Data de publicação
2009
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Período
Área Geográfica
Nada se sabe da ascendência de Gonçalo Gil Barbosa. Oriundo de Santarém, pensa-se ser descendente de um ramo secundário dos Barbosas de Entre Douro e Minho, embora de que forma não seja certo. De data de nascimento incerta, casa em data igualmente desconhecida com D. Mécia Mendes de Aguiar (filha de Pedro Rodrigues Portocarreiro), com quem tem seis filhos. Parte para a Índia com Álvares Cabral, onde permanece até 1506, data em que regressa ao reino, vindo a falecer em 1509.

Antes de embarcar para a Índia em 1500 pouco se sabe de Gonçalo Gil Barbosa. Em 1487 era escudeiro-mor do rei, e em 1495 ocupava o cargo de tabelião do rei. Em 1500 embarca para a Índia na qualidade de escrivão da despesa, auxiliar de Aires Correia, feitor de carga das naus. Ocupando o mesmo cargo que Pêro Vaz de Caminha, é provável que estivesse envolvido nos eventos que pautaram o primeiro contacto português com as terras do Brasil. Contudo, nunca é mencionado nas fontes.

Após a chegada à Índia, terá participado nas negociações com o Samorim de Calicut para o estabelecimento de uma feitoria portuguesa na cidade, e que culminaram na morte de Aires Correira e de Pêro Vaz de Caminha. A morte de ambos coloca Gonçalo Gil Barbosa numa posição de precedência, pelo que, aquando da chegada da armada de Álvares Cabral a Cochim, é enviado a terra, de forma a encetar negociações. Estas terão sido bem sucedidas, e é aberta em Cochim a primeira feitoria portuguesa no Oriente, da qual Gonçalo Gil Barbosa foi nomeado feitor, cargo que ocuparia durante cerca de dois anos.

Vasco da Gama, quando regressa à Índia em 1502, leva instruções para que Gonçalo Gil Barbosa seja substituído por Diogo Fernandes Correia como feitor de Cochim, sendo que o primeiro deveria ocupar o cargo de feitor de Cananor. Este facto é de extrema relevância, uma vez que a partida de Vasco da Gama em 1502 antecedeu o regresso de João da Nova. Dessa forma, D. Manuel desconheceria a situação de Cananor, significando que Gonçalo Gil Barbosa teria sido a primeira escolha para o estabelecimento de uma nova feitoria. Esta situação testemunha a competência e entendimento do mercado indiano demonstrada por Gonçalo Barbosa.

O início da feitoria de Cananor marca também o início de uma nova fase da presença portuguesa no Índico, fase marcada por um escalar das hostilidades para com o Samorim. Em 1503, Cochim encontrava-se sobre pressão militar por parte de Calicut, pelo que carecia de géneros, sendo que a Gonçalo Gil Barbosa foi instruído o envio de mantimentos por intermédio de Nicolau de Coelho. Uma outra consequência da crescente hostilidade do Samorim para com a presença portuguesa foi o progressivo degenerar das relações entre os Portugueses e as autoridades de Cananor. Esta situação é visível quando, em 1504, Lopo Soares da Albergaria chega a Cananor com instruções de D. Manuel para a edificação de uma fortaleza. Cabe a Gonçalo Gil Barbosa fazer o pedido de autorização ao rei de Cananor, mas devido às circunstancias politícas e sociais do momento, este opta por não o fazer, sendo o pedido apenas efectuado um ano mais tarde, por D. Francisco de Almeida.

Em 1505, quando D. Francisco de Almeida é nomeado vice-rei da Índia, é instruído no sentido de estabelecer contactos com o Império de Vijayanagar, não só por este ser um importante centro produtor, mas também por ser um aliado natural contra os interesses muçulmanos na região. Apesar da relutância de D. Francisco de Almeida em seguir estas instruções, os contactos foram feitos, nos quais Gonçalo Gil Barbosa foi essencial. Recebe em Cananor uma embaixada de Vijayanagar, assim como informa o vice-rei da sua presença e dos muitos benefícios que adviriam de uma aliança com a potência hindu. Contudo, este aproximar a Vijayanagar, o qual Gonçalo Gil Barbosa muito incentivou, tem como consequência o agravar das tenções com Samorim, assim como uma maior pressão política sobre o rei de Cananor, por parte do sector mercador muçulmano. Dessa forma, a presença de Gonçalo Gil Barbosa torna-se prejudicial para os interesses portugueses, pelo que em 1506 regressa ao reino, sob instrução de D. Manuel. Contudo, este afastamento não significou uma queda em desgraça, uma vez que no regresso, é-lhe atribuída a capitania de um dos navios, não só uma distinção, mas também uma forma de recompensa comum, uma vez que possibilitava um transporte de uma maior quantidade de carga a título pessoal.

Após o seu regresso ao reino, em 1507, é-lhe atribuída a distinção de fidalgo da Casa Real, apesar de ser já cavaleiro da mesma e comendador da ordem de Cristo. Morre a 8 de Julho de 1509, em Santarém, encontrando-se actualmente sepultado na igreja da Graça.

A carreira ultramarina de Gonçalo Gil Barbosa demonstra claramente as alterações verificadas na política portuguesa em relação ao Oriente. Inicialmente um funcionário de grande valor devido ao seu conhecimento e entendimento do mercado interno indiano, à medida que as lógicas operacionais da presença portuguesa na Índia foram incorporando uma componente cada vez mais política e geo-estratégica, as sua posição foi perdendo relevância, até se tornar algo inconveniente.

Bibliografia:
CANAVARRO, Ana Rita, Gonçalo Gil Barbosa, in Descobridores do Brasil. Exploradores do Atlântico e Construtores do Estado da Índia, coord. João Paulo Oliveira e Costa, Lisboa, Sociedade Histórica da Independência de Portugal, pp. 255-278.