Data de publicação
2009
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Conde de Vila Real, 1º capitão de Ceuta.
Era filho de D. João Afonso Telo, conde de Viana, e de D. Maior de Portocarreiro. Nasceu, em data incerta, no seio de uma das mais influentes e prestigiadas famílias nobres do século XIV, os Teles de Meneses. Foi criado, desde pequeno, em casa do mestre da Ordem de Cristo, D. Lopo Dias de Sousa.
Durante a crise sucessória que assolou o Reino após a morte de D. Fernando, no final do século XIV, dada a ausência de um herdeiro varão e estando a única filha do rei casada com D. João I de Castela, os Teles de Meneses, familiares da rainha viúva e regente, tomaram na grande maioria o seu partido, contra os outros dois pretendentes ao trono, o infante D. João (filho de D. Pedro I e de D. Inês de Castro) e D. João, mestre de Avis (também ele filho de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço).
Em 1384, em troca da sua lealdade à rainha durante o cerco de Lisboa, D. João I de Castela nomeou D. João Afonso Telo, alcaide de Penela e Miranda. Nesse mesmo ano, após ter saído de Penela com os seus homens para saquear as povoações mais próximas, foi assassinado pelos aldeães.
Nesta altura, D. Pedro era ainda uma criança (teria menos de dez anos) e refugiou-se com a mãe, e muitas outras esposas de nobres partidários da rainha, em Santarém, juntoda avó, a condessa D. Guiomar. Após a batalha de Aljubarrota, em 1385, o vitorioso mestre de Avis, agora D. João I, deu permissão aos muitos partidários da outra facção para partirem rumo a Castela. Tendo os bens do seu marido sido confiscados, D. Maior de Portocarreiro foi uma das que optou por partir, rumo à corte castelhana, Em Castela, D. Pedro, apesar de muito novo, foi agraciado pela rainha D. Beatriz, também ela uma Teles de Meneses, com o título de conde de Ilhó, que nunca lhe foi reconhecido em Portugal.
Não se sabe ao certo em que ano terá regressado D. Pedro a Portugal, ou quais os motivos que a isso o levaram. No entanto, em 1403 há registo da sua presença em Santarém. Após o regresso ao reino, D. Pedro, cuja família havia perdido todo o seu prestígio e poder, tentou a reintegração na aristocracia do Reino. Algum tempo depois do seu regresso ingressou na Casa do rei e, em 1415, quando participou na conquista de Ceuta, fê-lo na condição de alferes de D. Duarte.
Após a conquista colocava-se um problema ao monarca português, quem deixar à frente da praça recém-conquistada? D. João I propôs a vários nobres que ocupassem o cargo mas que declinaram. Em primeiro lugar o condestável D. Nuno Álvares Pereira, que recusou alegando a sua avançada idade; depois outro militar, o marechal Gonçalo Vasquez Coutinho, que rejeitou pelo mesmo motivo. A terceira escolha do monarca recaiu sobre Martim Afonso de Melo, homem da sua confiança, que declinou alegando que os seus homens não queriam ficar. A praça marroquina apresentava inúmeros perigos que os nobres portugueses não estavam dispostos a correr.
D. Pedro de Meneses, no entanto, via na capitania uma tarefa aliciante, e como oportunidade de recuperar a sua honra e prestígio. Pediu, por isso, a D. Lopo Dias de Sousa que interviesse a seu favor junto do rei, a fim de obter a nomeação. A intervenção de D. Lopo e o apoio manifestado pelo infante D. Duarte foram decisivos. Em Agosto de 1415, D. Pedro de Meneses foi nomeado capitão de Ceuta.
Quando partiu, o rei prometeu voltar em Março do ano seguinte, o que nunca veio a acontecer. Na praça ficaram víveres necessários à manutenção nos primeiros tempos, e a promessa de um regular abastecimento de mantimentos.
Ceuta era uma guarnição de defesa; a função de D. Pedro era a sua manutenção. Ficaram destacados para a sua defesa cerca de 2500 homens, com vários comandantes directos, que por sua vez respondiam perante o capitão.
