Data de publicação
2012
Categorias
Entradas associadas
Mercador e aventureiro alemão; incentivador da construção do célebre globo terrestre que tem o seu nome; personagem polémica dentro da História dos Descobrimentos. .
Nasceu em Nuremberga na Alta Alemanha, no dia 6 de Outubro de 1459, filho de Martin Behaim von Schwarzbach e de Agnes Schopper. Os Behaim pertenciam à classe privilegiada de Nuremberga e ganharam a sua vida, como quase todos os patrícios desta cidade, com o comércio. Martin Behaim obteve uma formação mercantil nos Países Baixos (Mecheln, Antuérpia). Encontrava-se familiar e profissionalmente ligado aos Hirschvogel, uma das casas comerciais de Nuremberga que viriam a investir posteriormente no comércio das especiarias. Behaim partiu em meados de 1484 para Portugal. Em Fevereiro do ano seguinte foi armado cavaleiro em Alcáçovas por D. João II. A seguir viajou, pelo menos uma vez, para a costa ocidental de África. Não se deixa provar a sua participação numa viagem de Diogo Cão, embora seja indicada na Crónica de Nuremberga (Liber cronicarum, 1493) de Hartmann Schedel. A partir das investigações de E. G. Ravenstein parece ser mais provável uma participação de Behaim numa expedição portuguesa à costa da Guiné que teve sobretudo fins comerciais como, por exemplo, a empresa de João Afonso de Aveiro ao Benim. Permanece incerto, também, se Behaim pretendia participar na projectada expedição de Fernão Dulmo à lendária Ilha das Sete Cidades. Ainda nos anos 80 teve lugar o seu casamento com Joana de Macedo, filha do flamengo Josse van Hurtere, capitão-donatário das ilhas do Pico e Faial, e de Brites de Macedo. Do matrimónio de Behaim nasceu, no dia 6 de Abril de 1489, um filho, que recebeu o mesmo nome do pai. Em 1490 Behaim viajou de Lisboa para Nuremberga, onde ficou até 1493. Durante a sua permanência na cidade imperial foi construído o célebre Erdapfel, o mais antigo globo terrestre ainda existente, que um certo Ruprecht Kolberger fabricou, em conformidade com as informações de Behaim. Em 1493, após uma curta estada em Portugal, Behaim viajou para os Países Baixos. Por uma carta que enviou de Antuérpia a um primo de Nuremberga, em Março de 1494, transparece que nesta altura desempenhou duas funções: a de enviado de D. João II e a de representante comercial do seu sogro em negócios referentes ao açúcar. Num post scriptum a esta carta indicou os Açores como a sua futura morada. Aqui perde-se o rasto de Behaim até a alguns meses antes da sua morte. Sabe-se que se encontrava em 1507 em Lisboa, onde morreu no dia 29 de Julho, completamente empobrecido.
A história de Martin Behaim é um dos capítulos mais enigmáticos no âmbito da história das relações luso-alemãs. Misturaram-se, nos últimos 200 anos, em torno desta personagem polémica factos e lendas que distorceram a sua biografia e deixaram controvérsias não raras vezes duradouras. Os seus apologistas atribuíram-lhe, com base em algumas fontes escritas, que surgiram décadas após a sua morte, alguns méritos, como, por exemplo, o de ser um grande descobridor, amigo de Cristóvão Colombo, membro da misteriosa Junta de Matemáticos, excelente cartógrafo e cosmógrafo, que tinha introduzido em Portugal o astrolábio, a balestilha a as tábuas astronómicas do famoso matemático e astrónomo alemão Regiomontanus, do qual Behaim “se gloriáva ser discipulo” [João de Barros, Ásia (I. década, 4. liv., cap. 2)]. E. G. Ravenstein mostrou, já no início do século XX, que nenhum destes supostos méritos se deixa corroborar por falta de provas conclusivas, no que foi apoiado por Joaquim Bensaúde e outros historiadores portugueses que atribuíram a Behaim um papel insignificante na História dos Descobrimentos, o que contrastava claramente com uma historiografia alemã nacionalista que continuou a louvar as façanhas do compatriota. Apenas desde a segunda metade do século XX se nota uma tendência para relativizar o papel do mercador de Nuremberga, partindo, em geral, da voz crítica de Ravenstein.
