Data de publicação
2009
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Gaspar Correia é um dos historiadores portugueses que no século XVI escreveu sobre o Portugal de Quinhentos. Contudo, só no século XIX é que a sua obra mais importante, as Lendas da Índia, é pela primeira vez editada. Os seus dados biográficos são escassos, porém António Banha de Andrade situa o seu nascimento em 1492. Apesar de existirem vários homónimos, este biógrafo atribui a paternidade a Aires Botelho, comendador de S. Martinho das Feixedas, no Bispado de Viseu.
Este historiador da Índia refere o facto de ter começado a servir como moço da Câmara Real, quando nasceu a 3 de Março de 1506, o Infante D. Luís, filho de D. Manuel e de D. Maria. A 12 de Março de 1512 Gaspar Correia partiu para a Índia com o capitão Jorge de Melo Pereira, chegando a Goa a 15 de Agosto. Ocupou o lugar de escrivão, sendo um dos quatro escrivães que acompanhavam regularmente Afonso de Albuquerque, escrevendo os despachos ditados por este governador. Correia permaneceu ao seu serviço durante 3 anos. Em Dezembro de 1515 estava a bordo da nau Frol da Rosa, na barra de Goa, acompanhando os últimos momentos do governador Afonso de Albuquerque.
No ano seguinte Gaspar Correia ocupou o cargo de vedor das obras de Goa, tendo a função de zelar pelas obras que o governador Lopo Soares fazia na cidade. Em 1521 acompanhou Pêro Lopes de Sampaio a S. Tomé de Meliapor, tendo como missão reparar a capela erigida no local onde teria vivido S. Tomé. Aí permaneceu durante algum tempo, acompanhando os trabalhos de recuperação do edifício. Em 1524 descreveu os detalhes dos espaços reconstruídos e desenhou a povoação. O monarca receberia o desenho, o qual serviu como referência, em 1537, aos moradores do lugar para explicar o crescimento da povoação.
Em Maio de 1525 Correia ocupou o cargo de almoxarife do armazém da Ribeira de Cochim, supervisionando a entrada e saída dos produtos. Nesta praça presenciou as disputas entre Afonso Mexia, o vedor da Fazenda e Pêro de Mascarenhas, o fidalgo que ocuparia o lugar de capitão de Malaca e que seguia na armada do vice-rei Vasco da Gama.
Detendo vários cargos da administração local portuguesa, encontramo-lo em Outubro de 1528 ainda em Cochim. Correia negociava com os mercadores locais o saque que alguns portugueses tinham conseguido do ataque a Porcá chefiado pelo então governador Lopo Vaz de Sampaio.
Em 1529 Nuno da Cunha sucederia no governo da Índia, tendo como missão conquistar Diu. No ano seguinte inicia-se a preparação da armada onde participariam também privados. Gaspar Correia armaria uma embarcação, despendendo grande parte do seu pecúlio, para acompanhar o governador. Nas Lendas descreveu como contornou a ilha de Bete, situada a 5 léguas de Diu, testemunhando o aniquilamento total das forças que ocupavam esta ilha dos Mortos, como ficaria conhecida. Em Diu, para onde seguiu, Nuno da Cunha defrontou-se com uma forte resistência, não sendo a praça tomada. Apesar de Fernão Lopes de Castanheda ter testemunhado este cerco, não existe qualquer referência nas Lendas à História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, nem vice-versa. São, todavia, referenciados autores como Duarte Barbosa, Francisco Álvares ou Miguel de Castanhoso, que, à semelhança de Castanheda ou Correia, escreveram sobre a Índia.
Gaspar Correia acompanhou Nuno da Cunha, em Dezembro de 1532, na tomada de Baçaim, presenciando, a 20 de Janeiro de 1533, a destruição da fortaleza inimiga após a conquista desta praça. Entre os anos de 32 e 34 redigiu as Chronicas dos Reys de Portugal e summarios das suas vidas com a historia da India e Armadas que se mandaram athe o anno de 1533, sobre D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Afonso II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Sancho II, D. Pedro, D. Fernando, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II, D. Manuel e D. João III.
Entre 1535 e 1536, Gaspar Correia estava em Diu quando Nuno da Cunha obteve licença por parte de Bahadur Shah para aí erigir uma fortaleza portuguesa. Em 1539 encontra-se em Cochim onde testemunha as disputadas que estalaram entre os capitães Pêro Lopes de Sousa e António da Silveira. Este último regressava, então, a Portugal após ter comandado a resistência portuguesa de Diu ao cerco de 1538.
Ainda na Índia, Gaspar Correia é chamado, em 1547, pelo vice-rei D. João de Castro para orientar um pintor local na pintura dos retratos dos vários governadores da Índia, desde D. Francisco de Almeida até ao presente.
D. João de Castro seria pintado com as suas armas, evocando o seu triunfo sobre os sitiantes de Diu. A presença de Gaspar Correia no espaço asiático leva-o a escrever as Lendas da Índia, onde narrou os trabalhos dos portugueses desde a primeira viagem de Vasco da Gama até ao ano de 1550. Esta é, com efeito, a primeira data que o cronista menciona para a redacção desta obra. Em 1563 encontrava-se ainda a redigi-la, sendo este o último registo biográfico que dele se conhece.
