardeal D. Henrique a 24 de Fevereiro de 1564, iniciou a sua viagem para a Índia a 19 de Março. A sua escolha foi-lhe devida ao seu elevado prestígio e experiência militar no combate aos Turcos, mas também por à época ser considerado como pessoa honesta e justa para com os seus companheiros de armas e por ter regressado ao Reino sem quaisquer proventos adicionais da capitania de Ormuz, senão o salário a que tinha direito, facto então raro para a maioria dos capitães que regressavam daquela praça. Apesar da sua boa fama, o primeiro nome apontado foi o de Martim Afonso de Miranda. Esta nomeação permitiria à coroa poupar a sua fazenda, preocupação expressa pela documentação, mas não iria por diante por este ser casado na Índia, facto malvisto ao tempo. A mesma preocupação económica denota-se por datar desta fase a proibição régia de os vice-reis e governadores concederem mercês superiores a 12 000 cruzados, bem como a obrigação de estes passarem regimentos a todas as fortalezas de forma a procurarem reduzir as suas despesas. Em suma, apesar de ser segunda escolha, depositva-se em D. Antão de Noronha uma grande expectativa de governo.
Uma vez aportado à Índia a 3 de Setembro de 1564, e após ter recebido o governo daquela das mãos do arcebispo de Goa, D. Gaspar de Leão Pereira, devido à doença do governador interino João de Mendonça, imediatamente decidiu prestar socorro à praça de Cananor cujo cerco se adivinhava desde o retomar das hostilidades no Malabar, durante governo anterior. Para tal, enviou D. António de Noronha como capitão-mor do socorro e Gonçalo Pereira Marramaque com uma poderosa armada na qual seguiram ainda D. Francisco Mascarenhas e Aires de Saldanha. Após um combate naval e terrestre inconclusivo nos finais de 1564, D. Antão de Noronha decidiu reforçar o socorro daquela fortaleza, já em inícios de 1565, através do envio de nova armada de três navios comandada por D. Paulo Lima Pereira que derrotou o inimigo em Baticalá. O cerco dos malabares esteve a ponto de ser vencido por estes, tendo o capitão da fortaleza, D. Paio de Noronha, se disposto a abandoná-la, mas D. António de Noronha decidiu resistir. Nos combates distinguiram-se André de Sousa eGonçalo Pereira Marramaque cuja aparição foi decisiva para a derrota malabar. Na armada daquele, seguia Álvaro Pais de Sotomaior nomeado pelo vice-rei para suceder a D. Paio de Noronha na capitania de Cananor. Entretanto, no Ceilão, os ânimos permaneciam agitados devido ao quinto cerco montado pelo rei de Sitawaka, à cidade de Kotte, cujo soberano era tradicional aliado dos Portugueses. Neste cerco, em cujos combates se destacou o então capitão do Ceilão, Pedro de Ataíde, foi necessário o socorro de Jorge de Melo, capitão da ilha de Manar, que procurou obter apoios do vice-rei e do rei de Cândia. Após o mal sucedido cerco a Kotte, o inimigo regressou para Sitawaka. Na sequência destes acontecimentos, e devido a anteriores cercos, ficou decidida a transferência de capital do reino, de Kotte para a cidade de Colombo, decisão à qual não foi alheia ordem de D. Antão e do seu Conselho. Ao mesmo tempo que no Ceilão estas novas investidas se registavam, em Damão, D. Antão de Noronha viu-se forçado a despachar uma armada de quatro navios, na qual navegava Aires de Saldanha, para aquela praça a fim de quebrar o cerco mogol de 3000 cavaleiros. Este acabaria por ser vencido pelos Portugueses, graças ao socorro de Tristão de Mendonça, capitão de Chaul. Por esta altura, era recebido António Teixeira, em Baçorá, devido a proposta turca de paz no Golfo Pérsico. Mas o ano não encerraria sem que D. Antão provesse o castelhano D. Fernando de Monroi na capitania de duas naus e quatro galeotas, que iriam assaltar a armada que partindo do Achém se dirigia para Meca, assim sucedendo com o ataque a concretizar-se, de facto, perto das ilhas Maldivas. Foi também durante este ano que o vice-rei, por ordem régia, redigiu os supracitados regimentos para todas as fortalezas.
O ano de 1566 principiou com as ondas de choque da derrota e da fragmentação do reino de Vijayanagar infligida no ano anterior pela tríplice coligação islâmica e que tão profundamente viria a transmutar a geopolítica indiana e em breve a motivar amplo ataque ao Estado da Índia. Ainda assim, em Cananor, a guerra encaminhava-se para o final com a proposta de paz a ser endereçada ao Estado da Índia pelo adversário. O Marramaque, contudo, ainda teve tempo de obter algumas presas e de arrasar alguns pagodes gentios, semeando a destruição. Esta perseguição viria a ter ressonância nas ordenadas pelo próprio vice-rei nos territórios em redor de Goa contra gentios, mas também contra judeus, e a que não parecem ter sido alheias ordens régias, um claro sinal do avanço das dinâmicas contra-reformistas. Pouco depois, Gonçalo Pereira Marramaque era despachado pelo vice-rei para as Molucas em socorro dos cristãos de Amboíno, acabando por se envolver em conflitos locais já durante os anos seguintes. Em Goa, era iniciada a construção de uma nova fortaleza talvez a prever o futuro e difícil cerco a que a cidade seria sujeita durante o vice-reinado de D. Luís de Ataíde, por parte das forças do sultão de Bijapur.
