Data de publicação
2009
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(Ilha de Annobón). Pequena ilha vulcânica da baía do Biafra (Golfo da Guiné), com uma área de cerca de 17,5 km2 de superfície, hoje parte integrante da Guiné Equatorial, sob o nome de Annobón. Após a independência da Guiné Equatorial e durante um curto período, foi designada por Pagalu. Tem sido identificada com a "ilha de Diogo Cão" que aparece em alguma cartografia do início do século XVI. A data da sua descoberta é controversa, mediando os anos mais prováveis entre 1483 e 1501. Tal como as outras ilhas do golfo da Guiné (excepção feita à de Fernando Pó, actual Bioko), Ano Bom era desabitada à data da chegada dos portugueses.
Em 16 de Outubro de 1503, o rei D. Manuel I entregou a Jorge de Melo, fidalgo de sua casa, a capitania e a alcaidaria-mor da ilha de Ano Bom, para si e seus sucessores, com "toda a jurisdição do cível e crime, reservando morte de homem e talhamento de membro" e com os outros privilégios, nomeadamente de natureza fiscal, habituais nestas circunstâncias. Em 1565, Álvaro da Cunha, filho de Jorge de Melo, vendeu a Luís de Almeida, escudeiro da Casa Real e proprietário em São Tomé, por um total de 520 000 réis, os seus direitos sobre a pequena ilha.
Nenhum destes donatários, nem os seguintes, residiram em Ano Bom, limitando-se, na melhor das hipóteses, a ter um procurador (em geral um membro do clero) em São Tomé e apenas um feitor na sede da donataria. Também nunca foi promovida uma colonização intensiva da ilha, devido à sua posição periférica em relação às grandes rotas intercontinentais portuguesas e à sua reduzida dimensão.
Entre 1543 e 1565, foram introduzidas as primeiras levas de escravos africanos para exploração agrícola do território. É provável que se tratasse de trabalhadores com um razoável tempo de fixação em São Tomé e sujeitos a um significativo processo de aculturação. Só assim se compreende que já tivessem tido contacto com o Cristianismo e fossem falantes do proto-crioulo que esteve na origem do Anobonense ou Fa d'Ambô, em que cerca de 90% do léxico é de origem portuguesa.
A presença de europeus no território nunca foi muito expressiva. A representação do donatário era formada, no máximo, por duas pessoas e, normalmente, por uma só. A assistência religiosa, que constituía uma responsabilidade da donataria, foi sempre muito irregular, sendo prestada, em geral, pelos capelães dos navios que aí passavam em trânsito ou por um sacerdote que, à custa do donatário, uma vez por ano (e às vezes com intervalos maiores) se deslocava, para curtas visitas, de São Tomé a Ano Bom.
Do ponto de vista económico, a única produção que pareceu atractiva aos donatários para efeitos de exportação foi, desde o início, o algodão. Em meados do século XVII, há notícias de tentativas de introdução da produção de açúcar, mas com resultados desanimadores.
A presença de navios europeus em Ano Bom vai tornar-se uma constante a partir dos finais do século XVI. A localização isolada da ilha tornava-a atractiva como ponto de reabastecimento (aguada e aprovisionamento de víveres) para os navios franceses, ingleses, holandeses e dinamarqueses que comerciavam na costa da Guiné. Esses contactos nem sempre foram, porém, pacíficos, tendo a ilha sido ocupada em várias ocasiões pelos holandeses, nomeadamente em 1598-1599 e entre 1660 e 1664.
Desde o início do século XVIII desaparece de Ano Bom qualquer presença portuguesa, passando a população africana a gozar de uma efectiva independência e criando mecanismos próprios de governação. Desenvolve-se uma grande desconfiança contra qualquer intromissão estrangeira, mesmo de religiosos, só sendo aceites, esporadicamente, alguns capuchinhos italianos.
Em 1744, a ilha foi integrada, oficialmente, nos bens da Coroa, mas foram infrutíferas as tentativas para, de forma pacífica, voltar a introduzir funcionários ou clérigos portugueses. Em 1777, pelo tratado de Santo Ildefonso, confirmado e ajustado pelo tratado do Pardo, de 11 de Março de 1778, Portugal cedeu à Espanha os direitos sobre a ilha de Ano Bom, bem como sobre Fernando Pó, mas a transferência de soberania tornou-se muito problemática devido à resistência da população.
Bibliografia:
CALDEIRA, Arlindo Manuel, "Uma ilha quase desconhecida. Notas para a história de Ano Bom", Studia Africana - Revista Interuniversitària d' Estudis Africans, Barcelona, nº 17, Out. 2006, pp. 99-109; IDEM, "A 'república negra' de Ano Bom: invenção de um 'Estado' entre duas colonizações", in Trabalho Forçado Africano - Experiências coloniais comparadas , Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (coord.), Porto, Campo das Letras, 2006, pp. 47-65. CASTRO, Mariano de e CALLE, Maria Luisa de la, Origen de la colonización española de Guinea Ecuatorial (1777-1860), Valladolid, Universidad deValladolid, 1992.
