Data de publicação
2009
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3º conde de Redondo: vice-rei da Índia (1561-1564).
Nascido em 1507, foi filho de D. João Coutinho, 2º conde de Redondo, e de Isabel Henriques, filha do 1º senhor de Lavre e Estepa, D. Fernão Martins Mascarenhas. Pela via materna, era primo de D. Pedro Mascarenhas, anterior vice-rei da Índia. Casou-se com Maria de Blaesvet, cujo pai, Francisco de Gusmão, foi primeiro senhor da capitania do Machico, no Brasil, e mordomo-mor da infanta D. Maria, e cuja mãe, D. Joana de Blaesvelt, fora camareira-mor daquela princesa. Da vasta prole tida deste casamento, destacam-se D. Luís Coutinho (1540-1578), filho primogénito e 4º conde de Redondo (1564-1578), morto em Alcácer Quibir, D. João Coutinho, 5º conde. D. Francisco viveu a sua infância e adolescência com o pai e o tio, D. Manuel Mascarenhas, em Arzila, desde cedo destacando-se na guerra contra os mouros. Após ter sido testemunha da assinatura de um acordo de paz com o reino de Fez em 1538, foi nomeado, em 1546, para suceder ao seu tio no governo de Arzila. Em 1548, venceu os alcaides daquele Reino. Porém, o abandono de Arzila, em 1550, decidido pelo rei, forçou o seu regresso a Portugal ainda antes daquela data, vindo a receber diversas recompensas de D. João III: 300 000 reais de tença transmissível, promessa de voltar a governar Arzila em pessoa ou pelo seu filho, caso esta fosse retomada; assentamento de conde com 102 864 reais a 23 de Novembro de 1549; e confirmação da posse do condado de Redondo a 13 de Dezembro de 1552. O veterano das guerras de África foi ainda jurado regedor da Casa da Suplicação, a 12 de Janeiro de 1559, por morte do anterior detentor do cargo, D. João de Melo, bispo do Algarve. D. Francisco Coutinho foi ainda cavaleiro da Ordem de Cristo e voz escutada no Conselho, sobretudo em questões marroquinas. Por fim, a 27 de Janeiro de 1561, foi indigitado pela regente D. Catarina, para vice-rei da Índia, devendo suceder a D. Constantino de Bragança. Deste ponto de vista, além de ser o segundo titular a partir para a Índia como vice-rei, após D. Vasco da Gama, 1º conde da Vidigueira, em 1524, era considerado um digno sucessor de D. Constantino, tido à época como homem de grandes virtudes e talentos.
Partindo de Lisboa a 9 de Março de 1561, aportou à Índia em 7 de Junho. A sua primeira decisão foi a nomeação de capitães para fortalezas do Estado da Índia a que se seguiram as nomeações de D. Constantino, e sobretudo de D. Antão de Noronha e de D. António de Noronha, para capitanearem dois dos navios da armada que partiu para o Reino no final de 1561. Deu ainda ordens para que o seu primo D. Francisco Mascarenhas, fosse provido de uma armada que deveria combater o Cáfar das fontes portuguesas, capitão turco, a quem no início do ano seguinte se juntou Jorge de Moura com nova frota, ambos apostados em evitar o já tradicional assalto turco de Verão às naus de Ormuz.
