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2009
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A importância de Diu residiu na sua magnífica posição estratégica na península do Gujarate, na costa noroeste da Índia, que permitia controlar a navegação e o comércio para o golfo Pérsico, o mar Vermelho e o Índico oriental. A crescente influência dos portugueses na costa do Malabar fez aumentar a importância económica de Diu, na posse dos islamitas. Diu era uma das posições mais fortes no caminho da navegação arábica e detinha praticamente o monopólio do comércio com Malaca, porto que fazia a ligação dos produtos do Extremo Oriente com a Índia, e que foi conquistado, em 1511, por Afonso de Albuquerque.
O território de Diu compreendia a pequena ilha do mesmo nome, com cerca de 15 Km de comprimento por 5 Km de largura máxima, e ainda a aldeia de Gogolá, com apenas 2 Km2, situada na terra firme e da qual a ilha se encontra separada pelo rio Chassi. Na ponta leste fica a cidade, separada do resto da ilha por um canal ao longo do qual corre uma enorme muralha de origem muçulmana. D. João de Castro reparou a fortaleza e ampliouR08;a com uma muralha com 8 metros de espessura e cerca de 280 de extensão. Convém, no entanto, assinalar que da primitiva fortaleza de Diu defendida por António Silveira e João Mascarenhas, em 1538, pouco ou nada resta. Da que foi restaurada e que resistiu ao 2º cerco, em 1546, subsiste apenas o baluarte da entrada. Quase tudo o que hoje se pode ver da fortaleza de Diu é produto de vários restauros e acrescentos realizados durante os séculos XVII e XVIII. A cerca de 25 Km a leste da ilha de Diu ficava Simbor, também conhecida como Forte do Mar ou PaniR08;Kote, um minúsculo território de cerca de 1 km2 que se resumia a uma lha fortificada e duas faixas de terreno separadas por um esteiro.
Em Diu, tal como ocorria em outras praças portuguesas do antigo Estado da Índia, concentravamR08;se os moradores portugueses, soldados, funcionários e «casados». Sabemos que no final do século XVI viveriam em Diu pouco mais de 200 famílias de origem portuguesa, e uma população muçulmana que poderia crescer até os 2000 residentes. No início do século XVII, o número de hindus residentes podia chegar aos quatro ou cinco mil habitantes. Um século mais tarde, em 1720, constatamos através dos dados disponíveis no Arquivo Histórico Ultramarino que o pólo urbano de Diu e as aldeias de Gogolá, Dangavarim, Brancavará e Bunxivará totalizavam cerca de 1.900 habitações, albergando perto de 6.500 moradores gujarates. Os hindus, parses e jainas representavam 90,1% da população indiana, enquanto 9,8% eram muçulmanos. Nessa mesma data época a cidade de Diu contava com 4.842 moradores não católicos. Se se adicionar a este número o dos cristãos aí residentes em 1722 constataR08;se que existiria uma população urbana de 5.271 indivíduos. Finalmente, já no século XX, de acordo com os elementos estatísticos coligidos por Raquel Soeiro de Brito, parece poder concluirR08;se que houve uma certa estagnação demográfica na cidade de Diu, na medida em que o total da população residente na cidade era de apenas 5.200 indivíduos, incluindo hindus, muçulmanos e católicos.
Na pequena cidade de Diu encontravamR08;se a Igreja Matriz de São Tomé, a Misericórdia, o hospital e uma cisterna, edifícios que caíram em ruína na primeira metade do século XIX. Hoje apenas encontramos estruturas bastante modificadas, construções em ruínas, monumentos funerários, paióis, edifícios que foram servindo de armazéns, instalações militares e prisões. Diante da fortaleza podemos ver o colégio de S. Paulo, construída pelos jesuítas, entre 1600 e 1615, e, mais tarde transformada em Sé. Dominicanos, Capuchos e Carmelitas também construíram suas igrejas mas apenas resta a Matriz de São Tomé, actualmente adaptada a museu histórico. Fora da zona da fortaleza fica a cidade indígena retalhada em bairros distintos, consoante os seus moradores fossem muçulmanos ou hindus, estando estes agrupados em castas, que, geralmente, correspondiam a diferentes profissões. Mais distante da cidade, encontravaR08;se um conjunto de pequenas aldeias: Fodão, Malala, Dangavarim, Nagoá, Jasoatraque, Brancavará e Bunxivará.
