Data de publicação
2009
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Vice-rei da Índia (1554-1555). Nascido em 1484, D. Pedro Mascarenhas foi o terceiro filho do segundo casamento de D. Fernão Martins de Mascarenhas, 1º senhor de Lavre e Estepe e capitão dos ginetes, e de Violante Henriques, filha do 1º senhor de Sarzedas. Foi comendador de Castelo Novo, na Ordem de Cristo, alcaide-mor de Trancoso e general das galeras, sendo benquisto de D. Manuel I e de D. João III. Pajem da rainha D. Leonor, viúva de D. João II, seria, mais tarde, embaixador a Carlos V, em Bruxelas, e depois a Roma, onde entabulou contacto com aqueles que seriam os primeiros jesuítas a chegarem ao Reino, entre os quais se destacaram Simão Rodrigues de Azevedo e Francisco Xavier. Em ambas as embaixadas foram dignas de nota a sua pompa e riqueza, bem como a proximidade criada com Carlos V. Foi igualmente conselheiro de D. João III, contando com um amplo currículo militar no Norte de África, referido como a sua paixão. Tendo passado a sua mocidade e adolescência nas praças de Arzila e Safim, começou por integrar-se nas armadas de combate à pirataria moura em 1508. Em 1516, acompanhou o irmão, D. Nuno Mascarenhas, então capitão de Safim, até aquela fortaleza, acabando em 1520 por ser nomeado para comandar uma armada de quatro galés e cinco caravelas, encarregue do socorro a Safim. Após novo socorro a Azamor, em 1530, foi nomeado capitão daquela cidade e estribeiro-mor honorário de D. João III (cargo que mais tarde viria a vender ao conde da Vidigueira). Em 1549, foi nomeado para negociações com o rei de Beles, em Marrocos. Vice-rei da Índia, nomeado por carta régia de Janeiro de 1554, teria recebido a designação contrariado, procurando dela eximir-se. No entanto, o rei insistiu para que D. Pedro, então com 70 anos, a aceitasse devido ao seu prestígio militar e nobiliárquico (era igualmente cunhado de D. João Coutinho, 2º conde de Redondo, e o seu irmão mais velho, D. João de Mascarenhas, 2º senhor de Lavre e Estepa, foi capitão de Diu aquando do 2º cerco de 1546), bem como por ser homem de ricas posses, o que, do ponto de vista da Coroa, evitaria que tentasse enriquecer à custa do património real, preocupação esta expressa na documentação. A sua relutância em aceitar o cargo foi quebrada por intervenção do infante D. Luís, com quem D. Pedro havia combatido na Batalha de Goleta ao lado das forças de Carlos V.

Partindo de Lisboa a 2 de Abril de 1554, acompanhado de 2000 homens de armas, do seu sobrinho, D. Francisco Mascarenhas, e de D. António de Noronha, "O Catarraz", aportou em Goa a 16 de Setembro. Começando por conter desacatos para com o anterior vice-rei, a sua primeira decisão de monta foi a de nomear o seu sobrinho, o jovem Fernão Martins Freire, sem grande experiência militar, para capitão do mar, tendo esta nomeação sido assaz polémica visto que esta mercê já havia sido pedida a D. João III que a havia recusado. Ainda assim, e apesar da polémica, Fernão Martins foi incumbido de trazer seis galés turcas que, após a Batalha de Mascate, se refugiaram no porto de Surrate. Após negociação com o capitão de Surrate, o Caracem das fontes portuguesas, Fernão Martins partiu com parte do valor das galés como tinha sido acordado com aquele capitão e com conhecimento do vice-rei. Entretanto, chegaram as notícias da vitória em Mascate de D. Fernando de Noronha, filho do anterior vice-rei, D. Afonso de Noronha. A armada de Fernão Martins regressou a Goa em Novembro enquanto D. Afonso de Noronha partia de regresso para o Reino. Ainda no final do ano, o Alechelubij das fontes portuguesas (mais conhecido por Aley-Sebebuly) foi substituído por novo capitão turco, o Cafár das fontes portuguesas, que atacou quatro naus de mercadores de Ormuz.