O confronto com os Turcos ocorreu durante o ano de 1562, saldando-se num empate. Na Abissínia, uma nova investida turca, apostada em conquistar as terras do Preste, foi derrotada a custo com a ajuda dos Portugueses, sendo aclamado um novo imperador etíope. Em Setembro, chegou a Goa a armada vinda do Reino com seis naus, numa fase em que o vice-rei pretendia organizar a expedição de assinatura de paz com Calicute. Este facto sucedia na mesma cronologia em que Damão sofria novo cerco às mãos dos Guzerates, ao qual Garcia Rodrigues de Távora acudiu, derrotando o inimigo. D. Francisco Coutinho, saindo de Goa em Dezembro, dirigiu-se para Calicute, em grande aparato militar, com vista a impressionar o Samorim, para assinar a paz com aquele potentado indiano, tradicional inimigo dos Portugueses. Uma vez ali chegado e após ter exigido juramento do Samorim, foi notório o descontentamento dos homens do vice-rei, insatisfeitos com o facto de não se ter registado qualquer incidente na passagem por Cananor e depois em Calicute. Estes envolveram-se em violenta luta entre si, assim que Coutinho partiu para Cochim, já nos começos do ano seguinte. Este acontecimento, aliado a ocorrências do mesmo teor que se passaram noutros pontos da Ásia durante este vice-reinado, criou nas fontes da época uma ideia de decadência do Estado da Índia, em contraste com o já mitificado governo de D. Constantino de Bragança, e que apenas é compensado pela titulada nobreza de D. Francisco. Também durante este ano, realizou-se o primeiro auto de fé em Goa e o vice-rei decretou a violação do direito de cartaz, facto que contribuiu, a prazo, para o reatar da guerra com Calicute, um renovado corso islâmico no Malabar e guerras nas Molucas. A decisão de decretar o direito de cartaz (salvo-conduto atribuído pelos Portugueses a comerciantes asiáticos mediante o pagamento de uma determinada quantia que os autorizava a comerciar e a navegar nos mares da Ásia) foi devida ao abuso na concessão destes cartazes por alguns capitães portugueses do Malabar.
O ano de 1563 iniciou-se com o socorro de Henrique de Sá, nomeado capitão das Molucas, a Amboíno. Esta ilha tinha sido incorporada no senhorio do rei cristão de Ternate devido à acção dos Portugueses. No entanto, uma revolta anti-cristã ameaçava o domínio daquela ilha pelo rei de Ternate, tendo Henrique de Sá conseguido debelar a revolta. Como consequência deste acontecimento, a posse daquelas ilhas foi doada ao rei de Portugal em 1564. No Ceilão, o ano também foi deveras agitado com o Madune das fontes portuguesas, rei de Sitawaka, a enviar o seu filho, Raju, rei de Sitawaka, para tentar novamente depor o seu irmão, rei de Kotte, e tradicional aliado dos Portugueses. Raju cercou Colombo com 30 000 homens, tendo sido derrotado pelo capitão daquela fortaleza, Baltasar Guedes de Sousa. Montado cerco à própria cidade de Kotte por Raju, este só foi quebrado com o socorro de Diogo de Melo Coutinho, capitão da ilha de Manar. Pouco depois, D. Francisco aproveitou a chegada da armada do Reino para acometer Cananor, acabando a guerra por não se saldar em clara vitória portuguesa. Em virtude de tal ocorrência, e sabendo da passagem de oitenta fustas malabares, decidiu enviar Domingos de Mesquita como capitão de uma armada que devia apresar aqueles navios. Mesquita, não só viria a deitar mão a várias embarcações malabares como chacinou, cerca de 2000 mouros. Sabendo desta notícia, D. Francisco Coutinho faleceu a 19 de Fevereiro de 1564, alegadamente desgostoso pela atitude desumana de Domingos Mesquita. Foi sepultado no próprio dia na Igreja do convento de São Francisco, coberto com o manto da Ordem de Cristo, tendo mais tarde sido transferido para o jazigo da vila de Redondo.
Sucedendo ao carismático governo de D. Constantino de Bragança, D. Francisco Coutinho, que governou durante dois anos e cinco meses, foi retratado como um vice-rei mediano por Manuel de Faria e Sousa: "Usou uma mediania prudente entre o liberal e o apertado;" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1945). A sombra do vice-reinado anterior sobre ele pesa também nas palavras de Diogo do Couto que a ele se referiu: " foi liberal, ao menos não foi tacanho " (COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, x, 17, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974).
Bibliografia:
COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, x, 1-17, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; EÇA, Duarte de, Relação dos Governadores da Índia (1571), edição de R. O. W. Goertz (Codex Goa 38), Calgary, University Printing Series, 1979, p. 15; SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1945; ZÚQUETE, Afonso, Tratado de todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.