Do ponto de vista histórico a primeira grande acção portuguesa em Diu foi cometida por D. Francisco de Almeida quando derrotou a forte armada Mameluca. Esta batalha ocorrida em 1509 e considerada por Saturnino Monteiro como uma das mais simbólicas da História da Marinha Portuguesa e «uma das raras batalhas navais em que a armada vencida foi totalmente aniquilada», teve antecedentes que ainda que sucintamente importa conhecer. Em Agosto de 1507 entrou no oceano Índico uma armada de Mamelucos vinda do Egipto, composta por quatro navios com artilharia e guarnição turca, comandada pelo Emir Hussein alR08; Kürdï, que os nossos cronistas designavam por MirR08;Hocem. Em Março de 1508, a esquadra de MirR08;Hocem reforçada com a ajuda das fustas do capitão de Diu, Malik Aiyaz, dirigiuR08;se a Chaul onde se encontrava a armada portuguesa da Índia sob o comando de D. Lourenço de Almeida. Teve então lugar uma encarniçada batalha em que D. Lourenço de Almeida perdeu a vida e ambas as armadas sofreram danos significativos, o que levou a que a dos Mamelucos regressasse a Diu e a portuguesa procurasse protecção em Cochim. A notícia da morte de D. Lourenço enfureceu o seu pai, o ViceR08;rei da Índia D. Francisco de Almeida. No entanto, a monção aproximavaR08;se e a vingança de tal afronta teria que esperar mais uns meses, até que o tempo o permitisse. A punição darR08;seR08;ia no ano seguinte, em 1509. Deixando de lado todos os passos preparativos da armada e os diversos episódios de guerra descritos em detalhe por Saturnino Monteiro, importa aqui reter que Francisco de Almeida, desrespeitando as disposições reais decidiu dar combate aos Rumes (denominação que os cronistas davam aos turcos) antes de entregar o governo ao ViceR08;rei Afonso de Albuquerque, entretanto nomeado. Os Rumes foram desbaratados e postos em fuga na famosa batalha de Diu.
Afonso de Albuquerque diligenciou ainda nesse mesmo ano a entrega de Diu mas apenas obteve de Malik Aiyaz autorização para a construção de uma casa que serviria de feitoria, para a qual elegeu por feitor Fernão Martins Evangelho.
Até 1533 foram várias as investidas para conquistar Diu: em 1521, por Diogo Lopes de Sequeira, em 1523 e em 1531, por D. Nuno da Cunha. Todas elas falharam. Em 1534, o sultão do Gujarate, Bahadur Shah, atemorizado pelo Grão Mogol, Humayun, pediu auxílio aos Portugueses, permitindo em troca a construção de uma fortaleza. Logo em 1535 começaram as obras da referida fortaleza. Mais tarde o sultão Bahadur quis anular aquela concessão, mas foi obrigado a ceder, acabando por morrer na refrega sob as armas dos homens de Nuno da Cunha.
Em 1538 dáR08;se o primeiro cerco de Diu, em que os portugueses, comandados por António da Silveira, conseguem resistir e suportar todas as investidas. Em 1546, era ViceR08;rei D. João de Castro, dáR08;se o segundo cerco de Diu, ainda mais intenso e brutal que o anterior. Desta vez a armada que acorreu em socorro da praçaR08;forte destroçou as forças muçulmanas. Após este bloqueio levantouR08;se em Diu um imponente sistema defensivo, que ainda hoje provoca uma enorme perplexidade e deslumbre pela sua imponência.
É impossível entender a importância económica e a influência de Diu no controlo e domínio da navegação e do comércio que se fazia com o Mar Vermelho, com o Golfo Pérsico e com a costa Malabar sem destacar a relevância da sua localização na grande e rica região do noroeste do subR08;continente indiano que é o Gujarate.
Desde tempos muito remotos, o Gujarate foi uma das províncias que desempenhou um papel relevante nas ligações comerciais ultramarinas através do Oceano Índico. Aí desenvolveuR08;se uma notável indústria têxtil em torno da qual cresceram outras manufacturas que produziam um diversificado conjunto de mercadorias destinadas a mercados tão longínquos como os sertões africanos, a ocidente, ou a Insulíndia, a oriente. Como contrapartida da exportação destes produtos manufacturados [35; nomeadamente tecidos de luxo, tapetes, jóias, perfumes, e objectos de couro e marfim [35; convergiam ao Gujarate grandes quantidades de matérias-primas e especiarias.