O ano de 1555 iniciou-se com a decisão vice-real de enviar uma armada de cinco galeões e três caravelas ao Estreito de Meca para enfrentar Cafár, comandada por Manuel de Vasconcelos. Ficou também decidido atribuir a Gomes da Silva, fidalgo galego com provas militares dadas, a entrega de alguns navios, com os quais assaltou os mares em torno de Calicute. Outra decisão relevante foi a de nomear o padre mestre Gonçalo Rodrigues e o irmão Fulgêncio Freire para missionação aos domínios do Preste, decisão apenas tomada após reunião com o bispo D. João de Albuquerque e Diogo Dias, companheiro de armas de D. Cristóvão da Gama regressado da Etiópia. A referida armada viria a deixar os missionários em Arquico, não chegando a defrontar-se com Cafár. A paz definitiva com o rajá de Chembé foi também assinada ainda nesta fase por D. Pedro Mascarenhas. Após nova investida do Abiscão, capitão do sultão do Guzerate, contra Diu, D. Diogo de Noronha, logrou expulsá-lo com a ajuda do Tartacão das fontes portuguesas, um dos muitos senhores que então lutavam pelo poder no Guzerate. No sultanato de Bijapur, também em efervescência interna, a situação viria a ser capitalizada pelos Portugueses. Neste particular, D. Pedro Mascarenhas fez proclamar o Maleacão das fontes portuguesas, há anos refugiado em Goa, como rei de Bijapur, em troca da confirmação definitiva de importantes aquisições territoriais: Salcete, Bardêz e todo o Concão com as suas alfândegas, tanadarias e jurisdições e ainda as fortalezas de Pondá, Banda e Curale. As novas fortalezas adquiridas foram atribuídas a nomes destacados do vice-reinado, como Fernão Martins Freire, Sebastião de Sá e D. António de Noronha. Este último, por ora ficava como capitão de Pondá com 600 homens às suas ordens. Contudo, ainda antes de tomar posse da fortaleza, os seus habitantes resistiram, tendo-se distinguido na batalha Francisco Barreto. Também o vice-rei, então com 71 anos, participou em todas as movimentações decorrentes desta jornada. Na decorrência destes acontecimentos adoeceu gravemente, falecendo em Goa a 16 de Junho de 1555, mas não sem antes mandar chamar Francisco Barreto que considerava digno de lhe suceder e de o obrigar a jurar-lhe obediência. Foi sepultado na Sé de Goa e depois transladado para a Igreja de São Francisco, em Alcácer do Sal, onde ainda hoje se encontra. Governou durante 9 meses.

Tanto Diogo do Couto, como Manuel de Faria e Sousa o retratam como um vice-rei justo, que consultava regularmente os conselheiros estantes na Índia à sua chegada. Sousa afirma que era "… dotado de tanta autoridade e senso, tanto nos actos como na presença …" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XI, Porto, Livraria Civilização, 1945), embora não deixe de sublinhar, tal como Couto, a sua resistência inicial quanto à aceitação do cargo que foi tido quase como um exílio: "… Esteve ele tão fora de desejar este vice-reinado que propriamente lhe chamamos desterro …" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XI, Porto, Livraria Civilização, 1945). Tal facto não deve, contudo, fazer esquecer que foram as suas origens familiares as responsáveis por esta nomeação, visto que a Coroa procurava um digno sucessor para D. Afonso de Noronha.

Bibliografia:
COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, i, 3-12, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; EÇA, Duarte de, Relação dos Governadores da Índia (1571), edição de R. O. W. Goertz (Codex Goa 38), Calgary, University Printing Series, 1979, pp. 11-12. LOPES, António, D. Pedro Mascarenhas: Introdutor da Companhia de Jesus em Portugal, Braga, Editorial A. O. Braga, 2003. SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XI, Porto, Livraria Civilização, 1945. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.