Durante o ano de 1567, e após ter despachado a armada de Diogo Lopes de Mesquita para Ternate, D. Antão de Noronha organizou a expedição contra Mangalor onde desejava construir uma fortaleza de forma a evitar a ocupação islâmica daquele porto da costa do Canará, a que se seguiria a ocupação portuguesa de Onor e Barcelor, já com D. Luís de Ataíde. Pretenderia também desalojar daquele porto alguns piratas assim como punir a rainha de Olaha. Na expedição contra esta cidade, participaram importantes figuras do vice-reinado: D. Jorge Meneses, O Baroche, D. Fernando de Monroi e D. Francisco Mascarenhas. Mas o acontecimento mais relevante daquele ano e do seguinte foi, sem dúvida, o cerco montado a Malaca pelo sultão do Achém, instigado e apoiado logisticamente pelos Turcos. Um tal cerco encontrou forte resistência do capitão da fortaleza, D. Leonel Pereira, confirmando já o prenúncio da concertação global islâmica, de ataque ao Estado da Índia. Esta concertação ficou conhecida, na historiografia, como a crise de 1565-75. O vice-rei despachou então um galeão e quatro galeotas cujo comando atribuiu a João da Silva Pereira. No final do ano, realizou-se o Concílio Eclesiástico de Goa em que foram denunciados os abusos de diversos capitães e governadores, sinal da crescente influência dos jesuítas sobre o vice-rei.
O ano de 1568 ficou marcado pela vitória no cerco de Malaca, tornada possível com a ajuda enviada pelo vice-rei no ano anterior, mas também com a ajuda local. Gonçalo Pereira Marramaque chegado às Molucas envolveu-se em conflitos com populações locais mas também com alguns castelhanos, instalados nas Filipinas desde 1565. Durante este ano, deu-se início à construção da fortaleza de Mangalor, sendo esta a última decisão governativa de D. Antão de Noronha, antes da entrega do governo a D. Luís de Ataíde, a 10 de Outubro, a nomeação de D. Luís de Almeida para examinar o mar de Surrate em busca de navios inimigos. Na sua armada em que seguia Fernão Teles de Meneses, apressaram-se 3 navios. Partido para o Reino a 2 de Fevereiro de 1569, D. Antão de Noronha faleceu em Angoche, na costa moçambicana, sendo o seu corpo lançado ao mar, excepto o seu braço direito que lhe foi retirado e enviado para Ceuta ao seu tio D. Nuno Álvares de Noronha, por disposição testamentária. Governou o Estado da Índia durante quatro anos.
O vice-reinado de D. Antão de Noronha correspondeu ao primeiro momento da chamada crise de 1565-1575. De todas as praças que durante o seu governo foram cercadas nenhuma caiu em mãos do inimigo, acabando por realçar-se, como já antes havia acontecido, a dimensão militar do fidalgo. No entanto, e devido ao grande silêncio a que Couto e Faria o votam na hora de apreciarem a sua governação, quiçá pela majestática sombra do vice-rei seguinte, e até tendo em conta as expectativas que ambos referem terem nele sido colocadas, deve notar-se que durante este período, não só os eventos militares o dominam, mas também alguma crispação religiosa, bem latente nas perseguições e "vinganças" ordenadas contra os diversos gentios. Este facto, se não é alheio ao espírito contra-reformista ou até a ordens vindas do Reino, pode também ligar-se ao importante papel que D. Antão passou a conceder aos jesuítas, que inicialmente ostracizava. A imagem que dele ficou foi a de "pessoa de bom natural, entendimento e zelo" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, cap. IV, Porto, Livraria Civilização, 1945), a par da de homem honesto que não esbanjou recursos da Coroa inutilmente nem se envolveu em pelejas "gratuitas", imagem em difusão pelas fontes da época que retratam a progressiva decadência dos valores e costumes no Estado da Índia, mesmo durante este vice-reinado "militar".
Bibliografia:
CRUZ, Maria Augusta Lima, Diogo do Couto e a Década 8ª da Ásia, edição crítica e comentada, volume I, livros i-iv, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses Imprensa Nacional Casa da Moeda, s.l., 1993. EÇA, Duarte de, Relação dos Governadores da Índia (1571), edição de R. O. W. Goertz (Codex Goa 38), Calgary, University Printing Séries, 1979, pp. 15-17. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, caps. I-IV, Porto, Livraria Civilização, 1945. THOMAZ, Luís Filipe, A Crise de 1565-1575 na História do Estado da Índia, separata da revista Mare Liberum, nº9, s.l., 1995, CNCDP, pp. 481-519. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.