Esta especialização manufactureira e comercial levou ao surgimento de importantes cidades portuárias onde prosperavam diversas castas de mercadores, banqueiros e marinheiros que estavam envolvidos nessas actividades. O tecido económico e social de Diu estava assente numa coerente rede de comunicações dominada pelos baneanes, na qual circulavam bens e pessoas de culturas diferentes e que assegurava um contacto estreito com diversos portos do Kathiawar e do golfo de Cambaia, relativamente próximos, outros do Sinde e de Omã, a distância já razoável, e outros ainda mais distantes, localizados no mar Vermelho e na costa oriental africana.
Como atrás foi referido quem detivesse o domínio político e militar de Diu estava em condições de controlar as rotas comerciais transoceânicas e de passageiros que se deslocavam em peregrinação a Meca.
O movimento portuário setecentista, resultado da actividade de uma rede de comércio interregional muito antiga, ainda denotava algum dinamismo.
As trocas comerciais com mercadores de localidades situadas a curta distância eram frequentes. Ao longo do ano chegavam ao porto de Diu navios vindos de quase todos os portos do Gujarate, carregados com dois tipos de mercadorias: os comestíveis para consumo quotidiano, nomeadamente, arroz de várias qualidades, cocos, areca branca, pimenta, jagra, trigo, café, azeite, manteiga e legumes; e as matériasR08;primas necessárias às manufacturas da praça, nomeadamente calaim, estanho, linhas e tecidos crus e outros tipos de panos adequados ao comércio com a África Oriental. Esses navios retornavam aos seus portos de origem carregados com dentes de marfim, inteiros ou serrados em manilhas, provenientes da costa oriental africana.
De Mascate, Macala, Cachem (Kutch) e de Mangalor, portos localizados a distância intermédia, importavaR08;se goma, incenso, café, areca, sene, frutos secos, pedras preciosas e patacas. De paragens um pouco mais distantes, como Jeddá, Moca e Moçambique, chegavam escravos, marfim, carapaça de tartaruga, patacas espanholas, ouro, pontas de abada, cauril, café, açúcar, papel e breu. Para estes portos do mar Vermelho e da costa africana viajavam os navios dos baneanes de Diu com toda a espécie de panaria e outros géneros miúdos.
A partir do século XVIII, a importância estratégica de Diu foi declinando gradualmente passando a ser uma sombra da sua dimensão comercial até ficar reduzida a um local de inquestionável valor histórico e de grande interesse para o estudo da arquitectura militar. Diu permaneceria sob domínio português até 1961.
Talvez por essa razão se tenha a convicção que Diu foi um símbolo da insubmissão e da persistência, e que a sua fortaleza foi desenhada para perdurar. Foi, também, seguramente por ser considerada uma das mais harmoniosas e imponentes fortificações construídas pelos portugueses, que mereceu ser escolhida para fazer parte das «sete maravilhas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo».
Bibliografia:
Fontes: A.H.U., Índia, Maço 22, (9), 20.03.1726. A.H.U., Índia, cx. 46, doc. 50, 23.11.1720. COUTINHO, Lopo de Sousa, O primeiro cerco de Diu, pref. de Luís de Albuquerque, Edições Alfa, Biblioteca da Expansão Portuguesa, 41, Lisboa, 1989. BAIÃO, António, História quinhentista (inédita) do segundo cêrco de Dio ilustrada com a correspondência original, também inédita, de D. João de Castro, D. João de Mascarenhas, e outros [autor provável Leonardo Nunes] pub. e pref. por António Baião ; [ed. lit.] Academia das Sciencias de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925; MATOS, Artur Teodoro de, O Tombo de Diu R08; 1592, CNCDP, Lisboa, 1999. Estudos: ANTUNES, Luís Frederico Dias, «Diu. Espaços e quotidianos», in Os Espaços de um Império. Estudos, CNCDP, Lisboa, 1999. IDEM, «Diu, a actividade comercial de um pequeno porto do Guzerate (1680R08;1800): os documentos portugueses», in Sources européennes pour le Gujarat, Moyen Orient & Océan Indien XVR08;XIX s., Société d'Histoire de l'Orient, 10, Paris, 1998. QUADROS, Jerónimo, Diu: apontamentos para a História e Chorographia, Nova Goa, 1899. MENDES, A. Lopes, A Índia Portugueza, Lisboa, Imprensa Nacional, 1886. PEREIRA, A. B. de Bragança, «Os Portugueses em Diu», Separata de O Oriente Português, Bastorá, 1938. MONTEIRO, Armando Saturnino, Batalhas e Combates da marinha Portuguesa, Sá da Costa, Lisboa, 1989. BRITO, Raquel Soeiro de, «O Meio e os Homens nas Províncias do Norte», in Mare Liberum, 9, CNCDP, Julho, 1995.