Enquanto capitão D. Pedro detinha administração como se fosse o próprio rei, que lhe outorgou todo o seu poder, a jurisdição cível e crime, alta e baixa, mero e misto império, com a capacidade de aplicar penas até à morte, sem apelo nem agravo. Tinha também a capacidade de doar casas e terras na cidade de Ceuta e nas suas imediações que até à data não tivessem sido doadas pelo rei. Tinha direito ao quinto das cavalgadas e presas do mar.
Em 1418-19, D. Pedro venceu a sua grande prova militar, defendendo a praça portuguesa durante um difícil cerco.
A capitania de Ceuta, rentabilizada através da guerra e sobretudo do corso, permitiu a recuperação social e financeira de D. Pedro e conduzi-lo à nobreza titulada.
Enquanto foi capitão de Ceuta, D, Pedro só veio a Portugal duas vezes: uma em 1424, altura em que foi recebido festivamente e lhe foi concedido o título de conde de Vila Real, e outra em 1433-34, quando D. Duarte assumiu o governo, e D. Pedro foi titulado conde de Viana do Alentejo, passando o condado de Vila Real para as mãos do seu genro, D. Fernando de Noronha.
D. Pedro de Meneses casou quatro vezes. O seu primeiro casamento foi com D. Margarida de Miranda, filha do arcebispo de Braga D. Martinho (Martim Pires da Charneca), moradora da casa da Rainha. Devem ter casado na primeira década do século XV. D. Margarida, que devido à sua saúde frágil nunca se juntou ao marido em Ceuta, morreu em 1419. Em 1420 D. Pedro chamou para junto de si as filhas, D. Beatriz e D. Leonor, fruto do primeiro casamento, e D. Aldonça e D. Isabel, filhas ilegítimas, de mães desconhecidas. D. Pedro tinha também um filho bastardo, D. Duarte de Meneses. No mesmo barco embarcou também D. Filipa Coutinho, com quem D. Pedro havia casado nesse ano através de procuração. Contudo, D. Filipa nunca chegou a Ceuta, falecendo durante a viagem. Seis anos depois, D. Pedro casou com D. Beatriz Coutinho, prima da sua anterior mulher. O casamento durou quatro anos, D. Beatriz morreu em 1430. Tiveram apenas uma filha, D. Isabel de Meneses.
Em 1431, D. Pedro que só tinha filhas legítimas, instituiu um riquíssimo morgadio que fazia parte do contrato de dote de casamento da sua filha mais velha, D. Beatriz, com D. Fernando de Noronha. Este morgadio consagrava a obrigação de o herdeiro tomar o apelido Meneses e as suas armas, era a única forma de transmitir o capital simbólico da sua linhagem. D. Fernando de Noronha herdaria as propriedades e títulos associados ao morgadio, bem como a capitania de Ceuta. Durante a sua última vinda ao reino, D. Duarte tratou do último casamento de D. Pedro.
O capitão casou com D. Genebra Pessanha, filha do almirante Carlos Pessanha. Em dote D. Pedro recebia o almirantado.
Na sua ausência, a defesa da capitania esteve entregue ao seu filho D. Duarte de Meneses (futuro capitão de Alcácer Ceguer). O governo da sua fazenda e de algumas questões administrativas da capitania foram entregues a D. Leonor (executora do seu testamento). Juntos foram os filhos de D. Pedro que mais contribuíram para a reconstrução do prestígio familiar.
D. Pedro de Meneses morreu em Ceuta, no ano de 1437, quando os Portugueses tentavam conquistar Tânger. Está enterrado em Santarém na igreja da Graça, juntamente com a sua primeira mulher.
Bibliografia:
CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses – o primeiro capitão de Ceuta, Sete Caminhos, 2008. CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Lisboa, Colibri, Évora, CIDEHUS, 2005. ZURARA, Gomes Eanes de, Chronica dos feitos do conde Dom Pedro de Meneses, primeiro capitão que foi da cidade de Cepta, Colecção de Livros Inéditos de História Portuguesa: II / Academia Real das Ciências, Lisboa, A.R.C., 1792.
