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2009
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Governador da Índia (1573-1576).
Nascido durante a década de 1520 em ano desconhecido, foi filho de Henrique Moniz Barreto, alcaide-mor de Silves, e de D. Maria de Mendonça, filha de João de Mendonça, O Cação, alcaide-mor de Chaves. António Moniz Barreto foi o terceiro filho desta união, tendo sete irmãos. Em 1529, ainda menino, partiu para a Índia na companhia de seu pai e do seu irmão mais velho e primogénito, Aires Moniz, mas cedo ficou órfão. Logrou construir uma ampla carreira militar na Índia, sobretudo durante a década de 1550. Começando por se destacar no segundo cerco de Diu, ou ainda nas expedições ao Ceilão, durante o vice-reinado de D. João de Castro, voltou pouco depois ao Reino. Mas, em 1552, já se encontrava como capitão de Baçaim, função na qual se notabilizou. Em 1553, participou nas campanhas do Malabar, organizadas pelo vice-rei D. Afonso de Noronha, e durante o governo de Francisco Barreto, em 1556, tomou posse de Assarim, nas imediações de Baçaim, e conquistou Monorá. Já durante o vice-reinado de D. Constantino de Bragança, em 1559, participou na conquista de Damão, derrotando um dos generais inimigos. Regressou de novo ao Reino, sendo provável que só então se tenha casado com D. Ana da Costa, filha de D. Duarte da Costa, 2º governador do Brasil. Deste casamento resultou uma vasta prole de sete filhos, entre os quais se destacam o primogénito, Afonso Teles Barreto, comendador de Masca e o terceiro filho, Duarte Moniz, que foi capitão de Ormuz. A 12 de Março de 1571, D. Sebastião nomeou-o para governador de Malaca, no contexto da divisão do Estado da Índia em três áreas de governo distintas. Partindo com o vice-rei D. António de Noronha, aportou à Índia a 6 de Dezembro. Devido aos ataques simultâneos de que o Estado da Índia estava então a ser alvo, período conhecido como de crise político-militar de 1565-1575, cedo se desentendeu com o vice-rei por este não lhe dispensar mais do que 400 homens dos 2000 homens previstos, recusando-se a partir de Goa sem receber os reforços a que considerava ter direito. O vice-rei não reagiu à afronta de António Moniz Barreto e este escreveu diversas cartas para o Reino, acabando, por via da denúncia, por ser bem sucedido na deposição de D. António de Noronha, sendo nomeado sucessor daquele. Devido a este episódio, todo o seu governo tendeu a ser apreciado exclusivamente pelo seu início, facto que poderá ser relativizado com uma análise de maior pormenor.
António Moniz Barreto iniciou-se nas lides da governação a 13 de Dezembro de 1573, sendo a sua primeira acção governativa, a tentativa de nomeação de D. Leoniz Pereira para a capitania de Malaca, seguida da nomeação de D. António de Menezes Cantanhede para capitanear uma viagem ao Canará, tendo em vista o abastecimento de arroz a Goa. D. Leoniz não quis aceitar a nomeação sem que lhe fossem concedidos reforços militares, tal como havia sucedido anteriormente. A premência da nomeação justificava-se pois, logo nos inícios de 1574, Malaca era sujeita a novo cerco de três meses, ordenado pela rainha de Japará, o qual só viria a ser quebrado por acção de Tristão Vaz da Veiga, que ali aportou e se disponibilizou para encetar a defesa da cidade. Os Javaneses só foram vencidos à custa de algumas mortes significativas do lado português. Precisamente numa tentativa de acudir a este cerco, o governador convocou o Senado de Goa ao qual pediu um empréstimo de 20 000 pardaus, mas este só foi aceite quando o dirigente entregou o seu terceiro filho, Duarte Moniz, então com oito anos, como penhor. Todavia, o socorro do governador viria a chegar tarde, em finais de 1575. Após diversas reuniões de Conselho, convocadas pelo governador, este despachou várias frotas de comércio e guerra, nas quais se destacou uma na qual seguiam, por ordem régia, D. Duarte de Menezes, como capitão de Ormuz, e um embaixador régio à corte persa. Mas o facto mais polémico deste ano foi, sem dúvida, a execução, ordenada a partir do Reino, por via da armada de 1574, de D. Jorge de Castro, o capitão que entregara a fortaleza de Chale às forças do Samorim de Calicute. Mais tarde, a alegada injustiça desta execução foi comparada com a conivência de Gonçalo Pereira Marramaque no assassinato do rei de Ternate, que não foi punida de forma tão exemplar. Este viria a ser mais um dos argumentos que contribuiu para a severa crítica ao governo de António Moniz Barreto.