O território de Diu compreendia a pequena ilha do mesmo nome, com cerca de 15 Km de comprimento por 5 Km de largura máxima, e ainda a aldeia de Gogolá, com apenas 2 Km2, situada na terra firme e da qual a ilha se encontra separada pelo rio Chassi. Na ponta leste fica a cidade, separada do resto da ilha por um canal ao longo do qual corre uma enorme muralha de origem muçulmana. D. João de Castro reparou a fortaleza e ampliouR08;a com uma muralha com 8 metros de espessura e cerca de 280 de extensão. Convém, no entanto, assinalar que da primitiva fortaleza de Diu defendida por António Silveira e João Mascarenhas, em 1538, pouco ou nada resta. Da que foi restaurada e que resistiu ao 2º cerco, em 1546, subsiste apenas o baluarte da entrada. Quase tudo o que hoje se pode ver da fortaleza de Diu é produto de vários restauros e acrescentos realizados durante os séculos XVII e XVIII. A cerca de 25 Km a leste da ilha de Diu ficava Simbor, também conhecida como Forte do Mar ou PaniR08;Kote, um minúsculo território de cerca de 1 km2 que se resumia a uma lha fortificada e duas faixas de terreno separadas por um esteiro.
Em Diu, tal como ocorria em outras praças portuguesas do antigo Estado da Índia, concentravamR08;se os moradores portugueses, soldados, funcionários e «casados». Sabemos que no final do século XVI viveriam em Diu pouco mais de 200 famílias de origem portuguesa, e uma população muçulmana que poderia crescer até os 2000 residentes. No início do século XVII, o número de hindus residentes podia chegar aos quatro ou cinco mil habitantes. Um século mais tarde, em 1720, constatamos através dos dados disponíveis no Arquivo Histórico Ultramarino que o pólo urbano de Diu e as aldeias de Gogolá, Dangavarim, Brancavará e Bunxivará totalizavam cerca de 1.900 habitações, albergando perto de 6.500 moradores gujarates. Os hindus, parses e jainas representavam 90,1% da população indiana, enquanto 9,8% eram muçulmanos. Nessa mesma data época a cidade de Diu contava com 4.842 moradores não católicos. Se se adicionar a este número o dos cristãos aí residentes em 1722 constataR08;se que existiria uma população urbana de 5.271 indivíduos. Finalmente, já no século XX, de acordo com os elementos estatísticos coligidos por Raquel Soeiro de Brito, parece poder concluirR08;se que houve uma certa estagnação demográfica na cidade de Diu, na medida em que o total da população residente na cidade era de apenas 5.200 indivíduos, incluindo hindus, muçulmanos e católicos.
Na pequena cidade de Diu encontravamR08;se a Igreja Matriz de São Tomé, a Misericórdia, o hospital e uma cisterna, edifícios que caíram em ruína na primeira metade do século XIX. Hoje apenas encontramos estruturas bastante modificadas, construções em ruínas, monumentos funerários, paióis, edifícios que foram servindo de armazéns, instalações militares e prisões. Diante da fortaleza podemos ver o colégio de S. Paulo, construída pelos jesuítas, entre 1600 e 1615, e, mais tarde transformada em Sé. Dominicanos, Capuchos e Carmelitas também construíram suas igrejas mas apenas resta a Matriz de São Tomé, actualmente adaptada a museu histórico. Fora da zona da fortaleza fica a cidade indígena retalhada em bairros distintos, consoante os seus moradores fossem muçulmanos ou hindus, estando estes agrupados em castas, que, geralmente, correspondiam a diferentes profissões. Mais distante da cidade, encontravaR08;se um conjunto de pequenas aldeias: Fodão, Malala, Dangavarim, Nagoá, Jasoatraque, Brancavará e Bunxivará.
