Data de publicação
2009
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Na primeira fase da intervenção da astronomia na navegação mediram-se alturas meridianas de estrelas (sobretudo da Polar) em vários lugares, que eram comparadas entre si. A partir dessa prática passou-se à determinação da latitude do lugar, mas como esta coordenada era determinada a partir de uma «altura» foi por altura (ou altura de «norte-sul») que ela se tornou em geral conhecida. Todavia, para fixar a posição do navio no mar não era suficiente o conhecimento de uma coordenada geográfica: de facto, o «ponto» (como se dizia) só ficava bem determinado se, simultaneamente, também fosse conhecida a longitude do lugar, para leste ou para oeste de um dado meridiano de referência. E, assim, a coordenada a que hoje se chama «longitude» foi então designada por «altura de leste-oeste». Todavia, ter-se falado muito na altura leste-oeste durante os séculos XVI e XVII não significa que se tivesse resolvido praticamente o problema. Do ponto de vista teórico, sabia-se que uma longitude podia ser determinada por determinadas observações astronómicas, mas para que os resultados obtidos fossem aceitáveis era necessário dispor de relógios com marcha regular e estava-se longe disso (o cronómetro data da segunda metade do século XVIII). Não surpreende, pois, que se tivesse lançado mão de processos basicamente errados para obter o que a astronomia não podia dar. Assim, e só para dar o exemplo mais notório, refiro que se supôs ser a longitude proporcional à declinação magnética, princípio que foi exposto, em 1514, por João de Lisboa, mas que é muito provavelmente anterior a essa data. Em 1538, na sua primeira viagem à Índia, D. João de Castro havia de mostrar, experimentalmente, que tal ideia era absolutamente falsa.

Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de, Os Guias Náuticos de Munique e de Évora, Coimbra, 1965.

Artigo originalmente publicado no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, e reproduzido por cortesia do Círculo de Leitores