Data de publicação
2009
Categorias
7.º bispo de Cabo Verde.
Era natural do bispado de Aveiro, onde nasceu c. de 1555. O seu nome de baptismo era Sebastião da Costa Andrade tomando depois o nome de D. Fr. Sebastião da Ascensão quando ingressou na ordem dominicana c. de 1586. Foi professor de teologia na Universidade de Coimbra e em estabelecimentos da ordem durante mais de 20 anos e atingiu o posto de definidor provincial. Era considerado especialista de teologia, homem de letras e bom pregador. Depois da renúncia de Sebastião da Costa, cónego doutoral da sé de Évora, foi apresentado, confirmado e sagrado no convento de S. Domingos em Lisboa no ano de 1611. Frequentou a corte de Filipe II onde exibiu a sua arte oratória; também pregou em Lisboa em dois autos-de-fé em Julho de 1611 e Fevereiro de 1612. Demora pouco a ir residir e chega a Santiago em meados de 1612. Levava instruções concretas para se informar através de visita sobre a presença de cristãos-novos judaizastes nos Rios de Guiné, conforme havia informado o governador Francisco Martins de Sequeira, tendo posteriormente sido feita consulta e papéis sobre este assunto pelo bispo Inquisidor. Caso nessa acção de inspecção o bispo encontrasse culpados, devia remetê-los para o tribunal do Santo Ofício em Lisboa, a fim de se proceder judicialmente contra eles. Já ao nível ao expediente da diocese, D. Fr. Sebastião da Ascensão provavelmente a pedido do cabido e demais clero insular, fez ao rei uma solicitação inusitada que implicava uma cedência formal em termos do padroado régio. Assim, para «evitar o trabalho, opressão e despesa» dos sacerdotes residentes para verem confirmadas as apresentações feitas pelo bispo D. Fr. Sebastião da Ascensão aos os benefícios e dignidades vagas, Filipe III a 23 de Janeiro de 1621 concede comissão e poder aos governadores para que em nome do rei pudessem confirmar localmente as referidas cartas e apenas durante este episcopado, devendo fazer menção expressa que eram de apresentação régia. Este episcopado de cerca de três anos de residência parece ter sido relativamente tranquilo a nível da relação da igreja com a sociedade local e mesmo no interior do corpo eclesiástico. Tal como o seu antecessor, parece tratar-se de uma pessoa moderada que não gerou conflitos exacerbados a nível local. D. Fr. Sebastião da Ascensão, à semelhança do o seu antecessor aparenta ter mantido uma relação estreita e amigável com os missionários jesuítas, que parecem ter sido o seu grande suporte material e mesmo eclesial, já que oficiavam mutuamente em missas solenes durante as quais faziam pregação em comum. Quanto ao cabido a relação parece ter sido cordial e até de cooperação mútua, considerando-o homem de muita «virtude e partes», cuja morte deixara «órfãos» muitos clérigos pobres do bispado, que dele haviam recebido lições e começado a tomar ordens. No entanto, os capitulares lamentam a «pobreza» deste prelado que teria trazido pouco dinheiro do reino, pelo que não pôde pagar as dívidas contraídas pelo seu antecessor, nem sequer com os pagamentos do almoxarifado, pois não existia dinheiro nos cofres locais. Acrescentam que a sé estava desadornada, pois D. Fr. Sebastião da Ascensão não trouxera para Cabo Verde nenhuns ornamentos, vestes ou alfaias litúrgicas, pelo que se viu na necessidade de pedir pontificais emprestados a outras igrejas da cidade para celebrar nos dias solenes. Também manteve uma relação muito chegada com a Misericórdia, irmandade de que foi provedor em 1613 e, nesse mesmo ano deu autorização para que a respectiva igreja tivesse um capelão permanente, dado que não o detinha por albergar a sé catedral. Contudo, todo este clima de aparente concórdia na Igreja teve o seu reverso no conflito que a sociedade santiaguense, nomeadamente cabido, jesuítas e câmara, manteve com o governador Francisco Martins Sequeira (1611-1614). D. Fr. Sebastião de Ascensão, mesmo que muito desagradado, foi forçado a tomar o partido dos da terra, num de muitos exemplos de instrumentalização da Igreja pelas forças vivas locais. D. Fr. Sebastião da Ascensão viria a morrer fruto da primeira doença em 17 de Março de 1614, precisamente no dia da Ascensão, ficando sepultado na igreja de N.ª Sr.ª do Rosário na Ribeira Grande. Os memorialistas retiveram a data e circunstâncias da sua morte. Manuel Severim de Faria, no seu alvitre sobre a fundação de seminários para a Guiné afirma que D. Fr. Sebastião fez pregação e pontifical conjuntos na véspera do dia da Ascensão, falecendo no dia seguinte, o que o autor atribui ao fervor com que dedicava ao seu ministério. A câmara indica que todo o povo sentiu muito a morte deste prelado virtuoso, enquanto que a tradição registada no autor anónimo de 1784 indica que a sua morte foi muito celebrada pelos «meninos» estudantes que afirmavam que o bispo ia para o céu rodeado de uma aura de luz e que muita gente afluiu ao paço episcopal em gesto fúnebre de homenagem.