O sobressalto em Malaca viria a perdurar ainda no ano de 1575. Nos primeiros meses do ano, a cidade foi cercada pelo sultão do Achém, que se encontrava concertado com a rainha de Japará para desapossar os Portugueses daquela praça. Após uma peleja marítima em que morreram Fernão de Palhares e Bernardim da Silva, os quais tinham sido encarregues de trazer abastecimentos para a fortaleza, o cerco foi levantado pelas forças inimigas satisfeitas com aquela vitória. Só mais tarde chegaram os socorros do governador, depois de terminado o cerco, e após alguns gastos excessivos do capitão da fortaleza, Tristão Vaz da Veiga. Na Índia, o governador recebeu uma embaixada do Grão-Mogol, apostado em renovar as pazes assinadas durante o vice-reinado de D. António de Noronha, e empenhou-se na resolução do caso de D. Henrique de Menezes, que desde as guerras com o sultão de Bijapur havia ficado prisioneiro, conjuntamente com outros Portugueses, naquela corte. Enquanto tal sucedia, D. João da Costa, capitão do mar do Malabar causava grandes danos aos interesses do Samorim de Calicute, através de um ataque ao rei de Tolar e da morte em combate do herdeiro do Samorim. O intuito da acção de D. João da Costa era o de vingar a tomada de Chale por aquele soberano, ocorrida durante o vice-reinado anterior. Porém, o facto que mais marcou este ano foi a perda definitiva da fortaleza portuguesa em Ternate, que caiu nas mãos do rei daquela ilha, filho do monarca que os Portugueses haviam assassinado anos antes. Nem a ajuda de Sancho de Vasconcelos e os seus contactos com o rei de Ujantana, que então se aliou ao rei de Ternate, salvaram os Portugueses da perda daquela fortaleza. Pouco depois, a ilha de Amboíno era atacada por forças do rei de Ternate, mas Sancho de Vasconcelos conseguiu manter o domínio português na região, a despeito de tentativas dos locais de pôr termo à sua vida. Do último ano do governo de António Moniz Barreto pouco se sabe, excepto da chegada da armada do reino de 1576, composta por quatro naus. No entanto, há que não esquecer que o governo de António Moniz Barreto correspondeu a parte do período de acção de Vasco Fernandes Homem, em Moçambique. Em Setembro de 1576, António Moniz Barreto entregou o governo a D. Diogo de Menezes, nomeado pelas vias de sucessão, e não ao vice-rei nomeado pelo rei, Rui Lourenço de Távora, que falecera em Moçambique no decurso da viagem para a Índia. Para este final de governo de dois anos e quase nove meses, não parece ter sido alheia a oposição de D. Leoniz Pereira, que não hesitou em escrever cartas a D. Sebastião, incitando-o a demitir o governador. Regressado ao Reino faleceu em 1600. Foi membro do Conselho Real e cavaleiro da Ordem de Cristo.
O governo de António Moniz Barreto tendeu a ser retratado como um governo despótico e tirânico, mercê da forma como se alçou à governação do Estado da Índia. Apesar de prestigiado militar, não se saiu bem politicamente, segundo o julgamento dos seus contemporâneos. Ainda assim, há que sublinhar que foi durante a sua governação que a ameaça ao Estado da Índia se dissipou totalmente.
Bibliografia:
MARQUES, João Pedro, "António Moniz Barreto" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, s.l., Caminho, 1994, pp. 122-123. COUTO, Diogo do, Da Ásia, IX, sem livro, 18 e 24-32, Lisboa, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, cap. XIV, Porto, Livraria Civilização, 1945; LEMOS, Jorge de, "História dos Cercos de Malaca" in Textos sobre o Estado da Índia, comentários de Luís de Albuquerque, Lisboa, Publicações Alfa (Biblioteca da Expansão Portuguesa), 1989, pp. 79-127. THOMAZ, Luís Filipe, A Crise de 1565-1575 na História do Estado da Índia, separata da revista Mare Liberum, nº9, s.l., 1995, CNCDO, pp. 481-519. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.
