Data de publicação
2009
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Vice-rei da Índia (1605-1607).
Filho de D. António de Castro (c. 1530-1602), 4º conde de Monsanto e alcaide de Lisboa, e de D. Inês Pimentel, quarta e última filha legítima do governador da Índia Martim Afonso de Sousa, D. Martim Afonso de Castro foi o segundo varão deste casamento, nascido em 1560. O avô paterno de D. Martim Afonso havia-se casado com D. Violante de Ataíde, filha do 1º conde da Castanheira, D. António de Ataíde (1500-1563) valido de D. João III, assegurando assim a ligação àquela casa nobiliárquica. No entanto, foi o seu irmão D. Luís de Castro (1560-1612) que herdou o título condal, mantendo-se este na descendência genealógica do seu irmão. Pertencente ao Conselho Real, comendador de Santa Maria da Alcáçova de Santarém e Sousel, na Ordem de Avis, D. Martim foi ainda capitão das galés de Portugal, em data incerta. Casado com D. Margarida de Távora, filha de Álvaro de Sousa, 1º senhor do morgado de Alcube e capitão de Chaul, e de D. Francisca de Távora, a família da noiva era parente do governador do Brasil Gaspar de Sousa (irmão mais velho de D. Margarida). Do consórcio resultaram dois filhos, D. Jorge de Castro, falecido nas guerras de Itália, e D. Francisca de Távora, que se casou com o Fernão Teles de Meneses, titulado 1º conde de Unhão, em 1630, por D. Filipe III de Portugal. Indigitado vice-rei da Índia por carta régia de 28 de Março de 1604, apenas tomou posse do governo em Goa, sucedendo a Aires de Saldanha, a 20 de Maio de 1605, e não em 1604 como Manuel de Faria e Sousa refere.
O cronista desde logo refere as intenções de soberba e ambição com que D. Martim Afonso de Castro havia entrado no governo da Índia, procurando igualar os feitos do anterior governador D. João de Castro. A cronologia da sua governação viria a ficar marcada pelo confronto com os Neerlandeses e pela manutenção da fortaleza de Sirião. Naquela praça, Filipe Brito de Nicote, um privado e "aventureiro" português havia conseguido aprisionar o filho do rei do Arracão num dos cercos que este colocou à fortaleza. Em resultado, aquele soberano montou novo cerco com forças navais suas e forças terrestres do rei de Tangu. Pouco depois, e em vésperas de se iniciar a unificação birmanesa a partir de Ava, chegava a ordem de Goa de D. Frei Aleixo de Meneses, de entregar o filho do rei do Arracão àquele soberano. No entanto, Sousa não especifica o ano em que tal correu e muito menos aponta se tal foi uma decisão do governo do arcebispo de Goa, após a morte de D. Martim, ou se se tratou de uma decisão de D. Aleixo, no tempo em que o vice-rei se encontrava a caminho de Malaca. Com efeito, antes de partir para o Sueste Asiático, o vice-rei entregou o poder em Goa a Frei Aleixo. Nas Molucas, a anterior o efeito da anterior vitória de André Furtado de Mendonça rapidamente se perdeu com a sua partida para Malaca, com os neerlandeses a lograrem conquistar Amboíno ao capitão Gaspar de Melo. O cerco da praça foi comandando pelos Neerlandeses e pelo rei de Ternate e a fortaleza capitulou, em inícios de 1605. Os Portugueses que conseguiram sobreviver ao cerco dirigiram-se para as Filipinas onde receberam o auxílio do governador espanhol, D. Pedro da Cunha, que então organizou uma expedição por ele liderada para expulsar os Neerlandeses da região. Após conquistar Ternate, o governador de Manila conseguiu ainda expulsar os Neerlandeses de Tidore. Note-se, contudo, que apesar da participação de Portugueses na expedição, tudo foi comandado pelos Castelhanos. Apesar do relativo sucesso nas Molucas, os Neerlandeses, que tão bem acolhidos haviam sido naquela região, estabeleceram alianças com alguns reis da zona de Malaca, preparando uma grande armada para cercar a cidade. Nos inícios de 1606, apesar da liderança de André Furtado de Mendonça, a fortaleza sofria fome e tinha falta de munições. Sabendo da situação, o vice-rei partiu de Goa, em Maio de 1606, à frente de uma poderosa esquadra, e chegando à região em meados de Junho. Após alguns ataques a navios de abastecimentos neerlandeses bem sucedidos, o desembarque