Do ponto de vista histórico a primeira grande acção portuguesa em Diu foi cometida por D. Francisco de Almeida quando derrotou a forte armada Mameluca. Esta batalha ocorrida em 1509 e considerada por Saturnino Monteiro como uma das mais simbólicas da História da Marinha Portuguesa e «uma das raras batalhas navais em que a armada vencida foi totalmente aniquilada», teve antecedentes que ainda que sucintamente importa conhecer. Em Agosto de 1507 entrou no oceano Índico uma armada de Mamelucos vinda do Egipto, composta por quatro navios com artilharia e guarnição turca, comandada pelo Emir Hussein alR08; Kürdï, que os nossos cronistas designavam por MirR08;Hocem. Em Março de 1508, a esquadra de MirR08;Hocem reforçada com a ajuda das fustas do capitão de Diu, Malik Aiyaz, dirigiuR08;se a Chaul onde se encontrava a armada portuguesa da Índia sob o comando de D. Lourenço de Almeida. Teve então lugar uma encarniçada batalha em que D. Lourenço de Almeida perdeu a vida e ambas as armadas sofreram danos significativos, o que levou a que a dos Mamelucos regressasse a Diu e a portuguesa procurasse protecção em Cochim. A notícia da morte de D. Lourenço enfureceu o seu pai, o ViceR08;rei da Índia D. Francisco de Almeida. No entanto, a monção aproximavaR08;se e a vingança de tal afronta teria que esperar mais uns meses, até que o tempo o permitisse. A punição darR08;seR08;ia no ano seguinte, em 1509. Deixando de lado todos os passos preparativos da armada e os diversos episódios de guerra descritos em detalhe por Saturnino Monteiro, importa aqui reter que Francisco de Almeida, desrespeitando as disposições reais decidiu dar combate aos Rumes (denominação que os cronistas davam aos turcos) antes de entregar o governo ao ViceR08;rei Afonso de Albuquerque, entretanto nomeado. Os Rumes foram desbaratados e postos em fuga na famosa batalha de Diu.
Afonso de Albuquerque diligenciou ainda nesse mesmo ano a entrega de Diu mas apenas obteve de Malik Aiyaz autorização para a construção de uma casa que serviria de feitoria, para a qual elegeu por feitor Fernão Martins Evangelho.
Até 1533 foram várias as investidas para conquistar Diu: em 1521, por Diogo Lopes de Sequeira, em 1523 e em 1531, por D. Nuno da Cunha. Todas elas falharam. Em 1534, o sultão do Gujarate, Bahadur Shah, atemorizado pelo Grão Mogol, Humayun, pediu auxílio aos Portugueses, permitindo em troca a construção de uma fortaleza. Logo em 1535 começaram as obras da referida fortaleza. Mais tarde o sultão Bahadur quis anular aquela concessão, mas foi obrigado a ceder, acabando por morrer na refrega sob as armas dos homens de Nuno da Cunha.
Em 1538 dáR08;se o primeiro cerco de Diu, em que os portugueses, comandados por António da Silveira, conseguem resistir e suportar todas as investidas. Em 1546, era ViceR08;rei D. João de Castro, dáR08;se o segundo cerco de Diu, ainda mais intenso e brutal que o anterior. Desta vez a armada que acorreu em socorro da praçaR08;forte destroçou as forças muçulmanas. Após este bloqueio levantouR08;se em Diu um imponente sistema defensivo, que ainda hoje provoca uma enorme perplexidade e deslumbre pela sua imponência.
É impossível entender a importância económica e a influência de Diu no controlo e domínio da navegação e do comércio que se fazia com o Mar Vermelho, com o Golfo Pérsico e com a costa Malabar sem destacar a relevância da sua localização na grande e rica região do noroeste do subR08;continente indiano que é o Gujarate.
Desde tempos muito remotos, o Gujarate foi uma das províncias que desempenhou um papel relevante nas ligações comerciais ultramarinas através do Oceano Índico. Aí desenvolveuR08;se uma notável indústria têxtil em torno da qual cresceram outras manufacturas que produziam um diversificado conjunto de mercadorias destinadas a mercados tão longínquos como os sertões africanos, a ocidente, ou a Insulíndia, a oriente. Como contrapartida da exportação destes produtos manufacturados [35; nomeadamente tecidos de luxo, tapetes, jóias, perfumes, e objectos de couro e marfim [35; convergiam ao Gujarate grandes quantidades de matérias-primas e especiarias.
Esta especialização manufactureira e comercial levou ao surgimento de importantes cidades portuárias onde prosperavam diversas castas de mercadores, banqueiros e marinheiros que estavam envolvidos nessas actividades. O tecido económico e social de Diu estava assente numa coerente rede de comunicações dominada pelos baneanes, na qual circulavam bens e pessoas de culturas diferentes e que assegurava um contacto estreito com diversos portos do Kathiawar e do golfo de Cambaia, relativamente próximos, outros do Sinde e de Omã, a distância já razoável, e outros ainda mais distantes, localizados no mar Vermelho e na costa oriental africana.