Nascido durante a década de 1520 em ano desconhecido, foi filho de Henrique Moniz Barreto, alcaide-mor de Silves, e de D. Maria de Mendonça, filha de João de Mendonça, O Cação, alcaide-mor de Chaves. António Moniz Barreto foi o terceiro filho desta união, tendo sete irmãos. Em 1529, ainda menino, partiu para a Índia na companhia de seu pai e do seu irmão mais velho e primogénito, Aires Moniz, mas cedo ficou órfão. Logrou construir uma ampla carreira militar na Índia, sobretudo durante a década de 1550. Começando por se destacar no segundo cerco de Diu, ou ainda nas expedições ao Ceilão, durante o vice-reinado de D. João de Castro, voltou pouco depois ao Reino. Mas, em 1552, já se encontrava como capitão de Baçaim, função na qual se notabilizou. Em 1553, participou nas campanhas do Malabar, organizadas pelo vice-rei D. Afonso de Noronha, e durante o governo de Francisco Barreto, em 1556, tomou posse de Assarim, nas imediações de Baçaim, e conquistou Monorá. Já durante o vice-reinado de D. Constantino de Bragança, em 1559, participou na conquista de Damão, derrotando um dos generais inimigos. Regressou de novo ao Reino, sendo provável que só então se tenha casado com D. Ana da Costa, filha de D. Duarte da Costa, 2º governador do Brasil. Deste casamento resultou uma vasta prole de sete filhos, entre os quais se destacam o primogénito, Afonso Teles Barreto, comendador de Masca e o terceiro filho, Duarte Moniz, que foi capitão de Ormuz. A 12 de Março de 1571, D. Sebastião nomeou-o para governador de Malaca, no contexto da divisão do Estado da Índia em três áreas de governo distintas. Partindo com o vice-rei D. António de Noronha, aportou à Índia a 6 de Dezembro. Devido aos ataques simultâneos de que o Estado da Índia estava então a ser alvo, período conhecido como de crise político-militar de 1565-1575, cedo se desentendeu com o vice-rei por este não lhe dispensar mais do que 400 homens dos 2000 homens previstos, recusando-se a partir de Goa sem receber os reforços a que considerava ter direito. O vice-rei não reagiu à afronta de António Moniz Barreto e este escreveu diversas cartas para o Reino, acabando, por via da denúncia, por ser bem sucedido na deposição de D. António de Noronha, sendo nomeado sucessor daquele. Devido a este episódio, todo o seu governo tendeu a ser apreciado exclusivamente pelo seu início, facto que poderá ser relativizado com uma análise de maior pormenor.
António Moniz Barreto iniciou-se nas lides da governação a 13 de Dezembro de 1573, sendo a sua primeira acção governativa, a tentativa de nomeação de D. Leoniz Pereira para a capitania de Malaca, seguida da nomeação de D. António de Menezes Cantanhede para capitanear uma viagem ao Canará, tendo em vista o abastecimento de arroz a Goa. D. Leoniz não quis aceitar a nomeação sem que lhe fossem concedidos reforços militares, tal como havia sucedido anteriormente. A premência da nomeação justificava-se pois, logo nos inícios de 1574, Malaca era sujeita a novo cerco de três meses, ordenado pela rainha de Japará, o qual só viria a ser quebrado por acção de Tristão Vaz da Veiga, que ali aportou e se disponibilizou para encetar a defesa da cidade. Os Javaneses só foram vencidos à custa de algumas mortes significativas do lado português. Precisamente numa tentativa de acudir a este cerco, o governador convocou o Senado de Goa ao qual pediu um empréstimo de 20 000 pardaus, mas este só foi aceite quando o dirigente entregou o seu terceiro filho, Duarte Moniz, então com oito anos, como penhor. Todavia, o socorro do governador viria a chegar tarde, em finais de 1575. Após diversas reuniões de Conselho, convocadas pelo governador, este despachou várias frotas de comércio e guerra, nas quais se destacou uma na qual seguiam, por ordem régia, D. Duarte de Menezes, como capitão de Ormuz, e um embaixador régio à corte persa. Mas o facto mais polémico deste ano foi, sem dúvida, a execução, ordenada a partir do Reino, por via da armada de 1574, de D. Jorge de Castro, o capitão que entregara a fortaleza de Chale às forças do Samorim de Calicute. Mais tarde, a alegada injustiça desta execução foi comparada com a conivência de Gonçalo Pereira Marramaque no assassinato do rei de Ternate, que não foi punida de forma tão exemplar. Este viria a ser mais um dos argumentos que contribuiu para a severa crítica ao governo de António Moniz Barreto.
