Data de publicação
2009
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Nascido no terceiro quartel do século XV, na cidade de Lisboa, Duarte Pacheco Pereira foi um dos mais destacados protagonistas da Expansão portuguesa, devido às viagens de exploração que protagonizou, aos feitos militares no Oriente que o celebrizaram e à obra Esmeraldo de situ orbis, súmula dos seus vastos conhecimentos geográficos e cosmográficos.
Duarte Pacheco Pereira descendia de linhagens distintas da nobreza portuguesa, apesar de tanto o seu avô, Gonçalo Pacheco, tesoureiro da Casa de Ceuta e um dos comerciantes mais ricos de Lisboa à época, como o seu pai, João Pacheco, serem filhos bastardos.
Após a morte do seu pai, em combate contra os muçulmanos, entrou ao serviço da Coroa, tendo sido cavaleiro da Casa de D. João II. É ao serviço deste Rei que iniciou o seu percurso de navegador, capitaneando viagens de exploração da costa ocidental africana. Em 1488 as fontes mostram-nos Duarte Pacheco Pereira, que na sequência de uma das suas viagens de exploração quedara enfermo na ilha do Príncipe, a ser resgatado por Bartolomeu Dias, regressado da passagem do cabo da Boa Esperança.
Em 1490 figurava como membro da guarda pessoal do Rei e em 1494 encontrava-se entre os representantes escolhidos por D. João II para negociar a fixação dos limites do Tratado de Tordesilhas. Apesar de a experiência náutica e cosmográfica, que esta distinção demonstrava, ter sido mais que provavelmente fruto das viagens atlânticas que terá protagonizado, pouco se conhece de concreto sobre as mesmas. No entanto, uma das passagens mais debatidas do Esmeraldo parece indicar a sua participação numa expedição enviada por D. Manuel ao Atlântico Sul, em 1498, onde teria sido vislumbrada uma considerável massa de terra firme, potencialmente o Brasil.
Algumas fontes indicam também que terá integrado a armada de Pedro Álvares Cabral em 1500, apesar de não ter comandado nenhuma embarcação.
Certa é a sua presença na armada que rumou à costa do Malabar em 1503, sob o comando bipartido de Afonso de Albuquerque e de seu primo Francisco de Albuquerque. Nesta viagem Duarte Pacheco Pereira capitaneou uma das naus da armada de Francisco de Albuquerque, a primeira a atingir a Índia. Chegados ao porto de Cochim, que fora ocupado pelas forças rivais do Samorim de Calecut, os Portugueses conseguiram expulsar o inimigo e devolver a cidade aos seus aliados cochinenses após breves combates, tendo encetado igualmente a construção de uma fortaleza defensiva.
Carregadas as naus para a viagem de regresso ao Reino, foi decidido deixar uma pequena força militar que pudesse auxiliar Cochim perante os contínuos ataques de Calecut. Por isso foi ordenado a Duarte Pacheco Pereira que permanecesse no Oriente no comando de duas caravelas.
Assim, ao longo do ano de 1504, Duarte Pacheco Pereira liderou as forças portuguesas e cochinenses, fazendo uso de um terreno favorável e de uma artilharia superior para rechaçar as investidas das tropas do Samorim, numericamente superiores. Para mais, após esta vitória relativamente à qual o seu papel de liderança é enaltecido nas fontes, levou as suas caravelas para Sul em socorro da feitoria de Coulão, acossada pelos muçulmanos locais, aí permanecendo até à chegada da armada do capitão-mor Lopo Soares de Albergaria, em Setembro de 1504, com a qual prosseguiu os combates vitoriosos face aos rivais muçulmanos.
Tendo acompanhado a armada no seu regresso a Portugal, Duarte Pacheco Pereira viu a sua posição social consideravelmente melhorada, por via dos seus feitos militares no Oriente.
Nos anos seguintes ao seu regresso ao Reino ter-se-á ocupado da elaboração do Esmeraldo de Situ Orbis, obra que, no entanto, deixou inacabada dado que a partir de 1509 foi de novo chamado a servir a Coroa no mar. Consequentemente, em 1509, foi enviado ao Atlântico dando caça aos piratas franceses que ameaçavam a navegação portuguesa. Em 1510 capitaneou a Armada do Estreito, nas águas de Gibraltar, e no ano seguinte comandou uma frota de socorro à sitiada praça de Tânger.
