Restaurada a casa de Bragança por D. Manuel, o seu 4º titular, D. Jaime (cunhado do rei e duque entre 1498-1532), decide a construção de uma nova morada em Vila Viçosa cujas obras arrancaram (em consonância com as do Paço da Ribeira) em 1501. Desta campanha resulta a construção da parte mais antiga do paço. Prosseguindo esta mesma política de emulação com a família real, D. Jaime empenha-se no casamento da sua filha Isabel com D. Duarte, filho D. Manuel e portanto irmão de D. João III, enlace que foi concretizado pelo 5º duque, D. Teodósio I (duque entre 1532-63), em 1537. É neste contexto que se decide a segunda grande campanha de construção de que resulta parte da fachada de aparato do paço, classicizante, que dá para o Terreiro. Finalmente, uma terceira campanha de obras, que ampliou (em grau ainda discutido) desta ala do palácio, foi encomendada por D. Teodósio II (duque entre 1583 e 1630). O aspecto que o paço hoje tem resulta, essencialmente, destes três momentos construtivos.
Para além de ter sido morada da mais importante família da nobreza portuguesa (até esta se tornar régia), em múltiplas instâncias protagonista maior da vida dos domínios ultramarinos da coroa, o Paço de Vila Viçosa liga-se ainda, e de forma directa, à história do império português através do programa pictórico que decora a sua escadaria principal, onde se representa a tomada de Azamor.
A caixa da nova escada, de formato chamado imperial (caixa interior ao edifício com rampa central, patamar, e duas rampas simétricas), não muito frequente em Portugal, anuncia a ambição do conjunto, complementada pelo programa fresquista. Nele representa-se um dos sucessos da política marroquina de D. Manuel e um dos grandes momentos da construção identitária dos Bragança, a tomada da praça norte-africana de Azamor, em 1513, por um exército conduzido pelo duque D. Jaime. A casa de Bragança tinha então sido recentemente restaurada pelo monarca que assim entregava ao duque o comando de uma importante expedição de que este regressou bem sucedido. O ciclo pictórico organiza-se em três registos, correspondendo a outros tantos tempos da acção: desembarque das tropas portuguesas em Azamor; preparação do cerco; cerco da praça.
De acordo com o testemunho do escrivão da visita do cardeal Alexandrino ao paço ducal (1572), a escada nobre já então ostentava decoração mural celebrando feitos militares protagonizados pelo duque D. Jaime. No entanto, a historiografia moderna tem preferido associar a construção da escadaria imperial que hoje lá está, assim como o respectivo programa pictórico, à campanha devida ao duque D. Teodósio II. As obras arquitectónicas estiveram originalmente a cargo de Nicolau de Frias, sendo depois continuadas por Pedro Vaz Pereira e Manuel Pereira Alvenéo. O ciclo de frescos foi iniciado em 1602, às vésperas do casamento de D. Teodósio com D. Ana de Velasco y Girón. Entre os artistas que trabalharam nesta decoração destaque-se André Peres (pintor ducal, nascido em Almada, c. 1570; activo em Vila Viçosa entre 1594-1630), autor das pinturas aqui em causa.
Bibliografia:
TEIXEIRA, José, O Paço Ducal de Vila Viçosa. Sua Arquitectura e Suas Colecções, Lisboa, Fundação da Casa de Bragança, 1983; Monumentos, 6 (dossier dedicado ao Paço Ducal de Vila Viçosa), 1997; SERRÃO, Vitor, "O Parnaso pictórico. Mitologia, fábula e alegoria moral nas decorações a fresco no paço de Vila Viçosa (1550-1630)", Monumentos, 27, 2007, pp. 66-81.
Artigo patrocinado pela Fundação Casa de Bragança.