Nascido em 1507, foi filho de D. João Coutinho, 2º conde de Redondo, e de Isabel Henriques, filha do 1º senhor de Lavre e Estepa, D. Fernão Martins Mascarenhas. Pela via materna, era primo de D. Pedro Mascarenhas, anterior vice-rei da Índia. Casou-se com Maria de Blaesvet, cujo pai, Francisco de Gusmão, foi primeiro senhor da capitania do Machico, no Brasil, e mordomo-mor da infanta D. Maria, e cuja mãe, D. Joana de Blaesvelt, fora camareira-mor daquela princesa. Da vasta prole tida deste casamento, destacam-se D. Luís Coutinho (1540-1578), filho primogénito e 4º conde de Redondo (1564-1578), morto em Alcácer Quibir, D. João Coutinho, 5º conde. D. Francisco viveu a sua infância e adolescência com o pai e o tio, D. Manuel Mascarenhas, em Arzila, desde cedo destacando-se na guerra contra os mouros. Após ter sido testemunha da assinatura de um acordo de paz com o reino de Fez em 1538, foi nomeado, em 1546, para suceder ao seu tio no governo de Arzila. Em 1548, venceu os alcaides daquele Reino. Porém, o abandono de Arzila, em 1550, decidido pelo rei, forçou o seu regresso a Portugal ainda antes daquela data, vindo a receber diversas recompensas de D. João III: 300 000 reais de tença transmissível, promessa de voltar a governar Arzila em pessoa ou pelo seu filho, caso esta fosse retomada; assentamento de conde com 102 864 reais a 23 de Novembro de 1549; e confirmação da posse do condado de Redondo a 13 de Dezembro de 1552. O veterano das guerras de África foi ainda jurado regedor da Casa da Suplicação, a 12 de Janeiro de 1559, por morte do anterior detentor do cargo, D. João de Melo, bispo do Algarve. D. Francisco Coutinho foi ainda cavaleiro da Ordem de Cristo e voz escutada no Conselho, sobretudo em questões marroquinas. Por fim, a 27 de Janeiro de 1561, foi indigitado pela regente D. Catarina, para vice-rei da Índia, devendo suceder a D. Constantino de Bragança. Deste ponto de vista, além de ser o segundo titular a partir para a Índia como vice-rei, após D. Vasco da Gama, 1º conde da Vidigueira, em 1524, era considerado um digno sucessor de D. Constantino, tido à época como homem de grandes virtudes e talentos.
Partindo de Lisboa a 9 de Março de 1561, aportou à Índia em 7 de Junho. A sua primeira decisão foi a nomeação de capitães para fortalezas do Estado da Índia a que se seguiram as nomeações de D. Constantino, e sobretudo de D. Antão de Noronha e de D. António de Noronha, para capitanearem dois dos navios da armada que partiu para o Reino no final de 1561. Deu ainda ordens para que o seu primo D. Francisco Mascarenhas, fosse provido de uma armada que deveria combater o Cáfar das fontes portuguesas, capitão turco, a quem no início do ano seguinte se juntou Jorge de Moura com nova frota, ambos apostados em evitar o já tradicional assalto turco de Verão às naus de Ormuz.
