Data de publicação
2010
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Área Geográfica
Cronista, filho bastardo do Duarte Galvão, desconhecendo-se a verdadeira identidade da mãe e a data precisa do seu nascimento. Destacou-se como guerreiro, navegador, geógrafo, governador, militar de carreira e na literatura de viagens. Em 23 de Janeiro de 1522, António Galvão seguiu viagem para a Índia, a bordo da nau Nazaré, capitaneada pelo seu primo, D. Pedro de Castro com quem participou em operações de retaliação em Quíloa e Mombaça tendo em vista a pacificação de levantamentos de populações locais. Após ter permanecido algum tempo no Oriente, onde se empenhou em acções militares, em 1524, acabou por regressar a Portugal. Em 16 de Maio de 1526, António Galvão embarcou novamente para o Oriente como capitão da nau Santa Maria do Espinheiro e chegado à Índia, envolveu-se nas contendas relativas ao governo local entre Pedro de Mascarenhas e Lopo Vaz Sampaio, 6º governador da Índia (1526-1529), tendo tomado partido por este último. Em Março de 1533, voltou a embarcar para o Oriente na armada sob o comando de D. António Pereira, tendo-se destacado então em campanhas militares, como administrador e em diversas iniciativas nestas paragens. Em Calecute, António Galvão, numa acção conjunta com D.Pedro de Castro, pôs termo a um grave conflito com os mouros da cidade apesar dos escassos meios da força militar e naval ali existentes e da ineficácia do capitão local, D. João Lima. Em 1535, impediu que os Mogores (recém-chegados ao Hindustão, onde reinararam até ao século XIX) atacassem Baçaim. Nesse mesmo ano, sendo António Galvão capitão-mor da praça de Cochim, Nuno da Cunha, governador do Estado da Índia (1529-1538), recebeu em Goa, preso sob ordem de Tristão de Ataíde, capitão das Molucas, Cachil Tabarija, rei deposto de Ternate tendo tomado logo providências no sentido de se procederem a averiguações. Apurados os factos, mandou libertar Cachil Tabarija, muito considerado entre os seus súbditos, não vendo fundamento na sua prisão e decidiu afastar Tristão de Ataíde do exercício do cargo. Nuno da Cunha temia que os Portugueses perdessem a influência naquela região, distante da Índia, onde também tinham iniciado em 24 de Junho de 1522, a construção de uma fortaleza, no sul da ilha de Ternate, destinada ao estabelecimento e controlo efectivo e permanente da Coroa portuguesa na região. Tinha também a função de feitoria, com regimento próprio dado por D.Manuel (1495-1521) donde se pretendia, a partir dali, assegurar o controlo do fluxo e trato das especiarias. Em 1536, Nuno da Cunha decidiu nomear António Galvão capitão-mor e governador das Molucas, mercê dos serviços prestados no Oriente, auferindo anualmente 600,000 reais. Como os meios que a Coroa lhe colocou à disposição para chegar ao seu destino eram manifestamente insuficientes e se restringiam apenas a uma embarcação, António Galvão reuniu todos os seus pertences e, com a ajuda material de amigos, decidiu fretar uma nau à sua custa a fim de assegurar o transporte dos meios necessários e ainda de soldados para a guarnição da fortaleza. Além de ter mandado carregar ferramentas e alfaias agrícolas, António Galvão embarcou também mulheres destinadas a contraírem matrimónio com portugueses nas Molucas a fim de fomentar a criação de uma colónia nestas paragens pretendendo, em simultâneo, demonstrar aos Mouros a afirmação da presença da Coroa portuguesa no arquipélago. Saiu de Cochim em 8 de Maio de 1536, e atingiu Malaca a 18 de Junho desse mesmo ano donde partiu a 18 de Agosto, com duas naus e outros navios, tendo chegado a Ternate, sede da autoridade portuguesa nas Molucas devido à sua posição estratégica e importância comercial, via Bornéu, no dia 25 de Outubro. Neste arquipélago, em particular abundante em cravo, António Galvão encontrou uma situação de mal-estar, dissensões, desequilíbrio e anarquia devido à actuação corrupta e aos desmandos dos últimos capitães a que se juntavam rivalidades profundas entre os reis das diversas ilhas, desavenças entre a população portuguesa ali residente, movidos por interesses pessoais, ataques de régulos vizinhos e de emissários espanhóis. Havia também falta de mantimentos, de soldados e de armas, levantamentos de populações locais. Perante este estado de coisas, que punha em risco a presença portuguesa nas Molucas, António Galvão começou por baixar os preços dos géneros alimentícios, nomeou um juiz ordinário e dois almotacés, cargos até então inexistentes nesta região, fez vigorar as Ordenações do Reino e no que respeita ao clero impôs a Constituição do Arcebispado de Lisboa. Por outro lado, tomou as providências necessárias para a reparação da fortaleza cuja artilharia se encontrava bastante danificada, impulsionou o fabrico da pólvora em que ele próprio colaborou tendo, de igual modo, assegurado a reparação das bombardas. António Galvão, enquanto capitão e governador das Molucas,, levou a bom termo o mandato impondo a sua autoridade e pacificando as populações autóctones daquela região e os portugueses que se fixaram, não hesitando em recorrer à guerra quando se afigurou o recurso mais eficaz para pôr cobro a desmandos. Mandou também construir edifícios e oficinas em pedra e cal com chaminés como as que existiam em Portugal, que substituíram as casas feitas em caniçado sujeitas a renovação anual, dando à cidade o aspecto de um povoado