Data de publicação
2009
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Segundo filho varão nascido do casamento do almirante da Índia, D. Vasco da Gama, com D. Catarina de Ataíde. A sua carreira ultramarina teve início em 1524, em consequência da nomeação do pai como vice-rei da Índia. O então conde da Vidigueira negociou com D. João III os termos de aceitação do lugar, que incluíram o provimento de D. Estevão como capitão-mor do mar da Índia. A situação não era inusitada, antes confirmava a tendência, observada desde o governo de D. Francisco de Almeida, de o máximo dirigente português no Oriente apostar na articulação política e militar com uma figura da sua estrita confiança pessoal, geralmente um familiar próximo. A D. Estevão faltou, porém, a oportunidade de acumular grande experiência no ofício. Causa disso foi a morte do pai, sobrevinda a 24 de Dezembro daquele ano, a qual lhe acarretou a interrupção do mandato e impôs o pronto regresso a Portugal, a bordo da armada que largou do Subcontinente nos inícios do ano seguinte.
Em 21 de Março de 1532, o fidalgo foi agraciado com a capitania de Malaca, pelo prazo de quatro anos, e com 600.000 reais de ordenado anual. Navegou, de seguida, para o Oriente, beneficiando do estatuto de capitão-mor da armada, mas viu-se obrigado a invernar em Moçambique. Exerceu o comando da fortaleza malaia em sucessão ao irmão D. Paulo da Gama, entre os anos de 1534 e 1539. Neste âmbito, destacaram-se as acções de guerra que promoveu contra o sultanato de Ujong Tanah (com o qual veio a firmar a paz) e a resistência que organizou face aos cercos impostos pelas forças do sultanato do Achém.
Finda a comissão de serviço, D. Estevão da Gama tornou à Índia. Aqui veio a assumir o governo do Estado, em Abril de 1540, em resultado da morte do vice-rei D. Garcia de Noronha e da ausência de Martim Afonso de Sousa, nomeado na primeira via de sucessão. A corte portuguesa foi inteirada da situação em Janeiro de 1541, logo se começando a preparar a substituição de D. Estevão pelo dito Martim Afonso, que recebera, entretanto, de D. João III a promessa de suceder a D. Garcia. O secundogénito de Vasco da Gama seria, assim, impedido de cumprir o mandato normal de três anos, numa atitude sem precedentes da parte da Coroa portuguesa relativamente a um governador empossado com recurso à abertura das vias de sucessão. O irmão de D. Estevão e 2º conde da Vidigueira, D. Francisco da Gama tratou de contestar o facto, beneficiando para o efeito do apoio do seu sogro, D. Francisco de Portugal, 1º conde do Vimioso e vedor da Fazenda. A suportar as pretensões de Martim Afonso de Sousa estava outro vedor da Fazenda, o favorito do rei, D. António de Ataíde. Foi perante um quadro de intensa luta politica, travada no seio da corte portuguesa, que a resolução da questão acabou por ser remetida para o Conselho Real. A decisão revelou-se favorável, por unanimidade, aos interesses de Martim Afonso, que largou vela para a Índia a 7 de Abril para apenas conseguir aportar a Goa passado mais de um ano.
Durante aquele meio-tempo, D. Estevão da Gama esteve ocupado com diversas matérias. Entre estas ganharam relevo, em 1541, o envio de um contingente de socorro militar à Etiópia cristã, ameaçada pelos muçulmanos do território somali, cujo comando entregou ao irmão D. Cristóvão da Gama, e a organização de uma armada que foi conduzida pelo próprio governador até ao interior do Mar Vermelho. A expedição enquadrava-se numa dupla perspectiva: de retaliação ao cerco que os Turcos Otomanos tinham submetido Diu, em 1538, e de tentativa de aniquilar a nova armada de guerra que estava a ser preparada às ordens da Sublime Porta. Os Portugueses conseguiram atingir as zonas do Suez e do Sinai, mas os danos que lograram infligir foram de pouca monta.
Nos inícios de Maio de 1542, D. Estevão da Gama foi confrontado com a chegada a Goa do novo governador, não tendo sido poupado pelo último à experiência de alguns agravos. Não lhe sendo permitida pelo calendário das monções a imediata partida para o Reino, D. Estevão passou o resto do Inverno em Pangim, dali se deslocando posteriormente para Cochim. A seu pedido, o ouvidor-geral procedeu ao inventário dos bens de que era titular, tendo sido verificada a diminuição real da sua fortuna a partir da época em que assumira o governo do Estado da Índia.
D. Estevão da Gama chegou a Portugal em 1543, passando a ser alvo da pressão de D. João III para casar. Resistiu sempre a essa ideia, a ponto de se ter mudado para Veneza, onde permaneceu por tempo indeterminado. De novo reinstalado em Portugal, terá sido sondado para repetir a experiência de governar o Estado da Índia, mas a proposta esbarrou na sua intransigência. Faleceu em 1575, recebendo sepultura no convento da Nossa Senhora das Relíquias, na vila da Vidigueira.