O confronto com os Turcos ocorreu durante o ano de 1562, saldando-se num empate. Na Abissínia, uma nova investida turca, apostada em conquistar as terras do Preste, foi derrotada a custo com a ajuda dos Portugueses, sendo aclamado um novo imperador etíope. Em Setembro, chegou a Goa a armada vinda do Reino com seis naus, numa fase em que o vice-rei pretendia organizar a expedição de assinatura de paz com Calicute. Este facto sucedia na mesma cronologia em que Damão sofria novo cerco às mãos dos Guzerates, ao qual Garcia Rodrigues de Távora acudiu, derrotando o inimigo. D. Francisco Coutinho, saindo de Goa em Dezembro, dirigiu-se para Calicute, em grande aparato militar, com vista a impressionar o Samorim, para assinar a paz com aquele potentado indiano, tradicional inimigo dos Portugueses. Uma vez ali chegado e após ter exigido juramento do Samorim, foi notório o descontentamento dos homens do vice-rei, insatisfeitos com o facto de não se ter registado qualquer incidente na passagem por Cananor e depois em Calicute. Estes envolveram-se em violenta luta entre si, assim que Coutinho partiu para Cochim, já nos começos do ano seguinte. Este acontecimento, aliado a ocorrências do mesmo teor que se passaram noutros pontos da Ásia durante este vice-reinado, criou nas fontes da época uma ideia de decadência do Estado da Índia, em contraste com o já mitificado governo de D. Constantino de Bragança, e que apenas é compensado pela titulada nobreza de D. Francisco. Também durante este ano, realizou-se o primeiro auto de fé em Goa e o vice-rei decretou a violação do direito de cartaz, facto que contribuiu, a prazo, para o reatar da guerra com Calicute, um renovado corso islâmico no Malabar e guerras nas Molucas. A decisão de decretar o direito de cartaz (salvo-conduto atribuído pelos Portugueses a comerciantes asiáticos mediante o pagamento de uma determinada quantia que os autorizava a comerciar e a navegar nos mares da Ásia) foi devida ao abuso na concessão destes cartazes por alguns capitães portugueses do Malabar.
O ano de 1563 iniciou-se com o socorro de Henrique de Sá, nomeado capitão das Molucas, a Amboíno. Esta ilha tinha sido incorporada no senhorio do rei cristão de Ternate devido à acção dos Portugueses. No entanto, uma revolta anti-cristã ameaçava o domínio daquela ilha pelo rei de Ternate, tendo Henrique de Sá conseguido debelar a revolta. Como consequência deste acontecimento, a posse daquelas ilhas foi doada ao rei de Portugal em 1564. No Ceilão, o ano também foi deveras agitado com o Madune das fontes portuguesas, rei de Sitawaka, a enviar o seu filho, Raju, rei de Sitawaka, para tentar novamente depor o seu irmão, rei de Kotte, e tradicional aliado dos Portugueses. Raju cercou Colombo com 30 000 homens, tendo sido derrotado pelo capitão daquela fortaleza, Baltasar Guedes de Sousa. Montado cerco à própria cidade de Kotte por Raju, este só foi quebrado com o socorro de Diogo de Melo Coutinho, capitão da ilha de Manar. Pouco depois, D. Francisco aproveitou a chegada da armada do Reino para acometer Cananor, acabando a guerra por não se saldar em clara vitória portuguesa. Em virtude de tal ocorrência, e sabendo da passagem de oitenta fustas malabares, decidiu enviar Domingos de Mesquita como capitão de uma armada que devia apresar aqueles navios. Mesquita, não só viria a deitar mão a várias embarcações malabares como chacinou, cerca de 2000 mouros. Sabendo desta notícia, D. Francisco Coutinho faleceu a 19 de Fevereiro de 1564, alegadamente desgostoso pela atitude desumana de Domingos Mesquita. Foi sepultado no próprio dia na Igreja do convento de São Francisco, coberto com o manto da Ordem de Cristo, tendo mais tarde sido transferido para o jazigo da vila de Redondo.
Sucedendo ao carismático governo de D. Constantino de Bragança, D. Francisco Coutinho, que governou durante dois anos e cinco meses, foi retratado como um vice-rei mediano por Manuel de Faria e Sousa: "Usou uma mediania prudente entre o liberal e o apertado;" (SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1945). A sombra do vice-reinado anterior sobre ele pesa também nas palavras de Diogo do Couto que a ele se referiu: " foi liberal, ao menos não foi tacanho " (COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, x, 17, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974).
Bibliografia:
COUTO, Diogo do, Da Ásia, VII, x, 1-17, Lisboa, Livraria San Carlos, 1974; EÇA, Duarte de, Relação dos Governadores da Índia (1571), edição de R. O. W. Goertz (Codex Goa 38), Calgary, University Printing Series, 1979, p. 15; SOUSA, Manuel de Faria e, Ásia Portuguesa, tradução de Manuel Burquets de Aguiar, vol. III, Parte 2, cap. XVIII, Porto, Livraria Civilização, 1945; ZÚQUETE, Afonso, Tratado de todos os Vice-Reis e Governadores da Índia, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1962.