Contudo não se pode negar que Behaim ajudou a divulgar, pelo Sacro Império Romano-Germânico, notícias ligadas aos Descobrimentos Portugueses. As informações, que transmitiu, conduziram a uma ocupação intelectual mais intensa com Portugal por parte dos humanistas alemães. O globo de Behaim, apesar de transmitir na sua generalidade ainda o mundo pré-colombiano, revela que a expansão marítima portuguesa contribuiu para uma nova imagem do mundo e conduziu a uma acesa discussão erudita, sobretudo em Nuremberga. Nesta discussão até o próprio imperador Maximiliano I tomou parte, como documenta uma carta do médico e humanista nuremberguês Hieronymus Münzer a D. João II, datada de 14.7.1493, na qual se propunha ao rei de Portugal uma viagem de descobrimento conjunta, via Ocidente, com destino a Cathay, onde se esperava encontrar as terras das especiarias. O documento prova que Behaim e Münzer partilharam a mesma ideia que Colombo tentava levar a cabo a partir de 1492. Não se sabe ao certo em quantas expedições marítimas Behaim esteve presente mas, pelas indicações que se encontram no globo e noutras fontes próximas dele, deve ter visitado o litoral do Golfo da Guiné e participado na luta contra os “infiéis”. Conheceu também o arquipélago dos Açores, onde o prendiam laços familiares. Quando viveu em Portugal continental encontramos Behaim na corte de D. João II e em contacto com navegadores portugueses. Através de Diogo Gomes de Sintra tomou conhecimento da história do descobrimento da Guiné, como mostra o denominado Manuscrito Valentim Fernandes, que inclui o documento intitulado «De prima inuentione Guinee», também conhecido por Relato Behaim-Gomes. Independentemente da avaliação do seu papel nos Descobrimentos, é de constatar que Martin Behaim personifica a primeira geração de comerciantes da Alta Alemanha estabelecidos em Portugal, que se viriam a tornar tão importantes para o desenvolvimento das relações luso-alemãs no século XVI.
Bibliografia:
RAVENSTEIN, Ernest George, Martin Behaim, his Life and his Globe, London, Philip & son, 1908; POHLE, Jürgen, Martin Behaim (Martinho da Boémia): Factos, Lendas e Controvérsias, Coimbra, CIEG/ MinervaCoimbra, 2007.
Nasceu em Nuremberga na Alta Alemanha, no dia 6 de Outubro de 1459, filho de Martin Behaim von Schwarzbach e de Agnes Schopper. Os Behaim pertenciam à classe privilegiada de Nuremberga e ganharam a sua vida, como quase todos os patrícios desta cidade, com o comércio. Martin Behaim obteve uma formação mercantil nos Países Baixos (Mecheln, Antuérpia). Encontrava-se familiar e profissionalmente ligado aos Hirschvogel, uma das casas comerciais de Nuremberga que viriam a investir posteriormente no comércio das especiarias. Behaim partiu em meados de 1484 para Portugal. Em Fevereiro do ano seguinte foi armado cavaleiro em Alcáçovas por D. João II. A seguir viajou, pelo menos uma vez, para a costa ocidental de África. Não se deixa provar a sua participação numa viagem de Diogo Cão, embora seja indicada na Crónica de Nuremberga (Liber cronicarum, 1493) de Hartmann Schedel. A partir das investigações de E. G. Ravenstein parece ser mais provável uma participação de Behaim numa expedição portuguesa à costa da Guiné que teve sobretudo fins comerciais como, por exemplo, a empresa de João Afonso de Aveiro ao Benim. Permanece incerto, também, se Behaim pretendia participar na projectada expedição de Fernão Dulmo à lendária Ilha das Sete Cidades. Ainda nos anos 80 teve lugar o seu casamento com Joana de Macedo, filha do flamengo Josse van Hurtere, capitão-donatário das ilhas do Pico e Faial, e de Brites de Macedo. Do matrimónio de Behaim nasceu, no dia 6 de Abril de 1489, um filho, que recebeu o mesmo nome do pai. Em 1490 Behaim viajou de Lisboa para Nuremberga, onde ficou até 1493. Durante a sua permanência na cidade imperial foi construído o célebre Erdapfel, o mais antigo globo terrestre ainda existente, que um certo Ruprecht Kolberger fabricou, em conformidade com as informações de Behaim. Em 1493, após uma curta estada em Portugal, Behaim viajou para os Países Baixos. Por uma carta que enviou de Antuérpia a um primo de Nuremberga, em Março de 1494, transparece que nesta altura desempenhou duas funções: a de enviado de D. João II e a de representante comercial do seu sogro em negócios referentes ao açúcar. Num post scriptum a esta carta indicou os Açores como a sua futura morada. Aqui perde-se o rasto de Behaim até a alguns meses antes da sua morte. Sabe-se que se encontrava em 1507 em Lisboa, onde morreu no dia 29 de Julho, completamente empobrecido.