Translated by: Ana Pereira
Em 16 de Outubro de 1503, o rei D. Manuel I entregou a Jorge de Melo, fidalgo de sua casa, a capitania e a alcaidaria-mor da ilha de Ano Bom, para si e seus sucessores, com "toda a jurisdição do cível e crime, reservando morte de homem e talhamento de membro" e com os outros privilégios, nomeadamente de natureza fiscal, habituais nestas circunstâncias. Em 1565, Álvaro da Cunha, filho de Jorge de Melo, vendeu a Luís de Almeida, escudeiro da Casa Real e proprietário em São Tomé, por um total de 520 000 réis, os seus direitos sobre a pequena ilha.
Nenhum destes donatários, nem os seguintes, residiram em Ano Bom, limitando-se, na melhor das hipóteses, a ter um procurador (em geral um membro do clero) em São Tomé e apenas um feitor na sede da donataria. Também nunca foi promovida uma colonização intensiva da ilha, devido à sua posição periférica em relação às grandes rotas intercontinentais portuguesas e à sua reduzida dimensão.
Entre 1543 e 1565, foram introduzidas as primeiras levas de escravos africanos para exploração agrícola do território. É provável que se tratasse de trabalhadores com um razoável tempo de fixação em São Tomé e sujeitos a um significativo processo de aculturação. Só assim se compreende que já tivessem tido contacto com o Cristianismo e fossem falantes do proto-crioulo que esteve na origem do Anobonense ou Fa d'Ambô, em que cerca de 90% do léxico é de origem portuguesa.
A presença de europeus no território nunca foi muito expressiva. A representação do donatário era formada, no máximo, por duas pessoas e, normalmente, por uma só. A assistência religiosa, que constituía uma responsabilidade da donataria, foi sempre muito irregular, sendo prestada, em geral, pelos capelães dos navios que aí passavam em trânsito ou por um sacerdote que, à custa do donatário, uma vez por ano (e às vezes com intervalos maiores) se deslocava, para curtas visitas, de São Tomé a Ano Bom.
Do ponto de vista económico, a única produção que pareceu atractiva aos donatários para efeitos de exportação foi, desde o início, o algodão. Em meados do século XVII, há notícias de tentativas de introdução da produção de açúcar, mas com resultados desanimadores.
A presença de navios europeus em Ano Bom vai tornar-se uma constante a partir dos finais do século XVI. A localização isolada da ilha tornava-a atractiva como ponto de reabastecimento (aguada e aprovisionamento de víveres) para os navios franceses, ingleses, holandeses e dinamarqueses que comerciavam na costa da Guiné. Esses contactos nem sempre foram, porém, pacíficos, tendo a ilha sido ocupada em várias ocasiões pelos holandeses, nomeadamente em 1598-1599 e entre 1660 e 1664.
Desde o início do século XVIII desaparece de Ano Bom qualquer presença portuguesa, passando a população africana a gozar de uma efectiva independência e criando mecanismos próprios de governação. Desenvolve-se uma grande desconfiança contra qualquer intromissão estrangeira, mesmo de religiosos, só sendo aceites, esporadicamente, alguns capuchinhos italianos.
Em 1744, a ilha foi integrada, oficialmente, nos bens da Coroa, mas foram infrutíferas as tentativas para, de forma pacífica, voltar a introduzir funcionários ou clérigos portugueses. Em 1777, pelo tratado de Santo Ildefonso, confirmado e ajustado pelo tratado do Pardo, de 11 de Março de 1778, Portugal cedeu à Espanha os direitos sobre a ilha de Ano Bom, bem como sobre Fernando Pó, mas a transferência de soberania tornou-se muito problemática devido à resistência da população.
Bibliografia:
CALDEIRA, Arlindo Manuel, "Uma ilha quase desconhecida. Notas para a história de Ano Bom", Studia Africana - Revista Interuniversitària d' Estudis Africans, Barcelona, nº 17, Out. 2006, pp. 99-109; IDEM, "A 'república negra' de Ano Bom: invenção de um 'Estado' entre duas colonizações", in Trabalho Forçado Africano - Experiências coloniais comparadas , Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (coord.), Porto, Campo das Letras, 2006, pp. 47-65. CASTRO, Mariano de e CALLE, Maria Luisa de la, Origen de la colonización española de Guinea Ecuatorial (1777-1860), Valladolid, Universidad deValladolid, 1992.
Translated by: Ana Pereira