Era filho de D. João Afonso Telo, conde de Viana, e de D. Maior de Portocarreiro. Nasceu, em data incerta, no seio de uma das mais influentes e prestigiadas famílias nobres do século XIV, os Teles de Meneses. Foi criado, desde pequeno, em casa do mestre da Ordem de Cristo, D. Lopo Dias de Sousa.
Durante a crise sucessória que assolou o Reino após a morte de D. Fernando, no final do século XIV, dada a ausência de um herdeiro varão e estando a única filha do rei casada com D. João I de Castela, os Teles de Meneses, familiares da rainha viúva e regente, tomaram na grande maioria o seu partido, contra os outros dois pretendentes ao trono, o infante D. João (filho de D. Pedro I e de D. Inês de Castro) e D. João, mestre de Avis (também ele filho de D. Pedro I e de D. Teresa Lourenço).
Em 1384, em troca da sua lealdade à rainha durante o cerco de Lisboa, D. João I de Castela nomeou D. João Afonso Telo, alcaide de Penela e Miranda. Nesse mesmo ano, após ter saído de Penela com os seus homens para saquear as povoações mais próximas, foi assassinado pelos aldeães.
Nesta altura, D. Pedro era ainda uma criança (teria menos de dez anos) e refugiou-se com a mãe, e muitas outras esposas de nobres partidários da rainha, em Santarém, juntoda avó, a condessa D. Guiomar. Após a batalha de Aljubarrota, em 1385, o vitorioso mestre de Avis, agora D. João I, deu permissão aos muitos partidários da outra facção para partirem rumo a Castela. Tendo os bens do seu marido sido confiscados, D. Maior de Portocarreiro foi uma das que optou por partir, rumo à corte castelhana, Em Castela, D. Pedro, apesar de muito novo, foi agraciado pela rainha D. Beatriz, também ela uma Teles de Meneses, com o título de conde de Ilhó, que nunca lhe foi reconhecido em Portugal.
Não se sabe ao certo em que ano terá regressado D. Pedro a Portugal, ou quais os motivos que a isso o levaram. No entanto, em 1403 há registo da sua presença em Santarém. Após o regresso ao reino, D. Pedro, cuja família havia perdido todo o seu prestígio e poder, tentou a reintegração na aristocracia do Reino. Algum tempo depois do seu regresso ingressou na Casa do rei e, em 1415, quando participou na conquista de Ceuta, fê-lo na condição de alferes de D. Duarte.
Após a conquista colocava-se um problema ao monarca português, quem deixar à frente da praça recém-conquistada? D. João I propôs a vários nobres que ocupassem o cargo mas que declinaram. Em primeiro lugar o condestável D. Nuno Álvares Pereira, que recusou alegando a sua avançada idade; depois outro militar, o marechal Gonçalo Vasquez Coutinho, que rejeitou pelo mesmo motivo. A terceira escolha do monarca recaiu sobre Martim Afonso de Melo, homem da sua confiança, que declinou alegando que os seus homens não queriam ficar. A praça marroquina apresentava inúmeros perigos que os nobres portugueses não estavam dispostos a correr.
D. Pedro de Meneses, no entanto, via na capitania uma tarefa aliciante, e como oportunidade de recuperar a sua honra e prestígio. Pediu, por isso, a D. Lopo Dias de Sousa que interviesse a seu favor junto do rei, a fim de obter a nomeação. A intervenção de D. Lopo e o apoio manifestado pelo infante D. Duarte foram decisivos. Em Agosto de 1415, D. Pedro de Meneses foi nomeado capitão de Ceuta.
Quando partiu, o rei prometeu voltar em Março do ano seguinte, o que nunca veio a acontecer. Na praça ficaram víveres necessários à manutenção nos primeiros tempos, e a promessa de um regular abastecimento de mantimentos.
Ceuta era uma guarnição de defesa; a função de D. Pedro era a sua manutenção. Ficaram destacados para a sua defesa cerca de 2500 homens, com vários comandantes directos, que por sua vez respondiam perante o capitão.