Como atrás foi referido quem detivesse o domínio político e militar de Diu estava em condições de controlar as rotas comerciais transoceânicas e de passageiros que se deslocavam em peregrinação a Meca.
O movimento portuário setecentista, resultado da actividade de uma rede de comércio interregional muito antiga, ainda denotava algum dinamismo.
As trocas comerciais com mercadores de localidades situadas a curta distância eram frequentes. Ao longo do ano chegavam ao porto de Diu navios vindos de quase todos os portos do Gujarate, carregados com dois tipos de mercadorias: os comestíveis para consumo quotidiano, nomeadamente, arroz de várias qualidades, cocos, areca branca, pimenta, jagra, trigo, café, azeite, manteiga e legumes; e as matériasR08;primas necessárias às manufacturas da praça, nomeadamente calaim, estanho, linhas e tecidos crus e outros tipos de panos adequados ao comércio com a África Oriental. Esses navios retornavam aos seus portos de origem carregados com dentes de marfim, inteiros ou serrados em manilhas, provenientes da costa oriental africana.
De Mascate, Macala, Cachem (Kutch) e de Mangalor, portos localizados a distância intermédia, importavaR08;se goma, incenso, café, areca, sene, frutos secos, pedras preciosas e patacas. De paragens um pouco mais distantes, como Jeddá, Moca e Moçambique, chegavam escravos, marfim, carapaça de tartaruga, patacas espanholas, ouro, pontas de abada, cauril, café, açúcar, papel e breu. Para estes portos do mar Vermelho e da costa africana viajavam os navios dos baneanes de Diu com toda a espécie de panaria e outros géneros miúdos.
A partir do século XVIII, a importância estratégica de Diu foi declinando gradualmente passando a ser uma sombra da sua dimensão comercial até ficar reduzida a um local de inquestionável valor histórico e de grande interesse para o estudo da arquitectura militar. Diu permaneceria sob domínio português até 1961.
Talvez por essa razão se tenha a convicção que Diu foi um símbolo da insubmissão e da persistência, e que a sua fortaleza foi desenhada para perdurar. Foi, também, seguramente por ser considerada uma das mais harmoniosas e imponentes fortificações construídas pelos portugueses, que mereceu ser escolhida para fazer parte das «sete maravilhas de origem portuguesa espalhadas pelo mundo».
Bibliografia:
Fontes: A.H.U., Índia, Maço 22, (9), 20.03.1726. A.H.U., Índia, cx. 46, doc. 50, 23.11.1720. COUTINHO, Lopo de Sousa, O primeiro cerco de Diu, pref. de Luís de Albuquerque, Edições Alfa, Biblioteca da Expansão Portuguesa, 41, Lisboa, 1989. BAIÃO, António, História quinhentista (inédita) do segundo cêrco de Dio ilustrada com a correspondência original, também inédita, de D. João de Castro, D. João de Mascarenhas, e outros [autor provável Leonardo Nunes] pub. e pref. por António Baião ; [ed. lit.] Academia das Sciencias de Lisboa, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1925; MATOS, Artur Teodoro de, O Tombo de Diu R08; 1592, CNCDP, Lisboa, 1999. Estudos: ANTUNES, Luís Frederico Dias, «Diu. Espaços e quotidianos», in Os Espaços de um Império. Estudos, CNCDP, Lisboa, 1999. IDEM, «Diu, a actividade comercial de um pequeno porto do Guzerate (1680R08;1800): os documentos portugueses», in Sources européennes pour le Gujarat, Moyen Orient & Océan Indien XVR08;XIX s., Société d'Histoire de l'Orient, 10, Paris, 1998. QUADROS, Jerónimo, Diu: apontamentos para a História e Chorographia, Nova Goa, 1899. MENDES, A. Lopes, A Índia Portugueza, Lisboa, Imprensa Nacional, 1886. PEREIRA, A. B. de Bragança, «Os Portugueses em Diu», Separata de O Oriente Português, Bastorá, 1938. MONTEIRO, Armando Saturnino, Batalhas e Combates da marinha Portuguesa, Sá da Costa, Lisboa, 1989. BRITO, Raquel Soeiro de, «O Meio e os Homens nas Províncias do Norte», in Mare Liberum, 9, CNCDP, Julho, 1995.
Autoria da imagem
Manuel Magalhães