Data de publicação
2009
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Área Geográfica
Nascido em Moura, no Alentejo, cerca de 1463, Lourenço Moreno, que se destacou enquanto feitor de Cochim, entrou ao serviço da casa ducal de Viseu- Beja quando rondava os 20 anos de idade.

É natural que tenha sido este historial de serviço que motivou o seu embarque, rumo à Índia, na armada de Pedro Alvares Cabral em 1500, com a finalidade de ocupar uma escrivaninha na feitoria que deveria ser instalada em Calicut, sendo possível que fosse já então detentor do estatuto de cavaleiro da Casa Real.

Encontrando-se incapacitado, vítima de doença, aquando da chegada da armada, Lourenço Moreno não participou nos conflitos que se desenrolaram em Calicut e que impediram o estabelecimento da feitoria portuguesa nesta cidade. Foi também este o motivo que, aquando da instalação da feitoria em Cochim, o impediu de assumir o cargo de feitor para o qual havia sido nomeado, acabando por ocupar a posição de escrivão.

Em 1503, na sequência do ataque das forças do Samorim de Calecut, Lourenço Moreno destacou-se na defesa militar de Cochim. Em função deste serviço, e por provisão régia datada de 1505, foi elevado ao cargo de feitor de Cochim, que assumiu a partir de Janeiro de 1506. No entanto, a sua permanência em funções foi posta em causa pela incompatibilidade com o vice-rei, D. Francisco de Almeida, sendo afastado do cargo em 1507.

Reconduzido no posto de feitor de Cochim, após uma temporada no Reino, Lourenço Moreno regressou à Índia em 1510, capitaneando uma das naus da Armada da Índia. Após a sua chegada, tornou-se rapidamente um dos mais destacados opositores do novo governador-geral, Afonso de Albuquerque, e das suas políticas de dominação imperial, centralizada a partir de Goa. Como tal, foi parte integrante do denominado "grupo de Cochim", constituído por oficiais portugueses na costa do Malabar, que pretendiam imprimir um cariz marcadamente comercial às iniciativas portuguesas na Índia.

Na sequência deste clima de tensão interna deram-se repetidos episódios de antagonismo, tentativas de cada facção impor a sua orientação à presença portuguesa e inúmeras queixas remetidas à Coroa. No entanto, apesar de estes factos terem levado a um inquérito régio à conduta de Lourenço Moreno em 1513, nunca as circunstâncias permitiram ao governador-geral afastar o feitor de Cochim. Antes, foi o próprio Albuquerque a ser vítima dos seus opositores, na Índia e na corte, sendo que a sua substituição, e subsequente morte, beneficiou o seu rival Lourenço Moreno.

Terminando as suas funções de feitor em 1516 assumiu, por morte do anterior incumbente, Diogo Mendes de Vasconcelos, a capitania da fortaleza de Cochim, cargo que exerceu de forma descontínua entre 1517-19.

Em 1522, Lourenço Moreno regressou definitivamente ao Reino, após uma longa presença no Oriente que lhe fora extremamente lucrativa a nível pessoal, tendo sido elevado por D. João III ao estatuto de fidalgo da Casa Real e constituído um largo património, ao qual foi concedida carta de morgadio em Janeiro de 1528.

A última menção conhecida ao antigo feitor de Cochim ocorre num alvará régio datado de 1557 onde se mencionam os privilégios concedidos ao retirado e idoso Lourenço Moreno que, após o seu regresso ao reino, servira enquanto tesoureiro da Universidade de Coimbra.

Bibliografia:
PELÚCIA, Alexandra, "Lourenço Moreno, uma eminência parda em Cochim", in Descobridores do Brasil - Exploradores do Atlântico e Construtores da Índia, João Paulo Oliveira e Costa (coord.), Lisboa, SHIP, 2000, pp. 279-297. GUERREIRO, Inácio e RODRIGUES, Vítor, O "grupo de Cochim" e a oposição a Afonso de Albuquerque, S.I.: s.n. 1992.