Nestes anos em que foi cada vez mais encarregue de missões importantes e prestigiadas, Duarte Pacheco Pereira contraiu matrimónio com D. Antónia de Albuquerque, familiar de Afonso de Albuquerque e neta de Duarte Galvão, um dos principais expoentes da ideia imperial manuelina. Este matrimónio, que terá provavelmente ocorrido em 1512, demonstra uma vez mais a posição destacada que havia alcançado.
Em 1519, Duarte Pacheco Pereira regressou a África ao ser nomeado capitão da fortaleza de S. Jorge da Mina, num contexto político em que D. Manuel procurou reforçar o poder régio nos territórios ultramarinos. No entanto, com a morte do Rei em 1521, terminou abruptamente este período benfazejo da carreira de Duarte Pacheco Pereira. Caído em desgraça devido à nova conjuntura política, advinda da subida ao trono de D. João III, Duarte Pacheco Pereira regressou aprisionado ao Reino em 1522, detido sem acusação conhecida e com os seus bens confiscados.
Apesar de rapidamente ter sido ilibado e posto em liberdade, nunca mais na sua carreira atingiu o prestígio anterior. Os seus problemas com a Coroa prolongaram-se, obrigando-o a lutar pela restituição dos seus bens e pelo pagamento atempado da tença anual que lhe era devida. Nestas circunstâncias Duarte Pacheco Pereira chegou a mostrar-se disponível para passar ao serviço do Imperador Carlos V, facto que nunca se consumou.
Viveu em Portugal os seus últimos anos, falecendo em data desconhecida, provavelmente entre 1531 e 1533.
Se na sua época Duarte Pacheco Pereira foi sobretudo conhecido pelos seus feitos militares, mitificados pelos cronistas e cantados por poetas como Luís de Camões, tão importante como estes para a sua biografia foi a autoria do Esmeraldo de situ orbis. A obra, cuja elaboração o autor interrompeu em 1508 ficando inacabada, apenas foi publicada pela primeira vez em 1892 ficando desde então clara a sua importância, enquanto roteiro náutico e geográfico, tratado cosmográfico e relato histórico, súmula do conhecimento adquirido por Duarte Pacheco Pereira ao longo da sua existência.
Bibliografia:
MOTA, Avelino Teixeira da, "Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina", in Mare Liberum, nº I, 1990. MURTEIRA, André, "A Carreira de Duarte Pacheco Pereira", in Descobridores do Brasil - Exploradores do Atlântico e Construtores da Índia, João Paulo Oliveira e Costa (coord.), Lisboa, SHIP, 2000, pp. 299-329.
Duarte Pacheco Pereira descendia de linhagens distintas da nobreza portuguesa, apesar de tanto o seu avô, Gonçalo Pacheco, tesoureiro da Casa de Ceuta e um dos comerciantes mais ricos de Lisboa à época, como o seu pai, João Pacheco, serem filhos bastardos.
Após a morte do seu pai, em combate contra os muçulmanos, entrou ao serviço da Coroa, tendo sido cavaleiro da Casa de D. João II. É ao serviço deste Rei que iniciou o seu percurso de navegador, capitaneando viagens de exploração da costa ocidental africana. Em 1488 as fontes mostram-nos Duarte Pacheco Pereira, que na sequência de uma das suas viagens de exploração quedara enfermo na ilha do Príncipe, a ser resgatado por Bartolomeu Dias, regressado da passagem do cabo da Boa Esperança.
Em 1490 figurava como membro da guarda pessoal do Rei e em 1494 encontrava-se entre os representantes escolhidos por D. João II para negociar a fixação dos limites do Tratado de Tordesilhas. Apesar de a experiência náutica e cosmográfica, que esta distinção demonstrava, ter sido mais que provavelmente fruto das viagens atlânticas que terá protagonizado, pouco se conhece de concreto sobre as mesmas. No entanto, uma das passagens mais debatidas do Esmeraldo parece indicar a sua participação numa expedição enviada por D. Manuel ao Atlântico Sul, em 1498, onde teria sido vislumbrada uma considerável massa de terra firme, potencialmente o Brasil.
Algumas fontes indicam também que terá integrado a armada de Pedro Álvares Cabral em 1500, apesar de não ter comandado nenhuma embarcação.
Certa é a sua presença na armada que rumou à costa do Malabar em 1503, sob o comando bipartido de Afonso de Albuquerque e de seu primo Francisco de Albuquerque. Nesta viagem Duarte Pacheco Pereira capitaneou uma das naus da armada de Francisco de Albuquerque, a primeira a atingir a Índia. Chegados ao porto de Cochim, que fora ocupado pelas forças rivais do Samorim de Calecut, os Portugueses conseguiram expulsar o inimigo e devolver a cidade aos seus aliados cochinenses após breves combates, tendo encetado igualmente a construção de uma fortaleza defensiva.
