Data de publicação
2009
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Em 1444, João Fernandes, escudeiro, partiu na armada comandada por Antão Gonçalves, tendo sido deixado na costa, na região do rio do Ouro, para recolher notícias sobre os azenegues. Foi recolhido pelo mesmo Antão Gonçalves sete meses depois, em 1445. Sabe-se pouco sobre este aventureiro português, mas a sua biografia é particularmente importante por se tratar do primeiro «lançado» (de que há notícia) da Expansão portuguesa.
Designam-se por «lançados» os indivíduos que por ordem superior ou por iniciativa própria se embrenharam no interior do continente Africano, com o intuito de recolher informações sobre os usos, os costumes, as línguas e o comércio dos povos locais, assim como definir aspectos geográficos, sobretudo, relativos às redes hidrográficas. Alguns destes homens eram degredados, tinham cometido crimes em Portugal e por eles condenados a duras penas (nomeadamente, à pena de morte), mas que podiam ser comutadas pelo rei em troca deste serviço extremamente perigoso.
Não terá sido este o caso de João Fernandes que, segundo Zurara, se voluntariou para conhecer a região, a língua que os seus povos falavam, os produtos que trocavam. Quando, no ano seguinte, foi recolhido pela armada de Antão Gonçalves, o mesmo cronista diz que o povo que acolheu João Fernandes lamentou a sua partida o que, a ser verdade, demonstra a profundidade dos contactos estabelecidos. Zurara também nos informa como João Fernandes, apesar do seu indubitável espírito de aventura, procurou ser cauteloso, tentando entrar em contacto com os familiares de um mouro que tinha sido cativado na anterior viagem de Antão Gonçalves, em 1442. Este mouro fora trazido ao Reino e, mais tarde, conseguiu regressar sem ser escravizado.
Fernandes baptizara a terra que visitara como a «Terra dos Negros» que era habitada por tribos nómadas dedicadas à pastorícia. A região foi descrita como tendo poucos rios, a pouca água que se conseguia obter era recolhida em poços. Como tal, as árvores eram de pequeno porte. Apesar de a população não falar árabe, usava estes caracteres e estava islamizada. Não dispunha de um sistema militar organizado fugindo, por isso, dos confrontos abertos com as tribos negras do sul. No entanto, estas tribos não deixavam de capturar alguns inimigos que depois vendiam no norte de África.
Na «Terra dos Negros» João Fernandes tivera notícia do reino de Meli, que a cartografia já registara e que era importante ponto de confluência das rotas comerciais do interior de África. Este reino, de cuja existência Zurara duvidava, já fora visitado pelo célebre viajante árabe Ibn Batuta. Durante a estadia entre os nómadas, João Fernandes foi convidado por dois cavaleiros para empreender uma viagem até à casa de um rico mercador, Aude Meimão, onde viviam mais de 150 pessoas e onde foi muito bem recebido. Quando, em 1445, foi recolhido por Antão Gonçalves João Fernandes informou-o da existência deste mouro e como ele estaria disposto a comerciar com os portugueses. De facto, nesse ano, Aude Meimão trocou nove negros e um pouco de ouro em pó por um punhado de mercadorias de pouco valor na perspectiva do mercado europeu. Este encontro ficou marcado na cartografia com o nome de cabo do Resgate.
Bibliografia:
ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica dos feitos notáveis que se passaram na conquista de Guiné por mandado do infante D. Henrique, 2 vols., Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1981. ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992.
Designam-se por «lançados» os indivíduos que por ordem superior ou por iniciativa própria se embrenharam no interior do continente Africano, com o intuito de recolher informações sobre os usos, os costumes, as línguas e o comércio dos povos locais, assim como definir aspectos geográficos, sobretudo, relativos às redes hidrográficas. Alguns destes homens eram degredados, tinham cometido crimes em Portugal e por eles condenados a duras penas (nomeadamente, à pena de morte), mas que podiam ser comutadas pelo rei em troca deste serviço extremamente perigoso.
Não terá sido este o caso de João Fernandes que, segundo Zurara, se voluntariou para conhecer a região, a língua que os seus povos falavam, os produtos que trocavam. Quando, no ano seguinte, foi recolhido pela armada de Antão Gonçalves, o mesmo cronista diz que o povo que acolheu João Fernandes lamentou a sua partida o que, a ser verdade, demonstra a profundidade dos contactos estabelecidos. Zurara também nos informa como João Fernandes, apesar do seu indubitável espírito de aventura, procurou ser cauteloso, tentando entrar em contacto com os familiares de um mouro que tinha sido cativado na anterior viagem de Antão Gonçalves, em 1442. Este mouro fora trazido ao Reino e, mais tarde, conseguiu regressar sem ser escravizado.
Fernandes baptizara a terra que visitara como a «Terra dos Negros» que era habitada por tribos nómadas dedicadas à pastorícia. A região foi descrita como tendo poucos rios, a pouca água que se conseguia obter era recolhida em poços. Como tal, as árvores eram de pequeno porte. Apesar de a população não falar árabe, usava estes caracteres e estava islamizada. Não dispunha de um sistema militar organizado fugindo, por isso, dos confrontos abertos com as tribos negras do sul. No entanto, estas tribos não deixavam de capturar alguns inimigos que depois vendiam no norte de África.
Na «Terra dos Negros» João Fernandes tivera notícia do reino de Meli, que a cartografia já registara e que era importante ponto de confluência das rotas comerciais do interior de África. Este reino, de cuja existência Zurara duvidava, já fora visitado pelo célebre viajante árabe Ibn Batuta. Durante a estadia entre os nómadas, João Fernandes foi convidado por dois cavaleiros para empreender uma viagem até à casa de um rico mercador, Aude Meimão, onde viviam mais de 150 pessoas e onde foi muito bem recebido. Quando, em 1445, foi recolhido por Antão Gonçalves João Fernandes informou-o da existência deste mouro e como ele estaria disposto a comerciar com os portugueses. De facto, nesse ano, Aude Meimão trocou nove negros e um pouco de ouro em pó por um punhado de mercadorias de pouco valor na perspectiva do mercado europeu. Este encontro ficou marcado na cartografia com o nome de cabo do Resgate.
Bibliografia:
ZURARA, Gomes Eanes de, Crónica dos feitos notáveis que se passaram na conquista de Guiné por mandado do infante D. Henrique, 2 vols., Lisboa, Academia Portuguesa de História, 1981. ALBUQUERQUE, Luís de, Navegadores, Viajantes e Aventureiros Portugueses, Lisboa, Caminho, 1992.