Bibliografia:
Anónimo (1784), Notícia Corográfica e Cronológica do Bispado de Cabo Verde, edição e notas de António Carreira, Lisboa, Instituto Caboverdeano do Livro, 1985. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed.preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1968, pp. 685. PAIVA, José Pedro, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006. REMA, Henrique Pinto, "Diocese de Cabo Verde", História Religiosa de Portugal, dir. de Carlos Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, vol. II, A-C, pp. 280-284. SANTOS, Maria Emília Madeira; SOARES, Maria João, "Igreja, Missionação e Sociedade", História Geral de Cabo Verde, vol. II, coord. de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, IICT-INCCV, 1995, pp. 401-404. SOUSA, António Caetano de, Catálogo dos bispos das igrejas de Cabo Verde, S. Tomé e Angola in Colleçam dos documentos, estatutos e memórias da Academia real da História Portugueza que neste anno de 1722 se compuzerão e se imprimirão por ordem dos seus censores, Lisboa, Pascoal da Sylva, 1722.
Era natural do bispado de Aveiro, onde nasceu c. de 1555. O seu nome de baptismo era Sebastião da Costa Andrade tomando depois o nome de D. Fr. Sebastião da Ascensão quando ingressou na ordem dominicana c. de 1586. Foi professor de teologia na Universidade de Coimbra e em estabelecimentos da ordem durante mais de 20 anos e atingiu o posto de definidor provincial. Era considerado especialista de teologia, homem de letras e bom pregador. Depois da renúncia de Sebastião da Costa, cónego doutoral da sé de Évora, foi apresentado, confirmado e sagrado no convento de S. Domingos em Lisboa no ano de 1611. Frequentou a corte de Filipe II onde exibiu a sua arte oratória; também pregou em Lisboa em dois autos-de-fé em Julho de 1611 e Fevereiro de 1612. Demora pouco a ir residir e chega a Santiago em meados de 1612. Levava instruções concretas para se informar através de visita sobre a presença de cristãos-novos judaizastes nos Rios de Guiné, conforme havia informado o governador Francisco Martins de Sequeira, tendo posteriormente sido feita consulta e papéis sobre este assunto pelo bispo Inquisidor. Caso nessa acção de inspecção o bispo encontrasse culpados, devia remetê-los para o tribunal do Santo Ofício em Lisboa, a fim de se proceder judicialmente contra eles. Já ao nível ao expediente da diocese, D. Fr. Sebastião da Ascensão provavelmente a pedido do cabido e demais clero insular, fez ao rei uma solicitação inusitada que implicava uma cedência formal em termos do padroado régio. Assim, para «evitar o trabalho, opressão e despesa» dos sacerdotes residentes para verem confirmadas as apresentações feitas pelo bispo D. Fr. Sebastião da Ascensão aos os benefícios e dignidades vagas, Filipe III a 23 de Janeiro de 1621 concede comissão e poder aos governadores para que em nome do rei pudessem confirmar localmente as referidas cartas e apenas durante este episcopado, devendo fazer menção expressa que eram de apresentação régia. Este episcopado de cerca de três anos de residência parece ter sido relativamente tranquilo a nível da relação da igreja com a sociedade local e mesmo no interior do corpo eclesiástico. Tal como o seu antecessor, parece tratar-se de uma pessoa moderada que não gerou conflitos exacerbados a nível local. D. Fr. Sebastião da Ascensão, à semelhança do o seu antecessor aparenta ter mantido uma relação estreita e amigável com os missionários jesuítas, que parecem ter sido o seu grande suporte