Data de publicação
2013
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Depois das famílias dos Fugger e dos Welser, a casa dos Höchstetter era, na viragem do século XV para o século XVI, a terceira casa comercial mais importante de Augsburgo. No início de Quinhentos, os Höchstetter tornaram-se o maior concorrente dos Fugger no mercado internacional de cobre. A sua feitoria de Antuérpia, que operava já desde 1486, desempenhou um papel decisivo, no que concerne ao estabelecimento de ligações comerciais com Portugal. Na cidade do Escalda, em 1504, a companhia vendeu cobre e latão à feitoria portuguesa e adquiriu uma grande parte das especiarias que os portugueses trouxeram da Índia. Os Höchstetter pertenceram ao consórcio italo-germânico, que participou no financiamento da armada de D. Francisco de Almeida que rumou à Ásia em 1505. Investiram 4.000 cruzados nesta expedição, tirando um lucro considerável. Na primeira década do século XVI, em data desconhecida, ergueram uma feitoria em Lisboa. Num documento de Junho de 1507, é mencionada a presença do feitor dos Höchstetter em Portugal, mas não o seu nome. Tudo indica que se trata aqui de Stefan Gabler de Nuremberga, que esteve vários anos ao serviço da empresa. A sua presença na capital portuguesa, na primeira década quinhentista, é documentada por uma carta que este recebeu de Valentim Fernandes em 1510. Nesse mesmo ano, porém, Gabler encontrou-se novamente na sua cidade natal, pelo que deve ter sido substituído na feitoria dos Höchstetter em Lisboa por volta de 1509. O seu sucessor foi Ulrich Ehinger. Este mercador, oriundo de Ulm, era primo do feitor dos Welser-Vöhlin, Lucas Rem, a quem reencontrou em Portugal no ano de 1510. Entre 1509 e 1511, Ulrich Ehinger, aliás “Rodrigo Alemam”, adquiriu na Casa da Índia especiarias no valor superior a 1.300.000 reais. Para o representante da casa dos Höchstetter, não tinha sido a primeira estadia em terras portuguesas. Já em Março de 1507, tinha estado em Lisboa, antes de partir para Valência, onde trabalhou para a denominada Magna Societas Alemanorum. No início de 1514, encontramo-lo novamente ao serviço desta célebre sociedade comercial de Ravensburgo, desta vez em Saragoça, onde esteve incumbido de desempenhar a função de contabilista-mor nos dois anos seguintes. A sua segunda estadia em Portugal situou-se, portanto, no período compreendido entre 1509 e 1513, aproximadamente. Não se sabe ao certo quem lhe sucedeu na filial lisboeta dos Höchstetter. No entanto, passaram por Lisboa, por volta de 1515, mais dois feitores da companhia. Primeiro, um tal “Jacome Rot” e, a seguir, Lazarus Ravensburger que enviou, ainda no mesmo ano, pimenta para Antuérpia. É possível que se trate aqui do mesmo “Leão Ravenspuger” que surgiu em 1517/18 repetidas vezes na Casa da Moeda, fornecendo prata numa quantidade superior a mil marcos. Em Setembro de 1519, Rui Fernandes de Almada, funcionário real da feitoria portuguesa de Antuérpia, deslocou-se, no âmbito de uma missão especial, à Alta Alemanha. Em Augsburgo, falou diversas vezes com os Höchstetter sobre um contrato referente a cobre e pimenta. A correspondência que trocou com D. Manuel I lança um olhar para as relações comerciais da coroa portuguesa com esta prestigiada casa comercial alemã. Os documentos revelam, simultaneamente, que a companhia preparava a sua retirada de Lisboa. O enviado português estava seriamente preocupado com este facto e tentou fazê-los mudar de ideias. Contudo, a sua ambição chegou tardiamente. O teor de uma carta que enviou a D. Manuel I, no dia 16 de Novembro de 1519, mostra que a decisão dos Höchstetter já estava tomada. Rui Fernandes de Almada implorava agora ao rei que se autorizasse finalmente o fecho do contrato comercial com a empresa: “Item quanto ao contrauto dos Ogasteteres [= Höchstetter (NdA)] como lhe tenho sprito me parece bem e que o deve de aver por bom ainda que nom fose senom por rrecolhe-llos em seus Reynos o deve de fazer” (ANTT, CC, I-44-4 apud M. do R. T. BARATA, op. cit., doc. XIX, p. 209). As negociações continuaram durante o Inverno, no entanto, em Fevereiro de 1520 ainda não se tinha chegado a um acordo. Nos anos seguintes, os Höchstetter preferiram fazer os negócios com a coroa portuguesa em Antuérpia, onde as suas feitorias vizinhas se situavam na Rua Kipdorp. Na terceira década de Quinhentos, a companhia dedicou-se ao mercado internacional de mercúrio. Esta actividade, altamente especulativa, levou a mesma em poucos anos à falência. Em tribunal, o chefe da firma, Ambrosius Höchstetter, defendeu, até ao último instante, que ignorava que a empresa passasse por uma fase tão dramática. Assegurou que tinha confiado no lucro das transacções comerciais levadas a cabo nos Países Baixos e em Portugal. Esta afirmação de Ambrosius Höchstetter manifesta a importância dos “assuntos portugueses” dentro dos planos económicos da companhia. Ainda em 1529, chegaram às mãos do seu representante em Antuérpia, Lazarus Tucher, quantidades consideráveis de pimenta, mercúrio e vermelhão vindas de Lisboa.

Bibliografia:
BARATA, Maria do Rosário Themudo, Rui Fernandes de Almada: diplomata português do século XVI, Lisboa, 1971; KELLENBENZ, Hermann, “A estadia de dois «Ulrich Ehinger», mercadores alemães, em Lisboa nos princípios do séc. XVI”, Bracara Augusta, 16/17 (1964), pp. 171-176; KERN, Ernst, “Studien zur Geschichte des Augsburger Kaufmannshauses der Höch¬stetter”, Archiv für Kulturgeschichte, 26 (1936), pp. 162-198; POHLE, Jürgen, Deutschland und die überseeische Expansion Portugals im 15. und 16. Jahrhundert, Münster, 2000; idem, Os mercadores-banqueiros alemães e a Expansão Portuguesa no reinado de D. Manuel I (no prelo).

Author: Jürgen Pohle