Enquanto capitão D. Pedro detinha administração como se fosse o próprio rei, que lhe outorgou todo o seu poder, a jurisdição cível e crime, alta e baixa, mero e misto império, com a capacidade de aplicar penas até à morte, sem apelo nem agravo. Tinha também a capacidade de doar casas e terras na cidade de Ceuta e nas suas imediações que até à data não tivessem sido doadas pelo rei. Tinha direito ao quinto das cavalgadas e presas do mar.
Em 1418-19, D. Pedro venceu a sua grande prova militar, defendendo a praça portuguesa durante um difícil cerco.
A capitania de Ceuta, rentabilizada através da guerra e sobretudo do corso, permitiu a recuperação social e financeira de D. Pedro e conduzi-lo à nobreza titulada.
Enquanto foi capitão de Ceuta, D, Pedro só veio a Portugal duas vezes: uma em 1424, altura em que foi recebido festivamente e lhe foi concedido o título de conde de Vila Real, e outra em 1433-34, quando D. Duarte assumiu o governo, e D. Pedro foi titulado conde de Viana do Alentejo, passando o condado de Vila Real para as mãos do seu genro, D. Fernando de Noronha.
D. Pedro de Meneses casou quatro vezes. O seu primeiro casamento foi com D. Margarida de Miranda, filha do arcebispo de Braga D. Martinho (Martim Pires da Charneca), moradora da casa da Rainha. Devem ter casado na primeira década do século XV. D. Margarida, que devido à sua saúde frágil nunca se juntou ao marido em Ceuta, morreu em 1419. Em 1420 D. Pedro chamou para junto de si as filhas, D. Beatriz e D. Leonor, fruto do primeiro casamento, e D. Aldonça e D. Isabel, filhas ilegítimas, de mães desconhecidas. D. Pedro tinha também um filho bastardo, D. Duarte de Meneses. No mesmo barco embarcou também D. Filipa Coutinho, com quem D. Pedro havia casado nesse ano através de procuração. Contudo, D. Filipa nunca chegou a Ceuta, falecendo durante a viagem. Seis anos depois, D. Pedro casou com D. Beatriz Coutinho, prima da sua anterior mulher. O casamento durou quatro anos, D. Beatriz morreu em 1430. Tiveram apenas uma filha, D. Isabel de Meneses.
Em 1431, D. Pedro que só tinha filhas legítimas, instituiu um riquíssimo morgadio que fazia parte do contrato de dote de casamento da sua filha mais velha, D. Beatriz, com D. Fernando de Noronha. Este morgadio consagrava a obrigação de o herdeiro tomar o apelido Meneses e as suas armas, era a única forma de transmitir o capital simbólico da sua linhagem. D. Fernando de Noronha herdaria as propriedades e títulos associados ao morgadio, bem como a capitania de Ceuta. Durante a sua última vinda ao reino, D. Duarte tratou do último casamento de D. Pedro.
O capitão casou com D. Genebra Pessanha, filha do almirante Carlos Pessanha. Em dote D. Pedro recebia o almirantado.
Na sua ausência, a defesa da capitania esteve entregue ao seu filho D. Duarte de Meneses (futuro capitão de Alcácer Ceguer). O governo da sua fazenda e de algumas questões administrativas da capitania foram entregues a D. Leonor (executora do seu testamento). Juntos foram os filhos de D. Pedro que mais contribuíram para a reconstrução do prestígio familiar.
D. Pedro de Meneses morreu em Ceuta, no ano de 1437, quando os Portugueses tentavam conquistar Tânger. Está enterrado em Santarém na igreja da Graça, juntamente com a sua primeira mulher.
Bibliografia:
CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses – o primeiro capitão de Ceuta, Sete Caminhos, 2008. CAMPOS, Nuno Silva, D. Pedro de Meneses e a construção da Casa de Vila Real (1415-1437), Lisboa, Colibri, Évora, CIDEHUS, 2005. ZURARA, Gomes Eanes de, Chronica dos feitos do conde Dom Pedro de Meneses, primeiro capitão que foi da cidade de Cepta, Colecção de Livros Inéditos de História Portuguesa: II / Academia Real das Ciências, Lisboa, A.R.C., 1792.