A compilação dos dados para a escrita das suas Lendas é, decerto, anterior a 1550. Recorde-se que estas são antecedidas pelas Chronicas dos Reys de Portugal .
Gaspar Correia escreveu as Chronicas entre os anos de 1532 e 1534, compilando os dados que possibilitariam o traçar das crónicas régias, desde D. Afonso Henriques até D. João III, e recorrendo, nomeadamente, às escritas por Rui de Pina e António Galvão. Recorde-se que Galvão aportou a Goa a 8 de Dezembro de 1515, onde se encontrava, então, Gaspar Correia. Segundo o cronista, Galvão havia sido encarregado por D. Manuel de sumariar as vidas e feitos dos reis que o tinham antecedido no trono de Portugal. Esta obra, que permaneceu manuscrita, antecipa a estrutura das suas Lendas da Índia. Nela, a cronologia das armadas que partiam anualmente do reino, subjaz à narração.
As Lendas foram organizadas em 4 livros. No 1º livro são descritas as várias expedições que desde 1497foram à Índia, assim como o governo de D. Francisco de Almeida. O 2º livro narra os governos de Afonso de Albuquerque, Lopo Soares, Diogo Lopes de Sequeira, D. Duarte de Meneses, D. Vasco da Gama e D. Henrique de Meneses. O 3º livro descreve as actuações de Pêro de Mascarenhas, Lopo Vaz de Sampaio e Nuno da Cunha. O 4º e último livro narra os governos de D. Garcia de Noronha, D. Estevão da Gama, Martim Afonso de Sousa, D. João de Castro, Garcia de Sá e Jorge Cabral.
Para além da narração dos acontecimentos, Gaspar Correia elaborou desenhos de lugares e de governadores. Actualmente só são conhecidos os desenhos dos lugares de Malaca, Calecute, Adem, Coulão, Ormuz, Judá, Ceilão, Cananor, Chalé , Baçaim e Diu, e de Afonso de Albuquerque, Diogo Lopes Sequeira, D. Vasco da Gama, Pêro de Mascarenhas, Lopo Vaz de Sampaio, Nuno da Cunha, D. Garcia de Noronha, D. Estevão da Gama, Martim Afonso de Sousa, D. João de Castro, Garcia de Sá e Jorge Cabral.
Após a morte de Gaspar Correia, cuja data e circunstâncias se desconhecem, o manuscrito foi adquirido por D. Miguel da Gama, que regressou ao reino em 1582. O texto das Lendas circularia nos círculos portugueses, servindo de fonte informativa para obras como a Crónica de D. João III, de Francisco de Andrade, ou para a História de S. Domingos, de Frei Luís de Sousa.
Este historiador da Índia refere o facto de ter começado a servir como moço da Câmara Real, quando nasceu a 3 de Março de 1506, o Infante D. Luís, filho de D. Manuel e de D. Maria. A 12 de Março de 1512 Gaspar Correia partiu para a Índia com o capitão Jorge de Melo Pereira, chegando a Goa a 15 de Agosto. Ocupou o lugar de escrivão, sendo um dos quatro escrivães que acompanhavam regularmente Afonso de Albuquerque, escrevendo os despachos ditados por este governador. Correia permaneceu ao seu serviço durante 3 anos. Em Dezembro de 1515 estava a bordo da nau Frol da Rosa, na barra de Goa, acompanhando os últimos momentos do governador Afonso de Albuquerque.
No ano seguinte Gaspar Correia ocupou o cargo de vedor das obras de Goa, tendo a função de zelar pelas obras que o governador Lopo Soares fazia na cidade. Em 1521 acompanhou Pêro Lopes de Sampaio a S. Tomé de Meliapor, tendo como missão reparar a capela erigida no local onde teria vivido S. Tomé. Aí permaneceu durante algum tempo, acompanhando os trabalhos de recuperação do edifício. Em 1524 descreveu os detalhes dos espaços reconstruídos e desenhou a povoação. O monarca receberia o desenho, o qual serviu como referência, em 1537, aos moradores do lugar para explicar o crescimento da povoação.
Em Maio de 1525 Correia ocupou o cargo de almoxarife do armazém da Ribeira de Cochim, supervisionando a entrada e saída dos produtos. Nesta praça presenciou as disputas entre Afonso Mexia, o vedor da Fazenda e Pêro de Mascarenhas, o fidalgo que ocuparia o lugar de capitão de Malaca e que seguia na armada do vice-rei Vasco da Gama.
Detendo vários cargos da administração local portuguesa, encontramo-lo em Outubro de 1528 ainda em Cochim. Correia negociava com os mercadores locais o saque que alguns portugueses tinham conseguido do ataque a Porcá chefiado pelo então governador Lopo Vaz de Sampaio.
