Data de publicação
2009
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Período
Área Geográfica
17.º bispo de Cabo Verde.

Era natural de Santa Olaia no termo de Évora e coadjutor da igreja de Santa Maria de Alcáçova em Évora; era freire da Ordem de Cristo. Tardou mais de cinco anos que a Coroa alcançasse convencer algum eclesiástico a aceitar o bispado de Cabo Verde. D. Fr. Pedro foi apresentado em 1752 e confirmado e sagrado em 1753, tendo chegado à diocese em 25 de Abril de 1754. Logo à sua chegada e depois de celebrar a primeira festa solene desentendeu-se com o cabido. O sindicante Custódio Correia de Matos inteirou o prelado do grande clima de intimidação que se vivia em Santiago e, pouco depois de este ter sido assassinado em Junho do mesmo ano, o bispo abandonou a sede da catedral à qual não mais voltaria em vinte anos de episcopado, introduzindo a prática que perduraria durante quase todo o século XIX e século XX, até 1940 de os bispos residirem fora de Santiago. Justificou-se afirmando que veio para Cabo Verde com a promessa régia de mudar a sede da catedral e alcançou mesmo do papa Bento XIV a respectiva bula. Porém, o marquês de Pombal nunca deu o beneplácito a este documento papal, dado que tinha ficado desagradado com D. Fr. Pedro Jacinto Valente por se ter ausentado de Santiago sem sua ordem. O novo bispo permaneceu em S. Nicolau durante mais de um ano, ficando depois residência em Santo Antão onde permaneceria até à sua morte. Seria a partir daqui que administraria a diocese e o tribunal eclesiástico, com alguns clérigos da sua comitiva que empossara no cabido, cindindo a diocese em dois uma vez que o cabido dominado pelos padres da terra permaneceu em Santiago. Congelou todas as novas admissões ao cabido e as ordenações em Santiago, de ter excomungado e privado da sua dignidade o arcediago. Acusou os capitulares de manterem publicamente concubinas e de manterem exércitos privados, faltas de que não os conseguiu demover. O cabido só dava conhecimento público as ordens do bispo que não lhe eram contrárias. Em 1764 já só restavam dois cónegos e o mestre-escola; a cisão entre bispo e cabido chegou ao ponto de aquele mandar interditar a sé catedral e a cidade da Ribeira Grande. D. Fr. Pedro Jacinto mandou recolher toda a prata da mitra e a biblioteca, levando consigo uma parte significativa, dando também ordem para que cessasse qualquer despesa no paço episcopal que assim mais se arruinou. Centrou a sua acção pastoral nas ilhas do barlavento, onde edificou novas igrejas, nomeadamente em Santo Antão onde erigiu na vila da Ribeira Grande um templo semelhante à sé mas de menores dimensões; ainda em Santo Antão edificou uma pequena ermida de Nossa Senhora da Penha de França, a igreja de Santo António no Tarrafal e a de Nossa Senhora da Piedade na Ribeira da Janela. Na Boa Vista edificou um templo de São João Baptista na povoação do norte e em S. Nicolau uma igreja de Nossa Senhora da Lapa na Ribeira das Queimadas. Custeou estas edificações com tributos pecuniários e em trabalho que impôs aos moradores, obrigando-os também a contribuir para o sustento dos párocos. Visitou igualmente as ilhas do Maio, Brava e Fogo sendo conduzido em embarcação inglesa. Em Santo Antão ordenou alguns padres «que suposto que são maos mas não tive outro remédio», vendo-se mesmo na contingência de dar ordens sacras a antigos escravos. Mandou vir alguns ordinandos de Santiago aos quais ministrou pessoalmente ensino, uma vez que não havia quem quisesse assumir as cadeiras de teologia moral e gramática latina, dado que os vencimentos não eram pagos. Considerava que não tinha uma vida típica de um prelado mas antes um peregrino sem casa e com o fato às costas, «de casas de palha para casas de palha». O bispo fez capítulos de visitas para várias igrejas em forma de sínodo, mandando proibir todos os costumes locais como as festas de reinados e irmandades de negros. D. Fr. Pedro mostrou-se favorável à transferência da capital das ilhas para as ilhas de Santo Antão, quanto ao eclesiástico e S. Nicolau, quanto ao secular. Faleceu em Santo Antão em 1774.

Bibliografia:
ALMEIDA, Fortunato de, História da Igreja em Portugal, nova ed.preparada e dirigida por Damião Peres, vol. II, Porto-Lisboa, Livraria Civilização, 1968, pp. 687 Anónimo (1784), Notícia Corográfica e Cronológica do Bispado de Cabo Verde, … edição e notas de António Carreira, Lisboa, Instituto Caboverdeano do Livro, 1985. PAIVA, José Pedro, Os Bispos de Portugal e do Império, 1495-1777, Coimbra, Imprensa da Universidade, 2006. REMA, Henrique Pinto, "Diocese de Cabo Verde", História Religiosa de Portugal, dir. de Carlos Azevedo, Lisboa, Círculo de Leitores, 2001, vol. II, A-C, pp. 280-284. SOARES, Maria João, "A Igreja em tempo de mudança política, social e cultural", História Geral de Cabo Verde, vol. III, coord. de Maria Emília Madeira Santos, Lisboa-Praia, IICT-INIPPC, 2002, pp. 394-406.