Bibliografia:
COUTO, Diogo, Da Ásia, Lisboa, Livraria Sam Carlos, 1974, V, vii-ix. COSTA, João Paulo Oliveira e & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, Portugal y Oriente. El Proyecto Indiano del Rey Juan, Madrid, Editorial Mafre, 1992. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem: A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada. SUBRAHMANYAM, Sanjay, O Império Asiático Português, 1500-1700. Uma História Política e Económica, s.l., Difel, s.d. Registo da Casa das Índia, ed. Luciano Cordeiro, 2 vols., Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1954.
Em 21 de Março de 1532, o fidalgo foi agraciado com a capitania de Malaca, pelo prazo de quatro anos, e com 600.000 reais de ordenado anual. Navegou, de seguida, para o Oriente, beneficiando do estatuto de capitão-mor da armada, mas viu-se obrigado a invernar em Moçambique. Exerceu o comando da fortaleza malaia em sucessão ao irmão D. Paulo da Gama, entre os anos de 1534 e 1539. Neste âmbito, destacaram-se as acções de guerra que promoveu contra o sultanato de Ujong Tanah (com o qual veio a firmar a paz) e a resistência que organizou face aos cercos impostos pelas forças do sultanato do Achém.
Finda a comissão de serviço, D. Estevão da Gama tornou à Índia. Aqui veio a assumir o governo do Estado, em Abril de 1540, em resultado da morte do vice-rei D. Garcia de Noronha e da ausência de Martim Afonso de Sousa, nomeado na primeira via de sucessão. A corte portuguesa foi inteirada da situação em Janeiro de 1541, logo se começando a preparar a substituição de D. Estevão pelo dito Martim Afonso, que recebera, entretanto, de D. João III a promessa de suceder a D. Garcia. O secundogénito de Vasco da Gama seria, assim, impedido de cumprir o mandato normal de três anos, numa atitude sem precedentes da parte da Coroa portuguesa relativamente a um governador empossado com recurso à abertura das vias de sucessão. O irmão de D. Estevão e 2º conde da Vidigueira, D. Francisco da Gama tratou de contestar o facto, beneficiando para o efeito do apoio do seu sogro, D. Francisco de Portugal, 1º conde do Vimioso e vedor da Fazenda. A suportar as pretensões de Martim Afonso de Sousa estava outro vedor da Fazenda, o favorito do rei, D. António de Ataíde. Foi perante um quadro de intensa luta politica, travada no seio da corte portuguesa, que a resolução da questão acabou por ser remetida para o Conselho Real. A decisão revelou-se favorável, por unanimidade, aos interesses de Martim Afonso, que largou vela para a Índia a 7 de Abril para apenas conseguir aportar a Goa passado mais de um ano.
Durante aquele meio-tempo, D. Estevão da Gama esteve ocupado com diversas matérias. Entre estas ganharam relevo, em 1541, o envio de um contingente de socorro militar à Etiópia cristã, ameaçada pelos muçulmanos do território somali, cujo comando entregou ao irmão D. Cristóvão da Gama, e a organização de uma armada que foi conduzida pelo próprio governador até ao interior do Mar Vermelho. A expedição enquadrava-se numa dupla perspectiva: de retaliação ao cerco que os Turcos Otomanos tinham submetido Diu, em 1538, e de tentativa de aniquilar a nova armada de guerra que estava a ser preparada às ordens da Sublime Porta. Os Portugueses conseguiram atingir as zonas do Suez e do Sinai, mas os danos que lograram infligir foram de pouca monta.
Nos inícios de Maio de 1542, D. Estevão da Gama foi confrontado com a chegada a Goa do novo governador, não tendo sido poupado pelo último à experiência de alguns agravos. Não lhe sendo permitida pelo calendário das monções a imediata partida para o Reino, D. Estevão passou o resto do Inverno em Pangim, dali se deslocando posteriormente para Cochim. A seu pedido, o ouvidor-geral procedeu ao inventário dos bens de que era titular, tendo sido verificada a diminuição real da sua fortuna a partir da época em que assumira o governo do Estado da Índia.
D. Estevão da Gama chegou a Portugal em 1543, passando a ser alvo da pressão de D. João III para casar. Resistiu sempre a essa ideia, a ponto de se ter mudado para Veneza, onde permaneceu por tempo indeterminado. De novo reinstalado em Portugal, terá sido sondado para repetir a experiência de governar o Estado da Índia, mas a proposta esbarrou na sua intransigência. Faleceu em 1575, recebendo sepultura no convento da Nossa Senhora das Relíquias, na vila da Vidigueira.
Bibliografia:
COUTO, Diogo, Da Ásia, Lisboa, Livraria Sam Carlos, 1974, V, vii-ix. COSTA, João Paulo Oliveira e & Vítor Luís Gaspar Rodrigues, Portugal y Oriente. El Proyecto Indiano del Rey Juan, Madrid, Editorial Mafre, 1992. PELÚCIA, Alexandra, Martim Afonso de Sousa e a sua Linhagem: A Elite Dirigente do Império Português nos Reinados de D. João III e D. Sebastião, Lisboa, UNL-FCSH, 2007, dissertação de doutoramento policopiada. SUBRAHMANYAM, Sanjay, O Império Asiático Português, 1500-1700. Uma História Política e Económica, s.l., Difel, s.d. Registo da Casa das Índia, ed. Luciano Cordeiro, 2 vols., Lisboa, Agência Geral do Ultramar, 1954.