Data de publicação
2009
Categorias
Entradas associadas
Nascido em Lisboa, no último quartel do século XV, Duarte Barbosa foi um importante representante dos interesses portugueses nas feitorias da costa do Malabar, tendo ficado conhecido para a posteridade pela autoria do Livro de Duarte Barbosa.
Não se conhece com certeza a identidade dos seus progenitores mas sabe-se que era sobrinho de Gonçalo Gil Barbosa, que acompanhou Pedro Álvares Cabral à Índia em 1500 enquanto escrivão da armada, assumindo seguidamente a posição de feitor de Cochim.
Duarte Barbosa acompanhou o seu tio nesta viagem, iniciando neste período a sua aprendizagem do idioma Malaiala, principal língua da região do Malabar, na qual se viria a tornar reconhecido especialista. Logo em 1503 fez uso destes conhecimentos ao servir como intérprete nos contactos entre o capitão-mor D. Francisco de Albuquerque e o Rei de Cochim.
Seguidamente voltou a acompanhar o seu tio no regresso ao reino, em 1506, pondo termo a esta sua primeira passagem pela Índia.
Em Portugal foi-lhe concedida, por mercê de D. Manuel, uma escrivaninha na feitoria de Cananor, quando esta se encontrasse vaga. Assim partiu novamente para o Oriente em 1511, na armada comandada por D. Garcia de Noronha, tendo em vista assumir este cargo.
Uma vez na Índia revelou-se acérrimo opositor das políticas imperiais do governador Afonso de Albuquerque que, perante esta oposição, o impediu de assumir o cargo de primeiro-escrivão da feitoria de Cananor, relegando-o para a posição inferior de segundo-escrivão.
Numa carta ao rei D. Manuel, datada de 12 de Janeiro de 1512, Duarte Barbosa queixava-se desta situação, afirmando igualmente a sua oposição às políticas de Albuquerque, sobretudo no que concernia à conquista de Goa que considerava excessivamente dispendiosa e desnecessária. Valorizava pelo contrário as relações comerciais pacíficas, dando prioridade às feitorias do Malabar.
Nesta oposição ao governador colaborou com o denominado "grupo de Cochim", que incluía Lourenço Moreno e Gaspar Pereira, entre outros. Juntamente com estes procurou por todos os meios contrariar as intenções de Albuquerque, nomeadamente no episódio que culminou com a denúncia como espião e consequente prisão de Mateus, embaixador etíope enviado para a corte de D. Manuel.
Perante esta oposição, Afonso de Albuquerque ordenou a sua transferência para a menos importante feitoria de Calecut, no ano de 1513. A continuação da sua rebeldia levou a que, no ano seguinte, o governador ordenasse que Duarte Barbosa fosse preso e enviado para a fortaleza de Cochim. No entanto a intervenção do Samorim de Calecut conseguiu impedir o cumprimento desta ordem.
Apesar desta relação hostil Albuquerque reconhecia e recorria aos seus dotes linguísticos e à sua competência na negociação com os potentados locais.
Duarte Barbosa permaneceu em Calecut nos anos seguintes tendo, em 1515, supervisionado a construção de duas galés, mandadas armar por mercadores de Meca a troco de um pagamento de 20 mil réis.
Regressou provavelmente a Portugal em 1516, tendo sido recompensado pelos seus serviços com a escrivaninha da feitoria de Calecut, para onde tornou no ano seguinte na armada comandada por João da Silveira.
Nesta viagem de regresso à Índia encontrou a armada do novo governador Lopo Soares de Albergaria, regressada da malograda expedição ao mar Vermelho, tendo presenciado o ataque da mesma ao porto de Zeilã, no golfo de Adém.
Regressou ao seu posto na feitoria de Cananor em 1519, talvez esperando a vaga da posição de escrivão em Calecut. Só volta a ser referenciado dez anos mais tarde, novamente em Cananor, quando serviu de intérprete às negociações do governador Nuno da Cunha com o Rei local.
Terá acabado por falecer, nesta mesma cidade, entre Setembro de 1546 e Maio de 1547.
O principal marco da vida de Duarte Barbosa foi a elaboração do Livro de Duarte Barbosa, também conhecido como o Livro do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa, fruto da sua larga experiência na Índia.
Esta obra, integrando dados geográficos, etnológicos, linguísticos e económicos, foi um dos relatos mais importantes sobre o Oriente a ser escrito por um português no século XVI.
Terminada cerca de 1516 a obra não ganhou imediatamente divulgação geral mas, em 1524, foi traduzida para castelhano, no contexto da disputa pelo arquipélago das Molucas. Foi seguidamente traduzida para alemão e italiano, ainda no século XVI. O Livro de Duarte Barbosa era igualmente conhecido de Gaspar Correia, autor das Lendas da Índia, e Damião de Góis, que o citam nas suas obras.
Assim, com a sua relação de todas as regiões conhecidas pelos portugueses à época, desde a costa oriental africana ao arquipélago de Riu-Kiu a sul do Japão, a obra de Duarte Barbosa revelou-se uma das principais fontes para o conhecimento da presença portuguesa no Oriente.
Bibliografia:
BARBOSA, Duarte, O Livro de Duarte Barbosa, edição crítica e introdução de Maria Augusta da Veiga e Sousa, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, Volumes I (1996) e II (2000). GUERREIRO, Inácio e Rodrigues, Vítor Luís Gaspar, "O «Grupo de Cochim» e a oposição a Afonso de Albuquerque", in STVDIA, Lisboa, nº51, 1992, pp. 119-144.