O sobressalto em Malaca viria a perdurar ainda no ano de 1575. Nos primeiros meses do ano, a cidade foi cercada pelo sultão do Achém, que se encontrava concertado com a rainha de Japará para desapossar os Portugueses daquela praça. Após uma peleja marítima em que morreram Fernão de Palhares e Bernardim da Silva, os quais tinham sido encarregues de trazer abastecimentos para a fortaleza, o cerco foi levantado pelas forças inimigas satisfeitas com aquela vitória. Só mais tarde chegaram os socorros do governador, depois de terminado o cerco, e após alguns gastos excessivos do capitão da fortaleza, Tristão Vaz da Veiga. Na Índia, o governador recebeu uma embaixada do Grão-Mogol, apostado em renovar as pazes assinadas durante o vice-reinado de D. António de Noronha, e empenhou-se na resolução do caso de D. Henrique de Menezes, que desde as guerras com o sultão de Bijapur havia ficado prisioneiro, conjuntamente com outros Portugueses, naquela corte. Enquanto tal sucedia, D. João da Costa, capitão do mar do Malabar causava grandes danos aos interesses do Samorim de Calicute, através de um ataque ao rei de Tolar e da morte em combate do herdeiro do Samorim. O intuito da acção de D. João da Costa era o de vingar a tomada de Chale por aquele soberano, ocorrida durante o vice-reinado anterior. Porém, o facto que mais marcou este ano foi a perda definitiva da fortaleza portuguesa em Ternate, que caiu nas mãos do rei daquela ilha, filho do monarca que os Portugueses haviam assassinado anos antes. Nem a ajuda de Sancho de Vasconcelos e os seus contactos com o rei de Ujantana, que então se aliou ao rei de Ternate, salvaram os Portugueses da perda daquela fortaleza. Pouco depois, a ilha de Amboíno era atacada por forças do rei de Ternate, mas Sancho de Vasconcelos conseguiu manter o domínio português na região, a despeito de tentativas dos locais de pôr termo à sua vida. Do último ano do governo de António Moniz Barreto pouco se sabe, excepto da chegada da armada do reino de 1576, composta por quatro naus. No entanto, há que não esquecer que o governo de António Moniz Barreto correspondeu a parte do período de acção de Vasco Fernandes Homem, em Moçambique. Em Setembro de 1576, António Moniz Barreto entregou o governo a D. Diogo de Menezes, nomeado pelas vias de sucessão, e não ao vice-rei nomeado pelo rei, Rui Lourenço de Távora, que falecera em Moçambique no decurso da viagem para a Índia. Para este final de governo de dois anos e quase nove meses, não parece ter sido alheia a oposição de D. Leoniz Pereira, que não hesitou em escrever cartas a D. Sebastião, incitando-o a demitir o governador. Regressado ao Reino faleceu em 1600. Foi membro do Conselho Real e cavaleiro da Ordem de Cristo.
O governo de António Moniz Barreto tendeu a ser retratado como um governo despótico e tirânico, mercê da forma como se alçou à governação do Estado da Índia. Apesar de prestigiado militar, não se saiu bem politicamente, segundo o julgamento dos seus contemporâneos. Ainda assim, há que sublinhar que foi durante a sua governação que a ameaça ao Estado da Índia se dissipou totalmente.
Bibliografia:
MARQUES, João Pedro, "António Moniz Barreto" in Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, vol. I, s.l., Caminho, 1994, pp. 122-123. COUTO, Diogo do, Da Ásia, IX, sem livro, 18 e 24-32, Lisboa, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets, vol. IV, Parte 1, cap. XIV, Porto, Livraria Civilização, 1945; LEMOS, Jorge de, "História dos Cercos de Malaca" in Textos sobre o Estado da Índia, comentários de Luís de Albuquerque, Lisboa, Publicações Alfa (Biblioteca da Expansão Portuguesa), 1989, pp. 79-127. THOMAZ, Luís Filipe, A Crise de 1565-1575 na História do Estado da Índia, separata da revista Mare Liberum, nº9, s.l., 1995, CNCDO, pp. 481-519. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.