Data de publicação
2009
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A região do Alto Douro viu nascer, em 18 de Outubro de 1517, Manuel da
Nóbrega, que viria a liderar a primeira missão jesuíta nas Américas e a ser o
primeiro provincial jesuíta do Brasil.
Nóbrega descendia de uma família de alguma importância, sendo filho do desembargador Baltasar de Nóbrega e contando-se entre os seus familiares próximos o seu tio, chanceler-mor do reino. Na sua juventude estudou Latim, Leis e Teologia nas Universidades de Coimbra e Salamanca onde, em 1541, se graduou como canonista.
Poucos anos mais tarde, a 24 de Novembro de 1544, Manuel da Nóbrega entrou na Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola e aprovada por bula papal apenas 4 anos antes. Como jesuíta, Nóbrega percorreu o País em serviço pastoral onde cedo se destacou enquanto orador e pregador, apesar da sua gaguez.
Cinco anos após a sua entrada na Companhia de Jesus, o serviço pastoral levou-o para longe de Portugal, tendo sido nomeado Superior da missão jesuíta no Brasil. Com este fim embarcou, para não mais regressar, na armada do primeiro governador do Brasil, Tomé de Sousa, zarpando do porto de Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1549.Menos de dois meses mais tarde, em 29 de Março, a armada largou âncora na Baía de Todos os Santos, desembarcando Manuel da Nóbrega e os seus cinco acompanhantes, os primeiros representantes da Companhia de Jesus no Novo Mundo.
Nos primeiros anos da sua presença no Brasil, Nóbrega e os jesuítas colaboraram activamente com o governador Tomé de Sousa na edificação da cidade de Salvador da Baía, sede do governo-geral. Nóbrega dedicou-se igualmente não só à reforma dos costumes dos colonos e à fundação do colégio jesuíta da Baía, mas sobretudo à actividade que iria marcar toda a sua permanência no Brasil: a evangelização dos índios e a sua catequização, procurando erradicar práticas como a antropofagia ritual, a poligamia e o recurso à feitiçaria.
Em 1551 deslocou-se brevemente a Olinda, principal cidade da capitania pernambucana. Esta capitania fora, sobre o comando do capitão Duarte Coelho, a mais bem sucedida e povoada das capitanias-donatarias criadas a partir de 1532. Em Pernambuco, Nóbrega prosseguiu na sua missão pastoral e de reforma dos costumes, que iniciara desde a sua chegada à colónia. Regressou à Baía em inícios de 1552 e, poucos meses depois, recebeu no colégio da Baía o recém-chegado D. Pêro Fernandes Sardinha, que fora nomeado primeiro bispo da Baía. A nomeação de um bispo para o Brasil fora repetidamente pedida pelo Pe. Manuel da Nóbrega na sua correspondência com as autoridades portuguesas, mas a personalidade do prelado e as opiniões divergentes sobre a evangelização dos índios cedo criaram desentendimentos entre a diocese e a Companhia de Jesus, que rapidamente se estenderam ao governo-geral, fragilizando o desenvolvimento das actividades de missionação.
Devido a estes impedimentos, após alguns meses na Baía, Nóbrega rumou a S. Vicente e às capitanias do Sul, onde se entregou novamente ao serviço pastoral e à organização das actividades da Companhia na região, sobretudo no que respeitava à conversão dos indígenas.
Foi neste âmbito que, procurando alargar as actividades de missionação para além da estreita faixa litoral controlada pelos Portugueses, Nóbrega se dirigiu para o planalto de Piratininga, à entrada do sertão. Aí, nas margens do rio Tieté, reuniu as populações de três aglomerações das redondezas e fundou, a 29 de Agosto de 1553, a aldeia de Piratininga, que viria a dar origem à cidade de São Paulo.
Ainda em meados de 1553, a missão jesuíta do Brasil, que se encontrava hierarquicamente dependente da província portuguesa da Companhia, foi elevada a província. Para dirigir a nova província, a primeira a ser criada fora da Europa, Inácio de Loyola nomeou o Pe. Manuel da Nóbrega. Após mais de três anos de permanência nas capitanias do Sul e incumbido do seu novo cargo, o provincial abandonou S. Vicente, rumando à Baía em Maio de 1556 onde, após visitas às capitanias de Espírito Santo e Porto Seguro, arribou em finais do mês de Julho.