Em 1529 Nuno da Cunha sucederia no governo da Índia, tendo como missão conquistar Diu. No ano seguinte inicia-se a preparação da armada onde participariam também privados. Gaspar Correia armaria uma embarcação, despendendo grande parte do seu pecúlio, para acompanhar o governador. Nas Lendas descreveu como contornou a ilha de Bete, situada a 5 léguas de Diu, testemunhando o aniquilamento total das forças que ocupavam esta ilha dos Mortos, como ficaria conhecida. Em Diu, para onde seguiu, Nuno da Cunha defrontou-se com uma forte resistência, não sendo a praça tomada. Apesar de Fernão Lopes de Castanheda ter testemunhado este cerco, não existe qualquer referência nas Lendas à História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses, nem vice-versa. São, todavia, referenciados autores como Duarte Barbosa, Francisco Álvares ou Miguel de Castanhoso, que, à semelhança de Castanheda ou Correia, escreveram sobre a Índia.
Gaspar Correia acompanhou Nuno da Cunha, em Dezembro de 1532, na tomada de Baçaim, presenciando, a 20 de Janeiro de 1533, a destruição da fortaleza inimiga após a conquista desta praça. Entre os anos de 32 e 34 redigiu as Chronicas dos Reys de Portugal e summarios das suas vidas com a historia da India e Armadas que se mandaram athe o anno de 1533, sobre D. Afonso Henriques, D. Sancho I, D. Afonso II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Sancho II, D. Pedro, D. Fernando, D. João I, D. Duarte, D. Afonso V, D. João II, D. Manuel e D. João III.
Entre 1535 e 1536, Gaspar Correia estava em Diu quando Nuno da Cunha obteve licença por parte de Bahadur Shah para aí erigir uma fortaleza portuguesa. Em 1539 encontra-se em Cochim onde testemunha as disputadas que estalaram entre os capitães Pêro Lopes de Sousa e António da Silveira. Este último regressava, então, a Portugal após ter comandado a resistência portuguesa de Diu ao cerco de 1538.
Ainda na Índia, Gaspar Correia é chamado, em 1547, pelo vice-rei D. João de Castro para orientar um pintor local na pintura dos retratos dos vários governadores da Índia, desde D. Francisco de Almeida até ao presente.
D. João de Castro seria pintado com as suas armas, evocando o seu triunfo sobre os sitiantes de Diu. A presença de Gaspar Correia no espaço asiático leva-o a escrever as Lendas da Índia, onde narrou os trabalhos dos portugueses desde a primeira viagem de Vasco da Gama até ao ano de 1550. Esta é, com efeito, a primeira data que o cronista menciona para a redacção desta obra. Em 1563 encontrava-se ainda a redigi-la, sendo este o último registo biográfico que dele se conhece.
A compilação dos dados para a escrita das suas Lendas é, decerto, anterior a 1550. Recorde-se que estas são antecedidas pelas Chronicas dos Reys de Portugal .
Gaspar Correia escreveu as Chronicas entre os anos de 1532 e 1534, compilando os dados que possibilitariam o traçar das crónicas régias, desde D. Afonso Henriques até D. João III, e recorrendo, nomeadamente, às escritas por Rui de Pina e António Galvão. Recorde-se que Galvão aportou a Goa a 8 de Dezembro de 1515, onde se encontrava, então, Gaspar Correia. Segundo o cronista, Galvão havia sido encarregado por D. Manuel de sumariar as vidas e feitos dos reis que o tinham antecedido no trono de Portugal. Esta obra, que permaneceu manuscrita, antecipa a estrutura das suas Lendas da Índia. Nela, a cronologia das armadas que partiam anualmente do reino, subjaz à narração.
As Lendas foram organizadas em 4 livros. No 1º livro são descritas as várias expedições que desde 1497foram à Índia, assim como o governo de D. Francisco de Almeida. O 2º livro narra os governos de Afonso de Albuquerque, Lopo Soares, Diogo Lopes de Sequeira, D. Duarte de Meneses, D. Vasco da Gama e D. Henrique de Meneses. O 3º livro descreve as actuações de Pêro de Mascarenhas, Lopo Vaz de Sampaio e Nuno da Cunha. O 4º e último livro narra os governos de D. Garcia de Noronha, D. Estevão da Gama, Martim Afonso de Sousa, D. João de Castro, Garcia de Sá e Jorge Cabral.
Para além da narração dos acontecimentos, Gaspar Correia elaborou desenhos de lugares e de governadores. Actualmente só são conhecidos os desenhos dos lugares de Malaca, Calecute, Adem, Coulão, Ormuz, Judá, Ceilão, Cananor, Chalé , Baçaim e Diu, e de Afonso de Albuquerque, Diogo Lopes Sequeira, D. Vasco da Gama, Pêro de Mascarenhas, Lopo Vaz de Sampaio, Nuno da Cunha, D. Garcia de Noronha, D. Estevão da Gama, Martim Afonso de Sousa, D. João de Castro, Garcia de Sá e Jorge Cabral.
Após a morte de Gaspar Correia, cuja data e circunstâncias se desconhecem, o manuscrito foi adquirido por D. Miguel da Gama, que regressou ao reino em 1582. O texto das Lendas circularia nos círculos portugueses, servindo de fonte informativa para obras como a Crónica de D. João III, de Francisco de Andrade, ou para a História de S. Domingos, de Frei Luís de Sousa.