Não se conhece com certeza a identidade dos seus progenitores mas sabe-se que era sobrinho de Gonçalo Gil Barbosa, que acompanhou Pedro Álvares Cabral à Índia em 1500 enquanto escrivão da armada, assumindo seguidamente a posição de feitor de Cochim.
Duarte Barbosa acompanhou o seu tio nesta viagem, iniciando neste período a sua aprendizagem do idioma Malaiala, principal língua da região do Malabar, na qual se viria a tornar reconhecido especialista. Logo em 1503 fez uso destes conhecimentos ao servir como intérprete nos contactos entre o capitão-mor D. Francisco de Albuquerque e o Rei de Cochim.
Seguidamente voltou a acompanhar o seu tio no regresso ao reino, em 1506, pondo termo a esta sua primeira passagem pela Índia.
Em Portugal foi-lhe concedida, por mercê de D. Manuel, uma escrivaninha na feitoria de Cananor, quando esta se encontrasse vaga. Assim partiu novamente para o Oriente em 1511, na armada comandada por D. Garcia de Noronha, tendo em vista assumir este cargo.
Uma vez na Índia revelou-se acérrimo opositor das políticas imperiais do governador Afonso de Albuquerque que, perante esta oposição, o impediu de assumir o cargo de primeiro-escrivão da feitoria de Cananor, relegando-o para a posição inferior de segundo-escrivão.
Numa carta ao rei D. Manuel, datada de 12 de Janeiro de 1512, Duarte Barbosa queixava-se desta situação, afirmando igualmente a sua oposição às políticas de Albuquerque, sobretudo no que concernia à conquista de Goa que considerava excessivamente dispendiosa e desnecessária. Valorizava pelo contrário as relações comerciais pacíficas, dando prioridade às feitorias do Malabar.
Nesta oposição ao governador colaborou com o denominado "grupo de Cochim", que incluía Lourenço Moreno e Gaspar Pereira, entre outros. Juntamente com estes procurou por todos os meios contrariar as intenções de Albuquerque, nomeadamente no episódio que culminou com a denúncia como espião e consequente prisão de Mateus, embaixador etíope enviado para a corte de D. Manuel.
Perante esta oposição, Afonso de Albuquerque ordenou a sua transferência para a menos importante feitoria de Calecut, no ano de 1513. A continuação da sua rebeldia levou a que, no ano seguinte, o governador ordenasse que Duarte Barbosa fosse preso e enviado para a fortaleza de Cochim. No entanto a intervenção do Samorim de Calecut conseguiu impedir o cumprimento desta ordem.
Apesar desta relação hostil Albuquerque reconhecia e recorria aos seus dotes linguísticos e à sua competência na negociação com os potentados locais.
Duarte Barbosa permaneceu em Calecut nos anos seguintes tendo, em 1515, supervisionado a construção de duas galés, mandadas armar por mercadores de Meca a troco de um pagamento de 20 mil réis.
Regressou provavelmente a Portugal em 1516, tendo sido recompensado pelos seus serviços com a escrivaninha da feitoria de Calecut, para onde tornou no ano seguinte na armada comandada por João da Silveira.
Nesta viagem de regresso à Índia encontrou a armada do novo governador Lopo Soares de Albergaria, regressada da malograda expedição ao mar Vermelho, tendo presenciado o ataque da mesma ao porto de Zeilã, no golfo de Adém.
Regressou ao seu posto na feitoria de Cananor em 1519, talvez esperando a vaga da posição de escrivão em Calecut. Só volta a ser referenciado dez anos mais tarde, novamente em Cananor, quando serviu de intérprete às negociações do governador Nuno da Cunha com o Rei local.
Terá acabado por falecer, nesta mesma cidade, entre Setembro de 1546 e Maio de 1547.
O principal marco da vida de Duarte Barbosa foi a elaboração do Livro de Duarte Barbosa, também conhecido como o Livro do que viu e ouviu no Oriente Duarte Barbosa, fruto da sua larga experiência na Índia.
Esta obra, integrando dados geográficos, etnológicos, linguísticos e económicos, foi um dos relatos mais importantes sobre o Oriente a ser escrito por um português no século XVI.
Terminada cerca de 1516 a obra não ganhou imediatamente divulgação geral mas, em 1524, foi traduzida para castelhano, no contexto da disputa pelo arquipélago das Molucas. Foi seguidamente traduzida para alemão e italiano, ainda no século XVI. O Livro de Duarte Barbosa era igualmente conhecido de Gaspar Correia, autor das Lendas da Índia, e Damião de Góis, que o citam nas suas obras.
Assim, com a sua relação de todas as regiões conhecidas pelos portugueses à época, desde a costa oriental africana ao arquipélago de Riu-Kiu a sul do Japão, a obra de Duarte Barbosa revelou-se uma das principais fontes para o conhecimento da presença portuguesa no Oriente.
Bibliografia:
BARBOSA, Duarte, O Livro de Duarte Barbosa, edição crítica e introdução de Maria Augusta da Veiga e Sousa, Lisboa, Instituto de Investigação Científica Tropical, Volumes I (1996) e II (2000). GUERREIRO, Inácio e Rodrigues, Vítor Luís Gaspar, "O «Grupo de Cochim» e a oposição a Afonso de Albuquerque", in STVDIA, Lisboa, nº51, 1992, pp. 119-144.