Data de publicação
2009
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A bússola, ainda na forma do que se chamava «agulha de marear», foi introduzida na marinha da Europa durante o século XIII, embora se lhe ignore ao certo a origem: segundo uns autores, teria sido um piloto amalfitano, de nome Flávio, o primeiro a adaptar as propriedades de uma agulha magnetizada à navegação; mas outros pretendem que os Chineses já antes conheciam essas propriedades, usando-as na orientação quer a bordo de navios quer quando atravessavam as grandes extensões desérticas dos seu país; os povos árabes teriam sido, nesta última hipótese, os intermediários na transmissão de tal conhecimento ao Ocidente. Todavia, conhecem-se textos ocidentais que aludem às propriedades magnéticas da Terra e são certamente anteriores ao aparecimento da bússola de navegação; até onde sei, é de Alexandre Neckam, e do século XII, o mais antigo desses textos medievais, muito embora já alguns autores da Antiguidade (como Lucrécio) dele tivessem conhecimento. A bússola foi inicialmente um dispositivo muito simples: a agulha friccionada numa pedra magnética (ou «pedra de cevar», como se diria no século XVI) era posta a flutuar em água ou azeite, o seu eixo orientava-se no sentido norte-sul magnético, que os navegadores tomavam pelo geográfico, por ele se orientando nas suas viagens. Como as navegações eram então praticamente costeiras, do erro assim cometido não adivinhavam grandes dificuldades para os pilotos, que desconheciam inteiramente a declinação magnética (ou seja, o frequente desvio da agulha para nordeste ou para noroeste do meridiano do lugar) e não podiam, por isso, corrigir desse ângulo o rumo lido na bússola, como mais tarde se faria. Aliás, as cartas mediterrânicas da época estão traçadas de acordo com rumos magnéticos e não geográficos, como no século XVI Pedro Nunes diria de modo expresso e o estudo cuidado dessas cartas mostra de modo inegável. Com o tempo a bússola foi-se aperfeiçoando e no início do século XVI já agulha estava suspensa no centro de uma caixa cilíndrica, graduada nas suas paredes interiores, e com uma rosa-dos-ventos em papelão, que lhe ficava colada. Assim a descreve o piloto João de Lisboa no mais antigo texto de origem náutica dedicado à bússola (mas que contém erros de vária ordem). Entretanto, e ainda no século XV, a declinação magnética foi reconhecida, por construtores flamengos ou alemães, como querem uns, ou por Cristóvão Colombo, como sustentam outros, e logo os marinheiros passaram a proceder à sua correcção, como se vê naquele texto de João de Lisboa e em obras dos cosmógrafos Francisco Faleiro e Pedro Nunes.

Bibliografia:
ALBUQUERQUE, Luís de , Ciência e Experiência nos Descobrimentos Portugueses, Lisboa, 1983.

Artigo originalmente publicado no Dicionário de História dos Descobrimentos Portugueses, dir. Luís de Albuquerque, e reproduzido por cortesia do Círculo de Leitores