Data de publicação
2013
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Os Imhoff pertenciam às mais antigas e prestigiadas famílias de Nuremberga. A companhia dos Imhoff é já mencionada nos anos 80 do século XIV, no que respeita à prática do comércio em Veneza e na Europa Oriental. O leque de mercadorias comercializadas era muito abundante e incluía produtos como seda, algodão, lã, panos, peles, prata e outros metais, armas, especiarias, vinho e produtos do afamado artesanato nuremberguês. A partir da segunda metade do século XV, a companhia orientou-se, cada vez mais, em direcção à Europa Ocidental e Meridional, fundando entrepostos em Lyon, Saragoça, Antuérpia e Lisboa. Foi precisamente em 1504 que a casa comercial de “Peter Imhoff e Irmãos” alugou, na capital portuguesa, uma casa com vários aposentos e armazéns. Devido aos negócios efectuados com a coroa portuguesa, a feitoria lisboeta dos Imhoff tornou-se uma das mais importantes representações que a companhia possuía dentro da sua rede comercial internacional.

O primeiro feitor dos Imhoff, que se deixa identificar em Lisboa, foi Paulus Imhoff. Durante o período de serviço deste em Portugal, a casa dos Imhoff participou duas vezes na armação de uma frota da Índia. Na primeira ocasião, em 1505/06, investiu 3.000 cruzados na armada de D. Francisco de Almeida. Ulrich Imhoff, primo de Paulus, acompanhou esta expedição. Desconhecem-se pormenores acerca do envolvimento dos Imhoff na armada de Tristão da Cunha, que partiu para a Índia em 1506. Em finais de 1507, Paulus Imhoff faleceu e foi substituído na função de feitor por Calixtus Schüler que, nos cinco anos seguintes, desempenhou este cargo. A correspondência interna da companhia revela que os Imhoff compraram em Portugal sobretudo pimenta, vendendo cereais vindos de Flandres. De 1505 a 1512, a firma registou rendimentos anuais entre 11 e 16%, que resultaram, principalmente, do comércio de especiarias. Mas nem sempre as coisas correram bem. No período compreendido entre 1507 e 1510, em pelo menos três ocasiões, as cargas das frotas, que circularam entre Lisboa e Antuérpia e que continham pimenta e outras mercadorias pertencentes aos Imhoff, caíram nas mãos de piratas. No início da segunda década de Quinhentos, Calixtus Schüler negociou com a coroa portuguesa um contrato que garantiu à casa dos Imhoff, a partir de 1512, o abastecimento de especiarias até 1516. O consórcio dos contratadores, entre os quais também se encontraram os Fugger, recebeu, anualmente, 20.000 quintais de pimenta para um preço fixo de 22 cruzados por quintal. O trabalho de Schüler assegurou, desta forma, a continuidade da feitoria lisboeta dos Imhoff e criou uma base sólida para os seus negócios em Portugal. Porém, as qualidades mercantis de Schüler contrastaram claramente com o seu excêntrico modo de vida. Surgiram rumores de escândalo. As notícias que chegaram a Nuremberga em 1511 foram tão preocupantes, para a companhia dos Imhoff, que enviaram, no Inverno de 1511/12, Sebald Kneussel para Portugal, oficialmente com a função de apoiar Schüler nos seus trabalhos, mas, de facto, para vigiar o feitor da empresa. Nas cartas que Kneussel redigiu, em Lisboa, em 1512, transparece que a tarefa de espiar o seu colega não lhe agradou nada. Acresce que os detalhes que apurou à volta da vida de Schüler se apresentaram ainda muito piores do que se suspeitava em Nuremberga. Kneussel descobriu que Schüler tratava os seus colaboradores com grande violência e que mantinha relações amorosas com várias mulheres casadas e solteiras, inclusive uma freira, relações das quais resultaram pelo menos cinco crianças. Além disso, dedicou-se ao jogo, convidando alguns colegas alemães e burgaleses para jogar e beber na feitoria da companhia. Quando os Imhoff receberam estas notícias, reagiram de imediato e ordenaram a Schüler que regressasse a Nuremberga. Ainda em finais de 1512, Sebald Kneussel passou a ser feitor. Não sabemos por quanto tempo desempenhou a sua nova função. Já em Setembro do mesmo ano, havia anunciado que ia dedicar-se à formação mercantil do jovem aprendiz Michael Imhoff. Pelo teor do seu contrato, Kneussel deve ter abandonado Portugal em 1513. Permanece incerto, se os Imhoff o enviaram uma segunda vez para Lisboa. Certo é que “Miguel Emcuria”, aliás Michael Imhoff, estava envolvido, em 1514, em negócios de especiarias na capital portuguesa. No ano seguinte, chegou a Lisboa Hans Hauser (João de las Casas), antigo feitor dos Imhoff em Antuérpia, para tomar posse do entreposto da companhia no Tejo. Em 1516, Hauser adquiriu 750 quintais de pimenta e, no ano seguinte, forneceu prata à Casa da Moeda por várias vezes. No Outono de 1517, entregou o cargo de feitor a Michael Imhoff e regressou à Alemanha. Michael Imhoff continuou a vender prata à coroa portuguesa nos meses seguintes. Depois de finais de Março de 1519, perde-se o seu rasto em Portugal.

Em finais da segunda década de Quinhentos, o comércio praticado pelos Imhoff em Lisboa concentrava-se cada vez mais na venda de prata, enquanto as compras de especiarias abrandaram. É de supor que a companhia tenha tomado, nesta fase, a decisão de comprar os produtos ultramarinos, de preferência, em Antuérpia. Nesta cidade estabeleceu-se, desde 1518, Hans Hauser, novamente na função de feitor dos Imhoff. Em contrapartida, a feitoria lisboeta perdeu progressivamente a sua relevância e deve ter sido abandonada nos anos 20 do século XVI.

Bibliografia:
JAHNEL, Helga, Die Imhoff: eine Nürnberger Patrizier- und Großkaufmannsfamilie. Eine Studie zur reichsstädtischen Wirtschaftspolitik und Kulturgeschichte an der Wende vom Mittelalter zur Neuzeit (1351-1579), Diss., Würzburg, 1950; JAKOB, Reinhard, “Der Skandal um einen Nürnberger Imhoff-Faktor im Lissabon der Renaissance. Der Fall Calixtus Schüler und der Bericht Sebald Kneussels (1512)”, Jahrbuch für Fränkische Landesforschung, 60 (2000), pp. 83-112; POHLE, Jürgen, Os mercadores-banqueiros-alemães e a Expansão Portuguesa no reinado de D. Manuel I (no prelo).

Author: Jürgen Pohle