material e mesmo eclesial, já que oficiavam mutuamente em missas solenes durante as quais faziam pregação em comum. Quanto ao cabido a relação parece ter sido cordial e até de cooperação mútua, considerando-o homem de muita «virtude e partes», cuja morte deixara «órfãos» muitos clérigos pobres do bispado, que dele haviam recebido lições e começado a tomar ordens. No entanto, os capitulares lamentam a «pobreza» deste prelado que teria trazido pouco dinheiro do reino, pelo que não pôde pagar as dívidas contraídas pelo seu antecessor, nem sequer com os pagamentos do almoxarifado, pois não existia dinheiro nos cofres locais. Acrescentam que a sé estava desadornada, pois D. Fr. Sebastião da Ascensão não trouxera para Cabo Verde nenhuns ornamentos, vestes ou alfaias litúrgicas, pelo que se viu na necessidade de pedir pontificais emprestados a outras igrejas da cidade para celebrar nos dias solenes. Também manteve uma relação muito chegada com a Misericórdia, irmandade de que foi provedor em 1613 e, nesse mesmo ano deu autorização para que a respectiva igreja tivesse um capelão permanente, dado que não o detinha por albergar a sé catedral. Contudo, todo este clima de aparente concórdia na Igreja teve o seu reverso no conflito que a sociedade santiaguense, nomeadamente cabido, jesuítas e câmara, manteve com o governador Francisco Martins Sequeira (1611-1614). D. Fr. Sebastião de Ascensão, mesmo que muito desagradado, foi forçado a tomar o partido dos da terra, num de muitos exemplos de instrumentalização da Igreja pelas forças vivas locais. D. Fr. Sebastião da Ascensão viria a morrer fruto da primeira doença em 17 de Março de 1614, precisamente no dia da Ascensão, ficando sepultado na igreja de N.ª Sr.ª do Rosário na Ribeira Grande. Os memorialistas retiveram a data e circunstâncias da sua morte. Manuel Severim de Faria, no seu alvitre sobre a fundação de seminários para a Guiné afirma que D. Fr. Sebastião fez pregação e pontifical conjuntos na véspera do dia da Ascensão, falecendo no dia seguinte, o que o autor atribui ao fervor com que dedicava ao seu ministério. A câmara indica que todo o povo sentiu muito a morte deste prelado virtuoso, enquanto que a tradição registada no autor anónimo de 1784 indica que a sua morte foi muito celebrada pelos «meninos» estudantes que afirmavam que o bispo ia para o céu rodeado de uma aura de luz e que muita gente afluiu ao paço episcopal em gesto fúnebre de homenagem.
Bibliografia:
Anónimo (1784), Notícia Corográfica e Cronológica do Bispado de Cabo Verde, edição e notas de António Carreira, Lisboa, Instituto Caboverdeano do Livro, 1985. ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed.preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1968, pp. 685. PAIVA, José Pedro, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006. REMA, Henrique Pinto, "Diocese de Cabo Verde", História Religiosa de Portugal, dir. de Carlos Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, vol. II, A-C, pp. 280-284. SANTOS, Maria Emília Madeira; SOARES, Maria João, "Igreja, Missionação e Sociedade", História Geral de Cabo Verde, vol. II, coord. de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, IICT-INCCV, 1995, pp. 401-404. SOUSA, António Caetano de, Catálogo dos bispos das igrejas de Cabo Verde, S. Tomé e Angola in Colleçam dos documentos, estatutos e memórias da Academia real da História Portugueza que neste anno de 1722 se compuzerão e se imprimirão por ordem dos seus censores, Lisboa, Pascoal da Sylva, 1722.