A história de Martin Behaim é um dos capítulos mais enigmáticos no âmbito da história das relações luso-alemãs. Misturaram-se, nos últimos 200 anos, em torno desta personagem polémica factos e lendas que distorceram a sua biografia e deixaram controvérsias não raras vezes duradouras. Os seus apologistas atribuíram-lhe, com base em algumas fontes escritas, que surgiram décadas após a sua morte, alguns méritos, como, por exemplo, o de ser um grande descobridor, amigo de Cristóvão Colombo, membro da misteriosa Junta de Matemáticos, excelente cartógrafo e cosmógrafo, que tinha introduzido em Portugal o astrolábio, a balestilha a as tábuas astronómicas do famoso matemático e astrónomo alemão Regiomontanus, do qual Behaim “se gloriáva ser discipulo” [João de Barros, Ásia (I. década, 4. liv., cap. 2)]. E. G. Ravenstein mostrou, já no início do século XX, que nenhum destes supostos méritos se deixa corroborar por falta de provas conclusivas, no que foi apoiado por Joaquim Bensaúde e outros historiadores portugueses que atribuíram a Behaim um papel insignificante na História dos Descobrimentos, o que contrastava claramente com uma historiografia alemã nacionalista que continuou a louvar as façanhas do compatriota. Apenas desde a segunda metade do século XX se nota uma tendência para relativizar o papel do mercador de Nuremberga, partindo, em geral, da voz crítica de Ravenstein.
Contudo não se pode negar que Behaim ajudou a divulgar, pelo Sacro Império Romano-Germânico, notícias ligadas aos Descobrimentos Portugueses. As informações, que transmitiu, conduziram a uma ocupação intelectual mais intensa com Portugal por parte dos humanistas alemães. O globo de Behaim, apesar de transmitir na sua generalidade ainda o mundo pré-colombiano, revela que a expansão marítima portuguesa contribuiu para uma nova imagem do mundo e conduziu a uma acesa discussão erudita, sobretudo em Nuremberga. Nesta discussão até o próprio imperador Maximiliano I tomou parte, como documenta uma carta do médico e humanista nuremberguês Hieronymus Münzer a D. João II, datada de 14.7.1493, na qual se propunha ao rei de Portugal uma viagem de descobrimento conjunta, via Ocidente, com destino a Cathay, onde se esperava encontrar as terras das especiarias. O documento prova que Behaim e Münzer partilharam a mesma ideia que Colombo tentava levar a cabo a partir de 1492. Não se sabe ao certo em quantas expedições marítimas Behaim esteve presente mas, pelas indicações que se encontram no globo e noutras fontes próximas dele, deve ter visitado o litoral do Golfo da Guiné e participado na luta contra os “infiéis”. Conheceu também o arquipélago dos Açores, onde o prendiam laços familiares. Quando viveu em Portugal continental encontramos Behaim na corte de D. João II e em contacto com navegadores portugueses. Através de Diogo Gomes de Sintra tomou conhecimento da história do descobrimento da Guiné, como mostra o denominado Manuscrito Valentim Fernandes, que inclui o documento intitulado «De prima inuentione Guinee», também conhecido por Relato Behaim-Gomes. Independentemente da avaliação do seu papel nos Descobrimentos, é de constatar que Martin Behaim personifica a primeira geração de comerciantes da Alta Alemanha estabelecidos em Portugal, que se viriam a tornar tão importantes para o desenvolvimento das relações luso-alemãs no século XVI.
Bibliografia:
RAVENSTEIN, Ernest George, Martin Behaim, his Life and his Globe, London, Philip & son, 1908; POHLE, Jürgen, Martin Behaim (Martinho da Boémia): Factos, Lendas e Controvérsias, Coimbra, CIEG/ MinervaCoimbra, 2007.