Carregadas as naus para a viagem de regresso ao Reino, foi decidido deixar uma pequena força militar que pudesse auxiliar Cochim perante os contínuos ataques de Calecut. Por isso foi ordenado a Duarte Pacheco Pereira que permanecesse no Oriente no comando de duas caravelas.
Assim, ao longo do ano de 1504, Duarte Pacheco Pereira liderou as forças portuguesas e cochinenses, fazendo uso de um terreno favorável e de uma artilharia superior para rechaçar as investidas das tropas do Samorim, numericamente superiores. Para mais, após esta vitória relativamente à qual o seu papel de liderança é enaltecido nas fontes, levou as suas caravelas para Sul em socorro da feitoria de Coulão, acossada pelos muçulmanos locais, aí permanecendo até à chegada da armada do capitão-mor Lopo Soares de Albergaria, em Setembro de 1504, com a qual prosseguiu os combates vitoriosos face aos rivais muçulmanos.
Tendo acompanhado a armada no seu regresso a Portugal, Duarte Pacheco Pereira viu a sua posição social consideravelmente melhorada, por via dos seus feitos militares no Oriente.
Nos anos seguintes ao seu regresso ao Reino ter-se-á ocupado da elaboração do Esmeraldo de Situ Orbis, obra que, no entanto, deixou inacabada dado que a partir de 1509 foi de novo chamado a servir a Coroa no mar. Consequentemente, em 1509, foi enviado ao Atlântico dando caça aos piratas franceses que ameaçavam a navegação portuguesa. Em 1510 capitaneou a Armada do Estreito, nas águas de Gibraltar, e no ano seguinte comandou uma frota de socorro à sitiada praça de Tânger.
Nestes anos em que foi cada vez mais encarregue de missões importantes e prestigiadas, Duarte Pacheco Pereira contraiu matrimónio com D. Antónia de Albuquerque, familiar de Afonso de Albuquerque e neta de Duarte Galvão, um dos principais expoentes da ideia imperial manuelina. Este matrimónio, que terá provavelmente ocorrido em 1512, demonstra uma vez mais a posição destacada que havia alcançado.
Em 1519, Duarte Pacheco Pereira regressou a África ao ser nomeado capitão da fortaleza de S. Jorge da Mina, num contexto político em que D. Manuel procurou reforçar o poder régio nos territórios ultramarinos. No entanto, com a morte do Rei em 1521, terminou abruptamente este período benfazejo da carreira de Duarte Pacheco Pereira. Caído em desgraça devido à nova conjuntura política, advinda da subida ao trono de D. João III, Duarte Pacheco Pereira regressou aprisionado ao Reino em 1522, detido sem acusação conhecida e com os seus bens confiscados.
Apesar de rapidamente ter sido ilibado e posto em liberdade, nunca mais na sua carreira atingiu o prestígio anterior. Os seus problemas com a Coroa prolongaram-se, obrigando-o a lutar pela restituição dos seus bens e pelo pagamento atempado da tença anual que lhe era devida. Nestas circunstâncias Duarte Pacheco Pereira chegou a mostrar-se disponível para passar ao serviço do Imperador Carlos V, facto que nunca se consumou.
Viveu em Portugal os seus últimos anos, falecendo em data desconhecida, provavelmente entre 1531 e 1533.
Se na sua época Duarte Pacheco Pereira foi sobretudo conhecido pelos seus feitos militares, mitificados pelos cronistas e cantados por poetas como Luís de Camões, tão importante como estes para a sua biografia foi a autoria do Esmeraldo de situ orbis. A obra, cuja elaboração o autor interrompeu em 1508 ficando inacabada, apenas foi publicada pela primeira vez em 1892 ficando desde então clara a sua importância, enquanto roteiro náutico e geográfico, tratado cosmográfico e relato histórico, súmula do conhecimento adquirido por Duarte Pacheco Pereira ao longo da sua existência.
Bibliografia:
MOTA, Avelino Teixeira da, "Duarte Pacheco Pereira, capitão e governador de S. Jorge da Mina", in Mare Liberum, nº I, 1990. MURTEIRA, André, "A Carreira de Duarte Pacheco Pereira", in Descobridores do Brasil - Exploradores do Atlântico e Construtores da Índia, João Paulo Oliveira e Costa (coord.), Lisboa, SHIP, 2000, pp. 299-329.