Regressado à Baía o provincial entregou-se novamente à missionação e evangelização dos índios da região, tarefa que ganhou novo alento e dimensão em finais de 1557 com a chegada do novo governador-geral, Mem de Sá. O governador cedo se mostrou um activo colaborador de Nóbrega, empenhandose no combate aos índios hostis e à antropofagia, apoiando os jesuítas na política de fundação de aldeamentos, onde os indígenas fossem educados na doutrina e no modo de vida cristão. As campanhas militares de pacificação das tribos hostis na região baiana demonstravam que apesar das tentativas de introduzir a fé cristã através do amor e do ensino, os jesuítas e o governador não se coibiam de usar o "temor e sujeição" se a isso se vissem obrigados Em 1560 a existência peripatética de Manuel da Nóbrega levou-o novamente para sul, acompanhando a expedição de Mem de Sá, tendo em vista debelar a presença francesa na baía de Guanabara. A armada atingiu em Fevereiro desse ano o seu objectivo, com a destruição da fortaleza inimiga na ilha de Sergipe, apesar da resistência dos Franceses e dos seus aliados pertencentes à tribo índia dos Tamoios.
Na sequência desta vitória, a armada prosseguiu para S. Vicente, onde Nóbrega se instalou novamente, cedendo o cargo de provincial ao Pe. Luís da Grã. Voltou a exercer actividade pastoral em S. Vicente e em São Paulo de Piratininga e, em 1563, acompanhado pelo seu colega Pe. Anchieta, protagonizou uma incursão junto aos Tamoios de Iperoig, procurando persuadilos a cessar os seus ataques aos interesses portugueses.
Nos anos que se seguiram colaborou com Estácio de Sá, comandante da armada enviada pela Coroa e encarregada da pacificação definitiva da baía de Guanabara, aconselhando-o e recrutando soldados na capitania de S. Vicente. Por fim, em 1567, na sequência do sucesso final desta missão e da consequente fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Pe. Manuel da Nóbrega foi nomeado superior jesuíta das capitanias do Sul, tendose dedicado a partir desta data ao sucesso da nova cidade à qual chegou, em Julho de 1567, enquanto primeiro reitor do novo colégio jesuíta. Foi esta a missão a que se entregou até à data do seu falecimento em 18 de Outubro de 1570.
Ao longo da sua vida, o Pe. Manuel da Nóbega foi autor de uma vasta correspondência, onde se encontra expresso o seu pensamento sendo uma fonte fundamental para o conhecimento do Brasil coevo. Foi também autor de variadas obras sobre a missionação e evangelização, entre as quais se destaca o Diálogo sobre a Conversão do Gentio, datado provavelmente de 1557.
Bibliografia:
LEITE, Serafim, Suma histórica da Companhia de Jesus no Brasil, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1965.
Nóbrega descendia de uma família de alguma importância, sendo filho do desembargador Baltasar de Nóbrega e contando-se entre os seus familiares próximos o seu tio, chanceler-mor do reino. Na sua juventude estudou Latim, Leis e Teologia nas Universidades de Coimbra e Salamanca onde, em 1541, se graduou como canonista.
Poucos anos mais tarde, a 24 de Novembro de 1544, Manuel da Nóbrega entrou na Companhia de Jesus, fundada por Inácio de Loyola e aprovada por bula papal apenas 4 anos antes. Como jesuíta, Nóbrega percorreu o País em serviço pastoral onde cedo se destacou enquanto orador e pregador, apesar da sua gaguez.
Cinco anos após a sua entrada na Companhia de Jesus, o serviço pastoral levou-o para longe de Portugal, tendo sido nomeado Superior da missão jesuíta no Brasil. Com este fim embarcou, para não mais regressar, na armada do primeiro governador do Brasil, Tomé de Sousa, zarpando do porto de Lisboa no dia 1 de Fevereiro de 1549.Menos de dois meses mais tarde, em 29 de Março, a armada largou âncora na Baía de Todos os Santos, desembarcando Manuel da Nóbrega e os seus cinco acompanhantes, os primeiros representantes da Companhia de Jesus no Novo Mundo.
Nos primeiros anos da sua presença no Brasil, Nóbrega e os jesuítas colaboraram activamente com o governador Tomé de Sousa na edificação da cidade de Salvador da Baía, sede do governo-geral. Nóbrega dedicou-se igualmente não só à reforma dos costumes dos colonos e à fundação do colégio jesuíta da Baía, mas sobretudo à actividade que iria marcar toda a sua permanência no Brasil: a evangelização dos índios e a sua catequização, procurando erradicar práticas como a antropofagia ritual, a poligamia e o recurso à feitiçaria.