em Malaca não correu de feição e D. Martim Afonso de Castro foi forçado a retirar para a sua armada. Só então tomou conhecimento dos acontecimentos descritos para as Molucas, através de André Furtado de Mendonça. Nos combates navais seguintes, os Portugueses não obtiveram uma vitória clara sobre os Neerlandeses, sendo incapazes de aprisionar o comandante rival, Cornélio Madelif. Só após a mudança de comando na armada, de D. Henrique de Noronha para D. Pedro Mascarenhas, se conseguiu fazer levantar o cerco a Malaca. Uma vez entrado na praça, o vice-rei decidiu dividir a armada em duas contra o parecer do experiente André Furtado de Mendonça. Uma esquadra, sob o comando de D. Álvaro de Meneses, deveria ir às ilhas Nicobar unir-se às naus do Reino, enquanto a armada de D. Nuno Álvares Pereira deveria partir para Java para trazer os necessários abastecimentos para a cidade, após quase 1 ano de cerco. Porém, os Neerlandeses informados dos planos do vice-rei, conseguiram bloquear a partida de D. Nuno e nem a intervenção de D. Pedro Mascarenhas conseguiu alterar a situação, sendo este morto pelo inimigo. Apenas a esquadra de D. Álvaro de Meneses, já perto do Ceilão, foi capaz de opor vitoriosamente aos Neerlandeses. Durante todo o cerco, o capitão inimigo só havia sido derrotado devido à acção de André Furtado de Mendonça, facto que poderá ter contribuído para o adensar de mal-estar que então se vivia na cidade, nomeadamente junto do vice-rei. Pouco depois, D. Martim Afonso de Castro falecia a 3 de Junho de 1607 de doença. Na praça dizia-se que o vice-rei havia morrido devido à notícia da derrota e morte de D. Pedro Mascarenhas e o certo é que não tardou a ser responsabilizado, ainda que morto, por aquela derrota, com acusações de soberba. Foi sepultado em Goa, na Igreja de Nossa Senhora do Monte, sendo os seus ossos transladados por acção da sua esposa, em 1649, para a Igreja do Convento das Donas, em Santarém.
Definitivamente marcado pelo confronto luso-neerlandês nas Molucas e em Malaca, o vice-reinado de cerca de dois anos de D. Martim Afonso de Castro e, designadamente, os acontecimentos sucedidos em Malaca, manifestaram a incapacidade dos Portugueses em conseguir desalojar os Neerlandeses das suas bases, que nesta fase, se concentravam precisamente na Insulíndia. Esta incapacidade foi percepcionada pelos Neerlandeses que animados pela "meia-vitória" alcançada, de aí em diante estariam em condições de cada vez mais contestarem os mares do Índico.
Bibliografia:
SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, Parte 4, cap. VII, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.
Filho de D. António de Castro (c. 1530-1602), 4º conde de Monsanto e alcaide de Lisboa, e de D. Inês Pimentel, quarta e última filha legítima do governador da Índia Martim Afonso de Sousa, D. Martim Afonso de Castro foi o segundo varão deste casamento, nascido em 1560. O avô paterno de D. Martim Afonso havia-se casado com D. Violante de Ataíde, filha do 1º conde da Castanheira, D. António de Ataíde (1500-1563) valido de D. João III, assegurando assim a ligação àquela casa nobiliárquica. No entanto, foi o seu irmão D. Luís de Castro (1560-1612) que herdou o título condal, mantendo-se este na descendência genealógica do seu irmão. Pertencente ao Conselho Real, comendador de Santa Maria da Alcáçova de Santarém e Sousel, na Ordem de Avis, D. Martim foi ainda capitão das galés de Portugal, em data incerta. Casado com D. Margarida de Távora, filha de Álvaro de Sousa, 1º senhor do morgado de Alcube e capitão de Chaul, e de D. Francisca de Távora, a família da noiva era parente do governador do Brasil Gaspar de Sousa (irmão mais velho de D. Margarida). Do consórcio resultaram dois filhos, D. Jorge de Castro, falecido nas guerras de Itália, e D. Francisca de Távora, que se casou com o Fernão Teles de Meneses, titulado 1º conde de Unhão, em 1630, por D. Filipe III de Portugal. Indigitado vice-rei da Índia por carta régia de 28 de Março de 1604, apenas tomou posse do governo em Goa, sucedendo a Aires de Saldanha, a 20 de Maio de 1605, e não em 1604 como Manuel de Faria e Sousa refere.