português. Fundou ainda escolas e promoveu uma considerável obra no domínio da assistência a doentes tendo erigido um hospital, igrejas, a Misericórdia, incentivou conversões e baptismos entre os quais conselheiros reais como Cachil Colão e um sobrinho do rei de Gílolo. Apoiou a acção missionária e deve-se ainda a este capitão de Maluco a iniciativa da fundação de um seminário, às suas custas, em Ternate e posteriormente em Gilolo tendo tentado implementar a formação de um clero nativo. No decurso do seu mandato, toda a actuação missionária e política de António Galvão granjeou-lhe o epíteto de Apóstolo das Molucas. Poderia ter enriquecido, à custa de negócios de carregamentos de cravo e outros expedientes, como tinham feito alguns dos seus antecessores mas empenhou-se profundamente no progresso desta região revelando uma conduta implacável, pouco comum nesta época, rectidão nos julgamentos e absoluta honestidade nas contas. Enquanto capitão de Maluco, não hesitou em despender a sua fortuna pessoal, adiantando do próprio bolso os ordenados e vencimentos em atraso, o tratamento de doentes e para fazer face a determinadas situações prementes. Em 1540, regressou ao reino na miséria, com cerca de dois mil cruzados de dívidas, uma parte contraída no Oriente e outra proveniente do montante dos empréstimos acumulados para se manter no hospital, em Lisboa, tratando de doentes, tendo vivido mais 17 anos. Debilitado por largas canseiras e doenças contraídas no Oriente, António Galvão acabou por falecer, em Lisboa, neste mesmo hospital onde permaneceu até ao final da vida, tão pobre que foi enterrado por esmola tendo o seu funeral sido assegurado pela Confraria das Cortes. António Galvão foi também o autor do Tratado dos Descobrimentos, que ultimou em 1550 e cujo manuscrito legou ao seu amigo e testamenteiro, Francisco de Sousa Tavares, a quem se deve a iniciativa da sua publicação. Esta obra foi, pela primeira vez, editada na casa de João Barreira, a 15 de Dezembro de 1563, cerca de seis anos após a sua morte e no prólogo, a cargo de Francisco de Sousa Tavares, diz ser dedicado a D.João de Lencastre, duque de Aveiro, conforme uma das últimas vontades do autor. O Tratado dos Descobrimentos que, antes de mais, revela a erudição do autor, reflecte as experiências vividas pelo próprio no Oriente a que se juntam relatos de viagens, que começaram no século VI a.C., lendas e outras informações que chegaram ao seu conhecimento mas que nem sempre submeteu devidamente a um rigor crítico e a que não é alheia uma certa ingenuidade pois nem sempre utilizou fontes fidedignas. Apesar de conter erros, lacunas, imprecisões e relatos fantasiosos, este tratado revelou-se notável pelo acervo de informações reunidas numa compilação de materiais no âmbito da literatura de viagens, arte de navegar, Zoologia, Botânica, Antropologia e Etnografia entre outras sobretudo no que respeita à Geografia Histórica e sem o contributo de Galvão, acabariam por se extraviar detalhes de alguns roteiros relativos aos mares e aos arquipélagos da Oceânia. Em 1601, foi publicada, em Inglaterra, uma tradução anónima desta obra para a língua inglesa, por iniciativa do geógrafo Richard Hakluyt. Em 1625, foi impressa uma nova versão abreviada, cuja publicação se deve a Samuel Purchas. No século XIX, a obra foi reeditada, em Londres, apresentando, em simultâneo, a tradução inglesa anónima, revista e publicada por Richard Hakluyt, em 1601 e o texto de um exemplar do original português da edição de 1563 e a que o almirante Bethune, responsável por esta publicação, em 1862, integrada nas colecções da Hakluyt Societ, juntou diversas notas à margem. No prefácio, Bethune reconheceu o mérito de António Galvão que, no seu ponto de vista deveria ser considerado o fundador da Geografia Histórica. Em 1550, António Galvão demonstrou a possibilidade material e geográfica, para a abertura de um canal marítimo na América Central, ligando o Pacífico ao Atlântico apontando quatro possíveis soluções como verdadeiras para o traçado do mesmo, que se viria a concretizar cerca de quatro séculos depois, em 1914, com a abertura do canal do Panamá. António Galvão escreveu ainda a História das Molucas, da Natureza e Descobrimento Daquelas Terras, composto em dez livros, que após a sua morte o seu testamenteiro, Francisco de Sousa Tavares, a pedido do então cardeal D. Henrique, fez chegar este manuscrito às mãos de Damião de Góis, mas desconhece-se o paradeiro desta obra desde que o humanista faleceu, em 1574.

Bibliografia:
FERRONHA, António Luís, BETTENCOURT, Mariana, LOUREIRO, Rui Manuel, A Fauna Exótica dos Descobrimentos, [s.l], [s.n], 1993. FRADE, Florbela Cristina Veiga, A presença portuguesa nas ilhas de Maluco: (1511-1605), Dissertação de Mestrado em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa, policopiada, Lisboa, Universidade de Lisboa, 1999. SÁ, Artur Basílio de, Introdução, in Tratado de las Yilas de los Malucos y de los costumbres de los índios y todo los demas in Documentos para a História das Missões do Padroado Português do Oriente, Insulíndia, vol.6, 1988, pp.3-4. SOUSA, Esther Trigo de, Capitães Portugueses nas Ilhas Molucas, Separata da Studia, 43-44, Lisboa, Centro de Estudos Históricos Ultramarinos, 1980. TORRES, Rui d'Abreu, "António Galvão"in Dicionário de História de Portugal, direcção de Joel Serrão, vol. III, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1975, pp.98-99.