Em 1551 deslocou-se brevemente a Olinda, principal cidade da capitania pernambucana. Esta capitania fora, sobre o comando do capitão Duarte Coelho, a mais bem sucedida e povoada das capitanias-donatarias criadas a partir de 1532. Em Pernambuco, Nóbrega prosseguiu na sua missão pastoral e de reforma dos costumes, que iniciara desde a sua chegada à colónia. Regressou à Baía em inícios de 1552 e, poucos meses depois, recebeu no colégio da Baía o recém-chegado D. Pêro Fernandes Sardinha, que fora nomeado primeiro bispo da Baía. A nomeação de um bispo para o Brasil fora repetidamente pedida pelo Pe. Manuel da Nóbrega na sua correspondência com as autoridades portuguesas, mas a personalidade do prelado e as opiniões divergentes sobre a evangelização dos índios cedo criaram desentendimentos entre a diocese e a Companhia de Jesus, que rapidamente se estenderam ao governo-geral, fragilizando o desenvolvimento das actividades de missionação.
Devido a estes impedimentos, após alguns meses na Baía, Nóbrega rumou a S. Vicente e às capitanias do Sul, onde se entregou novamente ao serviço pastoral e à organização das actividades da Companhia na região, sobretudo no que respeitava à conversão dos indígenas.
Foi neste âmbito que, procurando alargar as actividades de missionação para além da estreita faixa litoral controlada pelos Portugueses, Nóbrega se dirigiu para o planalto de Piratininga, à entrada do sertão. Aí, nas margens do rio Tieté, reuniu as populações de três aglomerações das redondezas e fundou, a 29 de Agosto de 1553, a aldeia de Piratininga, que viria a dar origem à cidade de São Paulo.
Ainda em meados de 1553, a missão jesuíta do Brasil, que se encontrava hierarquicamente dependente da província portuguesa da Companhia, foi elevada a província. Para dirigir a nova província, a primeira a ser criada fora da Europa, Inácio de Loyola nomeou o Pe. Manuel da Nóbrega. Após mais de três anos de permanência nas capitanias do Sul e incumbido do seu novo cargo, o provincial abandonou S. Vicente, rumando à Baía em Maio de 1556 onde, após visitas às capitanias de Espírito Santo e Porto Seguro, arribou em finais do mês de Julho.
Regressado à Baía o provincial entregou-se novamente à missionação e evangelização dos índios da região, tarefa que ganhou novo alento e dimensão em finais de 1557 com a chegada do novo governador-geral, Mem de Sá. O governador cedo se mostrou um activo colaborador de Nóbrega, empenhandose no combate aos índios hostis e à antropofagia, apoiando os jesuítas na política de fundação de aldeamentos, onde os indígenas fossem educados na doutrina e no modo de vida cristão. As campanhas militares de pacificação das tribos hostis na região baiana demonstravam que apesar das tentativas de introduzir a fé cristã através do amor e do ensino, os jesuítas e o governador não se coibiam de usar o "temor e sujeição" se a isso se vissem obrigados Em 1560 a existência peripatética de Manuel da Nóbrega levou-o novamente para sul, acompanhando a expedição de Mem de Sá, tendo em vista debelar a presença francesa na baía de Guanabara. A armada atingiu em Fevereiro desse ano o seu objectivo, com a destruição da fortaleza inimiga na ilha de Sergipe, apesar da resistência dos Franceses e dos seus aliados pertencentes à tribo índia dos Tamoios.
Na sequência desta vitória, a armada prosseguiu para S. Vicente, onde Nóbrega se instalou novamente, cedendo o cargo de provincial ao Pe. Luís da Grã. Voltou a exercer actividade pastoral em S. Vicente e em São Paulo de Piratininga e, em 1563, acompanhado pelo seu colega Pe. Anchieta, protagonizou uma incursão junto aos Tamoios de Iperoig, procurando persuadilos a cessar os seus ataques aos interesses portugueses.
Nos anos que se seguiram colaborou com Estácio de Sá, comandante da armada enviada pela Coroa e encarregada da pacificação definitiva da baía de Guanabara, aconselhando-o e recrutando soldados na capitania de S. Vicente. Por fim, em 1567, na sequência do sucesso final desta missão e da consequente fundação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, o Pe. Manuel da Nóbrega foi nomeado superior jesuíta das capitanias do Sul, tendose dedicado a partir desta data ao sucesso da nova cidade à qual chegou, em Julho de 1567, enquanto primeiro reitor do novo colégio jesuíta. Foi esta a missão a que se entregou até à data do seu falecimento em 18 de Outubro de 1570.
Ao longo da sua vida, o Pe. Manuel da Nóbega foi autor de uma vasta correspondência, onde se encontra expresso o seu pensamento sendo uma fonte fundamental para o conhecimento do Brasil coevo. Foi também autor de variadas obras sobre a missionação e evangelização, entre as quais se destaca o Diálogo sobre a Conversão do Gentio, datado provavelmente de 1557.
Bibliografia:
LEITE, Serafim, Suma histórica da Companhia de Jesus no Brasil, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar, 1965.