O cronista desde logo refere as intenções de soberba e ambição com que D. Martim Afonso de Castro havia entrado no governo da Índia, procurando igualar os feitos do anterior governador D. João de Castro. A cronologia da sua governação viria a ficar marcada pelo confronto com os Neerlandeses e pela manutenção da fortaleza de Sirião. Naquela praça, Filipe Brito de Nicote, um privado e "aventureiro" português havia conseguido aprisionar o filho do rei do Arracão num dos cercos que este colocou à fortaleza. Em resultado, aquele soberano montou novo cerco com forças navais suas e forças terrestres do rei de Tangu. Pouco depois, e em vésperas de se iniciar a unificação birmanesa a partir de Ava, chegava a ordem de Goa de D. Frei Aleixo de Meneses, de entregar o filho do rei do Arracão àquele soberano. No entanto, Sousa não especifica o ano em que tal correu e muito menos aponta se tal foi uma decisão do governo do arcebispo de Goa, após a morte de D. Martim, ou se se tratou de uma decisão de D. Aleixo, no tempo em que o vice-rei se encontrava a caminho de Malaca. Com efeito, antes de partir para o Sueste Asiático, o vice-rei entregou o poder em Goa a Frei Aleixo. Nas Molucas, a anterior o efeito da anterior vitória de André Furtado de Mendonça rapidamente se perdeu com a sua partida para Malaca, com os neerlandeses a lograrem conquistar Amboíno ao capitão Gaspar de Melo. O cerco da praça foi comandando pelos Neerlandeses e pelo rei de Ternate e a fortaleza capitulou, em inícios de 1605. Os Portugueses que conseguiram sobreviver ao cerco dirigiram-se para as Filipinas onde receberam o auxílio do governador espanhol, D. Pedro da Cunha, que então organizou uma expedição por ele liderada para expulsar os Neerlandeses da região. Após conquistar Ternate, o governador de Manila conseguiu ainda expulsar os Neerlandeses de Tidore. Note-se, contudo, que apesar da participação de Portugueses na expedição, tudo foi comandado pelos Castelhanos. Apesar do relativo sucesso nas Molucas, os Neerlandeses, que tão bem acolhidos haviam sido naquela região, estabeleceram alianças com alguns reis da zona de Malaca, preparando uma grande armada para cercar a cidade. Nos inícios de 1606, apesar da liderança de André Furtado de Mendonça, a fortaleza sofria fome e tinha falta de munições. Sabendo da situação, o vice-rei partiu de Goa, em Maio de 1606, à frente de uma poderosa esquadra, e chegando à região em meados de Junho. Após alguns ataques a navios de abastecimentos neerlandeses bem sucedidos, o desembarque em Malaca não correu de feição e D. Martim Afonso de Castro foi forçado a retirar para a sua armada. Só então tomou conhecimento dos acontecimentos descritos para as Molucas, através de André Furtado de Mendonça. Nos combates navais seguintes, os Portugueses não obtiveram uma vitória clara sobre os Neerlandeses, sendo incapazes de aprisionar o comandante rival, Cornélio Madelif. Só após a mudança de comando na armada, de D. Henrique de Noronha para D. Pedro Mascarenhas, se conseguiu fazer levantar o cerco a Malaca. Uma vez entrado na praça, o vice-rei decidiu dividir a armada em duas contra o parecer do experiente André Furtado de Mendonça. Uma esquadra, sob o comando de D. Álvaro de Meneses, deveria ir às ilhas Nicobar unir-se às naus do Reino, enquanto a armada de D. Nuno Álvares Pereira deveria partir para Java para trazer os necessários abastecimentos para a cidade, após quase 1 ano de cerco. Porém, os Neerlandeses informados dos planos do vice-rei, conseguiram bloquear a partida de D. Nuno e nem a intervenção de D. Pedro Mascarenhas conseguiu alterar a situação, sendo este morto pelo inimigo. Apenas a esquadra de D. Álvaro de Meneses, já perto do Ceilão, foi capaz de opor vitoriosamente aos Neerlandeses. Durante todo o cerco, o capitão inimigo só havia sido derrotado devido à acção de André Furtado de Mendonça, facto que poderá ter contribuído para o adensar de mal-estar que então se vivia na cidade, nomeadamente junto do vice-rei. Pouco depois, D. Martim Afonso de Castro falecia a 3 de Junho de 1607 de doença. Na praça dizia-se que o vice-rei havia morrido devido à notícia da derrota e morte de D. Pedro Mascarenhas e o certo é que não tardou a ser responsabilizado, ainda que morto, por aquela derrota, com acusações de soberba. Foi sepultado em Goa, na Igreja de Nossa Senhora do Monte, sendo os seus ossos transladados por acção da sua esposa, em 1649, para a Igreja do Convento das Donas, em Santarém.
Definitivamente marcado pelo confronto luso-neerlandês nas Molucas e em Malaca, o vice-reinado de cerca de dois anos de D. Martim Afonso de Castro e, designadamente, os acontecimentos sucedidos em Malaca, manifestaram a incapacidade dos Portugueses em conseguir desalojar os Neerlandeses das suas bases, que nesta fase, se concentravam precisamente na Insulíndia. Esta incapacidade foi percepcionada pelos Neerlandeses que animados pela "meia-vitória" alcançada, de aí em diante estariam em condições de cada vez mais contestarem os mares do Índico.
Bibliografia:
SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Maria Vitória Garcia Santos Ferreira, vol. VI, Parte 4, cap. VII, Porto, Livraria Civilização, 1947. ZÚQUETE, Afonso, Tratado de Todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.